A queda é livre

por Luis Borges 17 de novembro de 2020   Pensata

A vida é um risco que precisa de gestão permanentemente. “Viver é perigoso”, disse João Guimarães Rosa. Nessa toada muitas são as citações e afirmações que podem ser feitas em variados espectros da nossa cultura. Meu ponto aqui está ligado a possíveis perigos, armadilhas que podem estar no caminho das pessoas e causar quedas em casa, nas calçadas das vias públicas, no local de trabalho ou de lazer…  Aliás, sabemos da física que é livre a queda dos corpos.

Assim, não raro, ficamos sabendo de alguma ocorrência envolvendo pessoas próximas ou mesmo distantes que tiveram alguma queda com variadas consequências. Às vezes nós mesmos é que estamos na cena, apesar de muitos acreditarem que as coisas só acontecem com os outros. Recentemente chamou minha atenção a informação no portal de uma universidade dando conta da morte de um professor quase octogenário, aposentado e emérito, que teve uma queda dentro de casa e bateu a cabeça no chão. A causa da queda não foi divulgada. Também fiquei incomodado com o caso de um morador septuagenário do bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, que pisou em falso no buraco da calçada nas proximidades de uma padaria, acabou caindo e teve que se submeter a uma cirurgia no tornozelo da perna direita.

O fato é que segundo dados da Organização Mundial da Saúde as quedas são a segunda causa de mortes devido a lesões acidentais. Estima-se que cerca de 646 mil pessoas em todo o mundo morrem anualmente em consequência de quedas. Os idosos acima de 65 anos respondem pelo maior número de casos fatais. Outro dado importante é que em torno de 12%  dos idosos quebram algum osso ao cair e esse episódio pode criar neles o receio de que o evento possa vir a se repetir. Podemos também pensar na quantidade de pessoas que ficam sequeladas em diferentes graus devido à algum tipo de queda.

É óbvio que devemos conhecer as causas que levam as pessoas a ter uma queda e agir para aumentar a consciência de todos no sentido de evitar esse efeito tão indesejado. É preciso observar condições perigosas dentro de casa. Às vezes pode ser um piso muito encerado, cheio de tapetes esparramados, o excesso de móveis ou uma banheira com altura que exige um passo mais alto para ser acessada.

Por outro lado, é importante que as pessoas verifiquem seu estado de saúde, principalmente as mais idosas, para conferir seus níveis de pressão arterial, condições visuais, auditivas e motoras pois qualquer deficiência importante pode ser um facilitador para as quedas. Imagine alguém sentindo uma tonteira ao começar a descer uma escada de 4 degraus sem corrimão, por exemplo. São demais os perigos dessa vida. Estou citando casos simples que chamam a nossa atenção. Se olharmos as condições de muitas vias públicas veremos os riscos permanentes que corremos nos municípios pouco cuidadosos com a segurança de seus cidadãos, que também poderiam ser mais atentos e participativos. Mas se vier o pior a quem caberá cuidar do acidentado? É… aí o trem fica feio!

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Finados e a finitude da vida

por Luis Borges 9 de novembro de 2020   Pensata

Em 2 de novembro tivemos o Dia de Finados, sempre lembrado por quem valoriza esse tipo de lembrança histórica que começou a acontecer entre os cristãos a partir do século II depois de Cristo.

Conversei com algumas pessoas sobre o dia dos que se finaram e o que isso significa para elas, bem como o que elas pesam sobre outros temas que têm conexão com a morte. Alguns temas se aproximaram de um consenso e outros ficaram mais no campo da indagação, do será. Ficou bem claro que a maioria dessas pessoas busca ter alguns momentos de maior introspecção para se lembrar de quem partiu, cada qual em seus diferentes níveis de proximidade, afetividade e convívio. Alguns também falaram que ficaram pensando por instantes sobre como será o dia de sua partida para outro plano espiritual. Duas pessoas disseram ter esperança de merecer que isso aconteça enquanto estiverem dormindo ou de maneira instantânea, numa espécie de morte súbita.

