De novo, o tempo…

por Convidado 10 de março de 2025   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Ouvi de um amigo que, quando falamos que tempos atrás a forma de vida era melhor, muitas pessoas mais jovens não acreditam. Simplesmente dizem que é puro saudosismo e coisas de gente velha. Alguns chegam a afirmar que um mundo sem a tecnologia, jamais poderia ter sido melhor.

Também, segundo meu amigo, dizem que o desconforto de ter que sair de casa para fazer quaisquer compras, pagamentos, saques era algo desagradável.

Acredito que todos os tempos apresentem suas vantagens e possam registrar fatos inesquecíveis e maravilhosos. Mas como tudo tem um “porém”, sempre haverá coisas positivas e negativas em cada um deles.

Quanto ao fato de ter que sair de casa para realizar qualquer tarefa, realmente era, é, e será bastante cansativo. Isso além, obviamente, de ter um acúmulo de tempo perdido.

Agora, sem perda de tempo, (como dizia Odorico Paraguaçu, prefeito de Sucupira, personagem de Dias Gomes em sua obra O Bem-Amado) “deixando os entretantos de lado e indo direto aos finalmentes”, a tranquilidade foi uma característica do passado que permaneceu por dezenas de anos, assim como a segurança. É difícil que um pré-adolescente imagine o que era sair pelas ruas na maioria avassaladora das cidades, em qualquer horário, e não ter receio nem possibilidade de ser assaltado. Também não acreditaria se disséssemos que ladrão era um ser desprezível e rejeitado pela sociedade. Não daria crédito se contássemos a ele que pessoas mentirosas eram malvistas e que, se mentissem profissionalmente ou divulgassem notícia falsa, seriam demitidos e, até mesmo, presas. E corrupção era palavra tão pouco falada que muita gente não a conhecia. Atualmente é aceita e justificada.

E a palavra de um homem? Valia mais do que quaisquer documentos assinados. É verdade, moçada! (Ah! Esqueci que a moçada não lê).

E, já que estamos no carnaval, o que vocês, estimados leitores, diriam sobre os antigos carnavais? Os jovens de hoje diriam ” nada a ver”.

Concordo plenamente. Comparados ao que vemos hoje, são absolutamente coisas distintas.

Um clube com salão, uma ou duas bandas, sambas, marchinhas carnavalescas, e algumas músicas inéditas, mesas, garçons, banheiros (nada químico), pessoas bonitas, bem vestidas (vestidas, hein!), com fantasias elegantes enfeitando o local e nossas visões. E fiquem pasmados, tinha seguranças nos protegendo de quaisquer anormalidades e acalmando os bêbedos que passavam do limite. Será que o conforto naquela situação era “nada a ver”?

Não se exaltem! Aprendi que para viver bem nesses novos tempos de falência de seriedade e da consciência crítica, devemos dar razão a todas as opiniões, gostos, religiões e ideologias. Também, conformado, cheguei à conclusão de que minha opinião não vai mudar o mundo.

Fiquei mudo, surdo e cego. Ouço barbaridades e não me manifesto se não for obrigado.

Vejo coisas que em tempos passados seriam aberrações e finjo não ver.

Confesso que nunca imaginei que adotaria os três macaquinhos que tapam os ouvidos, a boca e os olhos, porém em alguns casos é a opção mais plausível.

A experiência nos ensina a simplificar, evitar o confronto e a animosidade. A vivência nossa de cada dia nos proporciona tomar decisões mais acertadas, simplesmente porque já vimos aquele filme e sabemos o seu final. Não ficamos para trás como pensam, ao contrário, estamos bem à frente. Estamos aqui há mais tempo. Adquirimos uma visão sistêmica que as novas gerações só compreenderão, se compreenderem (?), quando se tornarem velhos cidadãos.

Talvez naquele momento descubram que somente o tempo nos permite saber que “o essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração”.

