Lé com lé

por Convidado 5 de novembro de 2017   Convidado

por Sérgio Marchetti *

Diante do momento que estamos passando, cujas circunstâncias estão representadas pela sigla VUCA (originada do vocabulário militar americano no final dos anos 90), que representa mudanças, volatilidade (volatility), incerteza (uncertainty), complexidade (complexity) e dúvidas, ambiguidade (ambiguity), creio que seja oportuno fazer a roda parar, pois em movimento não há como refletir com profundidade sobre nosso futuro.

Com todos esses dilemas contemplados na sigla e, talvez como consequência deles, grande parte da população parece ter perdido a razão propriamente dita. As pessoas estão mergulhadas num mar bravo, lutando contras as ondas de violência, crueldade, corrupção e excesso de liberdade que, ao que parece, vão nos afogar.

O desequilíbrio abala nosso emocional e, em descontrole, nos tornamos vítimas de neuroses, vícios, manias e da Síndrome de Burnout. Perdemos o senso de adequação e, por essa razão, assistimos, por exemplo, aos debates entre pessoas que defendem a nudez como arte, e aqueles que combatem aquela tese. Mas, como tudo é relativo, as cabeças pensantes poderiam, além da noção de local, tempo, espaço e público, ter também o bom senso para avaliar que, num país cujo número de estupros e assédios sexuais é dos mais elevados do mundo, talvez fosse prudente evitar estímulos dessa natureza. Não me agridam, é só um comentário sugestivo sem aprofundar no tema e nas causas.

De qualquer maneira, se queremos surfar na onda da liberdade, deveríamos saber o que significa esta palavra. Há entendimentos e atitudes completamente distintos e, no ímpeto de ser livre, comete-se o equívoco da devassidão. Gente! Repito. Estamos no Brasil, isso mesmo, num país de milhões de pessoas que não sabem sequer escrever o próprio nome. Falta-lhes discernimento. Vejam o número de grávidas nas classes menos favorecidas que foram vítimas do padrasto, do pai, do irmão, dos tios…

Até o Nelson Rodrigues era a favor de resguardar a nudez para não tirar a fantasia que a curiosidade traz. Ele detestava o biquíni.

Do que estou falando? Deixe-me dar um exemplo, paciente leitor. Acho que devo me explicar. Estou falando de equilíbrio. Sei que nunca tivemos tanta liberdade e informação como temos hoje. Que ótimo. Mas também, nunca testemunhamos um momento com tantos problemas de comunicação. Uma mulher que vai para o escritório vestida de biquíni pode ser chamada de louca (ou de artista)? Um homem de terno entrando no mar de Ipanema também pode receber os mesmos rótulos. Mas a mulher de biquíni entrando no mar e o homem de terno indo para o escritório são coisas perfeitamente adequadas. É isso que está faltando.

Qual o problema de usar um traje “passeio completo” numa festa clássica? Tem pessoas que querem ir de bermuda. Tenham dó. Isso não é ser evoluído. É brega mesmo. É desrespeito aos anfitriões. Cada coisa no seu canto, pois no mundo do “tudo pode” o que impera é a desordem.

Não podemos confundir assédio, agressão, imposição com liberdade e arte. Só falta dizer que o bandido tem o direito de me assaltar e que não podemos tolher sua liberdade. Chega de absurdos. Devemos conter essa pandemia de insensatez que pseudo representantes da arte e do povo querem fazer parecer natural. O desequilíbrio está estampado nas atitudes e na sociedade em geral. Ninguém está satisfeito com nada, nem consigo mesmo.

Precisamos nos vacinar contra a insensatez, essa doença que maltrata a arte, descontrola a mente das pessoas, confunde desonestidade com esperteza e provoca delírios.

Vacine-se aqui.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Sabor doce da infância

por Convidado 6 de outubro de 2017   Convidado

* por Sérgio Marchetti

“É comum a gente sonhar, eu sei/Quando vem o entardecer/Pois eu também dei de sonhar/Um sonho lindo de morrer…” V.M.

No entardecer da minha vida, eu também dei de sonhar e recordar. E, para dizer a verdade, ando com um desejo inexplicável de comer doce de leite em barra, mas que tenha o mesmo sabor dos doces que minha avó fazia na fazenda. Que saudade daquele fogão a lenha bem no meio da cozinha, soltando fumaça e preparando surpresas que agradariam plenamente à gula das crianças (e dos adultos também).

Adoro doces e quitandas da roça. Um café numa mesa com toalha xadrez, canecas esmaltadas, broa quente, bolo, biscoitos guardados em latas são o que aguçam minha gula. Comidas nem tanto. Confesso que a compulsão é fruto das lembranças do tempo em que eu era apenas uma criança repleta de sonhos.

