Os pretendentes a uma das diversas vagas que estarão em disputa no primeiro turno das eleições brasileiras em 7 de outubro já registraram suas candidaturas na Justiça Eleitoral. Agora o calendário eleitoral prossegue sendo cumprido e mostrando que a campanha já começou nas redes sociais e sinalizando que, a partir de 31 de agosto, será a vez de também acontecer nas emissoras de rádio e TV.

Terão grandes destaques os debates entre candidatos à Presidência da República, que se iniciaram em 9 de agosto na TV Bandeirantes, com os candidatos tentando vender nacionalmente os seus programas e projetos estratégicos. Em menor escala, também os candidatos a Governadores dos estados, embora despertem maior interesse estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Pernambuco.

É importante observar o tipo de abordagem que os candidatos estão fazendo sobre os diversos e grandes temas nacionais com seus respectivos impactos nos estados e nos municípios que, em última instância, é onde residem as pessoas. Afinal de contas estamos no momento do jogo eleitoral em que os eleitores devem buscar mais informações e conhecimentos que os ajudem a compreender melhor o momento vivido pelo país e as proposições de quem se dispõe a representá-los em nossa democracia representativa.

Apesar de muitos problemas brasileiros estarem gritando por uma solução mais duradoura e sustentável fico observando que alguns temas já vão sendo abordados tangencialmente como, por exemplo, a reforma da previdência social pública, a reforma fiscal, os aspectos ambientais e o avanço das organizações criminosas pelo país afora. Fico com a sensação de que isso é para não melindrar determinados grupos e não perder seus votos. Nesse sentido é preciso também observar e analisar com bastante atenção as abordagens e proposições daqueles que sabem recitar de cor e salteado o que deve ser feito para resolver os problemas. Mas, além disso, é preciso verificar como eles farão para resolver esses mesmos problemas, a que benefício e custo e, obviamente, com qual dinheiro e de onde ele virá.

Num país em que faltam formuladores de soluções – e mesmo entre os que existem podem ocorrer erros de planejamento – basta lembrar de uma premissa adotada por muitos desses planejadores para o ano de 2018. É só olhar a projeção do crescimento de 3% da economia que embalou o sonho de aumento da arrecadação da União, estados e municípios. Aliás, neles o que se tem garantido é só o aumento de gastos e as tentativas de ampliar o percentual da carga tributária. Nesse momento a projeção de crescimento da economia aponta que 1% pode ser melhor do que 0%.

De novo o grande desafio é conseguir mostrar como fazer para que os resultados aconteçam e encontrar pessoas que queiram e consigam implementar o que precisa ser feito. Por isso mesmo é sempre mais confortável falar só o que deve ser feito. Fiquemos atentos e não nos deixemos enganar. Sinceramente, espero que aumente o percentual de eleitores que já não se deixam enganar por coisas superficiais ou falsas.

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O interfone de minha casa foi acionado por duas vezes, quase que sem intervalo entre uma chamada e outra, denotando uma certa ansiedade de quem estava no portão. Era Dona Penha, de Cachoeiro do Itapemirim, nossa vizinha de duas décadas. Ela veio nos trazer uma notícia que entristeceu a nossa tarde de terça-feira, 31 de julho.  Tratava-se do falecimento da senhora Affonsina Patto Gomes, ou simplesmente e carinhosamente chamada de Dona Cicinha, que estava com 94 anos de idade. Ela veio a óbito no entardecer do domingo anterior, 29/07, 11 anos após a partida de seu marido, o senhor Sebastião Barroso Gomes. O casal teve seis filhos, sendo três meninas conhecidas como as três Marias – Cristina, Tereza e Antonieta – e três meninos – Eurico, Eduardo e Hermínio – que lhes deram 15 netos e 14 bisnetos.

