Temas ligados à saúde das pessoas ao longo do curso de vida tem a capacidade de gerar discussões familiares acaloradas, opiniões incisivas e o uso de muitas informações, por exemplo, da internet, que podem estar corretas ou não.

Também são comuns nessas ocasiões a defesa de cada argumentação citando que caso parecido aconteceu com algum conhecido que ficou bem ou lembrando o caso do pai de um colega de trabalho que acabou falecendo, por exemplo. Mas considerando que cada caso é um caso fica difícil embarcar nessas discussões em que a emoção prevalece.

Aqui vale lembrar que o conhecimento advém de fundamentos e conceitos que dão suporte às técnicas e métodos que, se aplicados adequadamente, podem levar a resultados significativos, inclusive nas questões ligadas à saúde.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades. Como se vê, estamos longe da excelência.

Muitas são as dificuldades enfrentadas por quem precisa resolver um problema ligado à saúde tanto na rede pública quanto na maior parte dos planos privados de saúde suplementar com seus limites técnicos. E o que fazer quando os especialistas divergem em seus diagnósticos e prognósticos?

Ilustra bem a situação o que está acontecendo com uma senhora de 87 anos de idade, viúva, lúcida, com dificuldades motoras e cliente de um plano de saúde de ampla cobertura com reajustes anuais acima de 20% nos últimos 3 anos. Ela tem uma família grande e mora em sua própria residência onde tem o suporte de uma empregada doméstica ao longo do dia e de cuidadoras de idosos todas as noites e nos finais de semana.

Acontece que as condições funcionais vão piorando com o avanço da idade e com ela não é diferente, mesmo com todos os cuidados. É o metabolismo que desafia, a tireoide que ajuda no desânimo, os rins brigando com a creatinina, a memória que se enfraquece ou a pressão arterial subindo e descendo tal qual um iô-iô enquanto o coração vira uma palpitação só. No momento, o que mais esta pegando para a idosa é que os especialistas que cuidam dela não estão se entendendo sobre a medida da pressão arterial mais adequada para o seu caso. O geriatra diz que a pressão arterial é aceitável até 16×9 em função da idade, mas com o uso continuo de uma combinação de medicamentos apropriados. Entretanto solicitou o acompanhamento de um cardiologista que, com alguma relutância, acabou concordando com a medida prescrita pelo geriatra. Mas como este também pediu o acompanhamento de um nefrologista e um endocrinologista, os dois propuseram uma meta de pressão arterial a 12×8 e uma ortodoxa dieta, restringindo a quantidade de alimentos ricos em carboidratos e proteínas. O endocrinologista esqueceu-se das dificuldades motoras e chegou a prescrever caminhadas.

Como fazer para combinar tudo isso, os especialistas ainda não disseram. Enquanto isso, a família tenta chegar a um consenso sobre como agir e a idosa manifesta cansaço, além de pouca empatia com o nefrologista e o endocrinologista.

Você já passou por uma situação semelhante? Se sim, qual foi a solução encontrada?

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20% do ano já foi embora

por Luis Borges 10 de março de 2019   Pensata

O tempo caminha, indelével como sempre em seu soberano escoar, deixando para muitos a sensação de perda por não terem feito o que deveriam fazer. Uma rápida olhada no calendário gregoriano nos mostra que 20% do ano de 2019 já ficou para trás e, como sabemos, águas passadas não movem moinhos.

Qual é o resultado efetivo desse período, se é que houve um planejamento estratégico que faça jus ao nome? Como todos deveríamos saber “quem não tem estratégia está condenado à morte”. Isso vale para governos, empresas, famílias e pessoas em seus diversos modos de interação social.

Se olharmos para o caso dos governantes e parlamentares eleitos em outubro passado veremos que a maior parte de suas propostas ficou no campo das generalidades e que muitos governantes eleitos ainda permanecem repetindo bordões das campanhas eleitorais. Nesse sentido e em função dos fatos e dados disponíveis, inclusive com tentativas de explicar declarações mal ajambradas ou simplesmente desviar a atenção sobre acontecimentos nada ilibados, fico com a nítida sensação de que muitos são aqueles que estão perdidos no espaço. E aí vale lembrar Lúcio Aneu Sêneca (4 a.C – 65 d.C) ao dizer que “não existe vento favorável a quem não sabe onde deseja ir”. Também é importante saber que os atos impulsivos caminham na contramão da estratégia, caso ela exista.