Sérgio Marchetti

*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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O Relógio do Fim do Mundo

por Convidado 4 de fevereiro de 2025   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Não é novidade ouvir falar em apocalipse. Aliás, se é algo que os veículos de comunicação não nos deixam esquecer é que há finitude para nós, individualmente, e para nosso planeta.  Conforme o sexagésimo sexto livro da Bíblia e vigésimo sétimo do Novo Testamento, podemos acompanhar a “revelação de Jesus Cristo” dada ao apóstolo João, por Deus, prevendo o fim dos tempos.

Mas, tal evento ocorreria somente se a humanidade estivesse procedendo contra os princípios divinos. Aí é que reside perigo…

Caminhando por outras veredas, existe um relógio, criado em 1947 pelo Boletim dos Cientistas Atômicos, batizado de Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock) que é um símbolo que representa o quão próximo a humanidade está de uma catástrofe global. Meia-noite simboliza o colapso civilizacional, e os minutos que restam indicam o nível de perigo. Inicialmente, o foco era o risco de uma guerra nuclear que, sem sombra de dúvida, aniquilaria o planeta. Com o tempo, outros fatores como mudanças climáticas, biotecnologia e inteligência artificial descontrolada passaram a ser considerados.

Desde sua criação, os ponteiros do relógio foram ajustados mais de 20 vezes. Em 1991, após o fim da Guerra Fria, marcava 17 minutos para a meia-noite, o mais distante já registrado. Porém, em 2023, o relógio atingiu 90 segundos para a meia-noite, o menor tempo da história. Por qual motivo? Tensões geopolíticas, arsenal nuclear crescente, pandemias e desastres climáticos.

O que mais me entristece, leitores de plantão, é que em tudo tem a mão do homem causando e acelerando, num desvario inexplicável, a destruição da terra e da vida. O relógio não é uma bola de cristal, nem prevê o futuro, mas serve como um alerta para que governos, empresas e cidadãos tomem medidas urgentes para garantir a sobrevivência da humanidade. A grande questão que fica é: seremos capazes de afastar os ponteiros do colapso ou continuaremos a caminhar rumo à destruição?

Pena que tantos órgãos, veículos e instrumentos de comunicação prefiram criar narrativas, endeusar ou destruir artistas, autoridades e personalidades, em vez de cumprirem eticamente seus papeis de informar, influenciar positivamente e de gerar programas educacionais para que os cidadãos exerçam seus direitos, e também seus deveres de preservar a terra e a vida daqueles que ainda estão por vir. Pequenas mudanças individuais e grandes decisões globais podem alterar o rumo da humanidade. O Relógio do Juízo Final nos lembra que ainda há tempo para agir, mas ele também nos alerta que a inércia e a ganância podem custar a nossa destruição.

Diante desse cenário, é essencial refletirmos sobre nosso papel nessa contagem regressiva. Será que estamos realmente atentos ao impacto de nossas ações? O que podemos fazer para que as autoridades tomem as atitudes  necessárias?

 

Sérgio Marchetti

*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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por Sérgio Marchetti*

— Senhores passageiros e tripulantes da aeronave Brasil 2025, modelo A-PT 013, quem lhes fala é a comissária chefe de cabine. Favor afivelarem os seus cintos e permanecerem quietos em seus lugares. Sinto muito, mas embora meu desejo seja de que tenhamos uma boa viagem, o tempo está carregado de nuvens que indicam tempestades, raios e turbulências. O cenário não nos é favorável. Todos os instrumentos constantes do six-pack nos indicam que estamos desgovernados…

Senhores passageiros, digo, leitores, eu quero acreditar que poderemos ter um ano melhor, mesmo que os indicadores econômicos “reais” informem que a situação não está favorável. E, para isso, temos que planejar ações e reações que nos possibilitem obter sucesso em nossos objetivos. Será importante saber usar de estratégias adequadas ao momento, pois sentimentos fortes como paixão, ideologia, religião entre outras crenças podem confundir a interpretação da realidade. Como exemplo, posso citar uma equipe de futebol que, mesmo tendo um plantel fraco tecnicamente, acredita que pode ser campeã. Não estou falando do América de Minas, mas se você, leitor desportista, pensou nele, diria que acertou em sua divagação.