D. Cicinha

Dona Cicinha morou no bairro de Santa Tereza durante 55 anos, dos quais 44 foram na Rua Capitão Procópio a partir de Janeiro de 1963 e os outros 11 na Rua Azurita, após o falecimento do Senhor Barroso. Mesmo sabedor da finitude da vida para cada um de nós, não dá para esconder a surpresa e a tristeza que a notícia trouxe para a minha família e os nossos amigos que com ela conviveram. Vieram à mente saudosas lembranças. Grande amiga e o também amigo senhor Barroso com os quais convivemos nos últimos 10 anos em que moraram na Rua Capitão Procópio, mais precisamente de 1997 a 2007. Não é todo dia que temos a graça de encontrar vizinhos tão bons, de fácil convívio e muito solidários. Dona Cicinha e seu marido eram apaixonados torcedores do Galo (Atlético), mas sempre tiveram um ótimo convívio com os torcedores do Coelho (América) como eu e o Carlos, genro deles casado com a primeira Maria, a Cristina. Dona Cicinha adorava música, as plantas muito bem cuidadas de seu jardim, cozinhava muito bem, sempre nos brindou com um delicioso café em sua casa. Nunca deixou de ter um olhar para o lado social e até pouco tempo atrás era uma exímia costureira em seu trabalho voluntário num grupo do Lions Clube.

Eu poderia narrar aqui muito mais coisas sobre ela e o também criativo senhor Barroso, mas o intuito aqui nesse pequeno espaço é registrar e render uma homenagem à dona Cicinha pelo conjunto de sua obra em vida. Ficará sempre a saudade de uma grande mineira que nasceu em Ribeirão Vermelho, veio para Belo Horizonte aos 7 anos para morar na Rua Salinas, no Bairro da Floresta, foi para Tumiritinga após se casar em 1947, voltou a Belo Horizonte em 1958 para morar novamente no Floresta e finalmente chegar a Santa Tereza em 1963,  no bairro onde um dia tive a honra de conhecê-la.

Entendo que dona Cicinha apenas partiu antes de nós, mas tornou-se uma reluzente estrela nos céus de Santa Tereza, que nos faz lembrar dela sempre com muitas saudades.

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Ruídos e barulhos só aumentam

por Luis Borges 14 de agosto de 2018   Pensata

Os vereadores de Belo Horizonte aprovaram, em primeiro turno, o Projeto de Lei 147/17 que dispõe sobre a proibição da fabricação, comercialização, manuseio, utilização, queima e soltura de fogos de artifício no município. As justificativas para o projeto se baseiam em possíveis danos causados à saúde, segurança e poluição ambiental dentre outros. Provavelmente o tema terá a sua discussão bastante ampliada entre todos os setores interessados na cadeia produtiva, com os mais diversos argumentos a favor, contra ou de pragmática conciliação, típica de quem fica em cima do muro. Partindo da premissa de que ruídos e barulhos são quaisquer sons indesejáveis, desagradáveis e que perturbam, tanto de forma física como psicológica a todos que os percebem em intensidades, frequências e durações, por que não aproveitar a oportunidade para discutir amplamente o mapa acústico da cidade com todos os seus impactos na qualidade de vida de seus habitantes?

Quem quiser refletir um pouco sobre esta proposição só precisa começar a enumerar os ruídos que tornam a cidade cada vez mais barulhenta do início da manhã até altas horas. Poderíamos começar pelo quarteirão da rua em que moramos, onde passam veículos em diversas velocidades, muitas vezes buzinando ou emitindo os sons de seus alarmes quando são trancados ou abertos. Prosseguindo nessa direção é possível se lembrar da música em alto volume do vizinho, dos cachorros que latem incessantemente, dos sistemas de segurança eletrônica de casas e edifícios que disparam frequentemente – e às vezes prosseguem de maneira intermitente até que surja alguém para desligá-los.

Também é interessante se lembrar dos ruídos de um bar com música ao vivo sem proteção acústica, de uma oficina mecânica de médio porte com alvará de funcionamento liberado pela prefeitura em qualquer lugar de um bairro residencial e do carro de som fazendo propaganda de bens e serviços no último volume e muitas vezes estacionado na porta da residência. É duro também morar próximo de templos religiosos de alta performance sonora, à beira da linha onde passam diversas composições do trem de ferro durante a madrugada e de torcedores de futebol que vibram mais com a derrota do rival do que com as vitórias do seu próprio time. E, se surge um conflito com vizinhos, a lei diz que é preciso chamar a Polícia Militar para fazer a mediação, mas se for com um estabelecimento comercial cabe aos agentes do disque-sossego da Prefeitura Municipal entrar em ação, o que nem sempre é possível devido à demanda maior que a capacidade de processo.