Enquanto escrevo o tempo continua passando. Uma grande festa da cultura brasileira que é o Carnaval já acabou e estamos na quaresma, rumando para o Domingo de Ramos e à Semana Santa, que ensejará mais uma semana de folga para os brasileiros que tem esse direito adquirido. Também pudera, os Poderes da República são independentes e harmoniosos para sempre gerar o necessário equilíbrio previsto constitucionalmente.

Partindo do meu modo realista e esperançoso de ser e consciente de que nada é tão ruim que não possa ser piorado, ainda fico na expectativa de que ainda haja um espaço para trabalhar com um sistema estratégico de gestão, com absoluta transparência, sem espaço para as fake news. Ainda que a política e a economia tenham uma relação bi unívoca em seus fazeres, não dá para continuar crescendo a 1,1% ao ano e muito menos fazer da Reforma da Previdência Social um mantra para resolver todas as causas dos problemas advindos do desequilíbrio das contas públicas. Muito menos ainda estabelecer metas malucas para resolver estes mesmos problemas crônicos da União, estados e municípios.

Enquanto o tempo continua passando os novos governantes e parlamentares prosseguem queimando o capital político que amealharam há 5 meses e que se reduz rapidamente diante da falta de resultados. Que o digam os 12,7 milhões de desempregados, os 4,7 milhões de desalentados, todas as vítimas da tragédia do rompimento da barragem da mina da Vale em Brumadinho(MG) e as demais vítimas retiradas das proximidades de outras barragens com risco de ruptura.

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No anonimato de tragédias caseiras

por Luis Borges 26 de fevereiro de 2019   Pensata

Passados 30 dias da tragédia causada pela ruptura da barragem de rejeitos da mina de Córrego do Feijão, pertencente à Vale no município de Brumadinho-MG, vão ficando claras as causas que geraram o acontecimento e as trágicas consequências para as pessoas que agora lutam para sobreviver numa correlação de forças muito desfavorável. Tudo nos choca, assusta e revolta quando nos colocamos no lugar das vítimas diretas no estrago enorme deixado para a comunidade e a natureza.

Partindo dessa percepção meu ponto aqui é propor uma observação e análise sobre as condições em que nós e nossas famílias estamos vivendo cotidianamente em nossos lares, nos aspectos ligados à tecnologia, segurança e manutenção das instalações e bens que utilizamos. Frequentemente ficamos sabendo de alguma tragédia anônima que aconteceu com alguém de nossa rede ou bolha, vizinhos, isso sem esquecer do que acontece também  em nossos próprios lares cujo porte varia em média na faixa de 40m² a 120m². Já as consequências sobram para cada indivíduo ou grupo familiar, por exemplo, e são cada vez mais difíceis de serem terceirizadas para o Estado e seus governantes ou a uma entidade filantrópica do terceiro setor.

De repente alguém pisou em falso na escada sem corrimão, o corpo se estatelou no chão e a sequela gerou mais um paraplégico. Se pensarmos nas pessoas idosas dá para lembrar que existem levantamentos mostrando que cerca de 70% de suas quedas acontecem dentro de casa. E quais são as causas? Pode ser um escorregão no tapete colocado na entrada da sala sobre o piso bem encerado e brilhante. Pode ser também um tropeção oriundo de uma gambiarra que gerou um emaranhado de fios e cabos espalhados em meio a uma quantidade de móveis entupindo os espaços. Vale lembrar também a queda de uma senhora de 65 anos que subiu numa cadeira para abrir um armário instalado próximo ao teto de sua cozinha. Ela se desequilibrou e caiu batendo a cabeça no piso. Após um semana na no hospital veio a óbito. Também tem o caso de um pequeno edifício de três andares com dois apartamentos por andar, inaugurado há um ano, que teve seu telhado arrancado numa dessas fortes chuvas com ventos de até 50km/h e que levou junto as placas do sistema de aquecimento solar. Faltou qualidade no projeto, na especificação dos materiais, na construção do edifício ou um pouco de tudo? O que dizer de outro edifício de pequeno porte em que a falta de manutenção do telhado impediu que fossem vistas as folhas entupindo as calhas e o resultado foi a água descendo pelas lajes e paredes dos apartamentos de cima abaixo? Para completar um raio caiu numa casa sem pára-raios e por onde passou deixou uma série de equipamentos danificados. Ainda bem que ninguém estava lá dentro naquele momento.

