O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado do PIB do primeiro trimestre de 2019 mostrando que houve uma queda de 0,2% na comparação com o trimestre anterior. Por outro lado, os dados preliminares do segundo trimestre também não são nada animadores. A economia prossegue estagnada, o desemprego segue altíssimo e sem perspectivas de queda, o consumo das famílias só cai, os investimentos estão longe do necessário e a piora das expectativas em relação ao futuro sinaliza que nova recessão econômica pode estar a caminho. Então dá pra imaginar o que pode estar passando pela cabeça das pessoas ao verificar a distância que existe entre a necessidade de crescimento do PIB e os resultados que estão sendo entregues no momento. Há sinais de que o ano poderá ser perdido e que não é suficiente jogar todas as causas nas costas da não aprovação da Reforma da Previdência Social.
Pensando no que e como fazer para prosseguir diante de tantas dificuldades, alertas e ameaças lembrei-me da obra do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987) nos versos livres da poesia “José”, publicada em 1942, ano de muitas dificuldades na plenitude do Estado Novo, na ditadura de Getúlio Vargas e na Segunda Guerra Mundial. A seguir leia “José”, ou releia, para quem já leu, enquanto fico na expectativa de que surjam contribuições alentadoras para melhor compreender a nossa existência no momento que estamos passando.
José Carlos Drummond de Andrade E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio — e agora? Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde?