Sol de Primavera

por Luis Borges 23 de setembro de 2015   Música na conjuntura

Estamos caminhando para o final de setembro, mês que começou trazendo chuva e preparando a chegada da Primavera, que se deu hoje, 23, às 5h20.

Vamos ver mais flores por aí com a chegada da nova estação. / Foto: Marina Borges

Vamos ver mais flores por aí com a chegada da nova estação. / Foto: Marina Borges

Em sua aurora veio também a renovação da esperança, com muito realismo, em meio às flores de marcante presença na estação que se inicia. O momento que atravessamos no país é marcado por muita insatisfação, mas também pela intolerância e o ódio de alguns. O sol da Primavera pode trazer em sua luz a formulação que nos leve a uma saída digna para a inequação em que nos encontramos.

Se ainda não se vê o fim do túnel, pelo menos já se delineia o que não se quer encontrar lá. E para melhor prosseguir espero que a política seja pelo menos a arte do possível e que surjam mais lideranças verdadeiras para o florescer de um novo tempo, mais respeitoso com a pátria e com os cidadãos.

Que a primavera brasileira seja marcada pela transparência na plenitude da prática democrática e por iniciativas que contribuam efetivamente para a solução de nossos problemas crônicos e com a aprendizagem advinda das lições que os erros nos ensinaram.

A música Sol de Primavera, de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, pode ser um bom alento para acalantar nossas buscas nessa conjuntura em que a estratégia é de sobrevivência, a nos exigir muita criatividade e alta resiliência.

Sol de Primavera
Fonte: Letras.mus.br

Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez

Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar

Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender

Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender

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Este 25 de agosto marca os 54 anos da renúncia de Jânio Quadros ao cargo de Presidente da República, ocorrida em 1961 após quase sete meses de exercício do mandato. Jânio foi eleito em 03 de outubro de 1960, com 48,27% dos votos válidos, e teve no combate à corrupção um dos mais destacados pontos do seu programa de governo. Em sua carta renúncia ele afirmou:

“Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou indivíduos, inclusive, do exterior”.

vassourinha jânio quadros

Retrato de Jânio Quadros. Fonte: Arquivo Nacional.

A situação vivida hoje pelo Brasil, mais de meio século depois, mostra que a corrupção continua fortemente impregnada na cultura brasileira, cada vez mais ousada e confiante na certeza da impunidade e também da imunidade. Combatê-la tornou-se uma obrigação e uma questão de sobrevivência para a nação, principalmente após cada revelação das diversas etapas da Operação Lava Jato, mostrando como o sistema é integrado.

Vale a pena ouvir de novo a música Varre, varre, vassourinha, de autoria de Maugeri Neto, que foi muito cantada durante a campanha de Jânio Quadros. Aliás, a vassourinha também foi usada como broche nas roupas de muitos de seus eleitores.

Varre, varre, vassourinha...
Fonte: Letras.mus.br 

Varre, varre, varre, varre vassourinha!
Varre, varre a bandalheira!
Que o povo já 'tá cansado
De sofrer dessa maneira
Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado!
Jânio Quadros é a certeza de um Brasil, moralizado!
Alerta, meu irmão!
Vassoura, conterrâneo!
Vamos vencer com Jânio!
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Acorda amor

por Luis Borges 3 de agosto de 2015   Música na conjuntura

No sábado 25 de julho oito presos na Operação Lava Jato foram transferidos da carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (PR) para o Complexo Médico Penal, na região metropolitana. Foi o sinal para que observadores da cena política começassem a discutir a ocorrência de novas prisões, já que havia vagas na carceragem. Três dias depois, outra fase da operação aconteceu e 2 novas pessoas foram presas. Hoje, 3 de agosto, os jornais noticiam a prisão de outras pessoas, entre elas o ex-ministro José Dirceu.

Fiquei imaginando a expectativa vivida por muitas pessoas nesses 16 meses que já duram as investigações, indiciamentos e julgamentos relacionados à corrupção na Petrobras. Primeiro é ficar matutando sobre possíveis ações envolvendo busca, apreensão, prisão temporária ou preventiva. Aliás, o Presidente da Câmara dos Deputados, quando perguntado sobre a sua situação de investigado, respondeu que esperava que a PF não aparecesse antes das 6 da manhã.

Também dá para pensar na repercussão instantânea da prisão na mídia, o prosseguimento da repercussão, a força ou a fragilidade para enfrentar interrogatórios, a delação premiada prevista em Lei e até mesmo o cumprimento de uma pena num determinado período de tempo.

De relance, também pensei nas prisões que incidem sobre a maioria da população em função dos crimes do cotidiano e no dito popular afirmando que uma pessoa foi conduzida para um local onde o filho chora e a mãe não ouve.

Enfim, lembrei-me inevitavelmente dos tempos da Ditadura Militar, quando prisões arbitrárias, torturas físicas e psicológicas, assassinatos e desaparecimento de pessoas eram frequentes, na tentativa de calar os opositores do regime. A expectativa de ser preso a qualquer momento mexia com quem poderia se tornar um preso político, ainda mais que era um grande desafio conseguir rapidamente o reconhecimento por parte da Ditadura de que alguém fora preso. Esse tipo de situação dolorosa foi retratada na música Acorda amor, que você pode ouvir a seguir na voz de Chico Buarque.

Acorda amor
Fonte: site Chico Buarque

Acorda, amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o ladrão

Acorda, amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de escada
Fazendo confusão, que aflição
São os homens 
E eu aqui parado de pijama
Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame 
Chame o ladrão, chame o ladrão

Se eu demorar uns meses convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo e pode me esquecer

Acorda, amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre o bicho pega
Se fica não sei não
Atenção
Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa, não reclame
Clame, chame lá, clame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão
(Não esqueça a escova, o sabonete e o violão)
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De modo geral, as pessoas gostam de ter poder e de usufruir dele nos mais diversos tipos de organizações humanas – famílias, escolas, sindicatos, empresas, associações, prefeituras municipais, país…

Um projeto de poder para ocupar a Presidência da República Federativa do Brasil e lá permanecer por três décadas é meta que mobiliza muita gente, principalmente para manter esse poder conquistado.

A nossa situação atual mostra o PT em seu 13º ano de Presidência da República junto com sua base aliada, na qual o PMDB está em primeiro plano. Em 2018 o tempo de poder chegará a 16 anos. Se olharmos a história a partir da Proclamação da República veremos que o primeiro mandato de Getúlio Vargas durou 15 anos, aí incluídos os anos da Ditadura do Estado Novo. A Ditadura Militar se manteve por longos 21 anos. Esses fatos e dados nos mostram que brevemente a longevidade do PT no poder só será menor que a da Ditadura Militar.

Aqui começa uma tentativa de compreensão das causas que estão levando o ex-presidente Lula a disparar suas falações em todas as direções. Nesse momento fica a sensação de que tudo foi maravilhoso em seus 8 anos de mandato e que a sucessora por ele criada desviou-se do seu reto caminho. Logo ela, que no início era só alegria e todos eram felizes. Mas foi só a coisa criada assumir sua vida própria e deixar de praticar o que a vontade do criador tentava impor sob o cognome de consultor, para que a relação entre o mestre e a aprendiz começasse a ir para o brejo. Os indicadores econômicos, políticos e sociais se apresentam muito ruins e com poucas perspectivas de recuperação rápida após o inicio do ajuste fiscal das contas públicas.

As eleições municipais de 2016 já batem à porta. As presidenciais de 2018, embora ainda pareçam longe, logo logo também chegarão. Fica visível que Lula vai gastando muito de sua energia para tentar estancar a queima rápida de seu capital político. Daí a tentativa de se realinhar com as centrais sindicais e movimentos sociais a partir da regulamentação da terceirização do trabalho, o sentimento de estar abaixo do volume morto da política, a constatação de que seu partido perdeu a utopia e só quer cargos, claro que a começar por ele, e assim por diante. Agora o jeito é se afastar da atual presidente e se colocar criticamente fora do processo, como se dele não fizesse parte.

Embalado pela Observação e Análise do que se passa na conjuntura e dos cenários que se desenham, lembrei-me que poderia embalar meu momento ouvindo a música Não lhe quero mais, de autoria de Roberto e Erasmo Carlos, cantada, por exemplo, por Tony Tornado. Ouça!

Não lhe quero mais
Fonte: Letras.mus.br 

Jogue fora o meu retrato
Lave a mão que me afagou
Veja se esquece o dia
Que eu lhe dei amor,
Que eu lhe dei amor

Nunca mais fale o meu nome
Tudo, tudo o que eu sentia
A muito se apagou
Veja se esquece o dia
Que eu lhe dei amor,
Que eu lhe dei amor
Que eu lhe dei amor

Todo o amor do mundo
Você jogou fora
E agora vai se arrepender
Mas agora é tarde porque
Eu não lhe quero mais
Eu não lhe quero mais
Eu não lhe quero mais
Eu não lhe quero mais
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Travessia

por Luis Borges 16 de junho de 2015   Música na conjuntura

O compositor Fernando Brant fez a travessia, sua passagem para outro plano espiritual. Foi embora deixando rastros de luz, perpetuados nas letras de suas poesias que uniram os reinos das palavras e da música. Tudo isso expresso pela real grandeza da melodia e voz de Milton Nascimento.

