Escrevo esta pensata na manhã da quarta-feira de cinzas, como se tudo estivesse terminado nessa grande festa popular, mas sei que o pós-carnaval ainda vai dar o ar da graça em muitos lugares até o final da semana. Fico pensando para onde vamos, eu, você, nós e toda a polarizada sociedade brasileira já tendo se passado 2 meses do ano que segue firmemente seu curso natural. O que ficou para trás, ficou.

Mas por que pensar, nesse momento, na quantidade de dias que já se passaram nos quais a pauta de notícias verdadeiras e também falsas se renovou quase que a cada instante?

A razão é muito simples. Contrariando recessões econômicas anteriores, dessa vez tudo está bem mais demorado para acontecer numa efetiva retomada do crescimento econômico. De 2014 para cá chegamos ao sétimo ano de pleno desemprego. Enquanto o social grita e suas barragens dão sinais de rachaduras – vide policiais militares amotinados no Ceará – a política partidária está de olho nas eleições municipais para prefeitos e vereadores em 5.570 municípios, que aliás, é onde as pessoas moram.

Em dezembro passado uma expressão bastante ouvida dizia que “agora vai”, mas vai para onde se nós vivemos de resultados? Será que dá para continuar convivendo com um barril de pólvora de 11,6 milhões de desempregados, 5 milhões de desalentados, 3 milhões na fila do bolsa família e quase 2 milhões na fila do INSS? Se o ano começou com a projeção de crescimento do PIB entre 2,30% e 2,50% bastou a divulgação dos índices econômicos de dezembro mostrando uma certa freada na economia para que se mudassem as expectativas. Agora o Boletim Focus do Banco Central já estima crescimento de 2,20% no final do ano. Vale lembrar que no ano passado não foi diferente. A projeção em janeiro era para crescimento do PIB em 2,53% que foi caindo, caindo e deve ficar em torno de 1% quando o IBGE divulgar o número oficial no início de março.

Agora o Presidente da República já fala que espera um crescimento da economia de pelo menos 2% e o prestigiado Superministro da Economia responde que acha que vai dá para alcançar. Fazendo uma analogia com o futebol podemos lembrar que nessa modalidade esportiva quando se diz que o técnico do time está prestigiado é sinal de que aumentaram as chances dele ser demitido por falta de resultados expressivos. Como se vê, não basta só torcer pelos bons resultados e dar demonstrações de fé num momento em que tudo vai mudar num milagroso passe de mágica. Também não basta bradar crenças no liberalismo econômico enquanto se tabela preços para fretes de caminhoneiros ou juros bancários devidamente compensados por aumentos de tarifas de prestação de serviços, por exemplo. Como a economia vive de expectativas e mede permanentemente a confiança e a desconfiança no rumo que as coisas vão tomando, será que surgirão muitos investidores para fazer os investimentos que o país está esperando? Some-se a isso o corona vírus – Covid19 puxando a economia mundial para baixo, a espera permanente pelas reformas tributária e administrativa, ataques presidenciais frequentes à democracia, às instituições do país e à liberdade de imprensa como se fossem um empecilho para que as coisas deem certo. É o que temos para enfrentar  no momento.

  Comentários
 

O imposto de renda aumenta todo ano

por Luis Borges 13 de fevereiro de 2020   Pensata

Sempre que surge alguma autoridade governamental tentando criar ou recriar impostos para justificar a busca do equilíbrio das contas públicas pelo caminho mais curto surgem nas mídias variadas reações. Entre as frases mais difundidas posso citar “ninguém aguenta mais o aumento da carga tributária” e “aumentar impostos, nem pensar”. Ainda assim, o Ministro da Economia, sempre que pode, insiste em defender uma metamorfose para recriar a extinta Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF). Outro exemplo veio da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que tentou criar uma taxa sobre a energia solar gerada em casa. Afinal de contas a carga tributária chegou a 35,07% do PIB em 2018 mesmo com a pífia recuperação da economia.

