Há muito tempo se fala em reforma política e em reforma tributária. Como nunca se chega a um generoso consenso, tudo tem ficado para depois, mas sem a perspectiva do quando. Enquanto isso, os temas ficam pululando, com intensidades variadas, nos anseios da população. As pesquisas de opinião mostram o anseio por mudanças de cunho político e a insatisfação com a alta da inflação corroendo o poder aquisitivo – inclusive o da nova classe média. Também rondam o fantasma do desemprego e a perspectiva de crescimento econômico entre 1% e 1,5%, neste ano que já esta chegando ao meio.

Se as metas não são atingidas e os resultados não podem parecer pífios, a solução mais simples para o governo foi voltar à alquimia, que transmuta metais inferiores em ouro, e passar a mostrar os indicadores da gestão com grosseiras modificações de critérios de lançamentos contábeis, que fizeram surgir a contabilidade criativa.

Assim, uma conta que deveria ser paga pelo critério de competência no mês de dezembro é simplesmente lançada contabilmente para ser efetivamente paga em janeiro do ano seguinte. Isso impacta os restos a pagar que a União Federal tem, mas torna mais palatável o resultado a ser mostrado.

Nesse sentido o que pensar do eufemismo contido na expressão “centro da meta de inflação”, fixado em 4,5% pelo Conselho Monetário Nacional? Ele, que ao mesmo tempo cria duas outras metas, o teto de 6,5% e o piso de 2,5%? Nessa alquimia, o Banco Central do Brasil, o Ministério da Fazenda e o Tesouro Nacional só alcançam resultados próximos a 6,5%, e insistem em dizer sempre que está tudo sob controle.

Diversos outros casos podem ilustrar ainda mais o que estou escrevendo, inclusive com a entrada em cena da “estagflação”, estagnação com inflação, diante dos baixos investimentos e da incapacidade de se combater as causas dos problemas. Aliás, os alquimistas sempre defenderam inflação um pouco mais alta, a ser compensada por um maior crescimento econômico. Como se vê pelo andar da carruagem, o mercado de trabalho para alquimistas continua em alta, tamanhas são as necessidades de mostrar perfeição naquilo que está totalmente imperfeito.

Os alquimistas estão chegando
Jorge Ben

Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!...

Os Alquimistas
Estão chegando
Estão chegando
Os Alquimistas...(2x)

Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!
Êh! Êh! Êh! Êh!... (3x)

Eles são discretos
E silenciosos
Moram bem longe dos homens
Escolhem com carinho
A hora e o tempo
Do seu precioso trabalho...

São pacientes, assíduos
E perseverantes
Executam
Segundo as regras herméticas
Desde a trituração, a fixação
A destilação e a coagulação...

Trazem consigo, cadinhos
Vasos de vidro
Potes de louça
Todos bem e iluminados
Evitam qualquer relação
Com pessoas
De temperamento sórdido
De temperamento sórdido
De temperamento sórdido
De temperamento sórdido...

Êh! Êh! Êh! Êh!
Êh! Êh! Êh! Êh!...

Êh! Êh! Êh! Êh!
Êh! Êh! Êh! Êh!...

Os Alquimistas
Estão chegando
Estão chegando
Os Alquimistas...(2x)

Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!...
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Um amigo foi indicado para um cargo de chefia. Um parente comprou um apartamento novo. O colega de trabalho vai pra Europa. O que esses três casos têm em comum? Provavelmente você vai ouvir um “ah, mas fulano merece!” quando comentar com outra pessoa.

Ivan Lins e Paulo César Pinheiro são autores da música A gente merece ser feliz, muito adequada para esses casos. Abaixo, você pode ouvi-la na interpretação de Lins. Vale a pena voltar à canção nesse tempo de plena eferverscência de manifestações, protestos e greves, embalados pelas vésperas da Copa do Mundo. Como se sabe, “o melhor da festa é esperar por ela”.

Com os versos na cabeça, penso: o que sonhar? O que fazer? O que criar em nosso país de alta entropia, que quer ser feliz com justiça e paz? Temos líderes, pessoas da vanguarda, que apresentem as capacidades de saber ouvir e saber falar? São perguntas para este ano eleitoral, com inflação em alta e perda de poder aquisitivo.

Disseram Ivan e Paulo na música:

“Que apesar de tanta mágoa
Vale a pena toda luta
Para ser feliz.”

