Bolinho do mal

por Luis Borges 24 de fevereiro de 2015   Gestão em pauta

Carnaval também é tempo de empreender. Com essa ideia em mente, uma arquiteta de vinte e poucos anos resolveu testar a venda de um novo produto. Depois de identificar qual necessidade poderia ser atendida, quem tinha essa necessidade e de que forma ela poderia ser atendida, ela planejou capital inicial, capital de giro e colocou o produto na rua.

A moça decidiu investir em alimentação, oferecendo bolinhos doces para os carentes de glicose. Eram três sabores – brigadeiro, doce de leite e queijadinha – vendidos nos blocos de rua que desfilaram nos bairros Floresta, Santa Tereza e Santa Efigênia, em Belo Horizonte. Eles foram decorados com enfeites inspirados em vilões de quadrinhos e desenhos animados. Por isso, a placa indicava bolinhos do mal, a 4 reais cada.

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Foto: Divulgação

No primeiro dia, assim que chegou ao bloco com o cartaz, a moça foi abordada por um interessado. Ele perguntou “na lata” – esse bolinho tem maconha? Depois de 5 interessados no “bolinho batizado”, a vendedora resolveu dobrar a placa e deixar à vista apenas a palavra “bolinho”. Até o fim do bloco, foram 20 pessoas fazendo a mesma pergunta. Entre elas, uma mulher fantasiada de policial, munida de um cassetete e algemas, emulando uma abordagem e perguntando se os bolinhos tinham “algo ilícito”.

Para os dias seguintes, a lição foi aprendida – anunciar apenas “bolinhos”. Mesmo assim, as procura persistiu. Na segunda-feira a chuva permitiu apenas 1 hora de vendas, suficientes para duas pessoas perguntarem sobre a cannabis. Na terça foram 15 pessoas.

O balanço da folia apontou vendas de cerca de 80% do estoque. Ficou a reflexão sobre a quantidade de pessoas procurando o que a empreendedora não tinha e a dúvida sobre se realmente é esse o nicho a ser focado. Uma certeza é definitiva, a de que é preciso muita transpiração para implementar a inspiração.

E você, caro leitor, também está à procura de algo próprio ou será melhor continuar contando o tempo na zona de conforto do seu atual e desconfortável trabalho? Sei que não é fácil tomar nem implementar essa decisão mas sei também que as coisas fáceis já foram feitas e que para nós ficaram só as difíceis.

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Brincando de atingir meta

por Luis Borges 12 de novembro de 2014   Gestão em pauta

Faltando apenas 50 dias para o encerramento do ano fiscal, o Ministério do Planejamento e Gestão da Presidência da República enviou Projeto de Lei à Câmara dos Deputados para facilitar o atingimento da meta de superavit primário em 2014. Os fundamentos da gestão de negócios nos ensinam que a meta é composta por um objetivo a ser alcançado, que possui um determinado valor e um prazo de tempo para acontecer. A meta deve ser sempre desafiadora, difícil de ser alcançada, mas não impossível. Deve ser acompanhada de um plano de ação, contendo as medidas necessárias para se obter um resultado positivo. Existem também as metas que não desafiam as equipes e são facilmente atingíveis, bem como as metas malucas que de antemão todos já sabem que não serão alcançadas.

Nesse caso do superávit primário, o Poder Executivo Federal preferiu deixar de lado o conceito e buscar na criatividade uma forma de atingir a meta, mudando a regra do jogo durante o jogo. Melhor seria assumir o não atingimento da meta e analisar as suas causas, no lugar de simplesmente alterar as regras no “tapetão” do Congresso Nacional, amplamente dominado pela base aliada. Uma ferramenta simples permitiria analisar sob quais premissas foi feito o planejamento constante da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o que foi executado, o nível de resultados positivos ou negativos alcançados e o que ficou pendente. A análise crítica do resultado traria consigo aprendizagem e crescimento, cujos reflexos poderiam ser vistos no orçamento dos próximos anos.

Entretanto o caminho mais curto foi a maquiagem, que também acontece com as pessoas físicas que não têm educação financeira e, portanto, não fazem uma gestão racional de seus orçamentos.

Assim, a meta de 116,1 bilhões de reais de superávit primário, ou seja a diferença entre o que o governo arrecada e o que ele gasta, ficou mais distante com o déficit primário de 20,7 bilhões de reais entre janeiro e setembro deste ano.