Diante da quantidade de homenagens, citações, referências através de variados meios e maneiras, só me resta também registrar aqui minha admiração e reconhecimento pelo conjunto de sua obra, legado que se eterniza.

Ainda assim, quero também deixar registrados três outros aspectos que a passagem de Fernando Brant me fez lembrar.

O primeiro deles diz respeito à sua condição de fervoroso torcedor do América Futebol Clube, verdadeiro estado de espírito que unifica uma imensa nação em torno da arte e do ofício da bola. No sábado em que seu corpo foi sepultado a bandeira do time estava presente junto à urna mortuária, o hino foi executado em alto e bom som, aconteceu mais uma vitória no estádio Independência e a camisa da Máquina tinha seu nome e letras de suas músicas.

Homenagem do América Futebol Clube a Fernando Brant./ Foto: Uarlen Valério - Fonte: Jornal O Tempo

Homenagem do América Futebol Clube a Fernando Brant./ Foto: Uarlen Valério – Fonte: Jornal O Tempo

Outra lembrança já é mais histórica e data do ano de 1979, ainda nos tempos da Ditadura Militar. A UNE (União Nacional dos Estudantes) havia sido reconstruída e houve uma eleição direta para a sua primeira diretoria após 15 anos vivendo proscrita e na clandestinidade. A tendência política Liberdade liderava uma boa parcela do movimento estudantil mineiro e participou da chapa Mutirão, que disputou e venceu as eleições para a diretoria. Fernando Brant escreveu para embalar a campanha eleitoral os versos a seguir. “A UNE volta mais nossa, a UNE volta mais forte, com a nossa união, com o nosso Mutirão”. Lá se vão 38 anos.

O terceiro aspecto está ligado aos dois transplantes de fígado a que Fernando Brant foi submetido. Fiquei pensando na complexidade que é o transplante de um órgão, que possui centenas de funções conhecidas, além das desconhecidas. Imaginei realisticamente o significado da rejeição do novo órgão implantado no sistema que é o corpo humano. Por fim, comparei essa situação à do transplante da córnea de um olho, que é apenas um tecido, mas extremamente necessário sistemicamente e que também pode apresentar sucessivas rejeições. Aparentemente tudo bem mais simples, porém muito complexo.

Gostei da letra e da música de Travessia desde a primeira vez que a ouvi, ainda nos anos 60 do século passado, quando eu era um estudante secundarista já questionando e tentando entender a nossa realidade social. Por isso, reitero o convite para que você ouça Travessia, letra de Fernando Brant, melodia e voz de Milton Nascimento.

Travessia
Milton Nascimento e Fernando Brant 
Fonte: Site oficial de Milton Nascimento

Quando você foi embora 
fez-se noite em meu viver 
forte eu sou mas não tem jeito 
hoje eu tenho que chorar 
minha casa não é minha 
e nem é meu este lugar 
estou só e não resisto 
muito tenho pra falar 

Solto a voz nas estradas 
já não quero parar 
meu caminho é de pedra 
como posso sonhar 
sonho feito de brisa 
vento vem terminar 
vou fechar o meu pranto 
vou querer me matar 

Vou seguindo pela vida 
me esquecendo de você 
eu não quero mais a morte 
tenho muito que viver 
vou querer amar de novo 
e se não der não vou sofrer 
já não sonho 
hoje faço com meu braço meu viver
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É dia dos namorados outra vez. Também pudera, o amor é lindo, existe e persiste entre pessoas. Ele também agrada ao comércio, onde nasceu para combater as vendas fracas de um mês de junho. O dia 12 ficou perfeito para celebrar o amor e trocar presentes na véspera de Santo Antônio, o santo casamenteiro. Se tudo vai bem, obrigado, é sinal de que o amor floresce e prospera na complexa arte de viver a felicidade pelos desafiantes momentos.

Mas, e se vier o fracasso? E se o amor não virar o que dele se esperava e o namoro se tornar algo que deixou de ser? É como se tudo estivesse num ponto mas, de repente, prevaleceu o contraponto e a certeza definitiva de que tudo passou. O que fazer para combater o desencanto e prosseguir buscando a arte do encontro?

Nessa véspera do dia dos namorados resolvi focalizar esse outro ângulo. Lembrei-me de uma música de Cartola, feita por ele em 1937, quando tinha 29 anos. Nessa música ele teve as parcerias de Carlos Cachaça e Zé da Zilda. Ouça na voz de Ney Matogrosso.

