Sempre que somos surpreendidos por algo inesperado tendemos à paralisia, ao medo. O que nos resta é reagir em busca de soluções adequadas, consistentes para o problema. É o caso da peleja com o ensino a distância na tentativa de suprir a suspensão das atividades presenciais do ensino nos ambientes de uma escola.

Tenho conversado com alguns poucos professores de cursos de graduação e pós-graduação sobre dificuldades e restrições que estão enfrentando na modalidade online do ensino a distância. As referências são tanto para as aulas síncronas, que acontecem ao vivo com a possibilidade de interação entre professor e aluno, quanto para as aulas assíncronas, já gravadas e que podem ser assistidas a qualquer momento.

Como o país tem muita dificuldade para trabalhar com o planejamento estratégico em curto, médio e longo prazo tenho lembrado a todos que o Ministério da Educação propôs o Ensino a Distância – EAD em 1996, com parâmetros definidos pela Lei Federal  nº 9.394/96 . Efetivamente tudo começou a ganhar ritmo em 1999, notadamente no ensino superior, em cursos de maior carga teórica.

Meu ponto aqui se refere às aulas síncronas para evidenciar algumas afirmações quase que unânimes e outras bem específicas que também despertam nossa atenção. Todavia deixo claro que minha amostra é pequena e, por isso mesmo, não posso generalizar conclusões, mas apenas registrá-las. Todos notam a falta que faz a interação face a face permitida pela aula presencial. Agora é mais difícil reorientar uma aula, já que muitos alunos não ligam suas câmeras. Todos também se lembram da concorrência permanente dos dispositivos tecnológicos, sempre ao alcance dos participantes, o que só aumenta a dispersão. Portanto faltam foco e autodisciplina.

A preparação das aulas ao longo desse tempo todo da pandemia também é objeto de muita reclamação. Todos dizem que estão trabalhando muito e não são remunerados devidamente para esse trabalho adicional. É diferente o esforço para dar uma aula presencial com duração de 2 horas e outra com o mesmo tempo no digital. Outros reclamam que estão investindo do próprio bolso para ter tecnologia e espaço físico adequados a um nível de qualidade aceitável. Lembram que, não raro, a conexão cai e é aquela agonia até que tudo se restabeleça. Um professor falou de alunos que deixam o dispositivo tecnológico ligado na aula, mas com a câmera desligada, e vão fazer outras coisas. O padrão de sua escola exige que o professor seja o último a sair do ar, mas às vezes ele se vê obrigado a encerrar as atividades mesmo sem a retomada dos distraídos dubladores de presença. Outro professor disse que, em sua escola, é preciso chamar um aluno pelo nome aleatoriamente a cada 10 minutos fazendo perguntas para assim confirmar sua presença e movimentar a aula.

Para finalizar, registro a fala de um professor que descobriu que precisava ser ator diante das câmeras e ensaiar mais suas apresentações, pois de vez em quando perde o “fio da meada” em seu palco vazio, sem plateia.

Aguardemos as aulas presenciais quando for o momento.

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Sentiu chegar o seu momento

por Luis Borges 7 de abril de 2021   Pensata

Sabe aquelas ocasiões em que você liga para um antigo colega de trabalho com quem as relações eram marcadas pela empatia e um bom grau de afinidade nas ideias? Recentemente lembrei-me de um que era meu colega no magistério de uma instituição federal de ensino superior. Resolvi cumprimentá-lo pela passagem de seu aniversário de nascimento. Ele ficou um pouco surpreso, mas agradecido pela lembrança. Afinal de contas nosso último contato aconteceu há pouco mais de 3 anos. Logo a conversa já se encaminhou para várias dimensões da pandemia da Covid-19 e como ela tem sido enfrentada no plano individual e coletivo, nem sempre a partir do conhecimento científico.

De repente falei sobre a dificuldade para se conseguir uma vaga numa Unidade de Terapia Intensiva de um hospital público ou privado, tanto pelo SUS quanto por um plano de saúde suplementar ou mesmo com pagamento particular. Foi aí que meu colega pediu um tempo para contar o perrengue que passou em meados de 2018, portanto um pouco depois de nossa última conversa.