É claro que cada leitor pode se lembrar de inúmeros exemplos ilustrativos do quanto que ainda é frágil a nossa cultura no que tange a dar prioridade máxima aos aspectos de segurança, que a manutenção preventiva e preditiva tem que ser gerenciada continuamente e que tecnologias baratas não resistem a uma análise mínima de benefício e custo.

E a gente vai levando e pagando o pato no anonimato da tragédia pessoal e familiar com dinheiro curto, pouco chão para dar firmeza, tristeza, angústia e a certeza de que sobrou para cada um dos envolvidos encontrar forças para dar a volta por cima. É cada um carregando a sua própria tragédia com a dimensão e o significado que ela traz.

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Chefe de gabinete e sucessora?

por Luis Borges 24 de fevereiro de 2019   Pensata

Passados quatro meses das últimas eleições e quase dois meses da posse dos governadores e Presidente eleitos, as articulações políticas já miram as eleições para prefeitos e vereadores no ano que vem. Faltam apenas 19 meses, que passarão rapidamente. Tudo será feito pela vitória, não importa como, pois “o feio é perder as eleições”. Propostas para resolver problemas podem ser abordadas genericamente, pois dependerão dos recursos que estarão disponíveis.

Um caso que ilustra bem essa movimentação está acontecendo num município de aproximadamente 45 mil habitantes na região central de Minas, que tem orçamento de R$198 milhões para 2019. Lá o atual prefeito está no segundo mandato, tendo sido eleito por uma coligação de sete partidos que o apoiam incondicionalmente, inclusive com uma bancada majoritária na Câmara de Vereadores.

Ao longo desses seis anos de poder municipal começaram a surgir nomes de possíveis sucessores do alcaide do município, a começar pelo seu vice-prefeito, que é de outro partido da base aliada. O que muita gente demorou a perceber foi a crescente desenvoltura da chefe de gabinete do prefeito, notadamente a partir do segundo mandato. No primeiro mandato ela era uma espécie de executiva, colocando a gestão em movimento onde o “sim” era dado pelo prefeito e o “não” ficava para ela.

Obtida a reeleição com folga tudo mudou e o foco da chefe de gabinete passou a ser a sua própria eleição no próximo pleito. Cercou o prefeito de tal forma que quase ninguém consegue falar com ele sem que ela esteja presente. Colocou a mão no orçamento anual da prefeitura onde o pouco que sobrou para investimentos passa pelo seu crivo na definição do que é prioritário para ser feito. É óbvio que ela está de olho nos dividendos eleitorais, tendo inclusive virado uma “seda” com os vereadores da base aliada e jamais fala não, no máximo um “bem, vejamos o que é possível fazer”. Para completar aumenta a cada dia suas amplas articulações ao mesmo tempo em que tenta minar de todas as maneiras o desejo do vice-prefeito, seu adversário mais direto na coligação partidária.

Por outro lado começam a crescer nos bastidores variadas críticas ao estilo da chefe de gabinete cada vez mais intempestiva e ansiosa para assegurar o atingimento de seu objetivo estratégico. Seus atos mais obsessivos têm sido classificados como burrice estratégica por alguns membros importantes dos partidos políticos aliados do prefeito. Este, por sua vez, parece altivo e soberano na observação da cena política, deixando que sua chefe de gabinete vá se desgastando naturalmente nesse início de processo enquanto ainda não é chegada a hora “da onça beber água”, conforme aprendeu ao longo de sua trajetória político-partidária.

Vamos acompanhar as cenas dos próximos capítulos sabedores de que “nada existe em caráter permanente a não ser a mudança”, ainda mais na política partidária que só foca no poder.

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Aberto para balanço

por Luis Borges 17 de fevereiro de 2019   Pensata

Conversando com algumas pessoas mais presentes em meu cotidiano tenho falado que em muitos momentos fico também “nas nuvens” – mais naquelas mutantes lá do alto e menos nas da neblina que se forma perto do solo. Na prática, estou sempre aberto para a observação e análise de variados fenômenos e dos processos que os geram.

Mesmo que às vezes um ou outro tema possa se repetir e desafiar a paciência de algum interlocutor, os resultados alcançados incentivam a continuidade da troca de expectativas e percepções.

