Discutir a relação

por Convidado 10 de julho de 2019   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Numa feia manhã de um domingo chuvoso, a Alma e o Corpo resolveram discutir a relação, e a primeira divergência estava na disputa para ver quem era mais importante.

O Corpo disse que não tinha dúvidas, pois sem ele a Alma não existiria. E disse mais:

– Eu tenho nome, endereço, profissão. E você? Ninguém nem sabe se existe!

– Existo sim – retrucou a Alma. – Sou eu quem lhe dá vida, seu ingrato. Sou sua essência, seu guia e toda sua existência está em mim.

– Ora, não me amoles com essas baboseiras. Você acaba de ter uma descarga de arrogância. A essência está no cérebro, no DNA, em meus aprendizados, minha inteligência e meu psicológico. Sabia que psique, em grego, é alma? – questionou o Corpo.

– Então você acabou de comprovar que existo.

– Sim, existe como papai Noel. Alma é uma invenção das religiões. Criaram-na para que as pessoas temam o castigo no juízo final. Foi uma ideia dos religiosos para gerar limites nas atitudes dos seres humanos e ter domínio da sociedade.

– Então não adiantou – replicou a Alma. –  As pessoas estão sem medo e sem fé. Ouça esta frase: “não sois seres humanos passando por uma experiência espiritual. Sois seres espirituais passando por uma experiência humana”. – Escreveu Teilhard de Chardin. – disse a Alma e continuou: leia o diálogo de Símias, Sócrates e Cebes, em Fedon (no livro de Platão). Lá, o genial Sócrates compara a lira com o corpo, e a alma com a harmonia. Ou seja, quando a lira apodrecer e estiver com as cordas estragadas não significa que a música tenha morrido também. Ela, por certo, será tocada em outro instrumento. Assim sou eu. Sairei de você e habitarei um outro ser. De forma que sou imortal e você não. Sinto muito!

– Tamanha pretensão a sua, minha cara Alma. Você por acaso está aderindo à onda de empoderamento feminino? Tome cuidado. Minha avó dizia que quem nunca comeu melado, quando come se lambuza.

– Não devemos discutir, meu amado Corpo, apenas devo lembra-lhe de que é mortal e, assim sendo, sua morte será iminente. Lamento por isso, porém não há como mudar essa lei. Você retornará ao pó. Enquanto que eu irei prestar contas do que fizemos.

–  Deixe de ser idiota. – contestou o Corpo. – Você tem inveja da minha beleza. Ou vai dizer que é sua também? Um corpo humano é um milagre de Deus. Poder ser visto, tocado e amado, é uma graça. Não me leve a mal e desculpe-me dizer, mas se você existe, então sua vida é uma prisão; é um castigo cuja sentença foi a de nunca ser vista por ninguém. Nem mesmo por aquele corpo que carrega. Que trágico!

– Não existe nenhum invento perfeito – retrucou a Alma. –  Posso sofrer por não ser vista, no entanto sinto emoção, tristeza e alegria por suas vitórias. Tudo que lhe acontece reflete em mim. Por outro lado, veja a sua fragilidade. Está sempre com uma dor física, uma preocupação com o envelhecimento que o transforma vinte e quatro horas por dia. Minha missão é vir com você e, juntos, vivermos sem cometer grandes falhas para acertar os erros do passado.

– Você é uma enviada especial do Allan Kardec? Faz-me rir.

– Não. Eu vim muito antes dele. Mas não vamos discutir sobre assuntos em que não temos como estabelecer pontos comuns. Ao invés de discordâncias, por que não tratamos de nossas afinidades? Estamos unidos e só a sua morte poderá nos separar.

– A nossa morte. – corrigiu o Corpo, já impaciente, e acrescentou: – deixe de ser superior… sua… imortal.

– Meu querido Corpo, se estamos dizendo verdades, então, não sei se o que vou dizer lhe consola. Contudo, saiba que quando a matéria estiver morta, ou seja, no dia em que você, o Corpo, não responder aos estímulos da vida, eu estarei viva e em possível sofrimento. Pois, a separação é mais dolorida para mim do que para você. E naquele momento, esse “nós” será apenas o “eu” e, como escreveu João (8:32) “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.

–  Então será assim? – perguntou o Corpo melancolicamente.

–  Sim, meu companheiro… Naquele momento a resposta veio de uma outra voz. Era a Consciência que após escutar toda a discussão resolveu intervir para chamá-los à razão: –  nada no mundo está aqui por acaso. Tudo tem um valor. O Corpo precisa da Alma e a Alma precisa do Corpo, assim como o homem precisa da mulher e a mulher precisa do homem –  em qualquer dos casos a união é imprescindível para que haja a vida. A guerra, o ataque, o desejo de querer ser maior e mais poderoso do que o outro, por si só já demonstra sua pequenez.  A Alma tem a função de sustentar a vida espiritual e você, Corpo, tem a missão de constituir uma vida física. Mas quanto mais valor lhe atribuírem sobre a Alma, menos essência terá.  A humanidade se perdeu na busca desvairada do poder, do hedonismo e se esqueceu de trabalhar a espiritualidade –  que é o que vai contar no final.

