Passados 15 dias da proclamação dos eleitos para a Presidência (Lula) e Vice-Presidência (Alckmin) da República, um tema que mexe com a atenção de quem acompanha a cena política é a designação dos membros da equipe que está fazendo a transição para o futuro governo.

Partindo da premissa de que a política é a arte do possível, e que ela conta com o diálogo entre as partes envolvidas, fico imaginando a quantas andam as conversas e as articulações na coalizão dos 14 partidos que estão alinhados com o Presidente eleito. Na pauta estão temas como responsabilidade fiscal, teto de gastos, bolsa família, revisão da reforma trabalhista, reforma tributária, correção da tabela do imposto de renda, subsídio à merenda escolar, reajuste dos salários dos servidores do poder executivo, proteção ao meio ambiente…

Será necessário ter muita inspiração, transpiração e priorização para se chegar a um generoso consenso definidor da unidade de ação para colocar em movimento a gestão do novo mandatário eleito democraticamente. O posicionamento e o reposicionamento estratégico serão um desafio permanente. Aqui vale a lembrança do engenheiro Leonel de Moura Brizola dizendo que “quanto maior a frente, menor o programa”. Agora vejo na mídia, por exemplo, que existem petistas incomodados com a chegada cada vez maior de pessoas ligadas ao vice-presidente à equipe de transição coordenada por ele. E olha que ainda existem diversas possibilidades de se convidar especialistas para contribuir com o trabalho de modo voluntário. É claro que isso traz visibilidade e amplia as possibilidades de um voluntário participar da futura equipe de governo.

Observando & analisando tudo isso, me veio à lembrança a música Os Alquimistas Estão Chegando, feita pelo cantor e compositor Jorge Ben Jor em 1974. Ela se encaixa muito bem na conjuntura atual. De quebra ela traz a palavra alquimia que, segundo o dicionário Houaiss da língua portuguesa, é “a química da Idade Média, que procurava descobrir a panaceia universal, ou remédio contra todos os males físicos e morais, e a pedra filosofal, que deveria transformar os metais em ouro; espagiria, espagírica”.

Veja a letra e ouça a música na voz de Jorge Bem Jor :

Os alquimistas

Estão chegando

Estão chegando

Os alquimistas

Eles são discretos

E silenciosos

Moram bem longe dos homens

Escolhem com carinho

A hora e o tempo

Do seu precioso trabalho

São pacientes, assíduos

E perseverantes

Executam

Segundo as regras herméticas

Desde a trituração, a fixação

A destilação e a coagulação

Trazem consigo, cadinhos

Vasos de vidro

Potes de louça

Todos bem e iluminados

Evitam qualquer relação

Com pessoas

De temperamento sórdido

De temperamento sórdido

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O cantor e compositor Gilberto Gil lançou em 1972, na plenitude da Ditadura Militar, a música Expresso 2222 trazendo uma visão futurista em relação ao ano 2000, ao qual chegaríamos com a alta velocidade de um trem (de ferro) expresso.

"Começou a circular o Expresso 2222
Da Central do Brasil
Que parte direto de Bonsucesso
Pra depois do ano 2000
Dizem que tem muita gente de agora
Se adiantando, partindo pra lá
Pra 2001 e 2 e tempo afora
Até onde essa estrada do tempo vai dar
Do tempo vai dar... 
Segundo quem já andou no Expresso
Lá pelo ano 2000 fica a tal
Estação final do percurso-vida
Na terra-mãe concebida
De vento, de fogo, de água e sal..."

Enquanto a música está completando 50 anos agora, o cantor à época completava 30 anos e deve chegar aos 80 no próximo 26 de junho. Ele nasceu em 1942, mesmo ano em que nasceram os também cantores e compositores Caetano Veloso (07/08) e Milton Nascimento (26/10).

É interessante lembrar o que se dizia em relação as expectativas em torno do emblemático ano 2000, que chegou 28 anos depois sem trazer o fim do mundo. O “Bug do Milênio” seria marcado pelo não funcionamento dos sistemas computadorizados, por não conseguirem fazer a mudança do número do ano de 1999 para 2000. Alguns imaginavam que os programas mudariam apenas os dois algarismos finais, de 99 para 00, confundindo o ano 2000 com o ano 1900.