Porém existe uma forma mais dissimulada e às vezes não percebida de imediato pelos menos atentos para  aumentar impostos que fazem parte da carga tributária. Tem ganhado força nos municípios a revisão do IPTU a partir de imagens aéreas que atualizam o tamanho das áreas construídas nos terrenos e mostram se existem acréscimos de áreas em relação ao que está registrado. Os proprietários podem recorrer à prefeitura para contestar a nova medição, mas geralmente tem prevalecido, na maioria dos casos, os lançamentos feitos em função das novas áreas medidas quando são maiores que as anteriormente registradas. Também podem surgir tentativas de elevações das alíquotas do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) para o teto de 5%, pois em muitos municípios o ISSQN ainda varia de 3% a 5%. Já o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), em geral com a alíquota de 3%, é calculado pelas prefeituras sobre sua própria tabela de preços, que acaba sendo sempre maior que o valor constante na promessa de compra e venda, que deveria ser a base para o cálculo. É a prefeitura tabelando para cima os preços do mercado que se diz livre.

Nos estados vira e mexe surge um acréscimo no ICMS em itens como combustíveis, telecomunicações, energia, bebidas, cosméticos… A proposta de extinção da Lei Kandir, em discussão no Congresso Nacional, pode trazer de volta a alíquota de 13% de ICMS para os bens primários e semielaborados exportados pelos estados. Já para o Governo Federal ficou a maneira mais simples de aumentar tributos que é a não correção anual da tabela do Imposto de Renda pelo índice do IPCA do IBGE. O Ministério da Economia deveria ter feito, no ano passado, a correção em 3,75% – inflação de 2018. Até agora ainda não fez a correção de 4,31% referente à inflação de 2019, ou seja, acumulam-se 2 anos de reajuste zero e cresce o valor do imposto pago pelas pessoas que conseguiram reajustes salariais ou mesmo de receitas de aluguéis de bens imóveis.

Estudo feito pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil mostra que essa perda existe há décadas, ainda que em alguns anos a correção da tabela tenha sido parcial e por faixas salariais. O que se verifica é que de 1996 a 2017 a defasagem da tabela é de 95% e chega a 104% se acrescentarmos os últimos dois anos. Vale lembrar também que o atual Presidente da República afirmou em sua campanha eleitoral que não aumentaria a carga tributária e que o limite para isenção do Imposto de Renda seria de 5 salários mínimos – hoje R$5.225,00. Como sempre, existe distância entre a intenção e o gesto. Mas também pudera, o período era eleitoral. Agora é esperar o programa de ajuste anual da Receita Federal deste ano e observar que acabou a dedução de gastos com a contratação de empregadas domésticas, incentivo fiscal findado em 2019 e que não foi renovado, ou seja, mais um aumento na carga tributária de quem faz esse tipo de contratação de prestação de serviços.

E, para completar, prosseguem as catilinárias da reforma tributária.

  Comentários
 

“A vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, diz o poeta e compositor Vinicius de Moraes em sua música “Samba da bênção”. Digo isso a propósito do encontro casual que tive no último dia de janeiro com um antigo colega de trabalho – com quem tive um bom convívio à época – que não via há muito tempo. Tudo aconteceu na sala de espera do consultório médico de um ortopedista. O médico estava atrasado para iniciar seus trabalhos naquela manhã devido a uma cirurgia de emergência no hospital em que atua, conforme informou sua secretária após questionamentos de alguns esperançosos pacientes.

O ex colega se aproximou logo após a minha chegada, lembrando que já fazia 20 anos que não nos encontrávamos pessoalmente. Disse também que o atraso do médico seria compensado por nos possibilitar uma conversa sobre os rumos de nossas vidas após o período em que trabalhamos juntos. Depois de nos cumprimentarmos irradiando uma boa energia fiz a clássica pergunta que surge naturalmente nesse tipo de encontro: “o que você está fazendo da vida?”. Foi a senha para que o colega narrasse epicamente os momentos vividos até a decisão de se aposentar aos 63 anos de idade, após 40 anos de contribuição previdenciária, e, em seguida, focar nos 3 anos vividos na sequência.

