Comportamento geral

por Luis Borges 26 de outubro de 2019   Música na conjuntura

Em 1972 o economista, cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, fez a música e letra da canção Comportamento Geral. Foi mais uma contribuição da música popular brasileira para combater a ditadura militar advinda do golpe de 1964. A ditadura estava na plenitude de sua força após oito anos de ocupação do poder.

Agora que já se passaram 47 anos de nossa história recente, que tal revisitar essa música à luz da conjuntura e dos cenários que se desenham? Diante dos avanços e retrocessos que caracterizam a sociedade polarizada e uma grande parte da população na anomia por não se sentir representada por nenhum dos polos, fica evidente que não dá para se omitir diante da realidade.

Como será que Gonzaguinha faria a letra dessa musica nesse momento que estamos vivendo? Dá para imaginar?

Comportamento Geral
Fonte: Letras.mus.br

Você deve notar que não tem mais tutu
e dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira
e dizer que está recompensado
Você deve estampar sempre um ar de alegria
e dizer: tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão
e esquecer que está desempregado

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você deve aprender a baixar a cabeça
E dizer sempre: "Muito obrigado"
São palavras que ainda te deixam dizer
Por ser homem bem disciplinado
Deve pois só fazer pelo bem da Nação
Tudo aquilo que for ordenado
Pra ganhar um Fuscão no juízo final
E diploma de bem comportado

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal

E um Fuscão no juízo final
Você merece, você merece

E diploma de bem comportado
Você merece, você merece

Esqueça que está desempregado
Você merece, você merece

Tudo vai bem, tudo legal.
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Que metamorfose!

por Luis Borges 10 de fevereiro de 2019   Música na conjuntura

O Senador Renan Calheiros (MDB-AL), 63 anos está no Senado Federal desde 1995 e tomou posse no dia 1º de fevereiro para cumprir seu novo mandato de 8 anos. Se cumprido até o final ensejará ao Senador uma carreira de 32 anos na casa revisora de leis. O Senador alagoano desejava ser eleito Presidente do Senado pela quinta vez e, para isso, afirmou que passou por uma metamorfose que o levou a ser um novo Renan, bem diferente do velho Renan, mas admitindo que os dois ainda se comunicam. Deu no que deu na eleição para Presidente do Senado nos dias 1 e 2 de fevereiro, quando acabou retirando a sua candidatura denunciando uma metamorfose casuística no regimento interno daquela casa do Congresso Nacional no que tange ao voto aberto em plenário.

Lembrei-me da tão falada e necessária palavra reinventar para quem precisa formular estratégias de sobrevivência ou de manutenção numa conjuntura marcada por uma tímida e incipiente recuperação econômica. Segundo o Dicionário Online de Português reinventar é tornar a inventar, recriar uma solução para um problema antigo, mas que exige uma nova abordagem; reelaborar. Já metamorfose é definida no site Significados.com como mudança, é a transformação de um ser em outro, de uma forma em outra. No sentido figurado metamorfose é a mudança considerável que ocorre no caráter, no estado ou na aparência de uma pessoa, é a transmutação física ou moral.

Assim também não há como se esquecer do Maluco Beleza que, segundo a mesma fonte, Metamorfose ambulante é o nome de uma das principais músicas do cantor e compositor Raul Seixas (1945-1989), gravada no ano de 1973. Nessa música o artista afirma que prefere viver em um estado de constante mudança do que ser o mesmo todos os dias, com opiniões imutáveis e intransigentes.

Vale a pena ouvir a música na voz do próprio Raul Seixas após 46 anos de seu lançamento e também acompanhar possíveis metamorfoses do novo Renan depois de não ter conseguido realizar seu desejo de ser o atual presidente do Senado Federal.

Metamorfose ambulante
Fonte: Letras.mus.br

Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

Eu vou desdizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo.
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Natal todo dia

por Luis Borges 23 de dezembro de 2018   Música na conjuntura

O realismo esperançoso que faz parte do meu modo de ser e de ver as coisas também contribui para os meus sonhos que poderão virar propósitos, depois objetivos, que após ganharem valor e prazo se tornarão metas. Que as meditações e reflexões suscitadas pelo momento tornem-se cada vez mais constantes e permanentes no primado da ação.

Ouvir a música Natal todo dia, de Maurício Gaetani, composta em 2007 e cantada pelo grupo Roupa Nova pode ser um acalanto para embalar as mudanças de atitudes perante o necessário querer mudar que a vida nos impõe a cada dia.

