O calor que dá sinais

por Luis Borges 5 de fevereiro de 2018   Alguma poesia

Enquanto o dia cresce
o calor aumenta.

A sensação térmica
também se acentua
para muito além
do que o termômetro mede
na plenitude desse verão.

Constato mais uma vez,
no casulo da inércia
de todos que não veem,
que o aquecimento global
só prossegue avançando
e ajudando a prevalecerem
os extremos do calor da estação.

Até que outro extremo
se manifestará
no contraste com o inverno.

Faço da constatação dos contrastes
inspiração para os versos da poesia.
Como se isso fosse
um alento para atenuar
o aquecimento irradiante,
a aumentar o efeito estufa,
pela ação sem limites
dos próprios habitantes desta Terra
que marchando neste ritmo
tornarão tudo insustentável.

Nem mais será necessário
exclamar "que calor"!
Nosso lamento de agora
que sequer será balbuciado.
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Ainda que nada inesperado
Estivesse sendo esperado
Não é que de repente
Tudo aconteceu num instante
Fazendo tudo rodar
Para deixar o corpo
Marcado pelos limites físicos
A denunciar tantas restrições.

Oh! Quanta resiliência se faz necessária
Para manter tanta esperança
De um dia voltar a caminhar
Pelo espaço físico
Que apenas povoa a imaginação.

Se a condição funcional
Colide com a expectativa
Que logo a percepção anula
Um novo acalanto ressurge
Como que a dizer
Que depois que aconteceu o acontecido
O que mais importa
É não estar vencido
Nas bandas do mundo
Em que ainda se faz presente
A complexa arte da solidariedade
Ajudando a recompor
O que não se esperava
Ser decomposto um dia.
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O silêncio dos olhos de luz

por Luis Borges 24 de outubro de 2016   Alguma poesia

O caminho rumo à luz
contava com a luz
para iluminar a trajetória,
até que as contas de luz
não mais fizessem questão
da luz sempre buscada
na estação da terra.

Mas de gota em gota,
e de conta em conta,
o claro foi se escurecendo
e os olhos de luz se silenciaram
por não ser mais necessária
a luz da terra,
muito embora todo o caminho
continue a ser trilhado na luz
ainda que seja apenas o alento possível
na plenitude da imaginação
que tão bem conhece
o universo do imaginado.
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Ainda fazendo parte

por Luis Borges 19 de junho de 2016   Alguma poesia

As mãos da idosa senhora
Denotam alguma agilidade
No contato com as coisas.

Mas a textura da pele
Que as recobre
Não consegue esconder
O tanto tempo que passou.

O rosto já cansado
Ainda dá sustentação
Aos lindos olhos azuis
De córneas que já se ressecam,
Como que a exigir
Um reforço farmacológico
Para melhor conforto visual.

Se as pálpebras começam a cair
E bolsas a se formar
Marcando o rosto,
Os olhos coriscam atentos
Todo o ambiente do entorno,
Num registro instantâneo
A contrastar com a falta que sente
Da presença de mais pessoas
Para melhor conversar
Enquanto não se sente
No decurso da vida.

Resignada e poliqueixosa
Continua esperançosa
Do aumento da iniciativa
Daqueles que lhe foram próximos,
Por parentesco ou amizade,
Na esperança viva
De ter mais valor
Em suas agendas tão cheias,
Incapazes de perceber
Que a fase idosa da vida
Se aproxima para todos.

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Só passando de ano

por Luis Borges 1 de janeiro de 2016   Alguma poesia

Percebo com tristeza
E também com dor na alma
O fim de um ano
Que se esvaiu
Como água entre os dedos
Numa suicida polarização
Entre políticos partidários
Buscando o poder pelo poder.

Esquecida fica a nação
Onde só aumenta a anomia
E se acentua a entropia
Para acalantar e embalar
O grito vivo das ruas
Em busca de uma primavera
Em que não se aceitará
Mais do mesmo que se tem.

2016 mudança ano

Só passando de ano. | Foto: Marina Borges

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Um claro escuro

por Luis Borges 25 de maio de 2015   Alguma poesia

observacao_e_analise_um_claro_escuro

Que olhar é esse?
Que atravessa a escuridão
sem ver a claridade,
ainda que bem longe
no fim do túnel?

Os limites não se mostram definidos
nos contornos da visão tubular,
determinados de maneira glaucomatosa,
que não mais enseja contar estrelas.
Mas trazem a nítida sensação
de que a lua cheia minguou.

A vida prossegue
em constante reinvenção.
E atenta à dor não doída
de trabalhar com o imaginário,
para formar a imagem
que os ouvidos só amplificam.

O inconsciente fala no claro escuro
da complexa arte de viver,
que nos desafia em caráter permanente
rumo à aprendizagem,
que faz triunfar a sabedoria
para a temperança do essencial.
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