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No dia 25 de abril completaram-se 40 anos da Revolução dos Cravos em Portugal. O embaixador de Portugal no Brasil deu entrevista à Agência Brasil, que está no link acima, explicando que a revolução significa liberdade para os portugueses.

“Portugal está em festa porque o 25 de abril restituiu a liberdade: de pensar, de escrever, de se reunir e poder se manifestar”.

Francisco Ribeiro Telles – Embaixador de Portugal no Brasil

Liberdade que, na época, faltava a nós, brasileiros. A revolução foi assunto da coluna de Pasquale Cipro Neto, publicada na Folha de S. Paulo da última quinta-feira. Leitura indicadíssima, que pode ser feita neste link.  O professor relembra a importância do repertório, do conhecimento, para entender o mundo. E cita uma música de Chico Buarque que fala da revolução portuguesa, Tanto Mar. Na coluna, Pasquale destrincha a letra, as metáforas e as relações entre as situações brasileiras e portuguesas naquele ano. Segue um trechinho:

A estrofe da canção que mais relaciona a situação vivida por Portugal naquele abril de 1974 com a situação do Brasil no mesmo período é esta: “Sei que há léguas a nos separar / Tanto mar, tanto mar / Sei também quanto é preciso, pá / Navegar, navegar”. Antes que alguém pergunte, “pá” é um vocativo tipicamente português, algo como o nosso “rapaz”, “cara” ou algo equivalente. A origem provável desse “pá” é a redução de “rapaz”.

É forte o valor metafórico das expressões “léguas a nos separar” e “tanto mar”. Literalmente, o Brasil e Portugal são, sim, separados por muitas léguas de mar, mas o mar de que fala o grande Mestre é outro. Na letra de Chico Buarque, o mar que separava o Brasil de Portugal era simbólico: lá, as águas da liberdade, do fim da tirania; cá, as águas da opressão, da barbárie.

Assim como vale a leitura da coluna, vale também ouvir a bela música. Ouça clicando no link abaixo.

Tanto Mar – Chico Buarque

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Já que o golpe militar de 1 de abril de 1964 foi tão lembrado pelos seus 50 anos, é importante relembrarmos uma música de protesto que retrata bem os anos de chumbo, que viriam logo depois. Trata-se de Pesadelo, de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, imortalizada pelas vozes do MPB4.

Paulo César Pinheiro realizou parcerias com diversos músicos, entre eles Baden Powell, João Bosco, João Nogueira, Eduardo Gudin, Tom Jobim e Lenine. Tais encontros resultaram em mais de duas mil composições, interpretadas por artistas como Elis Regina, Clara Nunes e Simone, entre outros.

Segue a letra, transcrita do site Vagalume.

Pesadelo
(Maurício Tapajós / Paulo César Pinheiro)

Quando o muro separa uma ponte une
Se a vingança encara o remorso pune
Você vem me agarra, alguém vem me solta
Você vai na marra, ela um dia volta
E se a força é tua ela um dia é nossa
Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando
Que medo você tem de nós, olha aí

Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
De repente olha eu de novo
Perturbando a paz, exigindo troco
Vamos por aí eu e meu cachorro
Olha um verso, olha o outro
Olha o velho, olha o moço chegando
Que medo você tem de nós, olha aí

O muro caiu, olha a ponte
Da liberdade guardiã
O braço do Cristo, horizonte
Abraça o dia de amanhã, olha ai

Ouça a música aqui.

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São vinte dias passados da nova estação, que começa a se parecer um pouco mais com outros outonos. Há quem goste de enfatizar as manhãs outonais e se encantar com as cores de abril. Para quem preferir cantar as cores, uma boa lembrança é a música Roxinha, de Zeca Baleiro. Letra retirada do site Vagalume.

Roxinha

Tem gente que me chama de roxinha
Tem gente que me chama de galega
Galega roxinha
O que é que eu sou
O que é que eu sou, sei lá

Tem gente que me chama de neguinha
Tem gente que me chama de minha branca
Minha branca neguinha
O que é que eu sou
O que é que eu sou, sei lá

Tem gente que me chama de parda
Tem gente que me chama de crioula
Tem gente que me chama pela cor
A minha alma tem mais de mil cores, meu amor
Tem gente que me chama de morena
Tem gente que me chama de escura
Mistura e maravilha
Meu pai e minha filha
São como eu, mestiços, sim senhor
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