Voltando ao planejamento, é fundamental que conheçamos o cenário para trabalharmos com os recursos, pessoas, ferramentas e condutas corretas.

Assim, conforme prega Sun Tzu no livro “A arte da Guerra”, temos que saber quando retroceder, em que momento parar e, especialmente, quando investir sobre os inimigos e vencê-los. Não estamos em guerra, mas viver é um jogo que requer muita habilidade, perspicácia e visão apurada de cada movimento do tabuleiro.
Há exagero no meu conselho? Digo que não. Em outra oportunidade, creio que já tenha falado sobre as estratégias para sobreviver no mundo focalizando-o de forma geral. Também já utilizei da medicina para demonstrar minha tese. Um médico quando recebe sua visita, sabe que aquela pessoa está sentindo algo fora de sua normalidade física e, por vezes, mental (estes últimos não têm muita consciência de sua enfermidade). Bem, a primeira atitude para se buscar melhoria é o reconhecimento de que está doente ou de que os resultados não são aqueles que gostaria. Devo lembrar que na comparação, um país também adoece.

Nem todas as previsões de início de ano devem servir como um lugar seguro que o destino irá nos guiar. “A cigana leu o meu destino. / Eu sonhei! / Bola de cristal, jogo de búzios, cartomante…” bela música, belo ritmo, mas os instrumentos podem fazer você “dançar”. É melhor e mais resguardado analisar as tendências e fazer uma retrospectiva para comparar como tem sido a evolução de tudo que nos importa e é essencial para uma vida tranquila e saudável.

Eu gosto de poesia, de paixão, de música e de outras expressões da arte que no passado foram utilizadas como forma de protesto. Mas a engenharia da vida exige aterramento, pés firmes no chão e planejamento para plantarmos algo mais duradouro que possa se estender não só por este ano, mas por muitos anos.

 

Sérgio Marchetti

*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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Cartão de Natal

por Convidado 3 de dezembro de 2024   Pensata

por Sérgio Marchetti*

— Alô! Dezembro chegou trazendo mensagens de amor!

Desejos e propósitos expressos, renovação de energia, de fé e louvor.

Celebremos o amor, a emoção. Agradeçamos a Deus, de coração, pelo milagre da vida, pelo pão de cada dia e pela luz do sol que se irradia.

“Um clima de sonho se espalha no ar. Pessoas se olham com brilho no olhar…” (Roupa Nova). A criança, com sua pureza, ansiosa à espera do Papai Noel, nos enche de certeza, de doçura, de mel.

Outra vez, estamos falando de poesia, de um mês especial. De novo, luzes enfeitando a vida. É Natal! Nasceu Jesus, filho de Maria e de José. O céu, repleto de estrelas reluzentes, anuncia a chegada do Menino de Nazaré.
“…Noite feliz! Noite feliz! Ó Jesus, Deus da luz…” (Joseph Mohr e Franz Xaver Gruber)

Nasceu em Belém, Aquele que veio para fazer o bem. Cresceu… lições aprendeu e lições nos deu. Doze apóstolos Ele escolheu. Também ensinou ao mundo o fervor e a gratidão. Pregou o amor ao próximo, a caridade por essência e a fé por excelência. E, mesmo sofrendo injustiça, traição e provação, Ele nos ensinou o ato do perdão. Falou de honra, de honestidade, de decência. Perdoou pecadores e nos preveniu a não julgar. Milagres foram testemunhados e pessoas Ele fez ressuscitar.