Esperava-se também a interrupção do funcionamento das usinas geradoras de energia elétrica em suas várias modalidades, a queda de aviões em função do colapso do sistema de navegação aérea e a explosão dos mísseis nucleares em seus locais de instalação. Isso para citar apenas alguns exemplos de catástrofes que ocorreriam.

Agora, proponho outro exercício de futurologia. Faltando 28 anos para chegada de 2050, o que podemos esperar para esse novo marcador cronológico do futuro? Afinal de contas estamos caminhando para lá em meio a grandes e velozes transformações no modo de se viver.

Como estará a Terra se as metas do Acordo do Clima não forem atingidas? Ou será que ainda estaremos lutando e reivindicando para frear o aquecimento global? Como estará o desmatamento das florestas, a começar pela Amazônica, os incêndios no campo, o uso dos combustíveis fósseis, dos recursos hídricos e o tratamento de resíduos? E a geopolítica no Brasil e no mundo? As riquezas já serão distribuídas com equidade, ou estarão mais concentradas ainda? Enfim, não dá para deixar de pensar nesse futuro, que não está tão longe quanto parece, e a cada dia que passa fica mais próximo. Será?

Quais outros cenários podemos projetar no nível macro e no microcosmo da nossa cultura numa vida em sociedade a começar pela moradia? Fico pensando se em 2050 a população brasileira será mesmo de 233 milhões de pessoas, conforme as projeções do IBGE e IPEA.

Como estará o mercado de trabalho com a suposição de uma jornada semanal de 30 a 35 horas em tempos tão digitais? Estaremos convivendo, mais uma vez, com inflação alta e um ciclo de baixíssimo crescimento econômico? Imagino que questões estarão sendo discutidas sobre a longevidade, a saúde e um vírus que poderá estar ameaçadoramente em evidência. Enfim, vou parar por aqui com essas mínimas preocupações e perguntas que o futuro nos enseja. Planejar é pensar antes.

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Chove chuva

por Luis Borges 17 de janeiro de 2022   Música na conjuntura

Depois que aconteceu o acontecido, só nos restou falar em tom de quase desabafo que “chove chuva, chove sem parar”. Aliás, esses são os versos que se repetem ao longo da música “Chove Chuva” do cantor e compositor Jorge Ben lançada em 1963. Os 12 dias iniciais do mês de janeiro foram marcados pelas chuvas quase constantes e intensas – 479,3 mm – em Belo Horizonte e sua região metropolitana bem como na região central do Estado de Minas Gerais.
Tudo foi e ainda continua sendo abordado pelas diversas mídias em variados graus de acuracidade e assertividade enquanto as coisas vão acontecendo em tempo real. E quase sempre, o que fica escancarado é a constatação dos efeitos das chuvas acima dos valores esperados e a listagem das enormes perdas e danos para toda a população, a começar pelos mais vulneráveis em suas condições de vida.
Mas meu ponto aqui é chamar a atenção para a observação e análise das causas fundamentais que nos levam a resultados tão indesejáveis no período chuvoso, mesmo conscientes da sua necessidade absoluta para a vida de todos. Além disso, é preciso identificar os responsáveis pela cronificação dos problemas gerados em função de ações incorretas ou de omissões explicitas dos políticos partidários, dos gestores públicos na esfera federal, nos estados e municípios bem como no mundo dos negócios em seus diversos níveis de ganância e na postura pouco cuidadosa de muitos indivíduos perante a natureza.
Os observadores mais atentos devem estar percebendo que nessas ocasiões geralmente os políticos, os ocupantes de cargos dos poderes executivo, legislativo, judiciário e Ministério Público chegam depois do acontecido e prometendo trabalhar muito para mitigar o sofrimento instalado e realçando que envidarão esforços para obter algum recurso financeiro nos ministérios em Brasília e que investigações serão feitas para apurar responsabilidades.

Uma das saídas que nos resta é cantar como diz Luiz Gonzaga Junior em sua música “Palavras” lançada em 1973 -“Desde quando sorrir é ser feliz? / Cantar nunca foi só de alegria / Com tempo ruim / Todo mundo também dá bom dia!”.