O Observação & Análise entra em recesso a partir de hoje. As postagens retornam no dia 7 de janeiro. Desejo boas festas a todos os leitores e que possamos nos reencontrar em 2019.

Natal todo dia
Fonte: Letras.mus.br

Um clima de sonho se espalha no ar
Pessoas se olham com brilho no olhar
A gente já sente chegando o Natal
É tempo de amor, todo mundo é igual

Os velhos amigos irão se abraçar
Os desconhecidos irão se falar
E quem for criança vai olhar pro céu
Fazendo pedido pro velho Noel

Se a gente é capaz de espalhar alegria
Se a gente é capaz de toda essa magia
Eu tenho certeza que a gente podia
Fazer com que fosse Natal todo dia

Se a gente é capaz de espalhar alegria
Se a gente é capaz de toda essa magia
Eu tenho certeza que a gente podia
Fazer com que fosse Natal todo dia

Um jeito mais manso de ser e falar
Mais calma, mais tempo pra gente se dar
Me diz porque só no Natal é assim
Que bom se ele nunca tivesse mais fim

Que o Natal comece no seu coração
Que seja pra todos, sem ter distinção
Um gesto, um sorriso, um abraço, o que for
O melhor presente é sempre o amor.


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Fé cega, faca amolada?

por Luis Borges 16 de setembro de 2018   Música na conjuntura

Faltando 21 dias para a realização do primeiro turno das eleições em 7 de outubro a conjuntura prossegue dinâmica conforme sua própria natureza, mas indelevelmente marcada por muitas expectativas e incertezas. Fatos, factóides e notícias falsas nas mais diversas mídias surgem de todas as maneiras e de todos os lados. Se é feio perder uma eleição e com ela o projeto de poder, o “vale tudo” também entra em cena. Até a faca e sua aplicação geraram expectativas de alavancagem de melhores resultados eleitorais.

Mas independente das crenças, da fé em algo ou alguém, ainda que não haja nenhum tipo de evidência que comprove a veracidade da proposição em causa, devemos nos lembrar que vivemos numa sociedade que se diz civilizada, democrática e republicana. Se 13 são os candidatos à Presidência da República – que serão acompanhados pelas abstenções, votos nulos e brancos – fará parte do jogo saber perder com ou sem alianças partidárias.

Se olharmos apenas de 2012 para cá veremos quanto cresceu a desigualdade social num país já tão desigual, mesmo com o clamor das difusas e intensas manifestações de 2013. Também é marcante e lamentável a incapacidade de saber perder, demonstrada pelo candidato que ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais de 2014. Da insatisfação veio a intolerância, que levou à raiva e ao ódio para marcar e demarcar as pessoas e grupos polarizados. E também o sentimento de anomia daqueles que não se sentem representados pelos polos formados.

No fundo no fundo, quanto pior, pior mesmo. É só verificar os resultados da recessão econômica, do impeachment presidencial e de como chegaremos ao final de 2018.

Como cantar também pode nos trazer recordações de todos os tipos, me lembrei que em abril de 2016 postei aqui minhas percepções sobre a conjuntura da época conectadas à música Viramundo, de Gilberto Gil. Agora nessa conjuntura de faca e facada para quem quer provar do seu próprio veneno, e cada qual defende o seu qual ancorado por suas crenças, me lembrei da música “Fé cega, faca amolada”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, composta em 1975, portanto há 43 anos. Aqui pode ser ouvida na voz do próprio Milton Nascimento acompanhado de Beto Guedes.

Lembremos das mudanças pelas quais a sociedade já passou. Destaco o contínuo aumento do fluxo de informações, que aumentam os conhecimentos necessários para que as pessoas e a sociedade tomem suas decisões. Se não der para minhas ideias prevalecerem não vou sofrer, mas vou continuar lutando democrática e civilizadamente para construir a sua hegemonia de maneira realística e esperançosa, mas sem deixar que as expectativas sejam maiores que a realidade.

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“Cantar nunca foi só de alegria, com tempo ruim também se dá bom dia”, diz Luiz Gonzaga Junior, o Gonzaguinha, em sua música Palavras. Eu penso que podemos estar tristes em função de muitas coisas que nos amolam e nos preocupam, mas nem por isso deixaremos de ter motivos para a ação em busca das mudanças que se fazem necessárias. É claro que a motivação vem de dentro de cada um de nós, pois tudo começa com a gente, com o querer e a força de cada um. Se estamos vivendo um momento de indefinições, incertezas e muitos problemas para resolver, cantar também faz parte da busca do nosso equilíbrio. Como diz o cantor e compositor Sérgio Ricardo em sua música Calabouço“quem canta traz um motivo”.