Como o conceito de superávit primário também já foi flexibilizado, a LDO desse ano permite que sejam deduzidos do indicador os gastos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e desonerações fiscais em até 67 bilhões de reais. Portanto, a nova meta de 2014 passaria a ser de 49,1 bilhões de reais, que também dificilmente será atingida nos três últimos meses do ano. Por isso, o Projeto de Lei permitirá superar os limites de deduções até então vigentes e o poder executivo diz que se comprometerá com o objetivo de alcançar superávit, mas sem definir qual será o valor.

Enfim não existe mais uma meta e o qualquer resultado alcançado será bom. Ou seja, foi mais um ano brincando de atingir metas e exercitando a maquiagem de conceitos, com muita criatividade.

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O lixo de toda eleição

por Luis Borges 9 de outubro de 2014   Gestão em pauta

A democracia representativa leva os brasileiros obrigatoriamente às urnas de dois em dois anos. De vereador a Presidente da República, todos passam pelo voto digitado e confirmado na urna eletrônica.

No dia do pleito, em torno dos locais de votação, os “boqueiros” fazem um intenso trabalho de boca-de-urna, tentando influenciar principalmente os indecisos e os que sequer escolheram candidatos. Assim como permanece a cultura da propaganda de última hora, permanece o hábito de jogar no chão o material publicitário recebido, a começar pelos famosos santinhos.

santinhos espalhados na rua e na calçada

Dia de eleição no bairro de Santa Teresa / Foto: Gustavo Borges

Não foi à toa que a cidade de Belo Horizonte registrou doze acidentes nas eleições do dia 05 de outubro, de pessoas que escorregaram ao pisar nos benditos santinhos espalhados pelo chão. Algumas das consequências foram braço quebrado, traumatismo craniano, torção de tornozelo e pé quebrado.

santinhos jogados na rua

Em outro local de votação, no bairro União, muito material de divulgação jogado nas ruas. / Foto: Sérgio Verteiro

As fotografias deste post foram feitas nos bairros de Santa Teresa e União. Elas são uma pequena amostra da capacidade que alguns eleitores têm para sujar plenamente as vias cidade, estimulados pelos candidatos. No total, foram recolhidas mais de 139 toneladas de lixo eleitoral em Belo Horizonte, segundo balanço da SLU.

Os papéis se acumulam entre a rua e a calçada, chegando também aos bueiros. / Foto: Gustavo Borges

Os papéis se acumulam entre a rua e a calçada, chegando também aos bueiros. / Foto: Gustavo Borges

Um dos valores que aprendemos em casa e na escola é que “lugar de lixo é no lixo”. O programa 5S, implantado e implementado no Brasil de maneira mais sistemática desde 1990, vai além. Ele ensina que “lugar limpo não é o que mais se varre, mas o que menos se suja”.

santinhos espalhados na calçada

Outro flagrante no bairro União / Foto: Sérgio Verteiro

Após 25 anos de 5S no Brasil – e mais tempo ainda de eleições democráticas – continua desafiadora a prática do senso da autodisciplina, essencial para o cumprimento dos padrões estabelecidos. Fica o desafio para 2016. Menos sujeira, mais autodisciplina.

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Na segunda metade dos anos 70, o telefone fixo era um bem de difícil acesso para a maior parte da população brasileira. Uma linha residencial custava o equivalente a R$ 6.000,00 de hoje, investimento alto para a época. As empresas de telecomunicações lançaram, no período, diversos planos de expansão. A linha podia ser paga em até 36 meses, mas sem garantia de que haveria antecipação do prazo de entrega do bem para o assinante. Na prática, isso si,gnificava  o financiamento de parte do investimento necessário a esse tipo de infraestrutura, ao qual ainda se somaria à assinatura mensal que vigora até hoje. Em Belo Horizonte ficaram famosos os planos de expansão BH1 a BH5 da Telemig, empresa que virou Telemar na privatização e atualmente é a Oi. Existia também um exuberante mercado para o aluguel de telefones, por meio de empresas e de pessoas físicas.

Foi nesse contexto que floresceram os telefones públicos, em sua maioria instalados e protegidos dentro de uma estrutura semelhante a uma grande orelha, popularmente chamada de “orelhão”. Na época, os créditos eram contados por meio de fichas telefônicas. Apesar de sua extrema utilidade para a população, os vândalos sempre tentavam depredá-los. A manutenção dos aparelhos públicos era feita na unidade da Telemig no bairro São Gabriel, em Belo Horizonte, onde hoje funciona um dos campi da PUC Minas.