Surgiram também discussões sobre a ida aos cemitérios para marcar uma presença diante de jazigos onde foram sepultados os corpos de pessoas marcantes de alguma maneira. A presença do visitante, mesmo na pandemia, ficou abalada diante da judicialização da decisão de abrir ou manter cemitérios fechados no dia de finados em alguns municípios.

Houve também pessoas dizendo que não frequentam cemitérios e até evitam passar na porta, e quando passam não olham para o seu interior. Teve um que falou sobre o seu desconforto quando é obrigado a comparecer a velórios e, quando não tem jeito mesmo, fica lá o mínimo possível, o suficiente para cumprimentar pessoas ligadas ao morto e que cobrariam posteriormente a sua ausência num momento como aquele.

Aproveitei para questionar se velórios devem continuar existindo, principalmente a partir do padrão praticado na pandemia da Covid-19, em que tiveram a duração reduzida para duas horas e com a presença máxima de 20 pessoas. O argumento que mais ouvi a favor da realização do velório, independente do tempo de duração, é que ele faz parte do ritual religioso e social de marcar a passagem para outro plano espiritual. Também acaba sendo parte dos primeiros momentos de luto para quem teve perdas devido à ruptura de um vínculo.

Um pequeno espaço foi dedicado às preocupações com os custos da morte e sua cadeia produtiva no mercado, que disponibiliza uma boa variedade de bens e serviços tais como o espaço para o velório, urna mortuária, jazigo e cremação. Basta conferir a mais recente pesquisa de preços feita pelo site Mercado Mineiro.

Por último ficaram as falas sobre a importância de discutir a vida e a sua finitude, que tem na morte o seu marco. Caminhemos para lá com a lentidão que for possível, porém sabendo que chegaremos lá.

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E quando a tecnologia não funciona?

por Luis Borges 29 de outubro de 2020   Pensata

O químico industrial Domiciano Barros Filho, 70 anos, aposentado, é cliente de uma operadora de planos de saúde regulamentados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar. Diante dos aumentos de preços anuais em percentuais muito além dos reajustes do valor de sua aposentadoria decidiu mudar de plano para adequar seu orçamento. Dessa forma foi preciso sair de um com ampla cobertura para outro co-participativo, obviamente com o preço menor. No último dia do mês ele fez a operação de cancelamento para que no primeiro dia do mês seguinte entrasse em vigor a nova modalidade. Entretanto, o primeiro boleto bancário a ser pago não chegou em tempo hábil. O jeito foi entrar em contato com a operadora, o que normalmente gera fadiga. Tentou resolver o problema pelo telefone 0800, mas a demora foi tanta que desistiu. Em seguida entrou no site e logo veio a mensagem dizendo que devido à greve dos correios a 2ª via do boleto deveria ser solicitada no próprio site.

Na sequência surgiram algumas surpresas. O sistema informava que Domiciano tinha dois tipos de planos de saúde ativos, embora tenha surgido na tela por ocasião do cancelamento do contrato anterior que “a operação foi realizada com sucesso”. Tudo isso nove dias após a solicitação. Novamente tentou contato telefônico com a operadora e esperou 40 minutos para que se iniciasse o seu atendimento. Após 30 minutos de conversas e diante das evidências objetivas a operadora admitiu que houve uma falha no sistema, pediu desculpas pelo incômodo causado e informou o cancelamento retroativo ao último dia do mês anterior, que seria feito nas 48 horas seguintes.

Outra surpresa veio com a tentativa de emitir a 2ª via do boleto pelo site. A operação não se concluía devido a uma alegada divergência no CPF ou data de nascimento cadastrados. De novo foi necessário um contato pelo telefone, quando foi reconhecido que havia um problema no sistema desde o dia anterior e que estava sendo providenciada a solução. A saída emergencial foi indicar um telefone específico através do qual seria registrado o pedido de emissão de um novo boleto, que finalmente chegou via e-mail. O tempo perdido ficou por conta do desperdiço e a tecnologia tão decantada pela operadora do plano mostrou que estava no modo vagalume apagado.