Desculpem-me por ter invadido a conversa de vocês, mas me competia ajudá-los nessa disputa de “cabo de guerra”. Lembrem-se de que a palavra mágica para ser feliz e manter a saúde do Corpo e da Alma é equilíbrio.

– Consciência, me permita dizer algo para o Corpo? –  pediu a Alma com a voz terna.

– Sim, diga.

– Meu amado Corpo, para que saibas do meu amor, deixo-lhe um poema de Ernesto Cardenal Martínez:

“Ao perder a ti, tu e eu perdemos/ Eu, porque tu eras o que mais amava/ E tu, porque eu era o que te amava mais/ Contudo, de nós dois, tu perdeste mais do que eu/ Porque eu poderei amar a outras como amava a ti/ Mas a ti não te amarão como te amei.”

E os três se abraçaram.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Caos iminente

por Convidado 11 de junho de 2019   Convidado

* por Sérgio Marchetti

É voz corrente, quase unanimidade, dizendo que está faltando gentileza no mundo. Talvez a explicação mereça estudo mais profundo para entendermos o porquê de testemunhar atitudes de tantas pessoas grosseiras, mal-educadas, arrogantes que apostam todas as suas fichas no poder que, muitas vezes, foi adquirido por apadrinhamento ou por vias nada convencionais. Lamentavelmente falta mais do que conduta gentil – faltam respeito, educação e honestidade.

Também nas organizações o relacionamento é ruim e a confiança anda em baixa. Porém, em minha humilde visão, o que presumo é que grande parte do nosso passado tenha sido assim. Antes, o que definia o poder era a força física e a hierarquia dos grandes reinos – que também se valiam da força para roubar os mais fracos. Depois, a humanidade se educou e alcançou melhoria expressiva. Mas não durou muito.

Vocês devem estar pensando: mas tanta coisa mudou. Sim, os valores mudaram muito, mas as pessoas continuam se valendo da posição que alcançaram e sentindo o “gosto” de dar ordem – eu mando e você obedece – independentemente de saberem menos do que o outro sobre determinado assunto. O que prevalece é o poder e não a autoridade. Mas felizmente todos sabemos que jabuti não sobe em árvore.

Dessa forma, os feitores pós-modernos defendem, na teoria, o trabalho em equipe e proferem palavras falsas de sentimento de time. Isso mesmo. O que se esquecem é de que as atitudes devem ser fieis ao discurso, pelo simples fato de que as pessoas percebem mais a força das ações do que das palavras.

O filósofo iluminista, Denis Diderot, afirmou que “a prosperidade descobre os vícios, e a adversidade, as virtudes”. Entretanto, em meio a tantos problemas, não estamos conseguindo ver nada muito virtuoso. E “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Ora, meus persistentes leitores, sabemos por diversas pesquisas e variadas fontes que a doença do século já é a depressão e que será ainda mais intensa nos próximos anos. Pudera! O que assistimos é o enfrentamento de pessoas, de mulheres contra homens e vice-versa, onde predomina o jogo de interesses que os tornam demasiadamente incoerentes e agindo contra si.

O que pode salvar o mundo é a união e não a ruptura. O que faz um casal feliz é a soma das diferenças, a intercessão e não a competição. O que faz uma nação ser forte é um trabalho com foco e um povo convergente. Mas há forças veladas e oportunistas que desejam o caos, pois agem na surdina, na confusão e na escuridão.

É tão triste constatar que a insensatez humana chega ao ponto de as pessoas se sentirem mais felizes com a derrota dos rivais do que com a sua própria vitória.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Os anjos existem?

por Convidado 12 de maio de 2019   Convidado

* por Sérgio Marchetti 

Eu nunca acreditei em anjos, tampouco que me protegem por todo o tempo. Mas cresci vendo e ouvindo tantas pessoas falarem do anjo da guarda que resolvi questionar o papel daquele benfeitor. Mas ressalto que em minha busca nunca desrespeitei a crença das pessoas.

Um dia, li o livro do Paulo Coelho, “O Diário de um Mago”, cujas páginas traduzem sua odisseia pelo caminho que leva a Santiago de Compostela. Gostei do livro e puder ver que o escritor fala de anjos e do seu anjo, especificamente. Porém, o que mais me chamou a atenção foi o fato do Paulo ser o escritor de mais sucesso no Brasil e de tantas pessoas dizerem que não gostam de seus livros. Ora, só mesmo tendo um anjo protetor para vender tanto livro para quem diz que não gosta. Confesso que comecei a acreditar em alguma coisa que nos proteja. O problema é que, no meu modelo mental, anjo é um menininho de asas, com cabelos louros e encaracolados que toma conta de marmanjos. Não! É inconcebível para minhas crenças.