É dezembro! Compartilhemos afeto, encontros sob o mesmo teto, abraços apertados, doce predileto, a vida, a união da família às vezes esquecida…

“O Natal Existe — Quero ver você não chorar, não olhar pra trás, nem se arrepender do que faz. Quero ver o amor crescer, mas se a dor nascer, você resistir e sorrir…” (Edson Borges, O ”Passarinho”)
E que seja assim, no ciclo que se reinicia. Chorar, só de alegria! Renovam -se as esperanças de “…que tudo se realize no ano que vai nascer…” (David Nasser / Francisco Alves)

Feliz Natal! E que Jesus possa renascer todos os dias em seus corações.

 

*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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Nossos finados

por Convidado 6 de novembro de 2024   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Eu me sentei para escrever esta pensata (registro por escrito dos pensamentos de um autor sobre um tema), com a ideia de falar do espírito e da alma. Mas fiquei triste e me bateu o desânimo. Eu me penitencio. Ainda trago o luto e saudade de meus pais de forma muito presente. Ontem, havia a casa de mãe e de pai, que é algo acolhedor. A alegria dos encontros, as conversas animadas, o cafezinho e o bolo feitos por minha mãe nos proporcionava momentos de muita felicidade. Nada vai suprir as faltas e o aconchego de um abraço e de um beijo — que eu  tinha muito medo que um dia acabasse. Ainda sinto o cheiro dos perfumes deles. Ouço seus timbres, repito gestos, hábitos e palavras, sem perceber a semelhança que tenho com aqueles que me criaram. E, hoje, são apenas fotos em quadros que, com o tempo, nem serão percebidos. Eles partiram, e não são abraçados no dia dos pais, nem das mães. Agora, são lembrados em dia de finados. Que agonia!

A consciência de que “não somos”, e que apenas “estamos” nos choca.

E, já que “estamos” por aqui e falando em tristeza, ultimamente tenho ouvido e visto muita gente reclamando da vida e dizendo que está chato viver. Eu os compreendo; tem muita gente chata perambulando por aqui e “alugando nossos ouvidos”. Tudo é polêmico, proibido e cheio de melindres. A polarização política se tornou insuportável. Deveriam aproveitar que estão taxando tudo e criar multa para os “malas” — arrecadação garantida. Todavia, apesar de determinadas classes fazerem parte do nosso mundo, a vida não deixa de ser uma experiência maravilhosa. Mesmo havendo sofrimento, esta viagem, aqui nesta parte do cosmo, é um presente de Deus. Estou até pensando em convidar pessoas para reivindicarmos (palavra chata) a Deus mais tempo aqui na Terra. Pensei em um plebiscito. Não é justo viver menos de cem anos. Depois que um desinformado acelerou a rotação da terra, o ano passa em seis meses. Não sabiam? Observe como seu aniversário chega rápido. Basta ver que as árvores de Natal já estão nas lojas.

Daqui para frente ninguém quer fazer treinamento. Dizia um amigo, que consultor empresarial tem três meses de férias: dezembro, janeiro e fevereiro, mas sem receber nada. Também dizia que trocavam de carro todo final de ano. Mas por um mais velho. Não riam!

É fato que o ano terminou. O pensamento e as ações estão voltados apenas para os presentes, para os consequentes endividamentos do cartão e para o Papai Noel. Pensei até em me candidatar e fazer “um bico”. Mas será muito sacrificante ficar com criancinhas inocentes no colo, posando para fotos. Não tenho “barriga” para tanto.

Mudando de Papai Noel para Papai do céu (linda a linguagem do tempo da inocência), não seria difícil encontrar argumentos que corroborariam nossa vontade de aumentar a longevidade, considerando que tudo está mudando, e que não é democrático acelerar o tempo, sem antes ouvir os interessados.

Mas, cá entre nós, Deus não deve estar satisfeito com os estragos que estamos fazendo na Terra. Melhor deixar quieto.