Outro fato que também causou surpresa ocorreu quando Domiciano se preparava para fazer o derradeiro exame laboratorial antes do cancelamento do plano anterior. O laboratório solicitou que se fizesse o check-in pelo site, mas nada funcionou apesar da tentativa ter sido feita às 9 horas do dia anterior ao exame. O sistema informava que o serviço só poderia ser feito de 7 horas às 17 horas. O check-in estava sendo tentado no intervalo de horas previsto, e após 3 tentativas sem sucesso veio uma voz dizendo “desculpa, sou um robô”. Então Domiciano, “jogou a toalha” e resolveu fazer o check-in no balcão do laboratório, com ou sem fila, meia hora antes do início do exame num domingo.

A sensação que ficou é que a tecnologia é bem vinda, mas desde que funcione o tempo todo. Você já passou por alguma situação semelhante a essa, num banco, operadora de telefonia, cartão de crédito ou em um plano de saúde, por exemplo?

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Estou pensando assim…

por Luis Borges 26 de outubro de 2020   Pensata

Nesse mês de outubro, no dia 24, completei 66 anos de nascimento. Nasci em Araxá, cidade eterna e capital secreta do mundo. Como tem acontecido nos últimos anos são muitas coisas que surgem na minha cabeça e que movimentam o meu outubro.

Tenho um amigo de longa data, que é 99 dias mais idoso que eu, que todo dia fica me lembrando a chegada cada vez mais próxima do dia 24. A reciprocidade acontece no período anterior a 17 de julho, dia do aniversário de nascimento dele.

Algumas pessoas me perguntaram como seriam as comemorações nesse ano e quais as perspectivas que tenho desenhado para os horizontes da minha vida. As comemorações clássicas, típicas de datas anteriores, deixaram de acontecer devido à pandemia que não acabou e ao protocolo sanitário determinando o distanciamento social. Quanto ao horizonte para o ano que vem acabei por filosofar um pouco com as pessoas que me encontraram pelo telefone. Ao ser perguntado como me sinto nesse momento de mais um ciclo da vida, que começou após os 60 anos, reafirmei a física dizendo que a energia do universo é constante e se manifesta de maneiras diferentes. Assim minha reflexão passa pelas condições funcionais que tenho em meu organismo, elas não são as mesmas de quando eu estava na lira dos 20 anos. Abordei também a minha crença de que a fase em que me encontro exige mais consciência sobre a finitude da vida e que a qualquer momento o nosso espírito deixará o nosso corpo e seguirá seu rumo em direção a outro plano espiritual.

Outra pauta foi sobre com quem contar para prosseguir na caminhada. Reafirmei que sempre contei, conto e contarei com a minha família, que é a base de tudo e de todo meu amor. Também conto com os laços familiares que são cultivados e com amigos que fiz ao longo da trajetória cuja amizade permanece em função do constante polimento.

Também houve abordagens sobre condições dignas de vida, inclusive na fase idosa. A expectativa é de continuar tendo o necessário para viver de maneira simples e com qualidade. Na questão política reafirmei que não me sinto representado por nada do que está aí, mas espero que o país saia da polarização e que voltemos à prevalência de uma sociedade respeitosa e sem ódio.

Por último, o tema que registrei  foi sobre o que fazer enquanto o tempo avança. Acredito que devemos lutar para não cair na condição de poliqueixoso permanente, pois isso pode ser um bom preceptor para a depressão e a melancolia. É importante ter projetos simples, mas constantes, de preferência que nos impeçam de ser “apo-sentados” nos aposentos .  O que posso fazer perante as condições que tenho?

Fiquei feliz com o meu aniversário!

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Um ano se passou e chegamos ao 1º de outubro, Dia Mundial da Pessoa Idosa. A novidade em relação ao ano passado é que dessa vez temos a pandemia da Covid-19 e os idosos são considerados membros de grupo de risco para a infecção. Tudo fica mais ameaçador se houver doenças pré-existentes, principalmente as descontroladas. A lista delas é falada “de cor e salteado” pelos mais informados – ou pelos os mais preocupados…

Mas que balanço podemos fazer sobre as melhorias e as “piorias” das condições de vida para as pessoas idosas após esse um ano que se passou? De cara podemos dizer que o número de idosos brasileiros está em mais de 28 milhões segundo o IBGE e a Organização Mundial de Saúde.