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No ano de 2015 o Suprem0 Tribunal Federal definiu que eram inconstitucionais as doações feitas por pessoas jurídicas aos partidos políticos e aos candidatos às eleições para os poderes legislativo e executivo. Com isso, secou a maior fonte de financiamento das campanhas eleitorais – cerca de 75% do valor delas vinha de doações empresariais, conforme mostram as prestações de contas feitas ao Tribunal Superior Eleitoral.

Para suprir a lacuna o Congresso Nacional aprovou, em 2017, o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), que ficou conhecido como Fundo Eleitoral. Não nos esqueçamos que o Fundo Partidário, para manutenção dos partidos políticos, existe desde de 1965.

Da montanha de dinheiro do Fundo Eleitoral, 2% são divididos entre todos os partidos registrados no TSE, 15% são divididos entre os partidos na proporção de suas bancadas no Senado, 35% são divididos entre os partidos que tenham ao menos um representante na Câmara dos Deputados e 48% são divididos entre os partidos na proporção de suas bancadas na Câmara.

Em 2018 o fundo eleitoral foi de R$1,7 bilhão e, em 2020, chegou a R$2 bilhões. Agora o Congresso Nacional quase triplicou esse valor ao aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias com a destinação de R$5,7 bilhões de reais para a campanha eleitoral.

A voracidade dos parlamentares está gerando muitos questionamentos e gritaria. Há inclusive quem defenda que seja revogada a obrigatoriedade de financiamento das campanhas eleitorais com o dinheiro do Tesouro Nacional. Ainda mais que o déficit público continua alto, cresce a cada ano e está previsto em R$170 bilhões no ano que vem.

Existem prioridades básicas a serem atendidas nesses tempos de pandemia, desemprego, carestia, fome e necessidade de auxílio emergencial. Melhor seria que os 35 partidos políticos registrados no TSE fossem autossustentáveis e buscassem, portanto, a geração dos seus próprios recursos financeiros, a começar pela doação de seus filiados. Vale lembrar que qualquer pessoa pode doar até 10% de sua renda para campanhas eleitorais, tomando como base a renda do ano anterior ao pleito.

Esse caminho mais curto e confortável para abocanhar os recursos públicos assemelha-se à criação de uma mamata que, segundo um dos verbetes do Dicionário Informal da Língua Portuguesa, significa “modo fácil de obter algo, ou às custas dos outros.”

A propósito, vale a pena ouvir a música Pecado Capital, composição de Paulinho da Viola, de 1975, feita para a novela de mesmo nome da Rede Globo de Televisão.

Pecado capital
Fonte: Letras.mus.br

Dinheiro na mão é vendaval
É vendaval!
Na vida de um sonhador
De um sonhador!
Quanta gente aí se engana
E cai da cama
Com toda a ilusão que sonhou
E a grandeza se desfaz
Quando a solidão é mais
Alguém já falou...

Mas é preciso viver
E viver
Não é brincadeira não
Quando o jeito é se virar
Cada um trata de si
Irmão desconhece irmão
E aí!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!

Dinheiro na mão é vendaval
É vendaval!
Na vida de um sonhador
De um sonhador!
Quanta gente aí se engana
E cai da cama
Com toda a ilusão que sonhou
E a grandeza se desfaz
Quando a solidão é mais
Alguém já falou...

Mas é preciso viver
E viver
Não é brincadeira não
Quando o jeito é se virar
Cada um trata de si
Irmão desconhece irmão
E aí!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
E solidão! E solidão!
E solidão! E solidão!
E solidão! E solidão!
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Gente humilde

por Luis Borges 1 de março de 2021   Música na conjuntura

O Dia Mundial da Justiça Social ocorreu em 20 de fevereiro e lembra importância de relações mais justas entre o indivíduo e a sociedade. Ainda estamos longe desses ideais de justiça em prol da paz social, principalmente quando constatamos que, segundo o IBGE, os 10% mais ricos ficaram com 43% da renda nacional em 2019. Enquanto conseguirmos manter a capacidade de nos indignarmos diante de tantas desigualdades haverá a esperança de dias melhores numa sociedade bem mais justa. Mas como é duro ver a realidade e não agir por impotência ou autismo social, tanta gente em situação de rua ou nos aglomerados das cidades grandes, médias ou mesmo pequenas. Tudo se agrava mais com a carestia, a fome, o contínuo avanço da pandemia…