Tenho sido agraciado com algumas mesas de café que me trazem satisfação. Mas, aquele doce, ainda não o encontrei – continuo à procura. Já comprei de vários fornecedores com a promessa de que havia sido feito no fogão a lenha e com leite direto do curral. Mas, embora os ache gostosos, ainda não são o que busco.

Minha avó fazia o doce de leite num tacho de cobre e depois o despejava numa enorme bandeja de madeira – que ela não chamava de bandeja, mas é o nome que me ocorre agora. Ali, após retirar do tacho, ainda quente, ia derramando aquela pasta até preencher toda a vasilha. Aos poucos, o doce ganhava uma consistência e, já mais frio, minha avó o partia de maneira que ele ficasse em formato de losango. Depois, separava um prato grande para a sobremesa e, o restante, mandava levar para a venda de meu avô. Eles tinham como destino uma prateleira fechada por telas para serem vendidos aos fregueses de seu estabelecimento. Não duravam mais do que um dia. Eram muito bons mesmo. Mas a gente também furtava, quando ele se distraía ou se ausentava momentaneamente.

Numa visita à minha tia, na mesma região, falei sobre meu desejo e da saudade de tudo que vivemos naquele lugar. Dois dias após, fui presenteado com doces de leite cortados em losango e me emocionei. Eram muito parecidos. Comi, saboreei, adorei. Porém não era exatamente o sabor dos doces de minha avó.

Comentei com meu irmão sobre o desejo e a procura incessante de encontrar o doce leite do passado. Contei a ele que já havia comprado em várias regiões de Minas Gerais, mas, apesar de serem deliciosos, nenhum era igual ao de nossa avó.

Meu irmão me disse que não existem mais doces de leite como aqueles, que sentia muito em me informar e que, mesmo que encontrasse, jamais o reconheceria. Foi então que percebi que o gosto não está realmente no doce. Ele era um componente das fantasias e da inocência de uma criança cheia de ilusões. Tudo depende de um contexto e nada, absolutamente nada, pode ser avaliado de forma fragmentada. Na verdade, para comer aquele doce com o sabor que trago na memória, eu teria que voltar a ter dez anos de idade e passar férias numa fazenda, com uma avó tão doce quanto o doce de leite que habita minhas lembranças. Descobri, depois de tanto tempo, que aquele menino também não existe mais. E que o passado, quando bem vivido, terá sempre um sabor doce, talvez dos doces de leite de minha avó.

Estão servidos?

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Que venha a empatia

por Convidado 6 de setembro de 2017   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Socorro! O relacionamento está morrendo.

Volto alguns anos para contextualizar os fatos. Há pouco tempo os pais ensinavam aos filhos que o maior valor de um homem ou mulher era indubitavelmente a honestidade. Quando falavam da honestidade davam à palavra um sentido amplo que declinava lealdade, amizade, coleguismo, justiça, ética, verdade e até valores como fidelidade, moral e comportamento decente.

Ser ético era ser “direito”, respeitar os dogmas, as leis, a cultura, as regras sociais. Na vida pessoal ou no mundo do trabalho, além da ética, a empatia também tem feito mais falta do que se possa imaginar. O que me salta aos olhos e me causa estranheza é a incoerência das pessoas. Falam da corrupção, do desrespeito por parte dos governantes e de tantos outros bandidos de colarinho branco ou sem colarinho, mas se esquecem de olhar para si.

Especificamente no mercado de trabalho, apenas para dar um exemplo nas empresas, os departamentos que contratam mão de obra e que, em sua grande maioria, possuem profissionais formados na área humana, parecem não saber que aquelas pessoas que são submetidas a testes e entrevistas merecem e têm o direito de receber um retorno, mesmo que seja um “não”. Também na prestação de serviços – e isso eu falo por mim – temos pedidos de organizações para o envio de propostas de treinamento, consultoria, assessoria mas, costumeiramente -e em sua grande maioria – não há retorno das propostas. O que foi feito da empatia, do respeito? Algumas empresas solicitam urgência de nossa parte, porém a recíproca da atitude não é verdadeira. Citando ainda esse mercado corrompido é comum instrutores e até professores serem substituídos por outros colegas – normalmente com “QIs” (quem indica) mais elevados –  mas nem serem avisados. E, embora muitos tenham uma excelente avaliação de seus trabalhos, o que recebem como prêmio é o silêncio, a omissão. Simplesmente não são mais chamados para prestar serviço.

É lamentável que seres inteligentes, supostamente educados e evoluídos, se utilizem das tão ultrapassadas “igrejinhas” para poderem ascender socialmente ou internamente nas organizações.