O que e como fazer para buscar soluções equilibradas para resolver este problema em função do sempre crescente aumento dos ruídos e barulhos? Será que a Câmara de Vereadores consegue encarar o tema em nome da população que representa? Enquanto isso seguiremos no desconforto e constatando de vez em quando o aumento das perdas auditivas que cada vez mais impactarão as nossas condições funcionais. Só espero que alguém não venha com a tosca frase de que “os incomodados que se retirem”, pois a sociedade que se diz civilizada deve saber falar e saber ouvir na busca de soluções para os seus problemas.

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O butim das coligações

por Luis Borges 6 de agosto de 2018   Pensata

Para quem está acompanhando o andamento do calendário eleitoral, definido pela pequena reforma política de um ano atrás, chegou a hora da definição das candidaturas. Segundo a lei em vigor quem é candidato pode ir às urnas pelo seu próprio partido político ou juntar forças se coligando com outros partidos. Hoje faltam apenas 62 dias para o 1º turno das eleições e encerrou-se ontem o prazo de realização das convenções partidárias, que definiram quem serão os candidatos e se haverá coligações com outros partidos. Todas as candidaturas precisam ser registradas na Justiça Eleitoral até 15 de agosto. Daqui para frente tudo acontecerá muito rapidamente durante os 35 dias de duração da campanha eleitoral explicitada pela lei.

Depois de termos aguentado tantos desejos de postulantes à Presidência da República, se intitulando pré-candidatos para não infringir a lei, vimos o cargo de vice-presidente ganhar mais valor. Candidato a vice também ficou mais difícil de ser encontrado em função das demoradas negociações nos próprios partidos e nas composições com outras legendas. Afinal existem 35 partidos políticos no país que terão que provar o seu valor para enfrentar as cláusulas de barreira previstas na lei eleitoral. Também valem muito nesse mercado eleitoral as 513 vagas de deputados federais que formarão as bancadas dos diversos partidos, pois os recursos públicos do fundo eleitoral para o financiamento das campanhas serão distribuídos em função do tamanho das respectivas bancadas a serem eleitas em 7 de outubro.

Há diversos fatos presentes no noticiário das eleições nas diversas mídias. Muito se fala das coligações partidárias em busca de mais tempo para propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV. Também se destacou o fraco desempenho de muitos candidatos à Presidência da República, medido em diversos tipos de pesquisas de intenção de votos. Porém, quero destacar neste espaço a primeira coligação que foi definida. Mais precisamente o destaque é para o comentário do Senador Romero Jucá  (MDB Roraima) diante da coligação para a disputa da Presidência da República feita pelo PSDB com o “Centrão” formado pelo DEM, PP, PR, SD e PRB – aliás sempre acostumados a viver no poder. O Senador disse que:

 “O Centrão é uma manifestação política, o Centrão não tem dono, ali só tem gente esperta”.

Vale lembrar que o Senador do MDB está participando do poder com extrema assiduidade nos últimos 6 períodos de mandatos presidenciais. Será que ele estava pensando sobre o butim que foi acertado entre os partidos caso a coligação que formaram seja a vencedora das eleições presidenciais? Ministérios, empresas estatais, cargos de confiança nomeados por recrutamento amplo (sem concurso)… já foram todos loteados.

Segundo alguns dicionários da língua portuguesa os verbetes mais apropriados para nos ajudar a entender o que é o butim eleitoral podem ser “o que se ganha”, segundo o verbete do Aurélio, ou  “proveito, lucro”, na definição do Houaiss. Como é bom estar e permanecer no poder!

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Em outubro próximo será eleito o futuro Presidente da República. Em seu primeiro ano de mandato ele governará o país com o orçamento guiado pela LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias – aprovada na última quarta-feira.

Essa aprovação é um requisito constitucional a ser cumprido para que os parlamentares do Congresso Nacional possam dar início ao recesso da segunda quinzena do mês de julho. Isso aconteceu num momento caracterizado pelos sintomas da fase terminal do rejeitadíssimo governo Temer, que não conseguirá eleger um sucessor ao mesmo tempo em que a maioria dos parlamentares, inclusive os poucos que sobraram de sua base aliada, estão em busca da reeleição. Afinal de contas permanecer no poder e garantir o foro privilegiado no exercício do mandato não é nada desprezível. Entretanto conseguir votos com a imagem altamente desgastada dos políticos e de seus partidos exige que se mostre muito compromisso e resultados aos eleitores.