O tempo passou… veio a poesia em minha existência e com ela, em Casimiro de Abreu, aprendi que “primavera e mocidade/ irmãs gêmeas, elas são/ vem o inverno/ vem a idade/ uma volta/a outra não”. E, então, no meu entardecer, num dos invernos da minha vida, comecei a compreender o que antes parecia indecifrável, e apurei minha visão para ver o que antes era invisível; tendo compreendido que “só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos” (Antoine de Saint-Exupéry). E aí, meus caros, pacientes e fieis leitores, falem a verdade: quanto mais nossos olhos vivem, mais nos levam a acreditar em coisas inacreditáveis.

Entendi, depois de um bom tempo, que a vida é circular e que, quando estamos completando a nossa trajetória, ficamos mais perto da criança que fomos e da qual nos distanciamos por um período. E criança vê coisas que só idosos veem. Olha aí a intercessão.

O escritor português José Saramago disse em um discurso, pouco antes de sua morte, que quando estamos próximos de fazer a nossa última viagem, nossa chama – igual à da vela que está para apagar -, cresce, fica forte e depois se finda. Creio que a luz a que Saramago se referiu venha dos anjos que guiam nosso caminho final.

Ainda não atingi esse estágio. Penso, em minha ilusão, que estou vivendo o crepúsculo e não a noite. Mas vá saber. O que percebi em meu entardecer é que enquanto pensar que anjos voam, eu nunca os verei. Eles não se personificam somente como crianças. E não são exclusivos de uma pessoa. Mas eles existem e nos aparecem em momentos difíceis, quando nos sentimos sós e abandonados. Descobri essa verdade assistindo um filme baseado em fato, na qual uma família lutava para salvar a vida de uma filha, uma menina que sofria de uma doença rara. Ela teve tantas pessoas para ajudá-la que a mãe concluiu que anjos estão mais perto do que imaginamos. Não saberia dizer o nome do filme, me esqueci. Mas entendi que cada pessoa que me estende a mão e me possibilita resolver um problema grande ou pequeno – esse é um anjo. Eles são discretos, compreensivos e aparecem quando você está perdido e sem saber o que fazer para solucionar um problema.

Sei que todos que me leem irão entender que anjos existem e que, em algum momento, todos nós, mesmo sendo imperfeitos, podemos ser o anjo que alguém tanto precisa.

Que assim seja!

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Historinha pra boi dormir

por Convidado 5 de abril de 2019   Convidado

* por Sérgio Marchetti 

Era uma vez um país de sapos, onde todos viviam tranquilos em seus espaços. Era um enorme brejo, mas com muitas árvores e muito verde. Nos finais de tarde, quando a noite chegava, era aquela cantoria; canções de ninar para sapinho-boi dormir (boi, boi, boi… Boi da cara preta pega este sapinho que tem medo de careta). Em dias chuvosos, as cigarras cantavam sua última canção, e se “ouvia o canto triste da Araponga anunciando que na terra”… iria chover. Havia muitos pássaros cantadores, vagalumes que brincavam de engolir fogo e grilos malabaristas. O talento artístico se sobrepunha ao talento para tarefas e trabalhos mais rotineiros.

No início, os sapos viviam de acordo com suas leis selvagens e chamavam seu torrão natal de Sapolândia. Era um povo-sapo muito “brejeiro”, literalmente falando, e adorava seu espaço, úmido, com muito verde e muita água.

Mas, numa linda manhã de sol, aconteceu uma grande novidade que iria mudar para sempre a vida daqueles habitantes. Sapos de fora chegaram naquele lugar. Foi um verdadeiro pandemônio. Eram diferentes, vestiam roupas estranhas, coaxavam numa linguagem incompreensível para aqueles sapos nativos que falavam tupi-guarani.

Veio então a mudança. E, mesmo, que os sapos mais rebeldes dissessem em suas reuniões secretas – sob o céu risonho e límpido – que sapo de fora não ronca, não foi o que ocorreu. A Sapolândia foi invadida por sapos mais civilizados, e, apesar disso, não demonstraram, em seus costumes, que civilização era sinônimo de educação. Os invasores trouxeram sapos bandidos, oportunistas e golpistas que chafurdaram na lama.

Naquele tempo, vieram reis e rainhas-sapas, rãs e pererecas estrangeiras que fizeram de um lugar brejeiro uma enorme colônia de anfíbios. A Sapolândia, a partir de então, foi governada por príncipes e princesas, mas nunca foi bela como nas historinhas para boi dormir. Os sapos de fora deram um novo nome para o lugar. Nascia então o Brejil. Muitos anos depois, proclamaram a república e elegeram um presidente.

“Mas um dia tudo mudou, a vida se transformou e a nossa canção também ”. Houve revolução militar, comandada por sapos de fora que roncaram forte – americanos -, e anos sombrios dominaram o brejo.