Segundo sua narrativa ele ficou surpreendido por um diagnóstico que indicou uma certa urgência para a realização de uma cirurgia de grande porte em seu aparelho digestivo e que deveria passar alguns dias na UTI para sua maior segurança. Feitos todos os preparativos para a cirurgia, ele se internou num hospital de alta complexidade conveniado de seu plano de saúde em vigor desde o tempo em que estava na ativa. À medida em que foi chegando a hora de ir para o bloco cirúrgico ele disse que também sentiu chegar seu momento, que poderia ser o da partida para outro plano espiritual. Às vezes tentava contrapor a isso com a esperança matemática de que o problema poderia ser resolvido e a vida teria sua continuidade. Logo ele, que era professor de estatística e probabilidade, ou seja, uma parte da matemática. Acabou por pensar na finitude da vida, no quanto deixou de levar isso em consideração, inclusive varrendo para debaixo do tapete qualquer conversa sobre a morte. Nos preparativos para o início da cirurgia listou mentalmente coisas que ainda gostaria de fazer, mas nem terminou, pois o anestesista entrou em ação. Despertou horas mais tarde e percebeu que a vida continuava. Agradeceu pela nova oportunidade de prosseguir vivo diante da gravidade de seu caso.

Como para saber falar é preciso saber ouvir, continuei ouvindo o colega sem me preocupar com o tempo. Então, foi a vez do colega narrar o período passado na UTI. Ele disse que ficou pensando muito em si mesmo, em como valorizar mais o tempo de vida que poderia ter pela frente. Em outros momentos pensava bastante na esposa, nos 3 filhos, nas 2 netas e nos boletos a pagar. De vez em quando se assustava com a grande movimentação no ambiente, principalmente nos curtos horários de visitas. A UTI estava com as 10 vagas daquele bloco ocupadas.

Enfim tudo se passou, inclusive o luto pelas perdas significativas que teve no aparelho digestivo. Ele segue firme, vivendo com as condições funcionais que passou a ter. Na sequência da conversa sugeri ao colega que imaginasse como teria sido o seu perrengue se isso tivesse acontecido no atual momento da pandemia.

Por último ficamos de tentar tornar nossas conversas mais frequentes. Será que conseguiremos?

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Como vai você na pandemia?

por Luis Borges 29 de março de 2021   Pensata

Chegamos ao 2º outono da pandemia da Covid-19 no Brasil – e quiçá um terceiro pode estar se avizinhando. Os números e seus recordes mostram as perdas para todos em variadas dimensões e intensidades, indo dos que perderam a vida (mais de 312 mil), aos enlutados na dor pela perda dos que partiram, aos sobreviventes sequelados até o sistema de saúde colapsado. Fica também visível como a Gestão Estratégica e Operacional faz falta e é extremamente necessária – principalmente para um país que sente há anos os efeitos do pífio desempenho da economia. Pena que o horizonte segue perdido no modo realista.

Partindo da premissa de que tudo começa com a gente e que precisamos estar bem para que possamos cooperar com as outras pessoas, a começar pelas que estão próximas, podemos até fazer uma analogia com a orientação dada no início de uma viagem de avião para que, em caso de despressurização da cabine, coloque primeiro a sua máscara para só depois ajudar outras pessoas. Meu ponto aqui é refletir e dar consequência ao aprendizado que pode advir dos “telecontatos” que eu, você e nós provavelmente estejamos protagonizando nesses momentos de tantas incertezas e desafios à continuidade da vida.

A pergunta padrão que tenho ouvido no início das conversas é “Como vai você na pandemia?”. Na maioria das ocasiões respondo que estou indo bem dentro do possível, observando e praticando com muita disciplina todas as determinações dos padrões sanitários vigentes. Realço que é preciso muita resiliência e que tento ser semelhante ao bambu que “enverga, mas não quebra”. Só não sei até quando. Algumas vezes respondo com a lembrança da música Sinal Fechado (1970), de Paulinho da Viola, dizendo ou cantarolando:

“Olá, como vai? Eu vou indo e você, tudo bem? Tudo bem, eu vou indo correndo pegar meu lugar no futuro, e você? Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranquilo, quem sabe quanto tempo, pois é. Quanto tempo?”.

