Tenho conversado com pessoas de diferentes faixas etárias sobre as condições em que estão trabalhando e como vão as relações com quem ocupa os diferentes níveis hierárquicos da estrutura organizacional do negócio. Em sua maioria, essas pessoas trabalham em organizações de médio e grande porte do setor público – inclusive empresas estatais – e setor privado.
Perguntei a uma delas, que trabalha com vendas, sobre como está a relação com seu ex-colega de setor que tornou-se seu novo chefe imediato após assumir a superintendência comercial há seis meses em Belo Horizonte, devido à demissão do ocupante anterior do cargo.
A matriz fica na cidade de São Paulo, onde está o diretor comercial, a quem os diretores das filiais são subordinados. Trata-se de uma concessionária focada na venda de automóveis zero km, que presta serviços de assistência técnica e tem um setor para a venda de carros usados que entram como parte do pagamento dos veículos novos vendidos.
É interessante registrar que, do quadro de 10 vendedores da empresa, 6 trabalham juntos desde 2017 e um deles é o que foi promovido para exercer a função de superintendente. A vaga de vendedor deixada por ele só foi ocupada no início deste mês após longo processo seletivo.
A grande questão levantada pelo vendedor é a mudança de postura do colega que virou chefe após assumir a nova função, com a perspectiva de um nível mais alto de remuneração atrelado ao atingimento das metas mensais estabelecidas. Antes da promoção ele participava de conversas informais do grupo, que não era equipe, falava da importância da gestão pela liderança, e não pelo comando, bem como demostrava sua expectativa por processos de trabalhos participativos no dia a dia e realçava a essencialidade da cooperação entre as partes envolvidas na busca para entregar o resultado esperado.
Fazia coro com as clássicas críticas à postura do chefe anterior, que não era gestor nem líder, e só cuidava de atender as solicitações dos superiores hierárquicos em Belo Horizonte e São Paulo.
Até agora nada mudou com o novo colega na chefia da superintendência comercial. Ele só fala em atingir cada vez mais metas malucas, portanto inatingíveis, passa a maior parte do tempo em reuniões e contatos pelos dispositivos tecnológicos. Ao final do dia, pergunta aos vendedores se as vendas estão na linha da meta mensal. Lembra a todos que é preciso faturar, que a remuneração do grupo está em jogo e que não se deve ficar na zona de conforto, pois ninguém terá lugar garantido se não houver entregas.
A expectativa em relação ao novo chefe é a mesma que existia em relação ao anterior, ou seja, que ele converse e oriente as pessoas, que discuta com todos as dificuldades enfrentadas pelo setor automobilístico, inclusive falta de componentes para montagem de veículos novos, perfil de clientes numa conjuntura econômica tão adversa sem perspectivas de crescimento…
O jeito é cada vendedor usar o Índice de Viração Própria – IVP – diante da necessidade de sobreviver. Dá para imaginar o terrível clima organizacional diante de posturas que se repetem por parte daqueles que teoricamente ganham para dar a direção dos negócios. Acaba prevalecendo a Lei de Murici, cada um cuida de si. No caso, as intenções de outrora não foram acompanhadas pelos gestos de agora.
E você, caro leitor, conhece ou tem convivido com um caso semelhante?