O tempo passou e os cidadãos-sapos do Brejil pregaram a democracia. Porém, por não conhecerem a fundo os preceitos democráticos e, sem conseguirem abandonar a cultura da lama, instituíram a anarquia e meteram as mãos… digo, meteram os pés pelas mãos. Mantiveram o Brejil no lamaçal. Constatou-se que os sapos governantes não haviam evoluído, mas aprenderam a usar terno e gravata para consolidar a postura de poder. As princesas-pererecas, primeiras-damas que se passavam por sapas, também não foram nem um pouco parecidas com as dos contos de fadas e não foram felizes para sempre. E, os sapos oprimidos e sofridos, cantando seu lema de “não desistirem nunca”, continuavam esperando por um salvador da pátria – talvez um Messias que viesse do fundo do poço da Sapolândia.

Apareceram sapos cultos, arrogantes, simples, mal-humorados. Mas numa linda manhã de sol, eis que surge um anfíbio vindo do povo. Era bem tosco, “zuiúdo”, coaxando algo muito parecido com o tupi-guarani. Compunha as características que muitos habitantes do Brejil queriam. O perfil era adequado aos sonhos dos sapinhos da pátria amada, mãe gentil. Teve a adesão dos grilos falantes, muitos com talento artístico, que passaram a pregar liberdade, direitos humanos e falar de diversidade com tanta incoerência que seus discursos de bicho-grilo, ainda agora, não têm nenhuma fidelidade com suas atitudes burguesas.

O sapão da esperança ainda nos apresentou uma sapa-falante, cujo dialeto nunca foi compreendido, pois não tinha nexo.  Chafurdaram na lama. Mas deixaram seguidores que adotaram os três macaquinhos como símbolo – não quero ver, não quero ouvir e não quero falar.

Em algum cantinho do Brejil, alguns sapinhos cantam o hino (Brejo adorado, Entre outros mil, És tu Brejil, Ó Pátria amada!…) e continuam a alimentar a esperança de que um dia serão felizes para sempre.

Mas acho que tudo isso é conversa para boi dormir.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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* por Sérgio Marchetti 

Apesar de toda a evolução tecnológica sobre a qual o homem mergulha de cabeça, deslumbrado com as maravilhas do novo mundo cibernético, ainda assim, será necessário falar em público. Mais do que isso, teremos que falar com propriedade, conhecimento e ótima argumentação.

Como preconizou Aristóteles, (384 a.C. – 322 a.C.) serão essenciais ao discurso o ethos, que apela para a ética, o pathos, que traz sentimento ou emoções, e o logos, que é a própria lógica. Com estes elementos as possibilidades de sucesso tendem a aumentar.

Não será excesso de rigor dizer que em muitas apresentações tem faltado a ética. Alguns profissionais mentem absurdamente e fazem comentários deselegantes. Também presenciamos apresentadores fazendo charme e carregando a voz de maneirismos. Em outros momentos, assistimos a técnicos que dispõem de uma boa pronúncia, de uma base sólida de conhecimento, mas dão a impressão de serem alimentados por algoritmos e de não terem alma – tamanha a distância mantida entre eles e a plateia.

Conheci instrutores de oratória cuja fala tem mais tempo de cacoetes e sons estranhos ao tema do que de palavras que compõe os seus discursos. Em meus tempos de coordenador acadêmico, diretor e professor de faculdade, tive a oportunidade de conhecer excelentes professores, porém, muitos daqueles traziam em suas apresentações vícios que os marcaram eternamente perante os alunos. Sons inadequados, palavras e expressões repetidas e quase cadenciadas os tornavam professores e oradores cansativos. Um caso que ilustra minha observação é do Pelé – atleta do século, melhor jogador do mundo, campeão mundial pela seleção brasileira e pelo Santos – , mas, quando chamado para realizar um comercial, o que exigem dele é que diga “entende?”, por ser o seu vício de linguagem. Ora, o cacoete linguístico parece ser mais forte do que todas as conquistas do rei do futebol.

Os “campeões” do repertório de sons indesejáveis são: né, é, tá, e aquele chiado arrastado de UUU. Mas as dificuldades não param por aí. A lógica apregoada pelo referido filósofo também parece faltar em algumas apresentações. É um tal de começar do fim ou do meio. E o apresentador vai… volta, repete, ratifica, acaba transformando o conteúdo numa mistura de ideias que algumas vezes perdem até o nexo. São os “Odoricos Paraguassus” (que ainda se dizem falsamente que não merecedores de tamanha homenagem). Há algumas pessoas, porém, que se justificam, se dizendo “modernas” e apresentadores e apresentadoras vanguardistas. E, com essa autorrotulação, transformam uma palestra em picadeiro, e devem fazer Mário de Andrade, Menotti del Picchia e Oswald de Andrade, os modernistas genuínos, se arrepiarem em seus túmulos.