Juro que desejava estar enganado, mas infelizmente falo de maneira inequívoca sobre a conduta de grande parte de instituições e de profissionais. Não sei a quem pedir socorro, mas num cenário de tanta corrupção e violência, estou pedindo que as pessoas se esforcem para exercitar ao menos a empatia, antes que seja tarde demais para voltarmos a ter respeito pelo próximo.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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*por Sérgio Marchetti

Caro leitor. Ninguém melhor do que os grandes compositores para falarem por nós sobre aqueles dias em que o mundo parece estar desabando sobre nossas cabeças.  Porém, aqueles compositores também estão acabando.  Sinto falta de ouvir poesia cantada. Mas os poetas e… “(…)Românticos são poucos/Românticos são loucos desvairados/Que querem ser o outro/Que pensam que o outro é o paraíso/ Românticos são lindos /(…)” “(…) /Romântico/ É uma espécie em extinção(…)”

Sabem o que queria agora? Assistir a um show do Vander Lee. Queria ouvir seu canto, cuja essência nascia da profundidade da alma. Queria compartilhar de sua sensibilidade para ver que os rios cantam para as nuvens e que, aquelas, estando emocionadas, derramam lágrimas sobre seus leitos, os abastecem e lhes dão vida.

 “(…) Sabe o que eu queria agora, meu bem?/Sair, chegar lá fora e encontrar alguém/ Que não me dissesse nada/ Não me perguntasse nada também/ Que me oferecesse um colo ou um ombro/ Onde eu desaguasse todo desengano/ Mas a vida anda louca/As pessoas andam tristes/ Meus amigos são amigos de ninguém/Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?/ Morar no interior do meu interior/Pra entender porque se agridem/ Se empurram pro abismo/ Se debatem, se combatem sem saber/ Meu amor/ Deixa eu chorar até cansar/ Me leve pra qualquer lugar/Aonde Deus possa me ouvir(…)”

Romântico é assim: chorão, idealista, justiceiro, bucólico, ufanista incorrigível que deseja mudar o país e o mundo.

“(…)Falar do Brasil sem ouvir o sertão/ É como estar cego em pleno clarão/ Olhar o Brasil e não ver o sertão/ É como negar o queijo com a faca na mão/ Esse gigante em movimento/ Movido a tijolo e cimento/ Precisa de arroz com feijão/ Que tenha comida na mesa/ Que agradeça sempre a grandeza/ De cada pedaço de pão/ Agradeça a Clemente/ Que leva a semente/ Em seu embornal/ Zezé e o penoso balé/ De pisar no cacau/ Maria que amanhece o dia/ Lá no milharal/ Joana que ama na cama do canavial/ João que carrega/ A esperança em seu caminhão/ Pra capital(…)”

Permitam-me caros leitores tomar um pouco mais de seu tempo para poder dizer que aquele poeta pede ao Pai que a fria luz da razão não lhe cale a poesia, em sua metáfora, ele é um domador que laça acordes e versos que vagam no ar, dispersos no tempo. Ele vê um trabalhador que dança balé enquanto pisa no cacau. E, estando nu, se veste da poesia para poder perceber que quando a noite chega, o sapo namora a lua. Ele quer ter o direito à vadiagem; pede para perder a hora, só para ter tempo de encontrar a rima e ver o mundo de dentro para fora. Pede ao Pai (como se soubesse que o Pai lhe preparava outro caminho) o direito de dizer coisas sem sentido e, quanto mais dizia, mais sentido colocava nas coisas – tamanha a profundidade de seus versos.

 “(…)Ó, Pai/ Não deixes que façam de mim/ O que da pedra Tu fizestes/ E que a fria luz da razão/ Não cale o azul da aura que me vestes / Dá-me leveza nas mãos/ Faze de mim um nobre domador/ Laçando acordes e versos/ Dispersos no tempo/ Pro templo do amor/ Que se eu tiver que ficar nu/ Hei de envolver-me em pura poesia/ E dela farei minha casa, minha asa/ Loucura de cada dia/ Dá-me o silêncio da noite/ Pra ouvir o sapo namorar a lua/ Dá-me direito ao açoite/ Ao ócio, ao cio/ À vadiagem pela rua/ Deixa-me perder a hora/ Pra ter tempo de encontrar a rima/ Ver o mundo de dentro pra fora/ E a beleza que aflora de baixo pra cima/ Ó meu Pai, dá-me o direito/ De dizer coisas sem sentido/ De não ter que ser perfeito/ Pretérito, sujeito, artigo definido/ De me apaixonar todo dia/ E ser mais jovem que meu filho/ De ir aprendendo com ele/ A magia de nunca perder o brilho/ Virar os dados do destino/ De me contradizer, de não ter meta/ Me reinventar, ser meu próprio deus/ Viver menino, morrer poeta.”