Sérgio Marchetti

*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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Tudo começou com um olhar

por Convidado 15 de outubro de 2024   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Um dia que já vai longe, registrado numa página do passado, estávamos reunidos, eu e outros jovens, quando alguém me perguntou qual era a parte do corpo de uma mulher de que eu mais gostava. As meninas, naquele instante, atentas, voltaram toda a sua atenção para mim, enquanto os homens mantinham meio sorriso em seus lábios e muita besteira em suas cabeças. Para surpresa de todos, disse que era dos olhos que eu mais gostava. Obviamente que a zombaria foi grande e as risadas vieram como um furacão, mas não me atingiram.

Eu sabia o que todos estavam pensando. Entretanto, confirmei minha escolha dizendo que a linguagem do olhar é a forma mais real e sincera para a comunicação de uma pessoa. Os olhos se comunicam mais do que as palavras, porque nos indicam emoções, ódio, tristeza, beleza e desprezo que vêm do fundo da alma.

Charles Chaplin confirma minha tese. Foi um gênio que conseguiu fazer, no cinema mudo, a melhor e mais expressiva forma de comunicação através do olhar. Emocionou o mundo, sem precisar dizer uma só palavra. Sua habilidade de comunicar com o olhar foi algo que transcendeu os limites culturais e linguísticos.

O corpo fala mais do que a boca, e olhos são seus porta-vozes que, com uma fidelidade irrefutável, exteriorizam a verdade. Um olhar demorado, quando correspondido, diz mais do que um beijo. O primeiro fala a linguagem do amor e o segundo a do prazer. Mas o amor é bem mais duradouro. Fernando Pessoa com “O olhar velado” indica visões diferentes ao olhar o mundo. Filósofos, seresteiros, poetas, pintores, religiosos, néscios e namorados falaram do olhar com tantas roupagens e de forma tão magnificamente metafórica que os olhos se tornaram uma referência. Olhar de esguelha, triste, iluminado, colorido, de ternura, avermelhado, olhos que sorriem, olhos que iluminam, olhar de choro, da cor do mar, de paixão (quase estrábico), olhar de repreensão (antigamente os pais olhavam e a criança já sabia que estava errada). Era o olhar chamado de efeito Mona Lisa porque aonde a criança fosse, a mãe estaria de olho.

Mas é triste constatar a diferença entre o brilho dos olhos de um jovem e o olhar desbotado de um idoso. Efetivamente são indicadores aferidos com precisão. Renato Teixeira, num momento mágico e bençoado, diz: “- (…)como eu não sei rezar/, só queria mostrar/ meu olhar, meu olhar, meu olhar(…)”

Quando a luz da juventude brilhava em meu olhar, tendo sido agraciado por Deus, tive a oportunidade de conhecer olhares apaixonados e sedutores que me causavam taquicardia. Foi assim que aconteceu com tantas pessoas. Tudo começou com um olhar…

Sérgio Marchetti

*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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Setembro

por Convidado 16 de setembro de 2024   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Quando era criança (não vou dizer onde) com cinco anos de idade, eu tive um tio, ainda muito jovem, que nos levava, a mim e a meu irmão de seis anos, para passear, comer doces e sempre, mesmo com frio, nos presenteava com os picolés de groselha. Era filho carinhoso, irmão dedicado, tio zeloso e amigo presente. Goleiro do América de Barbacena, habilidade que eu e meus irmãos herdamos dele.  Considerado alto para a época, com seus 1,88m, fez sucesso com suas atuações em partidas do campeonato local. Era poeta e adorava La vie en rose, cantada por Edith Piaf. De tanto ouvir, aprendi a gostar.

Morávamos em frente à Escola Agrícola Federal. Meu tio, sabendo que gostávamos de novidade, nos levou para um piquenique naquela escola. E, como dizem que o melhor da festa é esperar por ela, na noite anterior nem dormimos direito. E as merendas… doce de goiabada, bolachas, doce de leite, Nescau, sanduíche e guaraná. E nada disso fazia mal.