Mas indo como, diante de tantas ameaças? É possível ter um sono tranquilo hoje, às vezes me pergunta alguém. Na verdade tenho buscado viver um dia de cada vez essencialmente em casa, mantendo uma observação e análise críticas em relação às informações e conhecimentos que surgem em diferentes meios. O que vem pela frente é um aspecto sempre levantado. Tenho dito que minha expectativa maior é pelo aumento rápido da velocidade da vacinação, para que as pessoas tenham um comportamento adequado ao momento e que os dirigentes do país em todos os níveis cumpram as suas obrigações lastreadas na verdade.

Quanto pior, pior mesmo!

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Celina Oliveira, 23 anos, estudante do 3º ano de medicina, mudou-se da casa de sua avó materna após 14 anos de permanência. Celina chegou lá aos 9 anos de idade juntamente com sua mãe, a administradora de empresas Juliana Souza, em função dos desdobramentos da morte traumática de seu pai, o engenheiro mecânico do setor automobilístico Telmo Oliveira, então com 40 anos de idade. A causa de sua morte foi o infarto agudo do miocárdio. Na época, ele enfrentava uma acentuada dependência do álcool e do tabaco industrializado.

A avó materna, Dona Marli Souza, à época com 70 anos de idade, ficou muito comovida com o estado emocional da filha – então com 36 anos – e também da neta. Diante disso propôs que ela retornasse para a casa dos pais com a filha. Ainda mais que lá só moravam, na época, Dona Marli e o marido Olavo Souza, que acabou vindo a óbito 2 anos depois.

Então foram acertados os parâmetros para a nova configuração da casa, inclusive os gastos financeiros. Dessas conversas participaram também os dois irmãos e uma irmã de Juliana, todos mais velhos que ela e que sempre visitam a casa, principalmente nos finais de semana.

Aos poucos as perdas foram sendo elaboradas e as coisas chegando ao seu desejável lugar. Juliana dando continuidade à sua trajetória profissional e afastando sempre qualquer possibilidade de encontrar um novo companheiro. Celina passou pela adolescência cursando o ensino fundamental e o médio com excelente aproveitamento, mas também mostrando uma forte personalidade para exigir que tudo fosse feito conforme a sua vontade. Caso contrário, as brigas com a mãe e a avó seriam certas.

Por outro lado, o tempo também passou para a avó Marli, que foi ficando mais lenta e com a memória mais fraca mas se mantendo à frente de todos os afazeres da casa como sempre fez.

Um ponto de inflexão marcante se deu quando Celina ingressou numa Faculdade de Medicina, dessas que exigem investimentos anuais de 12 parcelas mensais entorno de R$10 mil, fora livros, transporte, alimentação… Ela, que já “se achava”, passou a “se achar” ainda mais, e começou a cobrar insistentemente de sua mãe que se mudassem para um apartamento mais apresentável do que a casa de sua avó. Ela queria ter um ambiente que considerasse mais adequado para convidar amigos e colegas de faculdade para se encontrarem.

Após dois anos de muitas pressões e discussões, Juliana cedeu às exigências da filha Celina e se mudaram no início deste ano para o sonhado apartamento. Porém, no pior momento da pandemia da Covid-19. A avó Marli foi convidada para morar com elas mas recusou-se peremptoriamente. Reafirmou o desejo de ficar em sua casinha até o dia em que seus olhos se fecharem.

Agora, os filhos tentam convencê-la a aceitar a presença de cuidadoras de idosos para acompanhá-la durante as noites e de uma empregada doméstica para ajudá-la nos serviços da casa durante o dia.

E a vida segue nas duas casas, no pior momento da pandemia.

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Aluga-se imóvel sem fiador

por Luis Borges 15 de março de 2021   Pensata

Espero que você esteja percebendo em suas caminhadas pela cidade de Belo Horizonte a grande quantidade de placas com os dizeres “Aluga-se” ou “vende-se” em imóveis diversos. Após um ano de pandemia o mercado imobiliário também busca se reposicionar estrategicamente dentro da lei da oferta e da procura nesse momento tão ruim da economia brasileira.