Nesse sentido revisitei a música Gente Humilde, composta por Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, em 1945, que foi complementada por Vinícius de Moraes e Chico Buarque de Hollanda no final da década de 60 do século passado. Ela fez sucesso em 1970 ao ser lançada inicialmente pela cantora Ângela Maria em seu disco – LP – Ângela Maria de Todos os Temas, e em seguida pelo cantor Chico Buarque no disco Chico Buarque de Hollanda, vol. 4 . 

Naquele ano o Brasil tinha 95,5 milhões de habitantes e 3,3 milhões de desempregados. Hoje, pouco mais de 50 anos depois, a população é estimada em 212 milhões de habitantes, os desempregados se aproximam de 14 milhões e os desalentados chegam a 5,5 milhões. Enquanto isso, 60 milhões de pessoas aguardam um novo auxílio emergencial “permanente”, a bolsa capital.

Vale a pena conhecer ou ouvir de novo Gente Humilde nesse início de março de 2021.

Gente Humilde
Fonte: Letras.mus.br

Tem certos dias em que eu penso em minha gente
E sinto assim todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece de repente
Como desejo de eu viver sem me notar

Igual a como quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem, vindo de trem, de algum lugar
Aí me dá uma inveja dessa gente
Que vai em frente, sem nem ter com quem contar

São casas simples, com cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda, flores tristes e baldias
Como a alegria de não ter onde encostar

E aí me dá uma tristeza no meu peito
Feito um despeito de eu não ter como lutar
E eu que não creio, peço a Deus por minha gente
É gente humilde, que vontade de chorar.
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Você já parou um pouco para pensar sobre como esta a sua criatividade? Afinal de contas estamos enfrentando uma crise econômica, política e social que se arrasta há quase 10 anos e, para sobreviver nela, é preciso ter muita capacidade de criar para buscar estratégias de sobrevivência. Como diz o ditado popular “o sapo pula é por necessidade e não por boniteza” e nós também acabamos sendo obrigados a nos virarmos para criar saídas diante dos desafios enfrentados e que podem ser medidos pelo IVP – Índice de Viração Própria. Além da inspiração é sempre necessário muita transpiração, persistência e constância de propósitos.

Para embalar e acalentar as nossas reflexões e posteriores ações vale a pena ouvir a música “O poder da criação” de autoria de Paulo César Pinheiro e João Nogueira, lançada em 1980 no álbum Boca do Povo de João Nogueira.

O poder da criação
Fonte: Letras.mus.br

Não, ninguém faz samba só porque prefere 
Força nenhuma no mundo interfere 
Sobre o poder da criação 
Não, não precisa se estar nem feliz nem aflito 
Nem se refugiar em lugar mais bonito 
Em busca da inspiração 

Não, ela é uma luz que chega de repente 
Com a rapidez de uma estrela cadente 
E acende a mente e o coração 
É, faz pensar 
Que existe uma força maior que nos guia 
Que está no ar 
Vem no meio da noite ou no claro do dia 
Chega a nos angustiar 
E o poeta se deixa levar por essa magia 
E um verso vem vindo e vem vindo uma melodia 
E o povo começa a cantar!
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Algum recado?

por Luis Borges 2 de outubro de 2020   Música na conjuntura

O cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, se estivesse entre nós, teria completado 75 anos de idade no dia 22 de setembro, chegada da primavera no hemisfério Sul. Ele nasceu no Rio de Janeiro em 1945 e faleceu num acidente automobilístico na rodovia PR-280 no município de Marmeleiro, no Paraná, em 29 de abril de 1991, aos 45 anos. Em 1978 ele compôs e cantou a música “Recado”, mesmo nome de seu disco lançado naquele ano, onde mais uma vez ele se posicionou claramente em relação ao seu jeito de ser, seus propósitos e seu aguerrimento em plena vigência da ditadura militar, sempre combatida por ele.