Neste início de ano, notadamente a partir de 25 de janeiro, têm sido praticamente obrigatórias as conversas em busca de uma melhor compreensão das causas de tantas mortes envolvendo quatro dos principais elementos presentes na natureza – terra, fogo, ar e água. A ruptura de mais uma barragem de rejeitos de minério de ferro da Vale, o incêndio no Ninho do Urubu – Centro de Treinamento do Flamengo, o fortíssimo temporal que caiu no Rio de Janeiro com ventos de até 110 km/h e a queda do helicóptero em que estava o jornalista Ricardo Boechat sacodem a pauta formada por sucessivas tragédias em curtíssimo espaço de tempo.

Fico imaginando como estão as pessoas que perderam familiares, amigos, colegas de trabalho, vizinhos… de maneira tão abrupta e inesperada. Prossigo imaginando como estariam as coisas se eu ou alguém próximo de mim estivéssemos na mesma situação de quem ficou chorando a perda daqueles que partiram. Seria hora de questionar o sentido da vida, mesmo sabendo que a vida termina com a morte, instante em que o espírito deixa o corpo? Ou seria a hora de, cada um a seu modo e segundo suas convicções, se esforçar para elaborar a perda num processo que passa pelo choro, dor, luto, saudades e recordações, por exemplo?

Quando nada esta também pode ser uma oportunidade para fazer uma autoavaliação do curso da vida que estamos vivendo, com as escolhas que sempre temos que fazer gerando acertos, erros e consequências. Tudo isso com a consciência de que a vida tem sua finitude, que o tempo escoa indelevelmente e que podemos chegar ao final da reta ou da curva a qualquer momento. Simples assim.

Enquanto isso acredito que só nos resta caminhar, seguir em frente, apesar das tristezas de determinados momentos, mas sempre com os motivos para a ação que vem de dentro de cada um de nós, ainda que falar sobre a morte seja um tabu para muita gente.

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Esperando a próxima tragédia

por Luis Borges 4 de fevereiro de 2019   Pensata

Já se passaram onze dias do rompimento de mais uma barragem de rejeitos de minério de ferro construída por alteamento a montante na mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), pertencente à Vale Sociedade Anônima. Fico pensando sobre a avalanche de fatos, dados, informações e até conhecimentos consolidados que estão sendo difundidos por diversas mídias. É inquestionável a dimensão da tragédia humana em todos os seus aspectos, a começar pela dor trazida pela morte de quase 400 pessoas das quais ainda falta encontrar a maior parte dos corpos. Para quem mora num dos 34 municípios da região metropolitana de Belo Horizonte, como eu por exemplo, fica a sensação que tudo aconteceu muito pertinho de nós, logo ali a 5, 10 ou 20 km de onde moramos, trabalhamos ou frequentamos em busca de lazer. Também fica uma pergunta passeando pela mente, que vai e voltam querendo saber ou imaginar como estariam as coisas se eu, nós ou um de nossos parentes ou amigos estivéssemos lá no local onde aconteceu o acontecido.

Passaram-se apenas 11 dias, mas o que aguarda os envolvidos direta e indiretamente na tragédia nos próximos dias, meses e anos? Se tudo começa com a gente e a desgraça é individual dá para imaginar a ordem de grandeza das perdas de cada parte e do todo, chamado sociedade, com seus diferentes grupos de interesse vivendo num país típico do capitalismo tardio?

Em meio a tanta inquietação e na plenitude do veranico que retarda o sono só aumenta a entropia trazida pela lama que desceu da barragem. Mas, se quanto maior a entropia mais próximos estaremos da solução para o problema, é preciso também saber se existe um querer que implique na busca de uma solução que leve em conta todos os interessados, e não apenas parte deles, segundo as melhores práticas em prol da sustentabilidade em todas as suas dimensões.

Como isso ainda é só um ideal, quase que uma utopia, dá para entender porque a história se repete, primeiro como tragédia e depois como farsa. Basta lembrar que uma barragem de rejeitos de minério de ferro com alteamento a montante se rompeu há pouco mais de três anos em Mariana e quase nada mudou de lá para cá. No momento estamos passando por um grande brainstorming, tentando encontrar as causas fundamentais e prioritárias que levaram a esse efeito tão trágico. Da ganância dos donos da Vale –  focados na máxima lucratividade para seus investimentos – passando pelas ações e omissões do estado e seus agentes e chegando-se até as condições em que se realiza o trabalho na mineração, diversas são as causas que tem surgido nas discussões sobre essa tragédia de Brumadinho.