Mas o poeta, que pedia tempo para encontrar a rima, não teve tempo. Foi brilhar no céu.

“(…)Veio a manhã e eu parti/ Os astros podem contar/No dia em que me perdi/Foi que aprendi a brilhar/ Eu vi/ Virei estrela (…)”

A benção, poeta Vander Lee.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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O feeling merece atenção

por Convidado 11 de julho de 2017   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Outro dia decidi caminhar pela rua para espairecer. De repente fui atraído pelo cheiro de café. Não era igual ao da torrefação de minha antiga rua no interior, mas foi o suficiente para me fazer tomar o rumo de uma dessas cafeterias agradáveis que temos em nossa cidade.

Ao me sentar, fui logo reconhecido por um amigo de infância que não via há tempos.  Senti que o universo conspirava para que eu revivesse um pouco do passado.

– Que coincidência! Estava justamente pensando na nossa rua.

– Foi minha energia que o atraiu – disse-me.

O “papo” rendeu. Voltamos ao passado. Recordações de nossos vizinhos e dos antigos amigos afloraram em nossos corações. Ele me confessou a paixão de criança que permaneceu até sua adolescência. Era perdidamente apaixonado por uma de nossas vizinhas. Não sem razão, pois a menina era lindíssima. Meiga, com um sorriso mágico, cujos olhos sorriam também.

Meu amigo, hoje, achando tudo muito engraçado, disse que, em seu feeling, sempre desconfiou que a menina gostava do meu primo, o Pedro, e era correspondidaE que, naquela época, o fato de pensar assim o consumia. Também me confidenciou que, justamente por essa razão, nunca teve coragem para dizer a ela sobre seu interesse.

– Sabe quando você acha que uma pessoa está muito acima de você? – perguntou.

Respondi que sim e comentei: não pense que é privilégio seu. Até Julio Iglesias já sentiu isso. “Essa covardia do meu amor por ela/ Faz com que a veja igual a uma estrela/ Tão longe, tão longe que ela está/ Que eu espero nunca podê-la alcançar…”

Ele assentiu com a cabeça e com um sorriso sem graça. O que sabia, e me contou, é que nunca o namoro de Camila com Pedro aconteceu oficialmente. E que talvez fosse tudo imaginação dele. Pensou que fora um idiota, um menino que perdeu a oportunidade de namorar sua paixão por não ter tido a coragem de dizer a ela. Eu concordei e ainda confirmei que conhecia vários casos em que as mulheres não tinham nenhum interesse mas que, ao saberem que alguém gostava delas, acabavam cedendo e até se apaixonando.

Mas não foi o que ocorreu com ele. O tempo passou e Camila casou-se com outro rapaz e teve dois filhos. O que para meu amigo de certa forma foi um alívio porque constatou que entre ela e Pedro nunca tinha havido nenhum sentimento.

Porém, conforme me revelou durante nossa conversa, anos depois os dois se encontraram numa sorveteria. Camila sorriu com o mesmo sorriso lindo que o fez se apaixonar por ela. Conversaram muito. Lembraram-se de todos os moradores da rua, deram notícias de alguns amigos comuns e confessaram a saudade que sentiam daqueles tempos quase dourados.

As recordações fizeram os olhos do meu amigo lacrimejarem e as lágrimas escorrerem pela sua face. Mas prosseguiu com a narrativa do encontro. E disse que na saída, ao se despedirem, ele perguntou um pouco sem graça sobre o casamento e os filhos de Camila. Ela respondeu que o marido era muito bom e que tinham dois meninos.

– Que ótimo! E como se chamam? – perguntou o amigo, com um sorriso cheio de dentes.

– O mais velho é o Pedro. O outro tem o mesmo nome do pai.- respondeu Camila, antes de dizer-lhe adeus.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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O efeito borboleta

por Convidado 6 de junho de 2017   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Dia desses, assisti ao filme The Butterfly Effect (O Efeito Borboleta), de 2004, e, inspirado nele, estive a questionar – como diriam o lusitanos – que, se pudéssemos voltar no tempo, o que faríamos de diferente? É bom explicar que, na trama do filme, um jovem, com base em suas memórias, desenvolve a capacidade sobrenatural de fazer pequenas alterações no seu passado que determinam novos rumos no decurso de sua vida.

Pensando racionalmente, se tivéssemos o dom de voltar ao passado o mundo provavelmente já teria acabado. Seria uma eterna tentativa de refazer os “malfeitos” e, pelo que creio, não sairíamos do lugar. Na “Pátria amada” voltaríamos 500 anos para recomeçar a nossa história. “Começaríamos tudo outra vez se preciso fosse…” (cantou Gonzaguinha), mas não evitaríamos o “Efeito Borboleta”.