Quem já precisou de alugar um imóvel residencial – casa, apartamento, barracão – ou comercial – sala, loja, galpão – sabe bem das exigências que um locatário/inquilino deve atender. É por isso que chama a atenção dos mais atentos um anúncio de aluguel colocado na frente de uma loja numa das ruas mais movimentadas do bairro Santa Efigênia, na zona leste de Belo Horizonte. A descrição do imóvel mostra que trata-se de uma loja de 50m² com mezanino de 30m², uma vaga em frente à entrada para estacionamento de veículo, aluguel mensal de R$2.500,00 acrescido do IPTU de R$120,00. O proprietário solicita um locatário com renda mensal de R$8.000,00 e não é preciso fiador/avalista. Mas o que fica para ser dito por último pela imobiliária é que existe a necessidade de se fazer um Seguro Fiança que pode variar de 9% a 16% do valor do aluguel, o que depende de qual seguradora vai aprovar o cadastro do potencial locatário. Só ai fica claro que não é preciso fiador porque ele foi substituído por outra modalidade de garantia para o locador que, no caso, é o Seguro Fiança.

Será que essa loja vai ser alugada rapidamente após esse ano de pandemia que hoje esta em seu pior momento? Aliás, estima-se que cerca de 20% dos imóveis comerciais estão fechados em Belo Horizonte à espera de um novo inquilino, mesmo com os preços dos aluguéis semelhantes aos de um ano atrás ou até bem menores. Vale lembrar que muitos locatários conseguiram descontos de até 50% no valor de seus aluguéis por um determinado período no início da pandemia através de negociações bem como a troca do índice usado para reajustar os valores dos contratos renovados com o uso do IPCA no lugar do IGPM, que aliás, chegou a 28,95% em fevereiro desse ano.

Como deve estar sendo o posicionamento de muitas das pessoas que investiram na aquisição de imóveis para serem alugados na expectativa de que gerariam um complemento financeiro para os proventos da aposentadoria? Imaginemos o que é ter, de repente, um imóvel desocupado pois o inquilino não consegue mais pagar o preço contratual enquanto o proprietário não renegocia nada, na certeza de que não pode fazer nenhuma concessão para não prejudicar seu próprio orçamento. O inquilino devolve o imóvel e o proprietário, além de ficar sem o dinheiro do aluguel – mesmo pagando 15 % de imposto de renda e 10% de taxa de administração da imobiliária – ainda tem de arcar com o IPTU e o condomínio no caso de um edifício, por exemplo.

Não tenho a pretensão de esgotar o assunto, mas reflita um pouco sobre o que você faria se estivesse numa situação como a descrita aqui.

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Na janela da dispersão

por Luis Borges 8 de março de 2021   Pensata

Frequentemente ouço pessoas dizendo que estão muito cansadas e que já não aguentam mais tantas coisas que precisam fazer ou deveriam ser feitas no dia, na semana ou no mês. Muitas dessas pessoas ainda emendam as falas abordando a complexidade exponencial das várias variáveis que desafiam a arte de viver nesses velozes tempos de mudanças e incertezas que estamos atravessando. É livre a queda de paradigmas que exigem um rápido e consistente reposicionamento estratégico. Mas como fazer isso é o grande desafio que temos. Falar o que fazer aparentemente é mais fácil. Imaginemos uma espécie de engenharia – criação – simultânea diante de tantas possibilidades e restrições presentes na conjuntura vivida e nos cenários que podemos tentar desenhar em meio a tantas incertezas. Enquanto isso a inteligência estratégica ainda fustiga aqueles que ficam na dúvida entre ter razão ou ter sucesso.

Tenho perguntado a essas mesmas pessoas quais são as causas presentes no plano macro que estão tirando a sua energia e aumentando o seu cansaço. As respostas mais citadas passam pelas preocupações com a economia que não se recupera, o desemprego aberto, a pandemia que se agrava, a volta da carestia e da inflação. Todas são variáveis externas que as pessoas não controlam, mas podem acompanhar.