É importante lembrar que um dos donos da Vale é a Litel Participações com, 20,98% das ações. A Litel é formada pelos fundos de pensão dos empregados do Banco do Brasil (Previ), da Caixa Econômica Federal (Funcef), da Petrobras (Petros) e da Cesp (Funcesp). Entre outros acionistas da Vale estão o BNDESPar e o Bradespar além de ações comercializadas em bolsas de valores.

Enquanto isso fico me perguntando se serão necessários mais três anos para que se removam as causas da atual tragédia e também penso no que poderá ser feito para desativar as bombas relógio instaladas em barragens de municípios como Rio Acima, Nova Lima, Itabirito, Congonhas e Itabira, por exemplo. Afinal de contas depois de “Mariana nunca mais” chegou a vez de “Brumadinho nunca mais”. Será que haverá um próximo nunca mais?

Parafraseando o educador Paulo Freire “é fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática.” A necessária transformação que o momento aponta continua desafiando a todos e a cada um nas partes que lhes cabem nesses tempos liberais.

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A possibilidade de receber uma herança num dia que ainda vai chegar povoa o imaginário de muitos descendentes de casais que possuem terras, casas, apartamentos ou aplicações financeiras, por exemplo. Se esse não for o caso, vale sonhar com a herança de um tio ou tia solteiros ou viúvos que não tiveram filhos e não destinaram seus bens através de um testamento. É interessante observar que surgem diversas formulações em torno da partilha de diferentes quantidades de bens e do número de herdeiros, portadores de necessidades específicas em função de suas condições de vida.

Tomei conhecimento do caso do sr. Tiãozinho e de dona Aninha, que eram proprietários de 2 alqueires de terra em uma região de Minas Gerais banhada pelo rio Suaçuí. Eles tiveram 12 filhos, 7 mulheres e 5 homens que permanecem vivos, a mais velha com 60 anos e a mais nova com 38.

A história registrou o falecimento de dona Aninha há 4 anos, quando ela tinha 79 anos, e do senhor Tiãozinho há um ano e meio, aos 83 anos de idade. Após a missa de sétimo dia por intenção de sua alma ficou claro que o luto pela perda do pai já havia passado para alguns filhos mais apertados financeiramente. Eles só queriam discutir a partilha da propriedade e dos bens nela existentes, além do dinheiro depositado numa caderneta de poupança. Um detalhe importante é que o pai deixou definido em testamento que a partilha de tudo deveria ser feita em 12 partes iguais.

Rapidamente Nozinho, o terceiro filho, solteiro comunicou a todos que deixaria Belo Horizonte e voltaria a residir na casa da propriedade junto com a irmã mais velha, viúva pensionista da Previdência Social. Ele justificou a decisão dizendo que era para conduzir o processo de partilha dos bens, o que não foi contestado por nenhum dos irmãos. Logo veio a contratação de um advogado para obter a liberação do dinheiro da caderneta de poupança, processo esse que durou em torno de 8 meses e que rendeu R$5 mil para cada herdeiro além dos devidos honorários pagos ao profissional operador do direito.

Dois meses depois do recebimento desse dinheiro, Nozinho decidiu monocraticamente arrendar a propriedade por um valor desconhecido pelos herdeiros, que até o momento não receberam nada pelo negócio e também nada cobraram dele. Como quem cala consente, ele começou o ano de 2019 apresentando aos demais herdeiros uma proposta para comprar as suas partes na propriedade em pleno dia de Santos Reis. Cada herdeiro receberia R$15 mil pela sua parte num futuro indefinido e assinaria a escritura passando o bem imóvel para o irmão. Com isso, seria possível ele solicitar um empréstimo ao Programa Nacional de Agricultura Familiar – Pronaf, para investir na plantação de alimentos, modalidade que tem prazo de carência de três anos para inicio do pagamento das prestações do financiamento.

Em função dos resultados alcançados Nozinho começaria também a pagar alguma parte do valor proposto a cada herdeiro, sem correção monetária, e esperando que nas safras seguintes conseguiria quitar o restante da dívida. Para facilitar a comunicação entre os herdeiros ele criou o grupo de WhatsApp “Nossa Roça” e a reação foi imediata. A maioria rechaçou a proposta, comparando-a com a emissão de um cheque em branco e considerando muito baixo o valor proposto para a compra das terras. Além disso, veio à tona a informação de que Aprígio, o quarto filho, já havia comprado anteriormente a parte da irmã Catarina por R$25 mil e posteriormente a do irmão Berto por R$18 mil.