Agora, 42 anos depois, que releitura podemos fazer dessa música? Será que ela nos inspira também a deixar uma mensagem, um aviso, um alerta diante das complexas variáveis que estamos enfrentando na política, na economia, nas condições sociais, culturais, tecnológicas, ambientais e legais que permeiam nossas estratégias de sobrevivência em condições tão adversas?

Já estamos passando pela campanha eleitoral para as eleições municipais que elegerão prefeitos e vereadores em 15 de novembro. Serão muitos ou apenas alguns os recados que serão dados através das urnas? Será que ainda vale o dito popular de que “Quem avisa amigo é”?

Recado 
Fonte: Letras.mus.br

Se me der um beijo eu gosto 
Se me der um tapa eu brigo 
Se me der um grito não calo 
Se mandar calar mais eu falo 
Mas se me der a mão 
Claro, aperto 
Se for franco 
Direto e aberto 
Tô contigo amigo e não abro 
Vamos ver o diabo de perto 
Mas preste bem atenção, seu moço 
Não engulo a fruta e o caroço 
Minha vida é tutano, é osso 
Liberdade virou prisão 
Se é amor deu e recebeu 
Se é suor só o meu e o teu 
Verbo eu, pra mim já morreu 
Quem mandava em mim nem nasceu 

É viver e aprender 
Vá viver e entender, malandro 
Vai compreender 
Vá tratar de viver 
Viver e aprender 
Vá viver e entender, malandro 
Vai compreender 
Vá tratar de viver 

E se tentar me tolher é igual 
Ao fulano de tal que taí 
Se é pra ir vamos juntos 
Se não é já não tô nem aqui.
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Barracão e pandemia

por Luis Borges 15 de setembro de 2020   Música na conjuntura

A cantora brasileira Eliseth Cardoso (1920 – 1990), a Divina, se estivesse entre nós teria completado 100 anos de idade no dia 16 de julho. Um dos grandes sucessos de sua consagrada vida artística foi a interpretação da música Barracão composta por Antônio de Pádua Vieira da Costa, o Luis Antônio, em 1953, um samba com tema que aborda o drama social dos operários “pingentes” dos trens da Central, que viajavam pendurados para fora dos vagões no Rio de Janeiro.

O Brasil tinha pouco mais de 56 milhões de habitantes e uma enorme desigualdade social a ser vencida. Agora em plena pandemia da Covid-19 a desigualdade social ficou ainda mais escancarada e contrasta com algumas medidas que tentam evitar a aglomeração de pessoas que continuam precisando se deslocar em ônibus e trens superlotados para chegar aos seus barracões nos aglomerados das periferias das cidades. Como se vê, quase 70 anos depois da composição da música o problema continua crônico no país que tem hoje em torno de 209 milhões de habitantes e a renda cada vez mais concentrada nas mãos de poucos.

Barracão
Fonte: Letras.mus.br

Vai, barracão
Pendurado no morro
E pedindo socorro
A cidade a seus pés
Vai, barracão
Tua voz eu escuto
Não te esqueço um minuto
Porque sei
Que tu és
Barracão de zinco
Tradição do meu país
Barracão de zinco
Pobretão, infeliz
Vai, barracão
Pendurado no morro
E pedindo socorro
A cidade
A seus pés
Vai, barracão
Tua voz eu escuto
Não te esqueço um minuto
Porque sei
Que tu és
Barracão de zinco
Tradição do meu país
Barracão de zinco
Pobretão, infeliz
Barracão de zinco
Barracão de zinco
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O fim da história

por Luis Borges 20 de junho de 2020   Música na conjuntura

Se a crise que estamos atravessando exige muita criatividade e resiliência nas estratégias de sobrevivência, o que e como fazer durante o isolamento em casa sempre pensando que uma hora essa história terá seu fim? A música pode e deve ser uma importante aliada conforme as especificidades de cada pessoa ao longo de suas atividades durante as 24 horas do dia. Nesse sentido uma opção pode ser ouvir músicas durante a execução de uma determinada tarefa como arrumar a casa, lavar/passar  roupas, cozinhar e cuidar do jardim, da horta ou de plantas dos vasos. Outra possibilidade pode ser a escolha de um determinado momento do dia só para ouvir músicas dos gêneros preferidos durante 60 minutos, por exemplo.