O colega disse que adiou ao máximo a aposentadoria por não ter um projeto minimamente elaborado para quando ela viesse e que só resolveu encará-la quando percebeu que a Reforma da Previdência acabaria acontecendo. Por isso, decidiu garantir logo o seu direito adquirido no INSS e também no plano de previdência suplementar do qual participava na empresa em que trabalhava. Prosseguiu falando sobre sua adaptação inicial à condição de “aposentado que não queria ir para os aposentos” e buscava encontrar um padrão para a nova rotina do dia-a-dia. Em sua cabeça vinha a lembrança do trabalho de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30 às 17h30, o almoço sempre nas proximidades da empresa e os vários chefes que teve, a maioria absoluta longe de fazer uma gestão pela liderança. A prevalência sempre foi de comandantes fracos tentando tomar conta das pessoas e “se achando”.

Lembrou também que depois de seis meses conseguiu se integrar mais à vida diária de sua casa – com horários combinados para café da manhã, almoço, cafezinho no meio da tarde e lanche da noite. Nesse caso afirmou enfatizando sinceridade que teve algumas trombadas com a esposa, também aposentada, que dedica as tardes de segunda, quarta e sexta a um trabalho voluntário no bairro em que moram.

Ainda embalado na fala o colega disse que tem pensado numa volta ao mercado de trabalho para atuar em projetos que lhe exijam baixa carga horária mensal. Argumentou que precisa se atualizar um pouco mais e que seu nome corporativo já não existe no mercado após passar esse tempo parado. Afirmou que sente um certo vazio mesmo tendo diversas atividades ao longo do dia tais como exercícios físicos, acesso amplo à internet, participação ativa em alguns grupos de WhatsApp bastante movimentados, leitura de algum livro que está na moda, presença frequente nos eventos de sua religião, pequenas interações sociais com a família e pouquíssimos amigos. Disse também que um dinheiro extra poderia amenizar um pouco a inflação do idoso, que é sempre bem maior que o reajuste de seus proventos, e que está ciente das dificuldades que terá devido à fraca recuperação da economia brasileira.

Inesperadamente o antigo colega foi chamado pelo ortopedista para o início de sua consulta enquanto fui informado pela secretária de que eu seria atendido logo em seguida. Apesar da pressa do médico foi possível anotar o número dos telefones e registrar a intenção de envidar esforços para que aconteça um novo encontro num futuro próximo. Quando a consulta começou fiquei pensando sobre o que e como fazer para que a inércia não impeça que a intenção se transforme em gesto. Será? Dependerá muito de nós e de nosso querer, mas quem terá a iniciativa de propor uma data para esse encontro?

  Comentários
 

Sabe daquela situação que geralmente imaginamos que só acontece com os outros, em que um membro da família sofre um acidente vascular cerebral do tipo hemorrágico? Foi o que aconteceu no dia 2 de janeiro com o senhor Paulito, de 83 anos, aposentado, casado com a senhora Iarinha, de 78 anos, com quem teve 8 filhos. Muitos também são os genros, noras, netos e bisnetos. O fato é que Paulito sentiu-se mal na tarde daquele dia, quando jogava buraco, como fazia todos os dias, com um grupo de amigos e colegas numa espécie de cassino informal de seu bairro numa cidade da região metropolitana de Belo Horizonte. Paulito foi levado para uma unidade de pronto atendimento e posteriormente transferido para um hospital público de grande porte. A hemorragia inundou uma vasta área de seu cérebro e, após 12 dias de internação, seu nome foi estampado num atestado de óbito, clássico documento que registra o fim do curso de vida.

Alguns fatos e dados marcaram os dias da angustiante espera da família por um desfecho favorável, mesmo diante de prognósticos sombrios. Um fato marcante foi a reação das pessoas do convívio de Paulito ao tomarem conhecimento sobre o que aconteceu com ele, sendo que algumas delas também tentavam encontrar uma explicação para o acontecido. “Como assim foi acontecer isso se ele estava tão bem?”, perguntaram alguns. Na tentativa de encontrar explicações alguns filhos lembraram-se de que o pai tinha dificuldades para tomar diariamente o medicamento para controlar a pressão arterial e muitas vezes ficava até uma semana sem usá-lo. Além disso, também usava medicamentos para combater a disfunção erétil, a ansiedade, os níveis elevados da glicose e do colesterol. Para completar o quadro foi lembrado que ele tomava diariamente uma ou duas doses bem generosas de sua cachaça preferida que era também recomendada aos filhos, ainda que fosse apenas uma “bicadinha” para sentir o gosto.