Por outro lado podemos também tentar melhor observar e analisar o nível micro do cotidiano de nossas vidas para melhor conhecer e compreender os processos dos quais fazemos parte e temos autoridade para atuar neles.  Será que as pessoas que estão reclamando muito, cada vez mais queixosas, estão percebendo as causas fundamentais e secundárias dos resultados que estão colhendo, das entregas que não estão fazendo? Afinal de contas, qual é o seu negócio? Você tem foco em que? O que é preciso fazer para combater a dispersão? Por exemplo, buscar as informações e os conhecimentos necessários para a tomada de decisões no tempo adequado. Estamos necessitando muito mais de buscar um foco para o que estamos fazendo e precisamos fazer, até mesmo pela sobrevivência e isto depende também de nós. Não dá só para terceirizar a nossa parte.

Muitas das mesmas pessoas que estão cansadas justificam o estado em que se encontram alegando que é fundamental permanecer na janela das conexões para descobrir oportunidades e buscar o seu melhor aproveitamento. Tudo bem, mas em qual dosagem? Qual é o ponto de equilíbrio? Reflita um pouco sobre o seu comportamento diante de tudo que está à sua disposição, a começar pelos inúmeros grupos de WhatsApp dos quais você participa, por exemplo. Qual é o nível de agregação de valor trazido ou qual é o valor retirado? Infelizmente, queiramos ou não, precisamos estar atentos para não ficarmos estagnados na janela da dispersão em nome da conectividade apenas e tendo a vida mediada pelo celular na palma da mão.

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Há quase dois anos postei neste blog uma pensata sobre as dificuldades no convívio entre dois irmãos idosos, com mais de 70 anos de idade, que se viram obrigados a voltar a morar juntos na casa que foi dos pais.

De lá para cá as coisas só pioraram para eles e as relações pessoais foram se esgarçando. Um fato bem marcante que justifica essa atualização cultural foi a decisão da irmã Dete Rabelo em mudar seu fuso horário para reduzir o tempo de convívio com o irmão Candinho Rabelo. Isso começou a acontecer no ano passado, a partir do início da pandemia da Covid-19. Ela passou rapidamente a acordar cada vez mais tarde e já faz algum tempo que só sai do quarto de dormir depois do meio-dia. Com isso o irmão Candinho, que se levanta por volta das 7 horas e não pode mexer nas coisas da cozinha, passou a tomar o café da manha numa padaria próxima da casa.

Dete Rabelo inicia o seu lento ritual preparativo para o primeiro café do dia, que acaba ocorrendo lá pelas 13 horas, bem como lavar e guardar as vasilhas após tudo acontecer. Enquanto isso o irmão Candinho chega em casa para tirar uma soneca após voltar do almoço, que passou a ser feito na casa de uma irmã viúva de 80 anos que mora num quarteirão próximo. Vale lembrar que o café que sobra fica destinado para o final da tarde de Candinho. Ele coincide com o horário em que sua irmã Dete faz as compras dos diversos insumos gastos na casa.

Assim todos os afazeres da casa foram mudados ao longo do dia em função do novo fuso horário imposto. O que é a primeira e única grande refeição do dia, o almoço, passou a acontecer em torno das 19:30, o que poderia ser equivalente a um jantar para seu irmão, mas ele não tem o habito de jantar, apenas faz um lanche leve a noite acompanhado por chá ou suco de frutas. Lá pelas 23h já é seu momento de dormir, enquanto sua irmã começa a colocar roupas na máquina de lavar, que serão passadas na noite seguinte. Por volta de uma hora da madrugada Dete começa a limpeza de todos os cômodos da casa, menos o quarto de Candinho, que dorme usando protetores auriculares. Por volta das 4 horas da manhã, ela vai tomar banho, depois fazer orações que incluem o terço católico para finalmente se deitar em sua arrumadíssima cama. Pouco depois, o sono chega junto com os sinais da aurora.

Como se vê, os irmãos idosos continuam não se aguentando e reduzindo ao máximo as possibilidades de convívio, enquanto o irmão se comporta como súdito da irmã que reina e governa autocraticamente como uma rainha. Parece ate ficção, mas é tão real!