A reforma da previdência cravou em 65 anos a idade mínima para a aposentadoria de homens e 62 para mulheres. Enquanto isso, a lei brasileira define o idoso como uma pessoa com idade superior a 60 anos e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada tem estudos propondo a reforma do marco inicial da idade do idoso, que passaria a ser a partir dos 65 anos. Os argumentos básicos são o aumento da expectativa de vida da população e um alívio nos gastos com a Previdência Social. Haja reformas sem crescimento econômico e muitos desperdícios nos gastos públicos!

Também é importante lembrar que o poder aquisitivo no país caiu na faixa entre 17% para os mais ricos e 28% para os mais pobres (a maioria), ou seja, os idosos fazem parte desse bolo.

A inflação medida pelo IPCA do IBGE nesses últimos 12 meses (outubro/19 – setembro/20) ficou em 3,04% enquanto pelo IGP-M da FGV ficou em 19,4% (usado para reajustar aluguéis). A inflação específica para idosos é quase sempre maior que a oficial. Agora os aposentados, idosos ou não, podem fazer empréstimos bancários consignados comprometendo até 40% do valor do salário e por no máximo 84 meses (sete anos). A Caixa Econômica Federal está cobrando juros mensais de 1,5% para quem tem relacionamento com a instituição e 1,6% para quem não tem. Anualmente essas taxas significam juros em torno de 20%. O que não é novidade é o fato dos idosos fazerem empréstimos consignados para ajudar irmãos, filhos, noras, netos e amigos. Entretanto muitos não recebem do credor conforme o combinado, em diversos casos sem receber a menor satisfação, mas ficando com o sufoco financeiro e as relações pessoais abaladas por tentar receber o valor emprestado em confiança.

Agora fico pensando que “novidades” os idosos poderão esperar até o seu próximo dia no ano que vem. Quem sabe se até lá surgirão propostas como a criação do mês do idoso, tipo Outubro Branco, e a idade mínima para ser considerado idoso passe para 70 anos. Criatividade não falta!

Abordei aqui alguns novos problemas que surgiram no caminho dos idosos nesse período mais recente e que se somam a inúmeros outros problemas crônicos não solucionados. Não consigo entender como, ainda assim, aparecem pessoas e instituições dizendo que esta é “a melhor idade”. Sou esperançoso mas profundamente realista.

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Simplesmente sumiu

por Luis Borges 5 de outubro de 2020   Pensata

Sabe aquelas pessoas, amigas de longa data, que de repente somem e não dão sinais de que alguma coisa diferente pode estar acontecendo? Isso aconteceu comigo. Na segunda quinzena de agosto, quando começou a surgir em meu radar seguidas vezes a imagem de uma amiga com quem converso pelo telefone, menos pelo fixo e mais pelo celular, em diferentes momentos, comecei a ficar intrigado. Diante da inquietante preocupação e entre uma atividade e outra que acabam levando o dia embora, telefonei para a amiga que, após dizer “alô”, ouviu de mim a clássica réplica “você sumiu, o que está acontecendo?”. A tréplica foi imediata: “peguei Covid-19 e passei um perrengue danado!”.

Apesar de seguir todas as orientações sanitárias e só ir às ruas para fazer o que é estritamente necessário, ela começou a sentir dores no corpo e desconforto respiratório… No terceiro dia em que as coisas só pioravam chamou o marido e foram a um hospital credenciado pelo seu plano de saúde co-participativo.

Lá chegando teve a paciência histórica de passar por todos os protocolos até ouvir a sentença de que deveria ficar internada. Foi constatada uma hipóxia silenciosa (sem sinais aparentes) – redução das taxas de oxigênio no ar, no sangue arterial ou nos tecidos – ou seja, a sua saturação de oxigênio estava em 87% quando o mínimo admitido é de 90% e existem especialistas que preconizam 95%.

O fato é que minha amiga ficou internada 3 dias e teve alta após permanecer com a saturação de oxigênio em 92% durante 24 horas, obviamente sem usar o respirador.