Outro fato marcante foi a decisão da filha mais nova de Paulito e Iarinha de criar um grupo de WhatsApp para agilizar as comunicações sobre o quadro clínico do pai. O grupo, administrado por ela, foi composto por filhos, genros, noras, netos, amigos, colegas e vizinhos. A primeira mensagem informava que o estado do paciente era grave, mas estável, como determina o protocolo padrão nessas ocasiões. Também foram informados os horários de visitas rápidas ao paciente na UTI do hospital, sendo no máximo duas pessoas à tarde e outras duas à noite, conforme a escala feita pela filha administradora. Só ela e a mãe Iarinha poderiam fazer visitas dia sim, dia não, enquanto os outros muitos interessados colocavam seus nomes numa lista para as outras vagas. A parte familiar do grupo de WhatsApp quase explodiu quando, no sexto dia de internação, a filha administradora interpretou mal uma fala de um médico intensivista da UTI e informou ao grupo a morte cerebral de Paulito. O desespero tomou conta de muitos enquanto outros questionavam a equipe médica sobre a real situação do pai e as perspectivas para as horas seguintes. A morte cerebral foi negada, mas o quadro grave reafirmado. Depois de tudo a filha administradora do grupo de WhatsApp pediu perdão a todos pelo seu erro de interpretação e também um voto de confiança para continuar à frente do processo.

Nos dias seguintes Paulito continuava do mesmo jeito e sem nenhum sinal de qualquer reação minimamente esperançosa. Passou a ter febres mais constantes e a pressão arterial foi ficando mais baixa. Foi aí que Iarinha e seus filhos solicitaram uma reunião com a equipe médica e um dos filhos perguntou de cara quais eram as chances do pai sobreviver, independente de sequelas, numa escala de 1 a 10. A resposta foi imediata informando que a chance seria 1. A reunião praticamente terminou ali e todos entenderam qual seria o desfecho mais provável. Em seguida foi passada a informação para todos os membros do grupo de WhatsApp. E, na alvorada do dia 14 de janeiro, Paulito veio a óbito e todos ficaram sabendo à medida em que acordavam e davam aquela olhada básica em sua rede social. Logo a seguir a movimentação do grupo girou em torno de condolências, perguntas sobre a hora de início do velório e depois sobre o dia e hora do sepultamento que, aliás, acabou sendo no final da manhã do dia seguinte. E não é que, um pouco depois, algumas pessoas começaram a perguntar sobre a missa de sétimo dia?!

Você se lembra de ter vivido alguma situação semelhante a essa, envolvendo parentes e amigos, nas duas primeiras décadas deste século ou realmente isso só acontece com os outros?

  Comentários
 

Algumas preocupações de janeiro

por Luis Borges 20 de janeiro de 2020   Pensata

O tempo prossegue caminhando firme para a frente, com muita determinação e sem parar para descansar ou reclamar. Seu medidor mostra que mais da metade do mês de janeiro já foi embora. Foi tudo tão rápido, incrivelmente rápido, que mal dá para lembrar os desejos de “Feliz Ano Novo” com saúde, paz e sonhos realizados. Se muitas eram e ainda são as expectativas, várias até bem maiores que a realidade, o fato é que a cada dia surgem novas preocupações diante do acentuado ritmo de mudanças que acontecem e se sucedem. Isso só faz aumentar a inquietude de nossas mentes visando um melhor posicionamento para responder bem aos desafios que vão surgindo.