Mas o que significa O “Efeito Borboleta”? Trata-se do princípio que afirma que uma pequena alteração ou mudança no início de um evento, no decorrer desse processo, transforma-se em consequências desproporcionais e imprevisíveis. O que é também uma explicação simplificada do estudioso americano, Edward Lorenz, sobre o que seria a Teoria do Caos. O estudo revela, em princípio, que fatores irrelevantes podem ser responsáveis por grandes alterações num processo qualquer. Lorenz dizia que o bater de asas de uma borboleta no Brasil poderia desencadear uma sequência de eventos meteorológicos imprevisíveis que provocariam, por exemplo, um tornado nos Estados Unidos.

Deixando o experimento de lado, vamos tentar entender o caos. No último ano ouvimos e lemos, dia após dia, evidentemente sem conhecer nenhuma teoria, que a política brasileira está vivendo o caos. Então vamos entender o que é o caos para nos situarmos. Segundo o dicionário online de português, significa:

confusão geral dos elementos da matéria, antes da suposta criação do universo, do aparecimento dos seres, da realidade ou da natureza. No sentido figurado: estado de completa desordem, confusão de ideias, amontoado de coisas que se misturam, desorganização mental ou espacial.

Diante das definições acima e de outras existentes concluo que estamos além do caos. Nossa desordem extrapolou as fronteiras do absurdo. De fato, está comprovado o poder criativo do brasileiro. Infringimos os artigos mais severos do caos e criamos uma história surreal escrita com a tinta da vergonha. Nosso desgoverno compôs um episódio mais surrealista do que escritores renomados como André Breton, Murilo Mendes, Mennotti Del Pichia. Nossos governantes editaram um drama para vivermos no presente e plantaram um futuro cuja colheita pode ser uma tragédia shakespeariana. E, ainda na seara literária, assistimos a cenas quixotescas de personagens que, não tendo mais o filtro do pudor, mentem descaradamente e narram, em sua epopeia, as vitórias contra moinhos de vento e outros inimigos; todos frutos de mentes insanas.

O caos leva a uma fuga de brasileiros para outras terras. Já vivemos isso antes. Os motivos eram outros, mas a vontade de partir era a mesma. Nossos campos já não são tão lindos, nem nossos bosques têm mais flores, nosso seio tem menos amores e os filhos já fogem à luta. Que pena!

Mas enquanto o sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhar no céu da pátria, deve haver a esperança de que uma borboleta bata as asas em algum lugar deste planeta e que cause um tornado que destrua todas as falcatruas existentes neste Brasil.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Só rezando

por Convidado 8 de maio de 2017   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Peço desculpas aos leitores que me homenageiam lendo meus escritos. Sei que a nostalgia é um sentimento meio chato. Mas acordei saudosista de um tempo em que a esperança de sermos uma grande nação era algo consistente. Hoje, aquele sentimento ultrapassou as fronteiras da utopia. E, convenhamos, quando vivemos momentos tão obscuros, é natural sentir saudade de uma vida melhor que já tivemos. Estou descrente e confesso que cansado de ouvir e ler sobre a podridão de parte do nosso povo. Nossos noticiários, por obrigação de informar, aumentaram o tempo de suas programações para mencionar todos os nomes dos corruptos, mas ainda assim foi insuficiente. E o que me assusta e estarrece é que tem muita gente defendendo esses bandidos que deixaram, e ainda deixam, pessoas morrerem à mingua sem atendimento nos hospitais públicos. Escória, ladrões que desviam o dinheiro de remédios, de merenda escolar, de salários de funcionários públicos, da aposentadoria e de tantos outros recursos. Agora, entendo porque o nazismo, mesmo cometendo as maiores atrocidades contra a humanidade, ainda tem adeptos. Os malfeitores são habilidosos no condicionamento das cabeças fracas.

Num contexto como este, de total decomposição de caráter, anda longe a poesia de Olavo Bilac dizendo às crianças brasileiras para amar com fé e orgulho a terra em que nasceram. Mas sinto saudade de tantas outras coisas. De poder andar pelas ruas, sentar na praça e não ser assaltado. Das músicas de categoria elevada, que diziam algo mais do que “beijar a boca e transar no motel”. De ser livre e conviver com pessoas educadas. Onde estão? Aonde andam? Talvez nem andem. Estão reclusas em suas casas.