Enquanto o calendário eleitoral vai cumprindo suas etapas sobra para nós a reafirmação de nossas crenças na possibilidade de se construir um estado de bem estar social de maneira civilizada. É preciso conhecer e compreender bem o momento vivido sem desanimar jamais. Nesse sentido um bom acalanto pode vir da musica Credo, de autoria de Milton Nascimento e Fernando Brant, lançada em 1978 no álbum duplo Clube da Esquina 2, que pode ser ouvida aqui na voz da cantora Elis Regina.

Credo
Fonte: Letras.mus.br 

Caminhando pela noite de nossa cidade
Acendendo a esperança e apagando a escuridão
Vamos caminhando pelas ruas de nossa cidade
Viver derramando a juventude pelos corações
Tenha fé no nosso povo que ele resiste
Tenha fé no nosso povo que ele insiste
E acorda novo, forte, alegre, cheio de paixão
Vamos caminhando de mãos dadas com a alma nova
Viver semeando a liberdade em cada coração
Tenha fé em nosso povo que ele acorda
Tenha fé em nosso povo que ele assusta
Caminhando e vivendo com a alma aberta
Aquecidos pelo sol que vem depois do temporal
Vamos, companheiros, pelas ruas de nossa cidade
Cantar semeando um sonho que vai ter de ser real
Caminhemos pela noite com a esperança
Caminhemos pela noite com a juventude
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Plano de voo

por Luis Borges 21 de janeiro de 2018   Música na conjuntura

Já se passaram 21 dias do novo ano e não faz nenhum mal perguntar se o plano de voo que norteará sua vida rumo ao atingimento de suas metas já está pronto e sendo praticado. Afinal de contas, no crepúsculo do ano que se findou muitas foram as premissas anunciadas para balizar um novo modo de ser e de se posicionar em busca de uma vida mais equilibrada em função da prevalência da sabedoria nesses tempos tão difíceis.

Se nada ou quase nada foi feito e o que ainda predomina é o discurso “da boca pra fora” para alimentar o autoengano, saiba que ainda dá tempo para se reposicionar e deixar a inércia pra lá. O que não dá é pra passar o ano apenas reclamando de tudo e de todos, tanto nos poucos contatos presenciais com outras pessoas quanto no conforto estático das emissões tóxicas digitais das redes sociais.

Nesse sentido vale a pena ouvir Plano de voo, uma canção de 1975, música e letra do cantor e compositor Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha (1945-1991).

Plano de voo
Fonte: Letras.mus.br

A ave levanta vôo e vai em busca da quente luz do sol
(Um ninho é preciso noutro lugar onde agora o campo explode em flor)
Cuidar do novo ovo
A nova cria
O novo dia
O novo...
...Amanhã
A nova vida, a calma, o agasalho, pelo menos do campo o calor
Voar se possível no frescor do despertar sereno da manhã
Pegar a asa morna desse vento sul
Voando sempre em bando sobre os perigos desse imenso mar azul
Da flecha, em formação, voando sempre no sentido de chegar
Da arma oculta no capinzal quantos? Quais escaparão
Do olho, dedo no gatilho, do engodo
(O apito chama a atenção)
Do laço, arapuca, armadilha
Quantos, quais mesmo assim, prosseguirão
Voar se possivel......
Mar azul.
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Um feliz Natal!

por Luis Borges 25 de dezembro de 2017   Música na conjuntura

A expressão “Feliz Natal” chega até nós de diversas maneiras. Muito repetida às vezes beira a exaustão, deixando uma sensação de cansaço e até mesmo de algum enfaro. Imagine as músicas natalinas tocando insistentemente num shopping center o dia todo!

Seria bom também dar um mínimo de vazão às expectativas que estão embutidas nos desejos de um “Feliz Natal” para renovar as forças que embalam os realistas esperançosos e lutadores pela transformação dessa realidade tão injusta.

Presépio da Igreja de Santa Teresa e Santa Teresinha, em Belo Horizonte. | Foto: Sérgio Verteiro.

Ainda que tudo possa parecer tão lento, mesmo assim se dermos uma paradinha e olharmos para o início deste século poderemos perceber que as mudanças não param, sejam boas ou ruins, pequeninas ou grandes. Veremos também que nada é definitivo, nem o direito adquirido quando se torna insustentável.

Portanto espero que dentro do “Feliz Natal” esteja presente a melhor maneira de prosseguir, de modo civilizado, em meio aos conflitos que são a essência da política. Que prevaleça um mínimo de espiritualidade, sensibilidade e sabedoria ao se olhar para um presépio tentando perceber a mensagem que ele pode nos trazer.