Não quero mais amar a ninguém
Fonte: Rádio UOL

Não quero mais amar a ninguém 
Não fui feliz, o destino não quis 
O meu primeiro amor 
Morreu como a flor, ainda em botão, 
Deixando espinhos que dilaceram meu coração. 
Semente de amor sei que sou desde nascença, 
Mas sem ter a vida e fulgor, eis minha sentença, 
Tentei pela primeira vez um sonho vibrar, 
Foi beijo que nasceu e morreu, sem se chegar a dar. 
(bis da primeira parte) 
Às vezes dou gargalhada ao lembrar do passado, 
Nunca pensei em amor, nunca amei nem fui amado, 
Se julgas que estou mentindo, jurar sou capaz, 
Foi simples sonho que passou e nada mais
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Foram quatro facadas que tiraram a vida de um ciclista, médico cardiologista de 56 anos, que pedalava na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Isso aconteceu 10 dias atrás, mas o caso continua repercutindo intensamente. Diariamente são inúmeras ocorrências com uso de armas brancas pelo país.

Diante da pouca segurança e da grande sensação de insegurança, diversas proposições vieram à tona junto com a indignação que muitas pessoas e entidades estão manifestando. Destaco uma dessas proposições, um Projeto de Lei que tramita na Câmara dos Deputados desde 2004. Ele propõe a criminalização do porte de armas brancas em vias públicas e prevê detenção de três meses a um ano, além de multa, para quem descumprir o proposto. O autor do PL2967/2004, Lincoln Portela (PR-MG) justifica que a restrição ao porte de armas de fogo levou ao aumento da utilização de armas brancas. Enquanto os crimes vão se acumulando, a justiça prossegue lenta, o Poder Executivo falha no planejamento e gestão da segurança e o Poder Legislativo segue na sua inércia. Para o PL acima, são 11 anos sem análise de uma proposta de um parágrafo.

Os cidadãos é que devem ficar espertos para não serem surpreendidos por alguns portadores de faca, facão, canivete, punhal, espada, navalha, tesoura e assemelhados. É preciso estar de ouvidos atentos e olhos bem abertos nessa vida em que o risco só aumenta. E faz parte da gestão do risco pular igual pipoca e saltar de banda, principalmente quando se ouvir uma ou mais vozes gritando “olha a faca”, “olha o sangue” ou o pós-moderno “perdeu, perdeu”.

Qual seria a minha, a sua, a nossa reação se estivéssemos presentes numa cena como a que foi vítima o ciclista que pedalava sua bicicleta? O fato é que estamos cada vez mais expostos e tudo se aproxima mais e mais de nós todos. Para embalar essa reflexão, ainda que sem ação, que tal ouvir a musica De frente pro crime, de João Bosco e Aldir Blanc, na voz do próprio João Bosco, que é mineiro de Ponte Nova?

De frente pro crime
Fonte: Letras.mus.br

Tá lá o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...

O bar mais perto
Depressa lotou
Malandro junto
Com trabalhador
Um homem subiu
Na mesa do bar
E fez discurso
Prá vereador...

Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco
De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...

Tá lá o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...

Sem pressa foi cada um
Pro seu lado
Pensando numa mulher
Ou no time
Olhei o corpo no chão
E fechei
Minha janela
De frente pro crime...

Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco
De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...(2x)

Tá lá o corpo
Estendido no chão...
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Carmen* começou a semana de trabalho, na última segunda-feira, pedindo liberação do serviço durante a tarde. O motivo? Participar do velório e do sepultamento de um sobrinho, um jovem rapaz de 23 anos, que se enforcou no dia anterior.

A tia conta que o moço namorava uma “mocica” de 20 anos, com a qual brigava muito. Principalmente por ciúmes, que de vez em quando levavam ao término do namoro, que posteriormente acabava sendo retomado. Pouco mais de uma semana atrás o casal tinha terminado novamente, mas a moça disse que não tinha volta.

Inconformado, o rapaz continuou insistindo. Acabou levando uma grande surra de alguns amigos da moça, com o aviso de que não deveria mais procurá-la, senão a situação ficaria ainda pior. O rapaz prosseguiu triste e revoltado nos dias seguintes, até chegar ao último ato de sua vida.

Embora esse caso não tenha virado notícia de jornal, existem dados mostrando que o suicídio é a décima causa de mortes no mundo e vitima 1 milhão de pessoas por ano. Já as tentativas de suicídio chegam a 20 milhões no mesmo período. O assunto já foi abordado no blog, quando sugerimos a leitura do artigo Mitos sobre suicídio e como preveni-lo de autoria de Camila Appel.