Ressalto, para que não pairem dúvidas, que sou totalmente favorável aos movimentos de mudança e, obviamente, sei que a arte de se expressar acompanha e até antecipa as transformações. Não é diferente com a evolução linguística. Tudo se transforma o tempo todo, mas tudo deve ter início, meio e fim. Também já tive a oportunidade de informar que me incomoda a forma como alguns palestrantes abordam a plateia. Muitas vezes a prática de interação agride e menospreza algum espectador, quando é solicitado que participe e que suba ao palco e, não raro, para fazer algo que o ridicularize. Estou reiterando meu incômodo para que outras pessoas possam evitar tamanha falha, o que ainda pode lhes custar uma ação na justiça. Lembro aos palestrantes que não temos o direito de “convidar” (intimar) um membro da plateia para fazer qualquer coisa caso aquele não se sinta à vontade. Em alguns episódios, “as vítimas” são submetidas a dancinhas infantis e protagonizam um teatro, cuja comédia gira em torno de um cidadão ou cidadã que não recebeu cachê para fazer papel de palhaço.

Talvez você não esteja preocupado com meus comentários, pelo fato de não realizar palestras ou não ter contato direto com o público. Porém, me compete informar-lhe que processos de seleção, entrevistas, apresentações de projetos e até aquele evento em família irão surgir na sua vida. Não dá para fugir eternamente da sua dificuldade. O domínio das técnicas é o primeiro passo para vencer o medo, a timidez e a insegurança. E saiba que falar em público e comunicar… é só começar.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Sem memória

por Convidado 13 de fevereiro de 2019   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Estamos novamente diante de uma cena de horror. Assistimos ao “repeteco” da tragédia que destacou negativamente a cidade de Mariana para o mundo. Um verdadeiro filme de terror e um atestado de irresponsabilidade e de descaso pela vida humana. Trata-se da famosa tragédia anunciada. Mas, desta vez, a lambança foi maior. Progrediram, inovaram, desgraçaram famílias e transformaram Brumadinho num cemitério de lama. E, como nada é por acaso, a lama talvez passe a ser nosso símbolo nacional, e represente, literalmente, o Brasil – este campeão de corrupção, assassinatos, assaltos, injustiças e tantas outras coisas ruins que infelizmente completam a pintura do quadro brasileiro.

Não vou repetir o que todos já ouviram e viram na mídia. Mas não dá para guardar no peito tanta insensatez e não desabafar sobre o absurdo que estamos testemunhando. Eu não sei como é a dor das famílias que perderam seus entes queridos. Também não saberia nunca avaliar os sentimentos daqueles que perderam e, definitivamente, não encontraram nem os restos mortais dos parentes que jazem sob a lama mal cheirosa, cheia de lixo e restos do que foram um dia a área administrativa e uma pousada.

A lei da causa e do efeito foi violada. O estudo de tendências deve ter sido engavetado. Mas, se por um lado tivemos que experimentar as consequências de uma série de erros, cometidos por quem jamais poderia cometê-los, pudemos, por outro ângulo, ver o trabalho incansável, insalubre e perigoso dos bombeiros que se arrastaram e chafurdaram na lama que sujou novamente o nome do Brasil.

Jornais de todo o mundo noticiaram o feito da Vale e estamparam manchetes dizendo que o Brasil não aprendeu a lição. E, de fato, não aprendeu. É um país sem memória, e essa é a constatação de todos os cidadãos desta terra descoberta por Cabral (não aquele… mas o Pedro Álvarez).

Houve uma grande comoção, inclusive observada em alguns repórteres que cobriram a tragédia. Mas aos poucos virão novos fatos, outros eventos bem mais agradáveis de serem noticiados. E aí, como nossa memória é fraca, vamos esquecendo aos poucos do que houve naquela pequena cidade. Porém, para quem dependia do emprego do marido, da mulher, do filho e de outro parente qualquer, o ocorrido jamais será esquecido. Brumadinho, assim como Mariana, sofreu um duro golpe e entra nos registros da história pela porta dos fundos. Foi vítima de uma invasão assassina que, sem pedir licença ou dar a chance de fuga, destruiu histórias individuais e matou a possibilidade de muitos sonhos se realizarem.

A queda da barragem me lembrou de Pompéia e, tal qual o vulcão daquela cidade, a lama de rejeitos cobriu a todos que estavam no caminho, sem piedade. E, embora tenha ouvido a palavra azar entre tantas vozes, não aceito a tese. Havia possibilidades, havia risco e o acidente era iminente. E, quando acontecesse, todos os trabalhadores seriam engolidos pela lama. E, como vimos e ouvimos, tudo falhou. Erros primários e inconcebíveis para uma empresa daquele porte.

Para quem está vivo, resta a esperança de um novo começo, com um novo governo que possa ser justo e honesto, e que inspire os brasileiros a seguirem caminhos retos, sem jeitinho e sem vantagens. Chega de lama, chega de mortes violentas, chega de lucro a qualquer custo e basta de favorecimentos…

“Já choramos muito/ Muitos se perderam no caminho/ Mesmo assim não custa inventar/ Uma nova canção/ Que venha nos trazer/ Sol de primavera…”( Beto Guedes).