Muitas preocupações ficaram para trás no tempo, mas não tem como ser esquecidas. Uma delas é a pífia recuperação da economia que resulta em 12 milhões de pessoas desempregadas e deixa em evidência o aumento da carestia na alimentação, na saúde, no lazer… Isso ficou evidente com a divulgação dos índices inflacionários do ano passado em que os salários em geral perderam poder de compra. A título de ilustração basta olhar para o novo salário mínimo, que inicialmente ficou abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC, e que acabou sendo corrigido às pressas para ficar minimamente compatível com a Lei que, aliás, não prevê ganhos reais para recompor o poder de compra perdido ao longo do tempo.

E se agora cada um de nós começar a listar as preocupações com os fatos que aconteceram nesses primeiros 20 dias e que podem impactar negativamente o orçamento financeiro do ano? De cara, para quem mora em Belo Horizonte, já existem os decantados gastos com o IPTU, IPVA, quitação de multas de trânsito, material escolar e anuidades escolares aumentadas acima da inflação.

Será que deve ser alta a preocupação com os rumos que tomarão as relações entre Estados Unidos, Irã e Iraque e seu impacto na produção, logística de distribuição e preços do petróleo que sustenta os países do Oriente Médio? Será que teremos que pagar mais caro ainda pela gasolina, óleo diesel e gás de cozinha? Dá para imaginar o automóvel parado em casa 3 dias por semana? Será que o liberalismo econômico vigente vai ter coragem de tabelar esses preços como fez com os juros bancários de 8% para os cheques especiais?

Na minha lista também preocupa a vontade de aumentar a já altíssima carga tributária que sempre passa pela cabeça de governantes e parlamentares. Isso vai desde a energia solar, cujo uso avança pelo país, e pela não correção da tabela do imposto de renda da pessoa física, que está defasada em 104% acumulados nos últimos 24 anos.

Também causa preocupação e desconforto o calor intenso e a medição da temperatura variando de 31ºC a 35ºC, à qual deve-se acrescer algo em torno de 5ºC para incluir a sensação térmica. Não menos preocupantes são as chuvas fortes, rápidas e de alta vazão, trazendo alagamentos, enchentes, deslizamentos de terra, destruição e mortes. Aliás, essa cena se repete todo início de ano e se tornou um problema crônico que nenhum prefeito consegue resolver, entra ano, sai ano. O calor e a chuva também trazem a preocupação e a facilitação para a proliferação de doenças como a dengue, zika vírus e a febre chikungunya.

Mais preocupação vem só de pensar no aumento dos preços dos planos de saúde – sempre bem acima da inflação, medicamentos, transporte coletivo – nas mãos da justiça e a última parte da tarifa do metrô.

Ah! Eu poderia dizer que chega de preocupações, mas é impossível não se preocupar apesar de todo o realismo esperançoso. Basta olhar o orçamento de gastos e verificar que ele exigirá cortes, ainda mais para quem não tem recebíveis do nióbio para negociar.

  Comentários
 

Só no digital não dá

por Luis Borges 8 de janeiro de 2020   Pensata

O Portal G1 publicou, no dia 03 de janeiro, alguns dados que podem nos fazer pensar sobre intenções e gestos envolvendo a movimentação de pessoas em diferentes níveis de relacionamentos pessoais e em organizações humanas de diferentes tipos de atuação.

Segundo a publicação:

 O WhatsApp informou que, durante as 24 horas que antecederam a meia-noite da véspera de ano novo, foi registrado um número recorde de mensagens enviado por meio do aplicativo em todo o mundo: mais de 100 bilhões durante as 24 horas do dia 31 de dezembro. 

[…]

Apenas no Brasil, os usuários do WhatsApp enviaram mais de 13 bilhões de mensagens no dia 31 de dezembro de 2019.

[…]

Apesar da criptografia de ponta a ponta do WhatsApp, que só permite a leitura da mensagem entre quem envia e quem lê, o aplicativo supõe que um número grande de mensagens enviadas em 31 de dezembro foi de “Feliz Ano Novo” ”.

Meu ponto aqui é fazer um balanço que nos permita refletir sobre o que foi possível fazer concretamente em nossas relações pessoais ou negociais que foram além do digital na fria tentativa de buscar uma aproximação que, já se sabe, continuará distante pela própria natureza do meio utilizado. Por mais que seja afetiva a mensagem, nada substituirá o calor radiante do encontro físico, presencial entre seres humanos.