Ela cumpriu a quarentena isolada num dos quartos do apartamento no edifício em que mora. Interessante é que num determinado momento sua filha se cansou da comida fornecida por um restaurante e começou a produzir algumas refeições em casa para variar um pouco o sabor.

Tudo foi muito desafiante, inclusive ver o tempo passar rumo ao futuro, mas a resiliência prevaleceu no melhor estilo do “enverga, mas não quebra”.

Mas uma coisa importante que a amiga fez foi informar à sindica e aos zeladores do prédio de 20 andares a sua condição momentânea. Aliás, ela ficou sabendo dias antes da internação hospitalar de um caso de escândalo, “um barraco”, causado por uma pessoa de um outro prédio ao tomar o elevador no 6º andar e se deparar com um morador devidamente protegido e que estava curado da infecção. A cena foi constrangedora, segundo o relato de quem recebeu o ataque.

Que decisão você tomaria se estivesse no lugar da minha amiga?

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Uma primavera de preocupações

por Luis Borges 29 de setembro de 2020   Pensata

Pensei esta pensata a partir da chegada da primavera no hemisfério Sul no dia 22 de setembro. De cara foi bom por que ela veio trazendo chuva após o imenso calor e a baixa umidade relativa do ar ao final do inverno e minha referência é a região metropolitana de Belo Horizonte. É claro que as características dessa estação do ano trazem uma boa expectativa em relação ao rebrotar da flora, a beleza das flores coloridas, a crescente intensificação das chuvas e do calor acompanhado pelas sensações térmicas um pouco acima.

Por outro lado vou falar de algumas das muitas preocupações que continuam enchendo a minha mente diante de tantas variáveis que não controlo, mas que preciso acompanhar devido ao impacto que trazem para a minha vida e creio que também para a sua.

Aqui reforço e ratifico a minha crença de que os fatos, dados e problemas não deixam de existir só por que são ignorados, negados ou escondidos solene e mentirosamente debaixo do tapete. A educação e o conhecimento são a base de tudo e não têm substituto. A verdade é mostrada por evidências objetivas, não pode ser substituída por narrativas baseadas em notícias falsas em prol de um desejo de poder permanente.

Preocupam nesta primavera da sociedade polarizada com falta de respeito, ódio e retrocessos civilizatórios, os rumos do combate à pandemia da Covid-19. A flexibilização chegou como um alento para a retomada da economia, mas sem volta às aulas, expectativas de uma vacina eficaz e segura para a virada do ano e a certeza de perda do poder aquisitivo – 20% em média. Mas será que a dengue virá mais fraca? O dever de casa está sendo feito?

Também são preocupantes as consequências do fogo na Floresta Amazônica, no Pantanal do Mato Grosso, no interior do estado de São Paulo e nas montanhas de Minas Gerais. Não é só a chuva preta e a reação dos mercados internacionais, também me preocupam os números mostrados pelo IBGE, a partir do método científico, que contabilizam em torno de 14 milhões de desempregados, 5 milhões de desalentados e mais de 10 milhões de pessoas passando fome. A carestia se acentua diante dos preços do arroz, do óleo de soja, da carne bovina, do milho… Não vale dizer que o auxílio emergencial em 4 parcelas de R$600 e outras 4 de R$300,00 somados ao dólar bem alto e ao aumento de exportações desorganizaram a lei da oferta e da procura. Canetada para conter preços e liberalismo não combinam, segundo os liberais mais sinceros.

Fico esperando uma bolsa “capitalismo” a partir de janeiro para garantir uma renda mínima para a camada da população mais pobre e para os que estão abaixo da linha da pobreza. Será necessário ceder alguns anéis do sistema para não perder os dedos. Mas de onde virá o dinheiro? Da nova embalagem da antiga CPMF, ou seja, do aumento de tributos, do corte de gastos públicos com as castas dos servidores públicos dos 3 poderes, do capital financeiro, da tributação de empresas optantes pelo Simples…

Meu espaço acabou, mas as preocupações não. Falarei mais sobre elas numa futura pensata, talvez ainda na primavera.