Também naquela época a linha caia, havia muitas reclamações relativas às contas mensais, o telefone ficava mudo e a assistência técnica tinha a mesma lerdeza.

O período de escassez se foi há 40 anos. Hoje são cerca de 41 milhões de telefones fixos instalados no país, enquanto a quantidade de telefones celulares, pré ou pós pagos, se aproxima dos 300 milhões.

Esse número de telefones móveis aliado à baixa utilização dos telefones públicos levaram a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) a determinar a desativação de 461,3 mil orelhões.

A decisão, segundo a agência, foi baseada em fatos e dados, prezados na gestão de qualquer negócio. Dos 763 mil telefones públicos do país, 81% realizam até quatro chamadas por dia. O total de aparelhos é usado apenas 4 minutos por dia, uma média de 120 minutos por mês. As operadoras de telefonia fixa reclamam que os gastos com a manutenção dos orelhões são  2,5 vezes maior que o valor recebido pela prestação do serviço. Isso quando não há vandalismo, como mostramos nesse post.

Em breve, o orelhão estará apenas no Museu da Telefonia. Heráclito tinha razão ao dizer no ano 501 a.c que “nada existe em caráter permanente a não ser a mudança”. E eu complemento, dizendo que só nos resta o permanente reposicionamento diante da inexorabilidade do avanço tecnológico.

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Fiquei sabendo de um caso de mau atendimento no comércio varejista de Belo Horizonte que me causou arrepios. O cliente comprou um sofá numa loja de um shopping especializado em decoração residencial. O vendedor, quando finalmente veio atendê-lo, falou sobre as características do bem, inclusive que era a última unidade, mostrou o atrativo preço para a compra a dinheiro e também as condições a prazo. Ofereceu também os serviços de impermeabilização, a ser feita por um terceiro, e marcou prazo de três dias para fazer a entrega.

Compra feita, pagamento efetuado, passaram-se os três dias e nada do sofá ser entregue. Depois de 5 dias o cliente reclamou do atraso na entrega. Foi informado não mais pelo vendedor, mas pelo setor de expedição da loja, que o prazo padrão para entrega era de dez dias. O vendedor lavou as mãos rispidamente e fugiu da cena, demonstrando que nada mais era com ele.

Finalmente, dez dias depois da compra o sofá foi entregue. Os entregadores, rápidos e rasteiros, colocaram o móvel na casa e saíram. Deixaram como rastro a embalagem plástica do sofá, largada no passeio da rua, que foi recolhida pelo cliente. Logo depois, o comprador notou uma mancha em um dos assentos e prontamente ligou na loja para reclamar. O gerente, sem se preocupar em ir ao local para ver o móvel ou procurar os entregadores, disse prontamente que o estofado nunca teve mancha e que os funcionários não jogam embalagens nas ruas. Apesar da evidência dos fatos e dados, ficou mais uma vez o dito pelo não dito e o cliente tratado como se fosse usuário de um serviço obrigatório, ou seja, é daquele jeito e pronto. Para completar, o sofá foi entregue sem a nota fiscal. O gerente disse que ela seria emitida por meio eletrônico, o que não foi feito até hoje,

O caso narrado acima mostra que gestão é o que todos precisam, mas nem todos sabem que precisam. Nesse caso, o mínimo que a gestão exige é a observação e a análise da reclamação, para verificar se ela procede ou não. Se procedente, o empresário varejista deveria atuar nas causas do problema para solucioná-lo. Se improcedente, bastaria conversar com o cliente e provar a ele, por meio de evidências objetivas, que tudo estava dentro da normalidade.  Mas nada disso foi feito. O cliente ficou com o sofá manchado e sem nota fiscal.

Esse caso também me remeteu às manchetes recentes dos jornais. O que mais se vê é o empresário do comércio lamentando que as vendas caíram, que a Copa atrapalhou, que a carga tributária é excessiva, que os juros estão altos, que o poder aquisitivo da população está caindo ou que falta mão-de-obra especializada, para ficar apenas em algumas lágrimas. Mas quando vamos para a lida das micro e pequenas empresas, vemos que o empresário se preocupa com os fatores macro e se esquece do que está dentro da empresa, como a excelência no atendimento ao cliente. 

Analisando o dia-a-dia, fica mais fácil perceber o quanto é preciso “despiorar” a gestão dos negócios para só depois atingir um padrão básico para o processo de trabalho. Praticado esse padrão durante um tempo determinado, aí sim, será possível a busca por melhorias. A gestão estruturada nos ensina que devemos satisfazer as necessidades e expectativas das pessoas que estão no papel de clientes. Elas sempre buscam, nos bens e serviços que necessitam ou desejam, a qualidade intrínseca, o preço justo e o excelente atendimento. 