No meu caso específico considero que consegui ir um pouco além do digital, ainda que limitado por condições funcionais, mas com muito suporte das pessoas mais próximas.

Nesse sentido deixo registrado que passei quatro dias do período de virada do ano na minha terra natal – Araxá, capital secreta do mundo e cidade eterna como Roma. Por incrível que possa parecer, consegui estar pessoalmente em 10 residências de familiares diretos que são também amigos, tias e primas, sem polarizações e intolerâncias, mas com muito respeito, humor, capacidade de ouvir e também de falar. Um momento muito marcante foi o encontro com quatro tias que estão acima dos 80 anos de idade. Como sabemos, idosos querem presença, carinho e atenção. Duas delas moram em suas próprias residências, sendo que uma estava fazendo mingau de milho verde e a outra se preparava para ver a passagem do ramo de uma folia de Reis. As outras duas moram em instituições de longa permanência para idosos, onde o horário de visitas é na parte da tarde e o tempo de permanência é de 4 horas em uma e de 2 horas na outra. Nesse caso, me coloquei no lugar delas e fiquei a imaginar como seria a minha adaptação numa instituição desse tipo quando essa opção também poderá ser uma solução para meu curso de vida a caminho da finitude.

É claro que não dá para negar a vida conectada digitalmente mas não precisamos ficar só nela. Ainda é possível viver e manter a nossa dimensão humana, que também depende do nosso querer e das nossas iniciativas como num simples, caloroso e renovador encontro na virada do ano. Outros encontros virão, no Carnaval ou na Páscoa, por exemplo. Depende de nós.

  Comentários
 

Na passarela do tempo

por Luis Borges 19 de dezembro de 2019   Pensata

O tempo caminha indelevelmente para frente e nós com ele, mas sabedores de nossa finitude perante algo que nos parece infinito. Ainda assim, ouvimos com muita frequência reclamações de pessoas dando conta de que falta lhes tempo ou que o tempo passou muito rápido, praticamente sem ser percebido. O fato é que, mesmo diante das diferentes percepções que se tenha, o tempo relativo ao ano de 2019 está chegando à sua marca final, trazendo a alvorada cada vez mais próxima do ano que será marcado como 2020.

Dessa realidade não será possível fugir e, por maior que seja a poesia inerente à vida, esse momento do tempo também nos possibilita fazer uma observação e análise, sem adjetivos, sobre a realidade em que nossas vidas estão sendo vividas. Muitas podem ser as expectativas, mas elas não devem ser maiores que a realidade. Caso contrário, as frustrações causarão mais sofrimento nesse momento em que a sociedade brasileira é marcada pela polarização político ideológica que muitas vezes nos obriga a clamar por civilização, respeito, tolerância nas relações pessoais e sociais. Tudo só piora se prevalecem as fake news em detrimento da verdade e do conhecimento científico, enquanto os problemas crônicos não são resolvidos e a realidade social grita com 12,4 milhões de desempregados que a pequenez da recuperação da economia não ajuda a resolver. Se temos a consciência que somos responsáveis pelas nossas escolhas, ainda que elas nem sempre levem aos resultados esperados, precisamos ter sempre em mente que o importante é não estar vencido e que sempre é possível aprender com os erros para melhor prosseguir rumo ao estado de bem-estar social, bom para todos e com equidade.

Então, diante dos fatos, dados, informações, conhecimentos sobre a realidade que nos cerca nos aspectos políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, culturais… é importante prestar atenção no que disse o dramaturgo, romancista e poeta brasileiro Ariano Suassuna em “O auto da compadecida”, uma das obras mais marcantes de sua trajetória:

“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”.

Que a sabedoria e a inteligência nos ajudem a compreender que a conjuntura e os cenários que se desenham nos indicam que a estratégia de sobrevivência continua sendo a mais adequada. Caminhemos!

—————

O Observação & Análise fará uma pausa neste fim de ano. Os posts voltam no dia 8 de janeiro. Desejo boas festas a todos os leitores e a agradeço pela companhia neste 2019. Que possamos seguir juntos em 2020.  