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Geralmente somos chamados a participar de reuniões, convidados ou convocados, nas diferentes fases de nossas vidas. Tem reunião para todo gosto – ou desgosto – no trabalho, na escola, no clube esportivo, no partido político, na associação de moradores, na família… Já abordei o assunto na pensata Ninguém merece reuniões improdutivas no início de 2018. Não raro acabamos caindo num verdadeiro “pudim de reuniões”, a começar pelo trabalho que é o meu ponto aqui.

Agora nesses tempos de pandemia e novos padrões sanitários para combater a disseminação da infecção, o trabalho remoto ganhou muita evidência. Entretanto os velhos e crônicos problemas envolvendo a gestão da reunião e o comportamento dos participantes prosseguem. A “reunionite” presencial ganhou muito fôlego na modalidade remota.

Quando se pensa em fazer uma reunião a primeira pergunta a ser respondida é se ela é realmente necessária. Depois é que se deve ver o que fazer e como fazer, inclusive se presencial ou em videoconferência.

Mas se os tempos mudaram em função da pandemia, que exige mais rigor e disciplina no cumprimento de novos padrões sanitários, o fato é que a reunião no trabalho continua com os problemas de sempre.

Conversando com pessoas que trabalham em cidades como Belo Horizonte, Araxá, Campinas e São Paulo todos citaram os mesmos problemas. De cara apareceu o cumprimento do horário de início e término da reunião, com destaque para o atraso na hora de começar, o que pune os participantes cumpridores dos horários. Vem em seguida a falta de preparação de boa parte dos participantes, tanto dos efetivos quanto dos convidados temáticos, também chamados de “optativos” em algumas empresas. Os estilos dos participantes continuam os mesmos, a começar pelos falantes, que entendem de tudo, mas sempre superficialmente. Os caladinhos ficam apenas de corpo presente enquanto os polemistas se sentem com a missão de instigar e os consensualistas tentam construir alguma solução que resolva o problema. Vale lembrar também que nem todos os coordenadores conseguem liderar uma reunião.

Agora novos problemas estão acontecendo nas reuniões por videoconferência e se somam aos velhos. De repente cai a conexão (e, com ela, chega a ansiedade pela reconexão). Há também os ruídos que surgem das brincadeiras das crianças, dos cachorros que latem na vizinhança, do interfone que chama, da reforma de uma edificação próxima, de um equipamento eletrodoméstico em utilização… Isso sem se esquecer da dor na coluna, que só aumenta enquanto se intensifica o trabalho remoto. Tudo contribui para a dispersão e o cansaço mental enquanto a pandemia prossegue e nós também prosseguimos vivendo um dia de cada vez, mas sabendo que muitas reuniões nos esperam com a conhecida improdutividade de sempre.

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Ouvidos mais aguçados

por Luis Borges 23 de agosto de 2020   Pensata

O tempo prossegue sua caminhada indelével – permanente, que não se pode apagar. Assim sendo fico até um pouco assustado ao medir a passagem mais recente dele e perceber que já estamos no sexto mês da pandemia da Covid-19 na contagem de meados de março para cá. Uma certeza que tenho nesse momento é que a pandemia não acabou e precisa continuar a ser combatida por todos conforme a responsabilidade de cada um. Percebo também que estamos vivendo com novos padrões na rotina da vida diária que desafiam o comportamento de todos no sentido de prevalecer a autodisciplina no cumprimento desses novos padrões, tanto os legais quanto os individuais ou familiares.

Um caso que tem chamado bastante a minha atenção em função do grande tempo de permanência em casa é o aguçamento maior dos meus já aguçados ouvidos. Estou percebendo muito mais alguns detalhes de sons agradáveis e também desagradáveis que surgem enquanto o dia cresce. Sei que existem sons inerentes aos processos da vida diária, que fazem parte da rotina e que não dá para fugir deles dentro de casa. Outros podem ser gerenciados, como a altura de uma música, de uma informação no rádio ou de uma conversa pelo telefone, por exemplo. Por outro lado existem os sons provenientes do entorno formado por vizinhos, ruas, avenidas, veículos, animais…