Mesmo instalado o caos entre os herdeiros, Nozinho continua insistindo e cobrando pelo WhatsApp uma resposta para a sua proposta que ainda é a mesma. Aprígio com suas três partes e os outros 8 herdeiros, com uma parte cada, prosseguem quietinhos e deixando as coisas como estão para depois ver como ficarão. Herança também dá nisso!

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Perceba as pessoas com deficiência

por Luis Borges 17 de janeiro de 2019   Pensata

A Organização das Nações Unidas – ONU estabeleceu que 3 de dezembro é o Dia Mundial das Pessoas com Deficiência. Esta é uma das formas usadas para se chamar a atenção sobre a complexa arte do convívio social de todos os dias com as restrições que limitam as condições funcionais das pessoas. Segundo dados da ONU, chega a um bilhão a quantidade de pessoas no mundo que possuem algum tipo de deficiência de vários níveis e graus. Isto equivale a 15% dos habitantes do planeta Terra, que hoje é habitado por sete bilhões de pessoas.

No Brasil, o Censo do IBGE realizado em 2010 mostrou que, do total da população brasileira, 23,9% (45,6 milhões de pessoas) declararam ter algum tipo de deficiência. Dentre elas a mais citada foi a deficiência visual, que atingia 3,5% da população. Em seguida estavam as deficiências motoras, com 2,3%, as intelectuais (1,4%) e as auditivas (1,1%).

Estima-se que ao final de 2018 o Brasil possuía pouco mais de 6,5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual, dos quais em torno de 582 mil com cegueira congênita ou adquirida ao longo do curso da vida.

Um dado interessante que também aparece em pesquisas sobre o tema é que em torno de 70% das pessoas com algum tipo de deficiência preferem não assumir que as possuem. Isso pode impedir, pelo menos às pessoas mais atentas, algum tipo de ação mais solidária diante das necessidades inerentes à deficiência. É claro que nesse e em outros casos de ajuda espero que a mesma seja respeitosa, não invasiva e sem causar constrangimentos.

O ponto para o qual quero chamar a atenção aqui é sobre o que e como fazer para aumentar a quantidade de pessoas que conseguem perceber que, em seu ambiente, podem estar presentes pessoas com deficiência. Podemos imaginar, por exemplo uma pessoa idosa, com deficiência motora e usando uma bengala caminhando na calçada rumo à entrada de uma instituição financeira. De repente passa por ela uma apressada pessoa digitando ao celular e, sem percebê-la, ainda tromba em sua bengala e prossegue caminhando sem notar que causou sua queda. Dezenas de outros exemplos podem ser citados, como a não percepção de alguém com autismo, uma pessoa falando muito alto com um deficiente visual a ponto de ser obrigado a lembrá-la que não é surdo, apenas enxerga mal ou mesmo um cadeirante tentando entrar num edifício não amigável em termos de acessibilidade.

Muitos ainda são aqueles que, plenos hoje, podem vir a adquirir no futuro uma deficiência que venha a exigir um pouco mais de solidariedade no convívio social.

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O ano passou muito rápido em conjuntura de crise política, econômica, social, greve de caminhoneiros, Copa do Mundo de futebol, eleições para os poderes executivo e legislativo, fake news, aumento de 16,4% no salário dos ministros do STF, efeito cascata desse aumento a ser repassado para outros servidores públicos conforme direitos adquiridos…

Agora, para fechar o ano, chegou pela tradição da Igreja Católica o Advento, tempo em que as pessoas se preparam para a chegada do Natal nos quatro domingos que o antecedem. Diz uma frase popular que “o melhor da festa é esperar por ela”.  Mas nessa altura da vida de cristãos e não cristãos que oportunidades ainda podem ser enxergadas por aqueles que pensam que é preciso modificar o modo de ser e agir para melhorar o que precisa ser melhorado? Os significados trazidos pelo Natal ainda são os mesmos ou eles precisam de ressignificados em função dos tempos contemporâneos que exigem constantes reposicionamentos diante das velozes mudanças?

Até quando as pessoas que se dizem civilizadas perderão a oportunidade de reavaliar as suas atitudes e posicionamentos dominados pela intolerância, raiva e ódio?

Relembrando Vinícius de Moraes em sua música Samba da benção:

“A vida é a arte do encontro embora haja tantos desencontros pela vida”.