Quem sabe também outras inspirações virão ao se ouvir a musica Um feliz Natal, composta no ano 2000 por Ivan Lins e José Feliciano e cantada pelas crianças da novela Carrossel em 2012. Tomara que venham novos propósitos e reposicionamentos tão necessários nessa complexa arte de viver e de maneira simples!

Um feliz Natal
Fonte: Letras.mus.br

Um feliz natal, um feliz natal, e que Deus lhe
Guarde próspero ano e felicidade
Um feliz natal, um feliz natal, e que Deus lhe
Guarde próspero ano e felicidade

Por um natal luz de um tempo novo
Por um natal justo e amoroso
Por um natal lindo pro meu povo
É o que quer meu coração

Por um natal luz de um tempo novo
Por um natal justo e amoroso
Por um natal lindo pro meu povo
É o que quer meu coração

Um feliz natal, um feliz natal, e que Deus lhe
Guarde próspero ano e felicidade
Um feliz natal, um feliz natal, e que Deus lhe
Guarde próspero ano e felicidade

Por um natal luz de um tempo novo
Por um natal justo e amoroso
Por um natal lindo pro meu povo
É o que quer meu coração

Por um natal luz de um tempo novo
Por um natal justo e amoroso
Por um natal lindo pro meu povo
É o que quer meu coração

Um feliz natal, um feliz natal, e que Deus lhe
Guarde próspero ano e felicidade
Um feliz natal, um feliz natal, e que Deus lhe
Guarde próspero ano e felicidade.
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No meu país

por Luis Borges 20 de novembro de 2017   Música na conjuntura

Faltam 34 dias para o Natal mas sua chegada já tem muitos sinais visíveis nos centros comerciais e na propaganda intensiva em diversas mídias. Celebrar um nascimento especial mobiliza os cristãos, o que acaba trazendo em sua movimentação também muitos não cristãos.

Fico pensando como será para os brasileiros a preparação da árvore de Natal e que expectativas nela serão colocadas. Afinal de contas as percepções que temos encontrado nesses últimos tempos quase nos obrigam a sonhar com dias muito melhores. Sei que as condições continuam bastante adversas, que vale tudo pelo poder – inclusive comprar a permanência nele, que reina muita apatia e muita vontade de deixar tudo pra lá em nome da sobrevivência.  Também acaba sendo obrigatório o convívio com as redes sociais, num ambiente de vigilância, pancadaria e sem que a verdade seja necessariamente um requisito fundamental.

Será que teremos um Advento a nos preparar para 2018, com eleições gerais, ou ficaremos desunidos e polarizados em nome das nossas verdades, enquanto o poder continuará nas mãos de sempre, mas apenas dividido entre poderosos antigos e poderosos novos.

O fato é que minha árvore de Natal balança, mas não sei se terá força suficiente para se somar a outras forças e ajudar a derrubar os problemas. Querer é a primeira condição, mas é preciso organizar o querer de cada um em busca de um grande bem querer. Um acalanto para nos ajudar a ter forças para prosseguir em nossos intentos pode vir da música No meu país, cantada por Zélia Duncan e Xande de Pilares, que também são os autores da letra.

No meu país
Fonte: Letras.mus.br 

No meu país um dia desses tem que chover
Chuva de paz e amor, um dia eu vou ver
O meu país tá precisando se resolver
Se vai olhar pro futuro ou envelhecer

No meu país um dia desses tem que chover
Chuva de paz e amor, tudo pra valer
O meu país tá precisando se resolver
Se vai olhar pro futuro ou envelhecer

Se vai cuidar da criançada ou vai mandar prender
Se vai ser bruto ou mandar flores pra surpreender
Se vai olhar naquele espelho e se reconhecer
Ladeira acima sem ter medo, lindo de morrer

Indo à luta pra vencer
Rindo, lindo de morrer
Hora de querer, hora de acertar
Hora de ser forte pra sobreviver

Igualdade pra sonhar
Quem não quer melhor viver
Hora de querer, hora de acertar
Hora de ser forte pra sobreviver

Quem não quer melhor viver
O povo tá querendo ver
Hora de querer, hora de acertar
Hora de ser forte pra sobreviver

Hora de querer, hora de acertar
Hora de ser forte pra sobreviver
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E vamos à luta

por Luis Borges 22 de outubro de 2017   Música na conjuntura

A obra do economista, compositor e cantor Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha (1945 – 1991) acaba sempre nos trazendo um alento também em momentos difíceis e incertos como os de agora. Se estamos a menos um ano das próximas eleições gerais e os políticos partidários prosseguem em suas tenebrosas transações em Brasília, há um outro Brasil que resiste, sem estar isento de alguns equívocos, e persiste de maneira difusa rumo às mudanças que se fazem necessárias em nome da sobrevivência da nação.