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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* por Sérgio Marchetti

Mais uma vez estamos diante do surgimento de um novo ano, após as celebrações do nascimento de Jesus. Sugiro que agradeçamos, pois ainda somos passageiros que permanecem no trem da vida.

“Já choramos muito/ Muitos se perderam no caminho…”

Somos sim, sobreviventes de uma nação que agoniza, mas que não se entrega, mesmo tendo sido tão ferida e vitimada por uma “epidemia” desastrosa e desumana que atingiu seus órgãos vitais. (“Terra… Sei que tão te maltratando por dinheiro”…). Mas dezembro é um mês que nos devolve a paz, faz nascer, junto às comemorações do aniversário de Jesus, um sentimento de fraternidade que nos acalma e nos inspira mais tolerância, mais amor, mais compaixão e perdão. Há no ar algo que nos remete à trégua. Por isso, os convido à reflexão. Pois, um ciclo se encerra e o mundo torna a começar, nos possibilitando a oportunidade de não errar ou de, pelo menos, errar em coisas novas, mas nas antigas não – porque permanecer no erro é uma confissão tácita de estupidez.

Intimo-lhes a meditar, refazer, reconstruir, alterar as rotas erradas e a adquirir foco. E lhes aconselho a ficarem em silêncio, como sugeriu Santo Agostinho, para que pudéssemos ouvir nossa alma. Sim, o silêncio é um remédio indicado para curar as dores mais profundas e ainda nos remeter ao nosso âmago.

Detesto ter que citar nomes de famosos que meditam. Sei que muitas pessoas serão persuadidas quando souberem que muitos que se tornaram milionários e celebridades, supostamente meditavam ou meditam. Queria que vocês, meus caros leitores, não fossem convencidos com base em valores materiais, mas apenas porque vocês podem ser mais felizes, saudáveis e terem controle de si mesmos, independentemente de terem uma gorda conta bancária. A vida não se resume nisso e, se alguém pensa que sim, eu o vejo como um rico muito pobre. Não estou louco. Vivo no mesmo mundo capitalista que vocês (que tornou as pessoas infelizes). O que pretendo demonstrar é que todos podem ser pobres de dinheiro, mas ricos de alma. Chega de futilidade num Brasil tão necessitado de cultura. A mediocridade, quando anda junto ao poder, é insuportável. As bocas comandadas por cabeças ocas exalam um cheiro fétido de discurso vazio. Mas voltemos ao apelo para que possamos ouvir os sons do silêncio. Só assim conheceremos o milagre de escutar a voz interior que, tal qual um poema de amor, surge serena e calma nos indicando atitudes mais assertivas.

Já ouvimos dizer que o cavalo não passa arreado duas vezes, nem que o trem da esperança abrirá a porta mais de uma vez para entrarmos. E, se não estivermos atentos, perderemos os dois e as oportunidades de mudança para melhor. Comecem por sentir muito pelo que erraram. Depois, se perdoem e perdoem os demais. Você, eu, nós, vós, eles – todos devemos nos perdoar e agradecer pela graça da vida. Ame-se e ame ao próximo.

Enfim, amigos virtuais, chegamos ao final de mais uma etapa. Tive a honra de contar com a sua companhia e sua paciência. Espero, sem querer ser prepotente, que os tenha feito refletir ou ao menos distrair por alguns instantes e, se não o fiz de forma coletiva, ou se apenas a uma pessoa pude ser útil, já considero minha missão cumprida e fico grato ao cosmos por ter me indicado um caminho, por mais simples que seja.

Meus prezadíssimos leitores, espero que tenham tido um Natal festivo com muitos abraços de energia e muitos beijos verdadeiros. E desejo que, se no decorrer do novo ano, acaso chorarem, que seja de alegria, pois estão terminantemente proibidos de deixar a tristeza entrar. Fechem as portas.

“Tristeza, por favor, vá embora”…

Pois, só poderá entrar quem vier trajando a alegria e trouxer no coração o brilho da esperança.

Que seja assim por todo o ano de 2019, com realizações de sonhos, plenitude de amor e união. Que a clareza do sol lhes traga a luz de um caminho cheio de flores e uma alma decorada de felicidade. E não tenham dúvidas:

“a lição já sabemos de cor, só nos resta aprender”.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Amigo virtual

por Convidado 7 de dezembro de 2018   Convidado

* por Sérgio Marchetti

As novas maneiras de vida nos trouxeram conforto e uma rápida comunicação que salva vidas e nos permite saber de todas as notícias importantes em tempo real. A tecnologia, os humanoides, cuja alma se chama algoritmo, vieram para ficar e dominar.

Tenho amigos virtuais que me enviam de cinco a dez mensagens por dia. Algumas são informações importantes, mas a maioria é bobagem mesmo.

