Bolinho do mal
Carnaval também é tempo de empreender. Com essa ideia em mente, uma arquiteta de vinte e poucos anos resolveu testar a venda de um novo produto. Depois de identificar qual necessidade poderia ser atendida, quem tinha essa necessidade e de que forma ela poderia ser atendida, ela planejou capital inicial, capital de giro e colocou o produto na rua.
A moça decidiu investir em alimentação, oferecendo bolinhos doces para os carentes de glicose. Eram três sabores – brigadeiro, doce de leite e queijadinha – vendidos nos blocos de rua que desfilaram nos bairros Floresta, Santa Tereza e Santa Efigênia, em Belo Horizonte. Eles foram decorados com enfeites inspirados em vilões de quadrinhos e desenhos animados. Por isso, a placa indicava bolinhos do mal, a 4 reais cada.
No primeiro dia, assim que chegou ao bloco com o cartaz, a moça foi abordada por um interessado. Ele perguntou “na lata” – esse bolinho tem maconha? Depois de 5 interessados no “bolinho batizado”, a vendedora resolveu dobrar a placa e deixar à vista apenas a palavra “bolinho”. Até o fim do bloco, foram 20 pessoas fazendo a mesma pergunta. Entre elas, uma mulher fantasiada de policial, munida de um cassetete e algemas, emulando uma abordagem e perguntando se os bolinhos tinham “algo ilícito”.
Para os dias seguintes, a lição foi aprendida – anunciar apenas “bolinhos”. Mesmo assim, as procura persistiu. Na segunda-feira a chuva permitiu apenas 1 hora de vendas, suficientes para duas pessoas perguntarem sobre a cannabis. Na terça foram 15 pessoas.
O balanço da folia apontou vendas de cerca de 80% do estoque. Ficou a reflexão sobre a quantidade de pessoas procurando o que a empreendedora não tinha e a dúvida sobre se realmente é esse o nicho a ser focado. Uma certeza é definitiva, a de que é preciso muita transpiração para implementar a inspiração.
E você, caro leitor, também está à procura de algo próprio ou será melhor continuar contando o tempo na zona de conforto do seu atual e desconfortável trabalho? Sei que não é fácil tomar nem implementar essa decisão mas sei também que as coisas fáceis já foram feitas e que para nós ficaram só as difíceis.