No meu caso tem sido possível revisitar cantores, compositores e intérpretes da Música Popular Brasileira da metade do século passado pra cá. Na semana passada foi a vez de rever a obra do cantor e compositor Gilberto Gil cantando Domingo no parque, Viramundo, Procissão, Aquele abraço, Refazenda, Sítio do pica pau amarelo, Drão, Realce… Terminei ouvindo O fim da história, composição gravada em 1991, quando Fernando Collor era Presidente da República Federativa do Brasil.

Como bem disse o também cantor e compositor Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha (1945 – 1991) em sua música Palavras, “Cantar nunca foi só de alegria, com tempo ruim todo mundo também dá bom dia”. Prosseguir é preciso e cantar faz parte do acalanto que embala nossa trajetória.

O fim da história
Fonte: Letras.mus.br

Não creio que o tempo
Venha comprovar
Nem negar que a História
Possa se acabar

Basta ver que um povo
Derruba um czar
Derruba de novo
Quem pôs no lugar

É como se o livro dos tempos pudesse
Ser lido trás pra frente, frente pra trás
Vem a História, escreve um capítulo
Cujo título pode ser "Nunca Mais"
Vem o tempo e elege outra história, que escreve
Outra parte, que se chama "Nunca É Demais"
"Nunca Mais", "Nunca É Demais", "Nunca Mais"
"Nunca É Demais", e assim por diante, tanto faz
Indiferente se o livro é lido
De trás pra frente ou lido de frente pra trás...
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Crise é uma “fase difícil, grave, na evolução das coisas, dos sentimentos, dos fatos; do colapso” como diz um dos verbetes do Dicionário Informal da Língua Portuguesa. O que significa para cada um de nós os dias que passamos nessa primeira quinzena de março – que fase! Somos impactados pelo novo coronavírus avançando pelos continentes sinalizando menor crescimento econômico mundial, preço do barril de petróleo em queda com o excesso de produção, bolsa de valores derretendo, dólar oficial na casa dos R$5,00 (imagine o dólar turismo), desemprego aberto e o crescimento econômico prometido marchando para repetir o pibinho do ano passado. Enquanto o mundo globalizado e seus dirigentes tentam formular saídas para o momento de alta turbulência vamos ouvindo tudo quanto é tipo de afirmações, a começar pelas que se baseiam no mero “achismo”.

É interessante verificar como as falas vão se modificando rapidamente para quem tenta minimizar os problemas ou mesmo ignorá-los. Basta lembrar que inicialmente o Ministro da Economia dizia que o dólar só chegaria aos R$5,00 se ele fizesse uma besteira muito grande. De repente o dólar bateu lá e o Ministro disse que isso seria algo passageiro. Será que é isso mesmo? O que significa para nós algo passageiro nesses tempos de crise política, econômica e social vividos pelo país a partir de 2014? Quanto tempo mais vai durar essa inequação?

A propósito de tantas coisas que passam e podem passar pelas nossas cabeças em momentos de crise tão agudos, que tal ouvir a música Nuvem passageira cantada por seu autor, Hermes Aquino, que a lançou em abril de 1976? Vale lembrar também que ela foi a música tema da novela “Casarão” exibida pela Rede Globo de televisão naquela época.

Será que a crise é mesmo uma nuvem passageira ou vai demorar um pouco mais do que podemos estar imaginando?

Nuvem Passageira
Fonte: Letras.mus.br

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

Não adianta escrever meu nome numa pedra
Pois esta pedra em pó vai se transformar
Você não vê que a vida corre contra o tempo
Sou um castelo de areia na beira do mar

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

A lua cheia convida para um longo beijo
Mas o relógio te cobra o dia de amanhã
Estou sozinho, perdido e louco no meu leito
E a namorada analisada por sobre o divã

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva
Não quero nem saber de me fazer ou me matar
Eu vou deixar em dia a vida e a minha energia
Sou um castelo de areia na beira do mar

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
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