Parecem coisas pequenas, mas quem já viveu mais de quarenta anos sabe que poder deixar a casa aberta era uma forma de felicidade que não tinha preço. É com pesar que, igual a Nietzsche, sinto um cheiro de putrefação no ar. O homem, no auge de sua insensatez, tentou se apoderar do mundo e, nesse ataque insano, para obter dinheiro – a qualquer custo – está tentando matar a Divindade para ter os poderes de Deus.

Hoje estou triste por saber que é neste mundo que meus filhos, netos, bisnetos, tataranetos irão viver. E nele a competição por um emprego decente continuará sendo injusta, desleal e abjeta para quem não tiver o famoso “QI”. A desonestidade avança como uma enchente que destrói tudo por onde passa. Arruína lares, profissões, carreiras, sonhos e carrega em suas águas turvas as esperanças que, na maioria das vezes, é justamente de quem trabalha, mas não tem padrinho nem força para lutar contra a correnteza do poder. A improbidade progride como um câncer que, quanto mais desenvolvido, mais destruição causa em suas vítimas.

Creio que tudo que é negativo, quanto mais lembrado mais se fortalece. Perdoem-me, então, por estar sendo incoerente. Não me contive. Foi desabafo. Também, ninguém é de ferro. O balão, se encher muito, tende a explodir. Talvez seja nosso quadro atual: todos com balões cheios, mas prestes a acabar com a festa. Basta estourar o primeiro…

Mas vamos mudar o rumo da prosa. Aprendi que quando estamos desiludidos, a oração é o melhor remédio e, tanto pelo caminho da fé, quanto pelos estudos da psique, sabemos que as palavras têm força e podem nos trazer a paz e a resignação.

Falando em oração, veio à mente uma passagem de Santo Agostinho:

O estado nada mais é do que um “grande bando de ladrões”, uma máfia — só que; muito maior, mais opressiva, e mais perigosa.

Oremos!

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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* por Sérgio Marchetti

Muitas pessoas com as quais convivo profissional e pessoalmente têm me confidenciado sobre a dificuldade de se relacionar, principalmente com seus filhos, num mundo de muita tecnologia e pouco afeto. Dizem, e concordo, que com o advento da tecnologia – recurso no qual os jovens levam imensa vantagem sobre os mais velhos – a geração Y e as posteriores se tornaram as classes de jovens mais poderosas de toda história. O domínio da tecnologia gera essa sensação de superioridade e contribui para que os filhos pensem que sabem mais do que os pais, por exemplo.

A história, entretanto, nos revela que a juventude sempre trouxe esses arroubos, seguidos de muita coragem e vontade de mudar as regras. Não é novidade que as novas gerações também estejam passando pelo mesmo arrebatamento. A compulsão de sugar a seiva da vida com toda a força, e dela usufruir em sua plenitude, também não é atual.

O que é novo, revelado em estudos, é que a humanidade está se tornando cada vez mais fria e solitária. O mundo evoluiu e os sentimentos de empatia estão agonizando. Mas a essência das coisas é a mesma de 500 ou mais anos.

Quisera que fossem apenas os jovens os praticantes do egocentrismo. Mas não são. Os mais maduros também esfriaram seus sentimentos e se isolaram em seus casulos cibernéticos. O grande estudioso Daniel Goleman informa que em hospitais e consultórios dos Estados Unidos os médicos que dão mais atenção e que realmente focam no problema do paciente conseguem resultados melhores no tratamento de doenças. Relata que profissionais que são processados não cometem mais erros do que os seus colegas. Mas têm menos afinidade e pouco relacionamento com seus pacientes. O estudo também constatou que os processados agem tecnicamente, não perguntam sobre as preocupações dos enfermos e nem respondem a todas as suas dúvidas. Alguns professores se comportam de forma semelhante e, mesmo tendo muito conhecimento do assunto, ensinam de forma mecânica, centrados apenas em suas teses. O resultado é o insucesso da aprendizagem. Talvez seja bom lembrar que por trás dessas atitudes se esconde uma doença chamada Alexitimia (indivíduos que não sabem o que sentem e não imaginam como o outro pode estar se sentindo) e que essas atitudes precisam ser tratadas antes que a prática do relacionamento se torne irreversível.

Diante de relatos como esses, chego à conclusão de que está faltando empatia, porém, está sobrando antipatia. Tornou-se comum nos depararmos com pessoas que fazem questão de ser grosseiras e arrogantes. Pessoas que não passam de meros figurantes no teatro da vida, mas que roubam a cena e se julgam protagonistas e, em seus desvarios, pensam ser celebridades.

Mas a família do phatos (sentimento) não para por aí. Felizmente tem uma prima que se chama simpatia. Pois ainda encontramos cidadãos educados que, como diria meu avô, têm berço e classe. São homens e mulheres que, não tendo que mascarar sua trajetória, caminham com leveza e emprestam luz aos que vivem nas sombras. Bem-aventuradas sejam essas criaturas porque são uma raridade num mundo tão cruel e hipócrita.