O que e como fazer pelo reencontro, por exemplo, das famílias que estão rachadas e afastadas por diversas causas, embora geralmente exista uma que é a principal? E dos estragos causados pela confraternização que deixou sequelas no ano anterior, tanto no local de trabalho, no grupo de amigos da quadra de futebol ou na polarização das últimas eleições?

O que depende de mudanças em cada um de nós precisa ser percebido pela consciência e virar ação pela inteligência. Mas a mudança depende do querer e da vontade de agir de cada um de nós para, a partir daí, começar a se irradiar pelo ambiente com o devido respeito e cooperação nos processos que permeiam o associativismo entre as pessoas.

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Viajar de Belo Horizonte para Araxá, capital secreta do mundo, e lá ficar mesmo que por poucos dias ainda que dois ou três, é sempre muito bom. Tive mais uma oportunidade de fazer isso no feriado prolongado que a Proclamação da República ensejou.

Saí de Belo Horizonte no final da manhã da sexta, 16 de novembro, e retornei de Araxá no domingo às 11 horas. Registro aqui algumas observações e análises sobre o trecho da BR-262 que liga Belo Horizonte a Araxá e na qual circulo de ônibus ou automóvel desde 1972.

Ao longo desses 46 anos muitas foram as modificações ocorridas no país e seus reflexos se fazem presentes permanentemente na estrada. Nesse período a população brasileira mais que dobrou ao passar de pouco mais de 100 milhões de habitantes para os atuais 208 milhões segundo o IBGE. Algo semelhante aconteceu também com a quantidade de automóveis de passeio, motocicletas, caminhões, carretas e ônibus que circulam diariamente pela estrada com as características típicas dos dias úteis, finais de semana e feriados prolongados, faça sol ou faça chuva.

É importante realçar o papel da rodovia para a logística que envolve a movimentação de pessoas e bens nessa parte do Centro-Oeste de Minas Gerais. Ainda assim, apenas o trecho entre os municípios de Betim e Nova Serrana teve a pista duplicada nesta década enquanto os 230 km restantes até o município de Araxá continuam com a mesma pista simples dos tempos da inauguração da rodovia, em novembro de 1969.

Outro fato relevante é que desde 2014 vigora a concessão da rodovia para a iniciativa privada com a premissa da duplicação das pistas até o município de Uberaba, o que ainda não ocorreu apesar dos prazos contratuais. Mesmo assim, o pedágio continua funcionando maravilhosamente bem em todas as praças tanto na modalidade “passe direto” quanto na “pare no caixa” a um preço médio de R$4,50. No trecho utilizado existem três praças que recolheram em seus caixas R$26,40 entre a ida e a volta.

O aspecto geral da pista está razoavelmente bom, mas apresenta pequenos buracos nascendo em variados trechos e que se não forem tampados rapidamente serão futuras crateras. Aliás, isso é o que estava presentes na pista do km 413 no município de Pará de Minas sentido Belo Horizonte onde dois buracos quase sequenciais com aproximadamente um metro de diâmetro e profundidade aparentando 25 cm não estavam sequer sinalizados. Registrei a situação pelo Sistema de Atendimento ao Cliente (SAC) da concessionária e imagino que os buracos já devem ter sido tampados neste momento. Ainda sobre a pista observei um recapeamento geral no km 590 no município de Campos Altos que estava funcionando no sistema Pare e Siga.

Quanto aos condutores dos diversos tipos veículos na pista nada vem se modificando apesar de todos os alertas. Continua faltando disciplina para muita gente que não cumpre os padrões de trânsito. Sempre tem aqueles imprudentes criando muitas situações de quase acidentes – e também de acidentes – por dirigir seus veículos com muita imprudência, velocidade acima dos limites estabelecidos, forçadas tentativas de ultrapassagens pela direita ou na pista contrária mesmo sendo contínua a faixa à esquerda. Nesse caso houve algumas ocorrências em que o veículo que vinha no sentido contrário teve que se desviar para o acostamento enquanto o “bacana” prosseguia em seu intento de sempre ficar à frente de todos. Direção defensiva é o mínimo que se espera de quem está na pista, mas nem todos conseguem deixar de lado a arrogância e a prepotência ainda que vidas estejam em jogo permanentemente.

Infelizmente isso é o que temos e o que mais falta é educação e também a fiscalização da concessionária e da própria Polícia Rodoviária Federal.

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