Se as perspectivas são de alto índice de renovação entre os postulantes, espero que ela ocorra em consonância com o aumento da capacidade das pessoas para separar o que é joio e o que é trigo em eleições de voto obrigatório, coligações partidárias e financiamento público das campanhas e autofinanciamento ilimitado. Se o que importa é não estar vencido, mas é preciso saber com quem caminhar e fazer alianças, que tal ouvir Gonzaguinha em sua música E vamos à luta, lançada em 1980, ainda nos tempos da ditadura militar?

E vamos à luta
Fonte: Letras.mus.br

Eu acredito
É na rapaziada
Que segue em frente
E segura o rojão
Eu ponho fé
É na fé da moçada
Que não foge da fera
E enfrenta o leão
Eu vou à luta
É com essa juventude
Que não corre da raia
À troco de nada
Eu vou no bloco
Dessa mocidade
Que não tá na saudade
E constrói
A manhã desejada...(2x)

Aquele que sabe que é negro
O coro da gente
E segura a batida da vida
O ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco
De um jogo tão duro
E apesar dos pesares
Ainda se orgulha
De ser brasileiro
Aquele que sai da batalha
Entra no botequim
Pede uma cerva gelada
E agita na mesa
Uma batucada
Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira
Suada da luta
E faz a brincadeira
Pois o resto é besteira
E nós estamos pelaí...

Acredito
É na rapaziada
Que segue em frente
E segura o rojão
Eu ponho fé
É na fé da moçada
Que não foge da fera
E enfrenta o leão
Eu vou à luta
É com essa juventude
Que não corre da raia
À troco de nada
Eu vou no bloco
Dessa mocidade
Que não tá na saudade
E constrói
A manhã desejada...

Aquele que sabe que é negro
O coro da gente
E segura a batida da vida
O ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco
De um jogo tão duro
E apesar dos pesares
Ainda se orgulha
De ser brasileiro
Aquele que sai da batalha
Entra no botequim
Pede uma cerva gelada
E agita na mesa logo
Uma batucada
Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira
Suada da luta
E faz a brincadeira
Pois o resto é besteira
E nós estamos pelaí
Eu acredito
É na rapaziada!
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Nesses tempos de crise que se prolonga à espera de uma solução que não vem diante de tantos interesses de grupos, percebo muitas pessoas dizendo que estão cansadas de quase tudo e que já não aguentam mais ir à luta por algo que vá além da sobrevivência imediata.

A falta de perspectiva parece nos empurrar ainda mais para baixo e acaba ajudando a aumentar a anomia, pois está muito difícil enxergar alguém que possa nos representar assim que se encerra um processo eleitoral. Posso concluir que precisamos é de participar mais efetivamente e não simplesmente terceirizar a ação para algum mero representante, mas falta ânimo para encarar algo do tipo. Se a apatia prevalece ela acaba contaminando os mais diversos aspectos de nossas vidas e todos os assuntos que vão surgindo parecem nos causar muita preguiça e rejeição. Mesmo sendo um crítico da polarização entre ser contra ou a favor de alguma ideia, sugestão ou proposição mais estruturada, fico também pensando nos diversos mecanismos de deliberação passíveis de serem utilizados numa sociedade tão dividida e que cada vez mais busca aliviar suas tensões pelas redes sociais a partir de seus próprios sofás.

Além de ter que dar conta de responder a cada uma e a todas as necessidades do dia a dia – inclusive as de trabalho, saúde, segurança, gestão da sustentabilidade individual e familiar – ainda é preciso uma boa dose de tolerância para aguentar as novidades da hora da política partidária, na economia e na criatividade abusiva daqueles que agem focados apenas em se manter no poder, pois para eles está tudo muito bom. E nessa agonia de cada dia até bambear os nervos, para dar continuidade na busca do que precisa ser feito em prol do viver com dignidade, justiça social e paz não está fácil, devo constatar solenemente que isso é o que temos para hoje e amanhã também. Como jamais será possível desistir ainda busco um pouco de acalanto e me reforço cantarolando versos de Geraldo Vandré na música O Plantador.

“Quanto mais eu ando, mais vejo estrada e se eu não caminho, não sou é nada”.

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