A família tem ainda mais um parente, a apatia – uma tia ranzinza e sistemática – que é outro mal que nos acomete. E é muito grave. Vejamos a situação da sociedade diante dos crimes. Apatia total. Enquanto ficamos escondidos atrás das grades de nossas casas, ladrões e assassinos têm liberdade para fazer o que quiserem, impunemente.

O que posso dizer àqueles que desabafam comigo sobre as dificuldades de relacionamento é que os sinais nos indicam que aí vêm chuvas e trovoadas. E que teremos que aprender e reaprender a conviver com novos valores e a vencer obstáculos continuamente.

Willian Shakespeare já previa todas essas tendências com uma visão futurista tão incrível que nos deixou o legado da visão para enfrentarmos as dificuldades e mudarmos de atitude. Recorro aos seus versos para buscar um alento que me proporcione sabedoria para encarar os novos desafios e encontrar caminhos alternativos. Com Shakespeare a gente aprende que depois de algum tempo as mudanças nos provam que nada era impossível. Aprende que deve ter iniciativa e buscar a adaptação.

“Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido,

O mundo não para, para que você o conserte,

Aprende que tempo é algo que não pode voltar para trás.

Portanto, plante seu jardim e decore sua alma,

Em vez de esperar que alguém lhe traga flores.”

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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* por Sérgio Marchetti

É Carnaval! São três dias de folia e brincadeiras… Que nada! Tudo mudou. A brincadeira se transformou em droga, sexo e axé. O que resta nas memórias de algumas retinas fatigadas como as minhas é a saudade das brincadeiras dos antigos carnavais. Era diversão, mas isso é pura nostalgia de quem amava os salões e as marchinhas.

Quando Luiz Carlos Paraná escreveu Maria, Carnaval e cinzas, eu, criança, achei uma falta de gosto fazer uma letra tão triste para o Carnaval. Vejam duas estrofes:

Nasceu Maria quando a folia
Perdia a noite ganhava o dia
Foi fantasia seu enxoval.
Nasceu Maria no carnaval.
E não lhe chamaram assim como tantas
Marias de santas, Marias de flor
Seria Maria, Maria somente
Maria semente de samba e de amor.

Morreu Maria quando a folia
Na quarta-feira também morria.
E foi de cinzas seu enxoval
Viveu apenas um carnaval.

Hoje, adoro a letra. Continuo achando triste, mas gosto dela. Tempos depois, também escrevi uma “letrinha” para sair com um bloco de amigos. Mas nunca saímos e a letra ficou guardada. Também não é nada alegre, mas é o que tem para hoje: saudade.

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Bloco de rua em BH no carnaval de 2014. / Foto: Marina Borges

Carnaval e cinzas  - poeta triste trazendo alegrias...

O meu bloco vai sair na rua
E você vai sambar tão nua,
Vai fazer o povo me aplaudir,
Vai fazer o povo me sorrir...

E no delírio que esta marcha traz
Todo mundo vai sentir em paz,
Vão vibrar com a nossa alegria,
Vão dançar com a nossa  folia

E em coro então vão cantar:
Esta é a marchinha de um poeta triste,
Esta é a pureza que ainda existe;
Este é um bloco bem genial.
É a alegria do meu carnaval.

E minha ala  vai passando lenta,
E a multidão nos saudando atenta...
É a alegria desse povo triste, 
Que durante todo o ano insiste

Pra poder num carnaval cantar:
Esta é a marcha de um poeta triste,
Esta é a pureza que ainda existe;
Este é um bloco bem genial.
É a alegoria do meu carnaval.

São três dias de loucura e fantasia, 
São três dias de teatro e poesia.
E antes  da quarta-feira acordar
O nosso bloco vai com tudo pra abalar,

Pois ainda temos uma noite para cantar:
Esta é a marcha  de um poeta triste,
Esta é a pureza que ainda existe;
Este é um bloco bem genial.
É a nobreza do meu carnaval.

A quarta-feira vai se anunciar
E as cinzas vão nos separar...
Outra vez, a fantasia durou pouco.
Mas por você continuo sempre louco.

E aí vou vestir a outra fantasia
Personagem sério, sem nenhuma alegria,
E com ela o ano todo desfilar,
Esperando um ano inteiro pra te amar,

Para de novo no carnaval cantar:
Este é o bloco de um poeta triste,
Esta é a pureza que ainda existe;
Este é um bloco bem genial.
É a nostalgia do meu carnaval.