Na saída, tio José perguntou se passaríamos a semana no passeio, pois a “matula” estava grande. Não me lembro de ter sobrado nada. Vimos búfalos, gansos, vacas, cavalos, muitas hortas, flores e salas de aula bem equipadas. Afinal, tratava-se de uma escola de ensino agrícola para internos. À tarde, quando regressamos, nossa mãe nos esperava com um abraço inexplicavelmente carinhoso que só mãe sabe dar.

Tivemos que descrever todo o passeio e ainda dizer se fomos obedientes. Fomos sim, mas meu tio jamais diria o contrário, devido ao amor que sentia por nós. E, ao nos despedirmos, ele nos prometeu passear na estação para ver os trens chegarem. Tínhamos trens de passageiros, sim, leitores mais jovens.

Alguns dias depois, veio a visita à estação. A plataforma era e é imensa, até hoje. Apitos fortes anunciavam que um trem estava chegando, enquanto outro saía. Tio José, apesar de atento a tudo, teve um descuido e eu, curioso que era (não sou mais), como disse o policial da estação, adentrei pela porta do corredor e evadi pela plataforma de saída. Ouvindo aquela declaração, o pobre José pegou meu irmão pela mão e saiu desesperado, com lágrimas nos olhos e um fardo de responsabilidade pesando uma tonelada.

Não morri. Fiquem tranquilos, preocupados leitores. Mas poderia. Atravessei o trilho e quis ver como era o vagão do trem. Um fiscal segurou minha mão e esperou pelo resgate. Disse que o que fiz era muito perigoso e que aquele fato jamais deveria se repetir. Voltamos para casa silenciosamente, enquanto meu tio procurava encontrar palavras que narrassem o acontecido, sem que fosse repreendido por meu pai; porque carregava a certeza de que meu irmão iria tagarelar sobre o fato. Ao chegarmos, meu irmão tagarelou e meu pai quase arrancou a minha orelha.

Desde que nascemos, nosso tio esteve conosco, inclusive ajudando a nos dar mamadeira. Mas novos dias vieram e ele não voltou. Sentimos sua falta, perguntamos à nossa mãe por que ele não veio nos ver. Mamãe, com olhar perdido, nos disse que ele inventou uma brincadeira de se esconder, e que talvez não viesse mais. E não veio. Chorei, fiz pirraça… e ele não veio.

Foi num setembro, que ainda não era amarelo, que meu amado tio, aos 24 anos, tirou sua própria vida.

 

*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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Qual é o seu papel?

por Convidado 14 de agosto de 2024   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Tem dias que parecem noites. Já ouviram esta expressão, atentos leitores? Filósofos antigos, com destaque para Heráclito (500 a.C. – 450 a.C.), diziam que o mundo é algo mutante e que tudo muda o tempo todo. Não há como discordar do grande pensador, haja vista os cenários atuais que registram, todos os dias, um palco de mudanças e transformações como nunca antes visto na história deste país, digo, mundo (frase profunda). Desde que o mundo é mundo, somos sistêmicos. Sim, somos parte de um sistema, um fragmento perante o cosmos, e somos, nós mesmos, um corpo, cujo sistema biológico nos permite viver. Diante da óbvia constatação, começamos a entender que, embora sejamos quase insignificantes, podemos fazer a diferença por intermédio de nossas atitudes perante o mundo. E aí, quem sabe, o dia deixe de parecer noite.

A ruptura de um sistema, sem medir as consequências, é como, por estética, retirar uma coluna de uma construção, sem saber que todo o prédio irá ruir. Quando era criança (lá em Barbacena, claro), brincávamos com aquele jogo de varetas que é um bom exemplo do sistema. Caso tirássemos a vareta errada, todas as outras cairiam. Na sociedade formada por castas e células, algumas pessoas ignoram as leis, a ordem e o sistema, e se colocam num patamar elevado, assistindo a vida de camarote e usufruindo de prazeres que matariam Aristipo (435 a. C – 356 a.C.), filósofo grego, de inveja e, Zeus, o deus mitológico, de raiva, por se igualarem a ele. E quantos desses pseudos-deuses chegaram ao Olimpo à custa do sacrifício de outros tantos?