  Comentários
 

Tenho insistido com alguma frequência na importância do ato de olhar também para trás nos caminhos percorridos e, claro, sem mágoas, remorsos e arrependimentos, mas buscando aprender com os acertos e erros dos processos vividos, dos resultados alcançados, para melhor prosseguir frente aos desafios permanentes que se colocam. Nesse sentido voltam à minha lembrança acontecimentos do ano de 1969 que estão completando 50 anos neste 2019. Só para ilustrar posso citar a chegada do homem à Lua, o milésimo gol de Pelé, o surgimento da internet nos Estados Unidos com o nome de “Arpanet”e interligando laboratórios de pesquisas, o primeiro ano de vigência do Ato Institucional número 5, o AI-5, que ainda hoje tem seus saudosistas. Do ponto de vista pessoal posso citar a emblemática conclusão do curso ginasial no Colégio Dom Bosco de Araxá (MG) em 9 de dezembro, logo após ter completado 15 anos de idade.

Vale lembrar também que o Brasil tinha em torno de 93,5 milhões de habitantes segundo o IBGE, Araxá tinha em torno de 35,6 mil habitantes, a inflação anual foi de 19,31% e o crescimento anual da economia ficou em 9,74% e deu início ao período do milagre econômico brasileiro que se encerrou em 1973, mas os anos foram de chumbo.

O meu sonho – e também o de meus pais – era buscar uma vida melhor a partir da educação, que culminasse com a graduação em cursos de nível superior com maior demanda pelo mercado de trabalho. O propósito era prosseguir os estudos no então curso científico do segundo grau, hoje ensino médio, visando à melhor preparação para inicialmente disputar competitivamente as vagas nas universidades e faculdades isoladas públicas. Também fazia parte cursar o 3ºano focado na preparação para o disputadíssimo vestibular. Obviamente que os 57 colegas que se formaram comigo também tinham sonhos semelhantes em seus horizontes. Passado todo esse tempo, agora já cinquentenário, e apesar de quase nenhum contato direto com a esmagadora maioria deles, tenho hoje informações coletadas em diversas fontes dando conta que 16 desses ginasianos se formaram em cursos de Engenharia, 5 em Odontologia, 4 em Direito, 3 em Medicina e 1 em Educação Física. Também é sabido que 3 alunos da turma A e 2 alunos da turma B já estão em outro plano espiritual.

No meu caso específico e no de meus dois irmãos a estratégia era a aprovação no vestibular de universidades públicas federais com ensino público gratuito e assistência social com alimentação no bandejão, livros disponíveis nas bibliotecas ou para aquisição em condições especiais nas cooperativas, além de assistência médica e odontológica.

Tudo o que fiz me ajudou a chegar ao dia de hoje sempre com o inestimável e fundamental apoio a partir da família e também do meu querer, com muito foco, esforço, determinação e resiliência.

E você, caro leitor, como foi a sua passagem pelo ensino fundamental? Depois dela você seguiu estudando?

  Comentários
 

Onde você vai passar o Natal?

por Luis Borges 20 de novembro de 2019   Pensata

Faltando pouco mais de um mês para o dia do Natal são muitas as pessoas que estão me perguntando onde vou passar a data. Pelo que observo essa pergunta faz parte do cotidiano da maior parte das pessoas que estão por aí circulando no meio familiar, entre amigos ou local de trabalho para ficar apenas em alguns casos.

É fato que planejar é pensar antes mas também é fato que o planejar exige ação. Está mais do que na hora de definir onde passar o Natal, com quem e como tudo acontecerá, inclusive o custo. Ainda mais com a tradição brasileira de que o Natal deve ser passado em família, para que a chegada do Ano Novo possa ser em algum lugar por aí afora atrás da aurora que chegará indelevelmente.

No meu caso já está decidido em família que ficaremos em casa, sem nada muito diferente do que já é o nosso modo de ser e viver numa ocasião como essa.