É nesse desespero final que a LDO e outros projetos de leis em tramitação formam uma verdadeira “pauta bomba” ao criar novos gastos, renunciar a receitas e prever aumentos salariais para o funcionalismo público federal. Mas de onde virá o dinheiro para bancar tudo isso num orçamento que começará com um déficit de R$139 bilhões? A equipe econômica do governo federal já disse que a LDO aprovada exigirá mais R$100 bilhões além do previsto e que esse montante será obtido por aumento na arrecadação (novos tributos?) e corte de gastos (serviços a prestar ou mordomias?), ao mesmo tempo em que a economia se recupera muito lentamente da recessão econômica enquanto avança a guerra comercial global. Seria possível sonhar com algum nível de compromisso dos políticos partidários com a população brasileira de janeiro em diante ou prevalecerá cada um cuidando apenas de si no melhor estilo do “farinha pouca, meu pirão primeiro”?

A título de ilustração quero citar aqui alguns efeitos de um projeto da “pauta bomba” desse fim de festa caso o Congresso Nacional aprove a flexibilização da lei que rege a criação de novos municípios a partir de localidades que tenham população de 5 a 8 mil habitantes. Nessas condições existem 300 localidades com o potencial de gerar 300 novos prefeitos e vices, 2700 vereadores, no mínimo 1500 novos secretários de educação, saúde, obras, finanças, planejamento e um tremendo dimensionamento do quadro permanente de servidores municipais além dos de recrutamento amplo. É claro que todos contarão com a transferência obrigatória de recursos financeiros da União e estados para que possam garantir sua sustentação.

Até quando vai dar para segurar essas ondas ainda que as pessoas fiquem oscilando da indignação à apatia?

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Nesses tempos mais recentes, que estão sendo regidos pelo princípio da incerteza, tenho conversado com algumas pessoas próximas e mais presentes no meu cotidiano sobre o significado da amizade. De um lado surgem as expectativas em relação a quem consideramos amigos e, de outro, contabilizamos as percepções que temos das práticas em relação ao que consideramos amizade. A constatação inexorável é de que existe uma enorme distância entre a intenção e o gesto, embora haja a esperança de que, em algum momento, um sinal ainda vá ser dado. Mas se isso acaba não acontecendo fica mais fácil e realista constatar e exclamar como está difícil ter e manter amigos.

Acaba sendo consenso que temos poucos amigos participativos, aqueles sempre presentes em momentos essenciais em nossas vidas. A quantidade deles é menor que a dos dedos de nossas mãos, embora sejam de muita qualidade. Eles conseguem, inclusive, saber falar e também ouvir de maneira respeitosa e construtivista, sem obsessão pela propriedade da verdade.

Por outro lado também é consenso que os amigos representativos são a maior parte. São aqueles que não tem tempo nem foco para um convívio mais frequente. Os contatos com esses amigos acontecem principalmente em reencontros mais amplos, onde prevalecem cumprimentos efusivos seguidos de conversas eufóricas e rápidas, com a proposição de um novo encontro brevemente. As ocasiões podem se dar num encontro de colegas de uma escola na qual se formaram no mesmo ano, no casamento de um filho, na posse de alguém num cargo de relevância e poder, nos velórios de amigos ou familiares…

Talvez valha a pena até fazer uma analogia da amizade com a democracia, pois esta também possui a modalidade participativa – mais rara – e a representativa, a predominante. Nesse caso basta-nos a lembrança daqueles candidatos de partidos políticos que só nos procuram ou nos acessam em tempos de eleições…

Não raro, as conversas sobre amizade terminam em tentativas de entender as causas para que os amigos participativos estejam cada vez mais escassos. Com esses amigos com quem converso, tento encontrar formas e medidas pra ajudar cada um a polir suas amizades. Só que, é claro, não é fácil chegar a um generoso consenso nem colocar em prática as medidas sugeridas. Mesmo que em nome da amizade.