Há 25 anos conheci um desses mensageiros. Fomos colegas na diretoria de uma entidade de classe e ficamos muito amigos. Depois trabalhamos como professores e consultores numa mesma empresa. Nos últimos cinco anos nos tornamos mais virtuais e menos presenciais. Porém não havia passado um dia sequer sem uma mensagem que me fizesse rir. Confesso que algumas eram impróprias para menores de 60 anos.

Mas houve um dia em que as mensagens não chegaram. Uma semana depois, liguei para meu amigo. Ele havia se submetido a uma cirurgia meio às pressas. Felizmente recuperou-se rapidamente e depois de uma semana as mensagens voltaram.

Em todos os anos de convivência observei que não havia quem ficasse perto dele sem rir.  Sua espirituosidade sempre foi uma característica marcante. Os alunos o adoravam por seu jeito expansivo, inteligente e irreverente. Nas palestras não era diferente. A alegria era contagiante. Mas suas pernas, que um dia fizeram dele um craque no futebol, se desgastaram e geraram cirurgias, licenças e culminaram com a aposentadoria. Porém, nada conseguiu tirar sua alegria e humor.

A cada encontro que mantínhamos, eu saia revigorado de tanto rir. Seus exemplos de força e de humor me fizeram ser uma pessoa mais forte. “Não posso reclamar de nada” – pensava.

Um tempo depois de nossa última prosa as mensagens pararam novamente. Fiquei preocupado. Esperei uma semana. Liguei para ele. Atendeu o telefone rindo e dizendo que estava dando um passeio e que precisava sair de casa. E, quando indaguei sobre o lugar, disse-me que estava num hospital só para mudar a rotina.

Três dias após a nossa conversa as mensagens voltaram com toda força. E assim, em tempos tecnológicos, continuamos nossos contatos. E, como temos dito, a evolução da tecnologia nos põe em contato com pessoas distantes (mesmo nos afastando dos que estão próximos) e nos mantém conectados e informados sobre tudo simultaneamente.

O tempo passou e houve mais interrupções de mensagens e, quando eu ligava, ele me informava, com incrível senso de humor, sobre suas doenças novas como um “trombozinho” que veio para não alterar seu hábito de visitar hospitais.

Recentemente marcamos um encontro para um chopp e minha esposa quis me acompanhar para revê-lo. Rimos muito. Foi uma terapia muito proveitosa e ficamos muito felizes por  saber que o nosso amigo estava com planos de voltar a trabalhar.

E, como seria natural, as mensagens diminuíram. Imaginei que o trabalho estivesse intenso. Comentei com minha esposa que o homem deveria estar ocupado e que eu havia sentido falta das baboseiras dele.

Um mês depois cobrei: “pode trabalhar, mas dê noticias”. Mas não houve manifestação. Liguei em seu telefone e não obtive contato. Pesquisei em seu facebook e vi fotos recentes que me tranquilizaram, mas decidi pesquisar em outros amigos e conclui que, apesar de toda tecnologia, é preciso que as pessoas trabalhem a informação para que ela chegue ao destinatário.

Descobri que não receberia mais mensagens. Essa foi a pior piada, a mais sem graça que meu amigo me contou. Ele estava trabalhando, mas em outro plano, fazendo certamente muitas pessoas rirem. Partiu como uma estrela cadente e poucas pessoas viram.

Estamos sentindo sua falta, amigo, agora espiritual. Descanse em paz, Wilson.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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De olhos abertos

por Convidado 16 de novembro de 2018   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Uma senhora fazia, calmamente, seu croché, sentada em sua poltrona numa sala simples quando, com muita naturalidade, pegou seu telefone e chamou a polícia.

Minutos depois, seu filho foi preso por assalto à mão armada.

Muitos vizinhos ficaram revoltados. Vieram críticas e rótulos de mulher fria, desumana, malvada. Mas a atitude daquela mulher deveria ser mais bem analisada antes de acusarem-na de perversa. Que pensamentos e sentimentos passavam por sua cabeça? Que razão teria para mandar prender seu próprio filho (a palavra “próprio” não precisava, mas serve para dar mais emoção ao texto).

Vamos tentar entendê-la. Ao ligar para a polícia estava no auge de seu desespero. O que ninguém sabia – nem queria saber – é que por trás de qualquer atitude há sempre um contexto. Não estou justificando erros, pelo contrário, estou reforçando a necessidade de avaliar contextos, de lançar um olhar sistêmico sobre acontecimentos e, assim, percebendo os detalhes e o enredo, compreender o desenlace dos fatos.

Aquela mãe já havia tentado de tudo. Por causa do filho perdeu saúde, terreno, carro e outros bens. O rapaz foi sempre um bandido. Teve emprego bom, todo o incentivo para estudar e ser uma pessoa de bem. Nada valeu. Era um ladrão, estelionatário e com suspeitas de homicídio.

Ouvi a história daquela mulher e, depois de conhecer toda a trama, lhe dei toda razão, embora outros tantos a crucificassem.