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Enquanto contemplo o tempo que passa indelével vejo pelo calendário gregoriano que já estamos chegando ao fim da primeira quinzena de janeiro de 2021. Confesso que em meio a tantas reflexões trazidas por uma virada de ano vale lembrar que a década (2011-2020) também virou, aliás mais uma década perdida em termos de desenvolvimento econômico e social. Cito isso a propósito do quanto somos cobrados em prol do otimismo obrigatório e do positivismo messiânico. Minhas reflexões me levam a perceber, nesse sentido, que mantenho minha fidelidade ao realismo esperançoso e pragmático perante a observação e análise dos principais aspectos do jogo que é jogado e que impactam diretamente na qualidade de nossas vidas.

Como tudo, é forçoso reconhecer que tudo é politica, inclusive a partidária, e que já está em evidência a eleição para Presidente da República em 2022, principalmente após o triunfo do fracasso na tentativa de reeleição do atual presidente norte- americano. Dá para imaginar como ficarão as suas franquias ao redor do mundo?

Fiquei pensando também qual resultado será entregue pelo Ministério da Economia ainda no primeiro semestre do ano em termos de recuperação do crescimento econômico, mesmo diante de uma base fraca na comparação com o final do ano passado. Aqui é interessante lembrar que o país precisa crescer pelo menos 4% ao ano para suportar o crescimento demográfico. A estimativa do IBGE no final do ano passado era que a população brasileira estava em 211,8 milhões de habitantes.

Quando penso no aspecto social percebo o quanto ele já grita quando o IBGE aponta que existem 14,3 milhões de desempregados e outros quase 5 milhões de desalentados país afora. Some-se a isso o recrudescimento da pandemia da Covid-19, a retomada das medidas de isolamento social mais duras e o fim do pagamento do auxílio financeiro emergencial aos trabalhadores. Além disso, persistem indefinições sobre a volta às aulas presenciais e quando efetivamente terá inicio a implementação do plano nacional de imunização com a disponibilidade de vacinas, seringas e agulhas. Até quando o social aguentará sem explodir ou já é hora de implementar uma garantia de renda mínima para a base da pirâmide social numa espécie de “bolsa capital”? Quanto pior, pior mesmo ?

Infelizmente e, por mais que possa parecer repetitivo, continuo insistindo que os fatos e dados não deixam de existir só por serem ignorados, negados ou maquiados. O realismo nos permite ver que se as expectativas forem maiores que a realidade o sofrimento será inevitável. Continuam a prevalecer as estratégias de sobrevivência.

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Um Natal na pandemia

por Luis Borges 30 de novembro de 2020   Pensata

Quem de nós imaginaria, no Natal do ano passado, um cenário de pandemia no Natal seguinte? Com a Covid-19 se alastrando pelo mundo em tempos desiguais, com diferentes intensidades, trazendo o medo da morte e de muitas sequelas?

Pois é, logo agora que atravessamos um ano de diversas agonias chegamos a mais um Natal, que deve ser bastante reduzido em termos de festanças, mas sem perder o seu significado de renascimento. É tempo de refletir sobre os motivos que temos para a ação, aqueles que vem de dentro de nós. E, neste ano, diante de momentos tão difíceis e desafiantes para enfrentar e vencer uma ameaça tão real trazida pelo novo coronavírus.

“Se muito vale o já feito, mais vale o que será… e o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir”

É o que dizem Milton Nascimento e Fernando Brant na música “O que foi feito devera” lançada em 1978 no álbum Clube da Esquina 2. Sendo assim, o que será possível fazer neste período de Natal em meio às condições de contorno bem restritas do ponto de vista sanitário na comparação com o já saudoso ano anterior?

Na conjuntura em que acontece o advento, tempo de preparativos para o Natal, prevalecem as preocupações em torno de um repique ou segunda onda da Covid-19 conforme os fatos e dados tem demostrado ao longo deste mês. Há especialistas que dizem que a primeira onda nunca acabou e que estamos vivendo um aumento de casos fruto das aglomerações e da maior circulação de pessoas.

Renovam-se as esperanças em torno das vacinas seguras e eficazes, que poderão estar disponíveis já neste fim de ano ou no inicio do próximo. Espero que haja planejamento e gestão suficientes para que as doses das vacinas cheguem a seus destinatários em tempo hábil e nas condições normais de temperatura e pressão, conforme preconizam a ciência e o conhecimento aplicado.