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Uma pedagoga aposentada, 61 anos de idade, que se considera uma pessoa bastante atenta aos sinais começou a sentir uma leve dor na coxa de sua perna esquerda no início do mês de dezembro do ano passado. As dores persistiram e foram aumentando aos poucos, até mesmo durante pequenas caminhadas. Enquanto isso transcorreram-se o Natal, o Ano Novo e o Carnaval. Na Quarta-Feira de Cinzas, já bastante incomodada com o desconforto da dor, a pedagoga resolveu consultar um médico de clínica geral, que a encaminhou para uma consulta imediata com um especialista em artérias.

Por coincidência, sorte ou capacidade de processo de seu plano de saúde da modalidade empresarial – de cobertura ampla e enfermaria para casos de internação – a consulta com o especialista foi marcada para a semana seguinte. O profissional solicitou a realização de diversos exames laboratoriais e de imagem para apoia-lo em seu diagnóstico, todos cobertos pelo plano de saúde. Na consulta seguinte, que foi a segunda, o médico analisou todos os exames e seu diagnóstico foi de que a dor se devia a uma importante obstrução arterial na região investigada. O seu prognóstico foi de cirurgia, com o uso de tecnologia específica para corrigir o problema. A pedagoga acatou o diagnóstico e prognóstico e perguntou ao especialista quais seriam os próximos passos. Foi aí que ele fez as guias solicitando ao plano de saúde as autorizações para os exames de risco cirúrgico e dos custos de todas as etapas do processo. Também receitou o uso de um medicamento para atenuar dores, mas que não devia ser usado indefinidamente, pois não substitui a cirurgia.

Após tudo pronto e em conformidade com as regras contratuais do plano de saúde a pedagoga voltou ao especialista em meados do mês de maio para agendar a data de realização da cirurgia. Nos encaminhamentos finais da consulta o especialista ensaiou fazer uma verificação em sua agenda para fazer a marcação no início de junho, mas parou subitamente dizendo que precisava esclarecer um detalhe ainda não abordado. Então ele disse à paciente – ou seria cliente? – que o plano de saúde não remunera seus serviços pelo valor que eles realmente tem e, por isso, ele precisa cobrar por fora um complemento de 7 mil reais. Prosseguiu dizendo que a cirurgia poderia ser feita também por outros colegas e que a decisão não precisava ser tomada de imediato, já que era possível esperar 60 dias pelo menos.

Recuperando-se do susto trazido pela surpresa dos últimos minutos a pedagoga perguntou ao especialista se o plano de saúde sabia da remuneração adicional. Ele disse que não, mas que essa é uma luta dos profissionais que anseiam por uma remuneração melhor. Terminou dizendo que poderia dividir o adicional em 5 parcelas fixas de R$1.400,00 sem a emissão de recibos e que a primeira parcela deveria ser paga no dia da alta hospitalar. Mais fragilizada do que estava ficou a pedagoga, que acabou por pedir ao profissional um tempo para pensar, pois 7 mil não brotam do asfalto, principalmente para uma aposentada do serviço público estadual.

Após muitas conversas em família a decisão acabou sendo a de sucumbir às condições do especialista, mas ficou claro que ele se utiliza do plano para captar clientes, aproveitar seus serviços de apoio ao diagnóstico, bloco cirúrgico, serviços de hotelaria e honorários próprios – ainda que em valores bem abaixo de suas expectativas. Feita a cirurgia, ficou a evidência de como essa cadeia produtiva funciona e também de como não funciona a Agência Nacional de Saúde Suplementar, cuja missão é regular e fiscalizar os serviços de quem opera planos de saúde.

Quais são os valores éticos que regulam as relações das partes envolvidas nessas cadeias produtivas? Ou ética é só para os outros, a começar pelos agentes públicos?

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Os engenheiros eletricistas Pedrinho Augusto e Marinho Teles se conheceram no ano em que ingressaram na universidade. A condição de colegas acabou substituída ao longo do curso pela de amigos, que coincidentemente foram trabalhar numa mesma empresa do setor energético logo após a formatura. A vida pessoal e profissional dos dois amigos teve seu curso dentro das expectativas de ascensão social e sucesso dignas dos sonhos e propósitos da classe média. Tudo seguiu muito bem e tranquilamente num feliz convívio entre as famílias dos dois engenheiros.