Dentro de casa não dá para passar despercebido que o som emitido por determinados aparelhos eletrodomésticos é simplesmente um tremendo barulho contribuindo para a poluição sonora. Posso citar o liquidificador, a máquina de lavar roupas, a panela de pressão no seu auge e o secador de cabelo. Um contraponto vem de músicas ,como a popular brasileira, a clássica ou a folclórica, que tenho ouvido bastante por iniciativa própria e que me fazem bem. Existem também aqueles que não dependem de mim, como o gostoso canto de diversos pássaros notadamente a partir da aurora de todas as manhãs. Também estou atento aos sons do entorno que surgem a qualquer momento a começar pelo alto volume de diversos gêneros musicais vindos de diferentes distâncias, automóveis e motocicletas buzinando na rua, o trem de ferro com várias composições passando ou fazendo manobras que realçam o barulho próprio que se soma aos diversos buzinaços, o foguetório que acompanha determinados eventos e o barulho dos ventos que passam a 50km/h de vez em quando.

Como os padrões devem ser revisados periodicamente vamos ver como ficarão as coisas nos desdobramentos pós pandemia já que, como dizia Heráclito em 501 a.C, “nada existe em caráter permanente a não ser a mudança”. E você, caro leitor, tem ficado com os ouvidos mais aguçados diante dos sons do cotidiano?

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Síndico do prédio nunca mais

por Luis Borges 17 de agosto de 2020   Pensata

No último fim de semana fiz uma visita a um amigo paulistano por meio do velho e bom telefone fixo. É aquele mesmo, que foi adquirido na época do plano de expansão da operadora de telefonia – Telemig – pago em inúmeras parcelas mensais no final da década de 70 do século passado.

Na extensa pauta que marcou a visita coube muita coisa, desde a vida na pandemia com a família na residência em suas várias variáveis, o teletrabalho, as incertezas dos cenários e a decisão de nunca mais ser o síndico do prédio em que mora. Este é o ponto que quero abordar aqui.

O amigo disse que há 14 anos é proprietário do apartamento em que mora e que foi o síndico do prédio nos últimos oito anos, em quatro mandatos consecutivos de dois anos cada, que acabaram de se encerrar. Perguntei a ele qual a causa da decisão tão peremptória marcada com a expressão “nunca mais” para que eu entendesse o caso e a sua decisão. O amigo disse que o prédio existe há 38 anos, tem 40 apartamentos – 4 por andar – em dez pavimentos e 30 vagas de garagem, sendo que um veículo prende o outro. Esse é o detalhe que sempre gera uma fadiga permanente na relação entre os usuários das vagas a partir de alguns que tem comportamentos desrespeitosos, pouco civilizados e que criam impasses para exigir a presença do síndico na mediação dos conflitos. As principais causas de atritos entre os usuários das vagas são os pequenos choques que amassam os veículos, os moradores que não deixam a chave na portaria do prédio para que seja possível manobrar o carro e também aqueles que estacionam o veículo de qualquer maneira quando a vaga está livre. O acirramento aumentou com a pandemia devido à presença mais duradoura das pessoas no prédio, inclusive crianças sem aulas, e muita gente também entrando e saindo do prédio com seus veículos, quase que num bate e volta, indo dar uma espairecida nas ruas.

O amigo sempre exerceu a função de síndico de maneira honorífica e apresentou excelentes níveis de resultados em sua gestão marcada pela liderança apesar do comparecimento médio de 20% dos moradores nas assembléias gerais do prédio, o que, aliás, é uma característica brasileira marcante. Reclamar, se vitimizar e não se comprometer é sempre mais fácil. Ele concluiu esse tema dizendo que chegou num ponto que “deu”, que deixou de ter motivos para a ação – motivação – diante de tanta falta de cooperação entre determinadas pessoas que agem como se não estivessem no mesmo barco com os demais moradores do prédio.

Finalmente, quando nos despedimos ao final da visita, o amigo disse que seu próximo sonho é encontrar uma moradia unifamiliar para prosseguir em sua trajetória de vida. Pelo visto, prédio também nunca mais. Será? A conferir. E se fosse com você, que solução seria dada?

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