Caso você também, caro leitor, já tenha definido o local e com quem passará o Natal, que tal pensar um pouco sobre o quanto estas festas tem atendido ou não às suas necessidades e expectativas a cada ano que passa?

Haja agradecimentos, alegrias, fogos, chuvas, promessas, reflexões, intenções de mudanças, pedidos… Tudo fica mais desafiante em função da polarização vivida por boa parte da sociedade, com atitudes muitas vezes desrespeitosas e pouco civilizadas. Atitudes bastante incompatíveis com a espiritualidade e a religiosidade invocadas também por muitos nessa época.

Não nos esqueçamos de que tudo começa com a gente e que cada um de nós, em sua individualidade, tem a capacidade e a possibilidade de conviver com os semelhantes, a começar pelos que estão mais próximos.

Então se for assim e se “o melhor da festa é esperar por ela”, o jeito é viver bem as fases dos preparativos, sabedores dos desafios trazidos pela polarização e pela persistente queda do poder aquisitivo no país.

  Comentários
 

Reforma é uma das palavras mais usadas em nosso cotidiano há um bom tempo e geralmente vem acompanhada de expectativas de melhorias que muitas vezes são maiores do que a realidade permite, apesar de serem embaladas como a panaceia para todos os males. Foi assim que tivemos a reforma trabalhista, vendida como capaz de gerar milhares de novos empregos que ainda não surgiram, e a reforma da previdência social para combater os privilégios, mas sem os militares. Agora chegaram ao Congresso Nacional mais propostas de reformas por emendas constitucionais. Teremos muita discussão e falação para durar no mínimo até o final do próximo ano eleitoral de 2020. Também, é nisso que dá ter eleições de 2 em 2 anos, que uma reforma eleitoral – mais uma reforma – poderia mudar para ser de 4 em 4 anos para todos os cargos eletivos, por exemplo.

A justificativa básica para todas as reformas é que a União, estados e municípios estão quebrados e que é preciso reequilibrar as contas públicas. Mas por que houve essa quebradeira que faz a insolvência bater às portas das instâncias dos entes federados? A observação e análise dos fatos e dados dos últimos 40 anos nos mostra, em diversos cortes e recortes, o fenômeno que levou à quebradeira e todo o processo que o gerou. Como a economia estagnada não permite um crescimento da arrecadação pública suficiente para cobrir as despesas sempre crescentes e como não há condições políticas para se aumentar mais a já enorme carga tributária de maneira explícita só restou cortar na carne e até mesmo no osso através das reformas. Não é difícil saber para quem mais pesará o pagamento do pato das reformas no melhor estilo do liberalismo.

Meu ponto aqui é propor e fazer uma reflexão sobre a qualidade dos gastos públicos diante de tantas necessidades prioritárias e recursos escassos. As premissas que norteiam os gastos públicos poderiam ser definidas a partir das práticas anteriores que não deveriam ser mais aceitáveis em função dos desperdícios gerados, inclusive com privilégios e mordomias. Ainda que seja muito presente a cultura do “farinha pouca, meu pirão primeiro” existem centenas de destinações do dinheiro público que precisam ser cada vez mais questionadas. Independente do que for definido pelas reformas em discussão e outras que virão torna-se insustentável bancar algumas centenas de gastos. A título de ilustração posso citar o fundo eleitoral e o fundo partidário, que consomem por ano algo em torno de R$4 bilhões, diversos tipos de subsídios fiscais que não apresentam resultados em suas contrapartidas, alto índice de gasto com transporte de executivos e parlamentares, a começar pelos jatinhos da FAB, férias de 60 dias anuais para servidores do judiciário, auxilio moradia para deputados federais e estaduais, 14.400 obras paralisadas em todo o país em 2018 segundo o TCU que já consumiram R$70 bilhões e ainda precisam de R$40 bilhões para serem concluídas… Um pequeno esforço de memória ou de pesquisa no Portal da Transparência da União, estados e municípios ainda deixarão mais clareza sobre a qualidade de determinados gastos públicos.

Não adianta falar em direito adquirido se não existe sustentabilidade financeira que o garanta. E como a gestão faz falta!

  Comentários