Encontrar o equilíbrio é sempre desafiante em meio a tantas ponderações. Mas sei que existem aqueles que não abrirão mão da festa no local de trabalho, com 10 ou mais pessoas, além dos encontros festivos das pequenas, médias e grandes famílias de todas as classes sociais, cada qual com o seu qual em nome da renovação da vida em risco.

Ainda permanecem na conjuntura balançando para lá e para cá, mas exigindo soluções adequadas, o retorno às aulas presenciais, o orçamento da União Federal para 2021, o programa de renda básica para substituir o auxílio emergencial, o combate à disparada de diversos preços de bens e serviços…

 

Árvore de Natal em frente à Matriz de São Domingos, em Araxá, em 2014. / Foto: Paola Pedrosa

 

Tudo o que foi feito – e também o que deixou de ser feito – pelas autoridades governamentais conforme suas responsabilidades e pelos cidadãos individualmente e socialmente nos trouxe até os resultados de hoje, que ainda não são suficientes.

Prossigamos rumo ao Natal, um dia de cada vez, com o realismo e o pragmatismo fundados na sabedoria e na esperança que fazem parte do nosso viver.

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Eis aqui algumas percepções que tenho sobre o processo eleitoral municipal que está perto de ser concluído no dia 29/11 com a realização do 2º turno em 57 municípios. Só ficará faltando a cidade de Macapá, capital do Amapá, devido ao apagão de energia elétrica.

Acompanhei mais de perto as eleições em Araxá, minha cidade natal, e em Belo Horizonte, minha cidade do coração onde resido há 47 anos. Fiquei triste com a derrota de meu candidato a vereador em Belo Horizonte e alegre pela vitória do candidato que apoiei em Araxá. Sugeri a eles que façam uma avaliação dos resultados alcançados em função das metas estabelecidas e dos planos de ação feitos para atingi-las.

Chamou minha atenção a abstenção em Belo Horizonte, que chegou a quase 29%. Somada aos votos nulos e brancos nos mostram que o “não voto” chegou a 39%. Já em Araxá a abstenção passou de 24% que somada aos votos nulos e brancos chegou a 33,6% de “não votos”. O fato é que a cada eleição tem aumentado o percentual de abstenções na média nacional, que foi de 17,5% em 2016, pouco mais de 20% em 2018 e acima de 23% no primeiro turno deste ano. Penso que o voto é um direito de todos e não um dever. Na minha observação e análise as pesquisas de intenção de votos cumpriram a sua missão e deram uma fotografia para os eleitores que consomem este tipo de informação que pode auxiliar em sua tomada de decisão sobre em quem votar. Entretanto considero que as pesquisas deveriam registrar as intenções de quem deseja se abster de ir às urnas no dia da eleição.

Não tive muitas expectativas quanto à realização de grandes e intensos debates entre os candidatos a prefeito, mas entendo a estratégia daqueles postulantes líderes nas pesquisas de intenção de votos de não comparecer aos debates nas diversas mídias. Eles apenas gerenciaram o risco de vacilar ou ter desempenho comprometedor que poderiam lhes causar perdas desnecessárias.

Incrível a enorme ansiedade das pessoas devido ao atraso de três horas para a conclusão das apurações dos votos na noite do domingo, 15/11. Vale lembrar que as urnas eletrônicas são usadas no Brasil desde 1996 e esta foi a 13ª eleição de resultados plenamente confiáveis e alcançados com muita segurança. Agora, quem sonha com urna eleitoral de lona, voto rabiscado no papel e insegurança quanto à inviolabilidade do processo passa a sensação de estar buscando justificativas para resultados ruins em futuras eleições. Cabe também ao Tribunal Superior Eleitoral assumir os erros na implementação do Sistema de Apuração dos votos, centralizado pela primeira vez em Brasília.

Encerro com a percepção de que os partidos políticos do espectro de centro-direita – DEM, PSD, MDB, PSDB e PP – conseguiram melhorar a quantidade de prefeitos e vereadores eleitos e, no espectro da esquerda, o PSOL vai ganhando espaços que o PT começou a perder a partir de 2016. Agora é ver e agir na caminhada rumo às eleições de 2022, mas muita água ainda vai passar debaixo da ponte.

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