E o meu bloco então passou...
Alegrias, fantasias, alegorias desfilou.
Mas chegou a quarta- feira e acinzentou
E o bloco, que era sonho, acordou.

Então, caro leitor, ponha seu bloco na rua, mesmo que ele seja o bloco do poeta triste, mesmo que sua marchinha nunca seja cantada e que a fantasia nunca seja usada e que tudo isso seja apenas um sonho de três dias. Deixe o bloco passar e levar toda a energia ruim. Seja mais livre, mais tolerante, deixe que o coração lhe conduza e a emoção, fruto de uma outra fantasia, lhe faça mais feliz.

Afinal, Carnaval é feito para usar fantasias e deixar que a insustentável leveza do ser possa tirá-lo do chão. Peça licença à tristeza, separe-se dela; “você pra lá e eu pra cá”, até quarta-feira. Então, fique de bem com a vida. “Vem… pra ser feliz…”

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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2016, o ano que não terminou

por Convidado 6 de janeiro de 2017   Convidado

* por Sérgio Marchetti

“ Temos todos nós que vivemos/ uma vida que é vivida/ e outra vida que é sonhada/ mas a única vida que temos/ é a que está dividida entre a certa e a errada.” (Fernando Pessoa)

O ato de viver tem duas faces: vida e morte. E nos oferece três tempos para viver e só um para morrer. Tudo acontece no presente, embora tenhamos o passado – que nunca voltará – e o futuro que, quando chegar, será apenas presente. Sabemos como foi o começo e que haverá um fim. E, entre os dois, vigora a incerteza de como será a trajetória. Não dá para adivinhar o futuro. Quando muito, planejá-lo. Talvez uma estrela iluminada possa nos guiar pelas veredas do sucesso. Mas não há luz para todos e os resultados não dependem exclusivamente de nós. Fatores internos, crises e políticas desajustadas podem arruinar qualquer um.

Como disse, nossa vida é indicada por tempo, mais propriamente por anos e que, por sinal, mais um chegou ao fim. Tivemos um janeiro de esperanças, dez meses de decepção e um dezembro de desesperanças. Nós, cidadãos maduros, que já passamos do meio dia de nossas vidas, tivemos a oportunidade de repetir esta façanha por diversas vezes. Nem parece que foram tantas.

Chegar ao final do ano e ter a oportunidade de um novo começo, por si só, já é uma dádiva muito digna de agradecimento. Muitas pessoas findaram sua história neste ano que se passou. Outros tantos abortaram seus sonhos em tragédias, tal qual a aeronave da LaMia, cujo piloto causou a morte de 71 pessoas. A causa do acidente foi gerada pela voracidade da obtenção do lucro. Revoltante, desastroso e criminoso o motivo que deixou tantas pessoas com o vazio da inexistência. Perderam maridos, pais, filhos, irmãos, amigos e colegas. A dor da ausência se amplia mais quando acontece um acidente e, principalmente, quando ele é causado por imprudência, irresponsabilidade e ganância.

Pelos mesmos motivos de Miguel Quiroga, no Brasil governantes causaram tragédias piores, legislando em causa própria e estropiando vidas. Faltaram escrúpulos, seriedade e senso de humanidade.

Não tenho dúvidas de que 2016 ficará na memória. Nem Fidel resistiu a ele. Partiu para sempre o grande ditador. Agora, realmente está exercendo a igualdade que tanto pregou. Cuba está sem pai e sem dono. Dom Paulo Evaristo Arns, uma alma boa que lutou pela justiça, sucumbiu neste dezembro e nos deixou mais desamparados ainda. Também perdemos Ferreira Gullar e, junto com ele, os últimos suspiros da poesia.

Por tudo isso, o referido ano ficará marcado na história. No Brasil será registrado como um dos anos mais tristes, em todos os sentidos. E, como escreveu Zuenir Ventura a respeito do ano de 1968; 2016 foi um ano que também não terminou. A conta não fechou. O país não cresceu, a crise não acabou, os maiores responsáveis por ela não foram presos.

“o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou. E agora, José?” (Drummond)

Mas temos que ser fortes e resilientes. Não nos resta outra opção. A dor que não mata, embora arranque pedaços, nos torna mais resistentes.

Apesar do nada que foi esse ano que passou, esperançar é tudo que nos resta conjugar. Então, caros leitores que ainda têm a paciência de ler meu amontoado de ideias traduzidas em pobres palavras, deixem que os primeiros dias de janeiro lhes tragam sóis de esperança, luzes para clarear nosso túnel e, ainda, quem sabe, mais união para que lutemos pelos nossos direitos de cidadãos.

Ainda estamos vivos… Os novos dias nos convidam a ter fé.  Então…

“vem, vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. (Geraldo Vandré)

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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