Casos como esse são frequentes nos diversos segmentos do varejo e cada um de nós deve ter alguns para contar. Você já passou por isso alguma vez? Quando isso aconteceu, “deletou” a loja da sua lista ou voltou a comprar por lá? Aguardo seus comentários. 

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Bandos no trabalho

por Luis Borges 31 de julho de 2014   Gestão em pauta

O trabalho, o retrabalho e o não-trabalho fazem parte das variações em torno do tema que experimentamos ao longo de nossas vidas. Se o critério é o trabalho e a cada pessoa segundo a sua capacidade, é imperioso perceber que nem sempre prevalece o mérito. Vou abordar aqui alguns aspectos que merecem reflexão e ação para que se aproveite mais a capacidade de todos. E também para não penalizar aqueles 20% mais comprometidos que fazem os resultados acontecerem, independente da dublagem, lerdeza e omissão de muitos colegas.

Partimos do pressuposto de que as pessoas é que fazem as organizações humanas e, por consequência, se organizam dentro delas. Identifico três grandes formatos – os bandos, os grupos e as equipes.

Os bandos são típicos de organizações que não têm um sistema estruturado e implementado de gestão estratégica do negócio. Com isso, os que têm papel de dar a direção e atingir metas – diretores e gerentes – atuam com seus subordinados apenas por meio de chefia, não pode meio de liderança.

Esse tipo de chefe também tende a ter problemas para recrutar e selecionar pessoas, assim como a incapacidade para analisar, dialogar e negociar. Sem saber ouvir, também não sabem falar.

Se existe essa lacuna de comunicação e liderança, as pessoas tendem a formar bandos ou a ficar autistas. Principalmente porque nessas situações é muito comum o chefe-comandante buscar o favoritismo. Assim, sobrecarrega os que julga mais competentes e que, de preferência, não berram.

Outro aspecto importante é a grande entropia entre as pessoas que fazem parte do bando. Muita gente batendo cabeça, outros querendo aparecer, inclusive roubando idéias de colegas, e tudo isso permeado pela dificuldade da chefia para perceber as coisas e atuar, às vezes até por medo da reação de alguns subordinados.

Para passar da categoria bando para a categoria grupo ou equipe o esforço a ser feito é grande, demanda tempo e dedicação. Esse assunto vai ser tratado em um próximo texto.

Enquanto isso, gostaria de saber sobre a sua experiência. Você já fez parte de um bando no trabalho? Ao ler o texto, identificou lugares ou pessoas que passam por isso? Conte sua experiência nos comentários.

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As capivaras da lagoa da Pampulha continuam em plena evidência na mídia. Segundo matéria do jornal Estado de Minas de hoje, esses mamíferos roedores não são privilégio de Belo Horizonte.  A Wikipedia explica que eles estão presentes na maior parte do território brasileiro e em quase todos países da América do Sul.

Do ponto de vista da gestão, o caso das capivaras nos mostra como a Prefeitura de Belo Horizonte tem falhado por não observar alguns fundamentos. Um deles foi subestimar fatos e dados, o que impediu a percepção da anomalia que vinha ocorrendo na lagoa e que, por não ter sido tratada gerencialmente, acabou se transformando num problema crônico. A inércia, que facilita a cronificação do problema, também eleva o custo para sua solução no horizonte do tempo. Outro fundamento esquecido é aquele que afirma que quem não controla não gerencia, e a mídia tem mostrado que as populações de capivaras estão descontroladas, chegando a colidir em veículos na orla da lagoa.

Um terceiro fundamento está ligado à gestão de licitações e de empreendimentos. Nesse caso o contrato decorrente da licitação foi assinado em 31 de março deste ano. Em 8 de maio nada aconteceu de mais efetivo. Ainda não há destino para as 250 capivaras existentes na região. Também é bom lembrar a excelente capacidade reprodutora dos animais, que podem gerar de um a oito filhotes, uma ou duas vezes por ano conforme as condições climáticas e do ambiente. O resultado final é que o Secretário Municipal de Meio Ambiente todo dia fala alguma coisa, como que a ganhar algum tempo, mas resultado positivo decorrente da solução para o problema, nada. Quando a sua credibilidade acabar o jeito vai ser chorar, inclusive nas urnas eleitorais.

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