O tempo passou e chegou a hora dos dois terem direito à aposentadoria pelo INSS acompanhada pelo plano de previdência complementar. Era dezembro de 2013 e ambos completavam 35 anos de trabalho ininterrupto na mesma empresa. A decisão de se aposentar foi imediata, em função da missão cumprida e de um certo cansaço acumulado na jornada. Mas, aos 60 anos, os dois amigos concluíram que era chegada a hora de realizar um sonho acalentado nos últimos anos de trabalho formal – a aquisição de uma pequena propriedade rural em que pudessem ser vizinhos.

Passados 11 meses lá estavam eles na zona rural de um município da região metropolitana de Belo Horizonte, cada um com os seus 5.000 m² de terra separados por uma cerca de arame farpado. Para que as famílias se visitassem sem ter que ir até a estrada de terra que dá acesso às entradas de cada propriedade, decidiram construir o “passa um” na cerca bem em frente às casas que ficam na parte central de cada minifúndio. Vale lembrar que “passa um” é um dispositivo de madeira colocado para interromper a cerca e permitir a passagem de uma pessoa de cada vez de um lado para o outro. Passaram-se pouco mais de 2 anos de muita harmonia e cooperação na convivência das duas famílias, sempre encurtando o caminho através do “passa um”.

Entretanto lá num belo sábado de março de 2017 aconteceu um confronto inesperado, mas típico da intolerância de quem não sabe conviver com pensamentos diferentes e cada um ainda quer impor ao outro a prevalência de sua fala. Protagonizaram a cena a filha mais nova de Pedrinho Augusto e a esposa de Marinho Teles. A causa do confronto ficou por conta de posições polarizadas a partir das eleições para a Presidência da República em 2014 e o impeachment da vencedora do pleito em 2016. A discussão ficou tão acirrada que tudo acabou em raiva e ódio. Como tudo aconteceu na casa de Marinho Teles, assim que o acirrado bate boca terminou a filha de Pedrinho Augusto deixou o local inconformada. Por outro lado, a esposa de Marinho Teles não se fez de rogada e de maneira intempestiva exigiu que seu marido fechasse unilateralmente o “passa um” e que se rompesse a amizade que sempre existiu entre os dois amigos e também entre suas famílias. A exigência foi imediatamente cumprida e a longa amizade chegou ao fim com um desfecho jamais imaginado. Agora as pessoas das duas famílias se evitam ao máximo ou viram a cara para outro lado quando se cruzam inadvertidamente.

Passados um ano e 3 meses do impensável desfecho, e sem nenhum sinal de qualquer possibilidade de retomada da antiga amizade em novas bases, Pedrinho Augusto prossegue procurando um comprador para a sua propriedade, pois sente que o seu coração já não está mais ali e nem o de sua família. Ele espera concretizar algum negócio antes das eleições presidenciais de outubro próximo.

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Já estou sentindo um certo cansaço de tanta falação envolvendo a greve dos caminhoneiros e seus desdobramentos que impactaram fortemente a logística do cotidiano de nossas vidas, indo desde a escassez de bens e serviços até aos aumentos de preços inerentes à lei da oferta e da procura que rege o mercado. Talvez este certo cansaço possa ser decorrente da exaustiva abordagem dos fatos e dados que vão se sucedendo dinamicamente na conjuntura e aos quais ficamos expostos nas diversas mídias que frequentamos e nas conversas que surgem no ambiente familiar, no trabalho, nas confraternizações…

É claro que não podemos negar a realidade que nos assombrou durante a greve. Havia a expectativa do desabastecimento e a perspectiva de dias mais sombrios caso crescesse a impossibilidade de se atender às necessidades humanas básicas de sobrevivência e segurança. Afinal de contas, um colapso do sistema de vida de uma sociedade que se diz civilizada tem o dom de trazer medo e pânico para muitos de seus membros. Nesse sentido vale até lembrar a clássica e amarga constatação de uma pessoa dizendo que tinha dinheiro, mas não tinha nem o quê e nem como comprar. Essa pessoa se lembrou de 1986, no Plano Cruzado, quando havia escassez e preços congelados.