Apesar do tema continuar merecendo mais difusão, discussão e conhecimento para a compreensão de suas causas ele foi abordado pelo compositor Haroldo Barbosa em sua musica Notícia de jornal, cuja letra você pode ler a seguir. Ouça na interpretação de Chico Buarque.

* Carmen é um nome fictício, para preservar a participante de uma história verídica.

Noticia de Jornal
Composição de Haroldo Barbosa
Fonte: Letras.mus.br

Tentou contra a existência
Num humilde barracão
Joana de tal, por causa de um tal João

Depois de medicada
Retirou-se pro seu lar
Aí a notícia carece de exatidão

O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou

Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de João
Ninguém notou
Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal
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Na travessia do meu tempo converso com diferentes tipos de pessoas, de idades, ofícios e assuntos dos mais variados. Mas tenho notado que uma parte expressiva dessas pessoas, talvez um pouco mais de 50%, tem se caracterizado pelo excesso de reclamações, lamentos e choros. Elas tem me passado a sensação de que são vítimas de alguma coisa o tempo todo, ao mesmo tempo em que dizem trabalhar bastante e que se dedicam a muitas pessoas que vivem no seu entorno.

Algumas também disparam contra a crise econômica, a corrupção e a perda de poder aquisitivo enquanto continuam comprando, comprando e comprando. Tenho percebido também que algumas delas não admitem ouvir o menor contraponto questionador de suas atitudes e posturas. Aliás, até se irritam porque só sabem falar muito e fazer lamentos. Numa dessas quase saí festeiro com uma pessoa só porque ousei balbuciar algumas palavras sobre o planejamento financeiro para dar suporte ao ciclo idoso da vida.

Fiquei mais “bege” ainda quando um amigo cinquentão veio chorar o fim de um amor que já durava 2 anos. Diante de seu estado sofrido, mas típico de quem não se emenda, sugeri a ele que ouvisse algumas vezes a música Pra que chorar, do “poetinha” Vinícius de Moraes em parceria com Baden Powell.

O amigo ainda não me procurou para dizer como está reagindo à terapia musical nos últimos dias. Mas prossigo solidário, quieto, de ouvidos abertos e boca fechada. Vamos ver como tudo isso vai se desdobrar. Como se vê, reclamações, lamentos e choro não faltam, e estão aí para muitas modalidades.

Pra que chorar
Fonte: Letras.mus.br

Pra que chorar
Se o sol já vai raiar
Se o dia vai amanhecer
Pra que sofrer
Se a lua vai nascer
É só o sol se pôr
Pra que chorar
Se existe amor
A questão é só de dar
A questão é só de dor

Quem não chorou
Quem não se lastimou
Não pode nunca mais dizer
Pra que chorar
Pra que sofrer
Se há sempre um novo amor
Em cada novo amanhecer
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Acácia amarela

por Luis Borges 22 de abril de 2015   Música na conjuntura

Este 22 de abril marca o sétimo dia da passagem de Tomaz Luiz Naves para outro plano espiritual. Ele nasceu em Romaria(MG), era advogado, torcia para o América Futebol Clube, tinha 71 anos de idade e era casado com Lucrézia, com quem teve dois filhos, Ricardo e Leonardo.

Eu o conheci há um ano por meio de um amigo em comum e gostei muito de tê-lo conhecido em função dos seus ideais, da sua ação efetiva e da sabedoria demonstrada. Nossos contatos não foram muitos nesse curto espaço de tempo, inclusive em função dos limites físicos que enfrentou nos últimos meses, que acabaram antecipando a sua partida. Como dizia uma das muitas coroas de flores presentes no cenário do velório de seu corpo, ele combateu o bom combate, trabalhou com dignidade, cumpriu sua grande missão e seguiu em paz.

Tomaz Naves foi, por duas vezes, Grão Mestre Ad-Vitam da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais e sempre defendeu a tese de que o sucesso dos projetos da Maçonaria brasileira deveria partir dos anseios comuns e da atuação integrada das Potências.

Tomo a liberdade de homenagear e reconhecer Tomaz Luiz Naves lembrando a música Acácia amarela de Luiz Gonzaga, O Rei do Baião, e membro de outra Potência Maçônica.

Acácia Amarela
Luiz Gonzaga
Fonte: Letras.mus.br

Ela é tão linda é tão bela
Aquela acácia amarela
Que a minha casa tem
Aquela casa direita
Que é tão justa e perfeita
Onde eu me sinto tão bem

Sou um feliz operário
Onde aumento de salário
Não tem luta nem discórdia
Ali o mal é submerso
E o Grande Arquiteto do Universo
É harmonia, é concórdia
É harmonia, é concórdia.
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