Calor e contas

por Luis Borges 6 de janeiro de 2015   Pensata

Janeiro chegou com temperaturas acima da média de anos anteriores e chuvas bem aquém da série histórica. É praticamente um prolongamento de dezembro, marcado por um grande desconforto térmico, que inclusive atrapalha o sono e faz com que a gente se sinta um mulambo no início da manhã.

Desconforto também veio da situação econômica. Passamos por diversos graus de gastança no fim do ano e as contas do verão já estão anunciadas. Nosso “Feliz Ano Novo” novo foi embalado pela perda de poder aquisitivo diante da inflação bem acima da meta, pelo crescimento do PIB ligeiramente acima de zero e pela certeza de quais ombros vão suportar o ajuste fiscal das contas públicas – os nossos.

Fui tentar fazer uma abstração em relação a essas coisas que ficam buzinando na cabeça da gente me deparei com outras bombas de calor, irradiando gastos e gastos. Com o início do ano veio o reajuste do salário mínimo, que indexa alguns pagamentos e serve de justificativa pra outros aumentos. A tarifa de ônibus foi prontamente reajustada, levando em conta a inflação e outras coisinhas mais.

É início de ano e o orçamento doméstico está em confecção. Me propus um exercício: partindo da premissa de que a renda do trabalho será presente ao longo do ano, quais contas também serão obrigatórias? Há uma pequena lista. Em janeiro temos o IPTU, o IPVA, a taxa de lixo, uma parcela da escola, o material escolar. Algumas dessas podem ser parceladas. O IPTU em 11 vezes, o IPVA em três, a escola aparece regularmente em doze meses. As contas básicas estão ali – água, energia elétrica, gás, telefonia, internet, plano de saúde, TV a cabo, seguros, condomínio, auxiliar doméstico. Outras variam de acordo com o dono do orçamento – segurança eletrônica, lavador e guardador de carro, faixa azul, tarifas bancárias, juros do crédito rotativo, dízimo, contribuições para entidades assistenciais, anuidades de associações, mensalidades de clubes… a lista é quase interminável.

Ainda que um ou outro desses itens não entre no seu orçamento, imagine as contas decorrentes de outros gastos que são variáveis, indo da alimentação ao medicamento, do combustível à diversão.

Será que estou sendo muito preciosista e detalhista? Ou essa conta não deve ser fechada, mas apenas gerenciada? O cansaço já foi gerado e, quando nada, ele é preocupante. O que fazer?  Como fazer? Ou, simplesmente, deixar a vida passar? Esse pequeno exercício tem o mérito de ajudar a mostrar onde estamos colocando o nosso salário. Que não é renda, mas paga imposto também.

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