Mas se isso é o que temos para o momento e sabedores de que “quanto pior, pior mesmo”, só nos resta encarar a situação com muita resiliência e sem perder a capacidade de manifestar toda a insatisfação com o desgoverno que reina no país. Ainda assim, e esperando as próximas eleições com muito realismo diante de tantas incertezas, que aprendizado as pessoas podem ter após sobreviver ao desabastecimento? É interessante e importante avaliar a falta que nos fizeram vários bens e serviços que tiveram a disponibilidade reduzida ou até mesmo ficaram indisponíveis.

A reflexão que proponho deve ser acompanhada da implementação de ações que demonstrem mudanças de atitudes em função das oportunidades identificadas. Apesar do “consumo, logo existo” e da ostentação inerentes ao capitalismo, é possível identificar e viver dignamente só com aquilo de que necessitamos? Se faltar batata, tomate, cebola, frutas, produtos derivados do leite, serviços públicos ou tanque do automóvel cheio de gasolina dá para prosseguir sem entrar em pânico?

É relevante também avaliar o nosso comportamento ao longo dos 11 dias da greve e o desenrolar das negociações com o fragilizadíssimo governo federal. Imagine o seu plano estratégico ou o de sua família caso a greve durasse 20 ou 30 dias, aprofundando o desabastecimento. Seria uma oportunidade para exercitar e definir o que é necessário, essencial e deixar de lado o que é supérfluo ou que pode ter seu uso postergado. De repente poderá ser possível perceber o tamanho dos desperdícios ou da gula perante o consumo exacerbado…

Como foi a sua experiência vivenciando o processo de desabastecimento? Você conseguiu enxergar possibilidades positivas para mudar algumas atitudes que poderão melhorar o seu modo de vida?

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A realização de pesquisas sobre as intenções de votos dos eleitores nas eleições de outubro próximo tende a aumentar na medida em que avança o calendário eleitoral. Isso vale tanto para as que são registradas na Justiça Eleitoral para serem amplamente divulgadas quanto as que são feitas para uso particular. O fato é que elas vão tirando as fotografias de cada momento. Se devidamente observadas e analisadas podem ajudar a inferir tendências que superam o mero achismo. Entretanto é preciso ressaltar o dinamismo do momento, que exige acompanhamento e novas medições para fotografar as mutações que acontecem no desenrolar do processo. Nada é estático.

Nas pesquisas das diversas organizações que fazem o levantamento das intenções de votos sinto falta de uma pergunta inicial básica, simples e direta ao ponto – você votará nas próximas eleições? Obviamente que se a resposta for sim, a pesquisa poderá seguir o roteiro previsto. Se for não, poderia se encerrar por ali ou então buscar algumas causas daquela decisão. A razão da minha proposição dessa pergunta é também muito simples. Apesar do voto nas eleições ser obrigatório no Brasil, diferente de diversos outros países em que é facultativo, considero que o voto é um direito e não um dever.

Montagem feita sobre foto do TSE.

Se olharmos atentamente para os dados das últimas eleições verificaremos que tem aumentado muito o índice de abstenção e o não comparecimento às urnas está ficando tão alto que, na prática, fica até parecendo que o voto é facultativo, apesar das sanções impostas a quem não comparece. Outro fator importante a ser considerado é que a obrigatoriedade do voto é para quem tem idade na faixa de 18 a 70 anos. Portanto o voto é opcional para quem tem idade de 16 a 18 anos ou acima de 70. A nossa população está cada vez mais longeva, vale lembrar que o país tem hoje cerca de 12 milhões de eleitores com idade superior a 70 anos segundo o IBGE. Assim sendo, torna-se necessário um olhar mais atento para o fenômeno da abstenção e as causas do seu crescimento já nos períodos que antecedem as eleições, pois nem todos os aptos a votar são obrigados a comparecer às urnas.

Ao observar e analisar os números das eleições presidenciais em 2014, veremos que 142,8 milhões de eleitores estavam aptos a votar. No primeiro turno a abstenção foi de 19,4%, o que significou a ausência de 27,7 milhões de eleitores. Esse número cresceu no segundo turno, quando a abstenção chegou a 21,1%, ou seja, 30,137 milhões de eleitores.

Enquanto isso as pesquisas seguem simulando seus cenários e medindo os percentuais de eleitores que estão indecisos e dos que votarão nulo, branco ou em algum candidato, mas sem saber se os entrevistados comparecerão às urnas. É o que temos para hoje.

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