Bem, meus pacientes leitores, há neste episódio duas correntes de interpretação. Resumindo: temos os que são contra e os que são a favor da decisão da sofrida mãe. Mas o que desejo gerar são reflexões sobre nossas atitudes perante o mundo. Isso implica em usar o cérebro e ativar a função cognitiva que anda com ferrugem desde a descoberta do smartphone.

Há um bom tempo não decido nada sem antes entender o todo. Sugiro que façam o mesmo. Não julguem, não demitam, não passem a “fofoca” para frente antes de analisarem o contexto. Cuidado com as justificativas – muitas delas passam pela filosofia, falsamente atribuída a Maquiavel, de que os “fins justificam os meios”.  Nem sempre!

Em minhas aulas sobre relação humana e comunicação demonstro que tudo é circunstancial. A natureza se incumbiu de fazer tudo conectado. Uma folha não cai de uma árvore por acaso. Por essa razão é que é preciso ter visão global. Aconselho, se aceitarem, que não sejam imediatistas. A pressa tem gerado prejuízos incalculáveis. Também não devem agir por impulso. Reflitam, entendam e esclareçam os fatos. Em princípio, eu também atiraria pedras sobre a mãe desalmada. Mas tem um momento em que nos cansamos de aceitar o erro. Além da preocupação com a sociedade, ela quis proteger o filho de um confronto fatal. Estou com ela. Quando uma parte não tem limites, a outra deve tomar atitudes drásticas. Chega de tentar\ Dissimular\E disfarçar\E esconder\ O que não dá mais pra ocultar\E eu não quero mais calar…” (Gonzaguinha)

É imperativo agir.

“Uma visão sem ação não passa de um sonho. Ação sem visão é só um passatempo. Mas uma visão com ação pode mudar o mundo”. (Joel Barker).

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Contador de histórias

por Convidado 12 de outubro de 2018   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Quando era criança, enquanto meus amigos e irmãos vislumbravam um futuro como médicos, engenheiros, advogados, eu dizia que seria contador de histórias. Tal aptidão deixava meu pai desesperançoso, pois o pragmatismo era, como ainda é, sua doutrina.

Um tio emprestado, também não satisfeito com minha opção, disse-me que contador de histórias não era profissão. Era coisa de professora primária. Eu deveria pensar melhor e ser um doutor “adevogado”. De fato, lembro-me – e com saudade – que nos antigos grupos escolares, obrigatoriamente, as professoras (ainda não eram tias) nos contavam histórias. Eu adorava ouvi-las.

Mas as histórias não se resumiam às aulas. Meus avós contavam histórias melhores ainda. Nunca vou me esquecer de que minha bisavó italiana perdeu um filho durante sua viagem de navio para o Brasil. Segundo narrava meu avô, filho dela, em apenas 15 dias minha bisavó branqueou todos os fios de cabelo. A perda fora grande demais. De histórias tristes às mais amenas todas sempre me agradaram e ainda agradam. Os amigos de meu irmão atribuíam a ele uma história muita curiosa: quando ele era muito pequeno ganhou um relógio Lanco de nosso pai. Posteriormente, esse irmão foi passar férias na fazenda de nosso avô e, por lá, para sua tristeza, acabou perdendo o relógio. O tempo passou. Quinze anos depois meu irmão caminhava pela mata quando decidiu parar para descansar sobre o tronco de uma frondosa árvore. O silêncio era total. E foi justamente naquele momento que, de olhos fechados, ouvindo o som do silêncio, meu irmão captou um ruído que lembrava o batimento cardíaco. Pasmem, meus perseverantes leitores. Era o batido do relógio perdido. Sim, ele era automático e com o crescimento da árvore o milagroso relógio nunca deixou de funcionar. “É verdade Terta?”

Mudando de contexto e de ambiente, as empresas estão redescobrindo a importância de criar histórias para que seus stakeholders e clientes possam sentir a essência que vem sendo perdida num mundo tecnológico, frio, calculista e sem tempo para entender ou exercitar a visão sistêmica.  A empresa fabricante do relógio Lanco poderia explorar a história para proclamar sua qualidade e durabilidade.

Segundo a revista Exame, uma pesquisa recente feita pela Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD) com 159 executivos, indicou que 45% conhecem aplicações de storytelling no mundo corporativo; 27% afirmaram que sua empresa a utiliza em alguma área e 22%  afirmaram que a praticam na organização.

O crescimento do fator storytelling é iminente, a exemplo de empresas como Ritz-Carlton Hotel, Sodexo Health Care, Hospital Albert Einstein entre tantas outras que desenvolveram histórias e obtiveram resultados excelentes.

Não me tornei engenheiro, nem médico e muito menos advogado. Tampouco  consegui ser um bom contador de histórias. Mas continuo adorando ouvi-las e acreditando que são formas infalíveis de envolvimento e aprendizado, seja nas empresas ou nas escolas. E conforme Cícero, a história é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida e anunciadora dos tempos antigos.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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