A própria neurociência, tão em voga, traz a máxima da neuroplasticidade, ou seja, nenhuma ação no corpo humano ocorre de maneira isolada. Um órgão com uma doença afeta e é afetado por outros órgãos. E o mundo?

No universo, quando as regras são quebradas e as leis infringidas, seja na sociedade ou na própria vida, o sistema sofre uma interrupção, uma pane e afeta um todo. Quando duas pessoas dormem juntas e uma puxa o cobertor, a outra parte fica descoberta. O sistema verdadeiro exige parceria, empatia, divisão, compreensão, conscientização, compaixão, sabedoria, solidariedade e responsabilidade, entre outros atributos.

Quando a floresta queima no Brasil, o mundo todo é afetado. Quando pessoas sem escrúpulos governam, todo sistema é afetado. Quando a ganância e o ódio transformam tantas pessoas em sociopatas, toda a sociedade é afetada.

Convido-os para pensar sistemicamente.

 

*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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Rir ainda é o melhor remédio

por Convidado 8 de julho de 2024   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Dizem que para escrever é necessário ter inspiração, mas quando ela não vem, não há remédio que resolva. E, falando em remédio, outro dia comentávamos numa roda de conversa informal sobre pessoas que adoram fazer compras na farmácia. E, de imediato, me veio à mente a lembrança de um primo que tinha uma drogaria em casa, mas era advogado. Utilizava um fluxograma que funcionava bem. Vou explicar: ele tomava um remédio para dor, mas na bula dizia que carregava o fígado, então, logo depois, ele ingeria outra droga para o fígado que, por sua vez, gerava um efeito colateral no pulmão e o obrigava a usar uma bombinha que dava taquicardia… obviamente que tomava um medicamento para regular as batidas do coração. E assim, mantinha uma roda viva de remédios. Mantinha … porque faleceu. E, apenas como consolo, não houve remédio para salvá-lo. E “o que não tem remédio, remediado está” — frase que retrata o pensamento estoico de aceitação da realidade.

Um amigo, ouvindo a história, me contou que recentemente estava com uma cefaleia incômoda e decidiu consultar um médico muito idoso que, inicialmente, realizou uma anamnese completa. Mas, quando prescreveu a receita, o amigo estranhou os remédios: Cafiaspirina ou Cibalena para a dor de cabeça, chá de erva-doce, Raiz Valeriana e Elixir de Nogueira, dizendo que são muito bons para dormir e acalmar a ansiedade.

A consulta foi diferente da maioria dos atendimentos praticados atualmente em consultórios médicos. Mas os remédios são extremamente antigos. Perguntei ao amigo se não havia prescrição para Biotônico Fontoura e Emulsão de Scott. Aliás, este último, feito de óleo de fígado de bacalhau foi um trauma na minha infância. Chega a me causar náuseas só de pensar. Detestável também era o Leite de Magnésia de Phillips.

Enfim, rimos da receita, porém, por incrível que pareça, muitos daqueles remédios ainda estão à venda.

A partir daí, começamos a recordar nomes de remédios antigos. A lista é vasta. E, ao abrir a caixinha do cérebro, descobrimos, ao contrário de Pandora quando abriu sua caixa, que há uma infinidade de nomes guardados no fundinho da estante, na gaveta do cérebro e, o que é mais fascinante, é que ressurgem em nossas mentes, nomes antes esquecidos pelos canais da memória. E vêm Melhoral, Aspirina, Iodo, Merthiolate (era nosso terror porque ardia mais do que o ferimento), Mercúrio, Auris Sedina para dor de ouvido, Corifina para acabar com a ronqueira, Adelgazan para a obesidade; Pasta Medicinal Couto para estomatite e gengivas descarnadas, Vick VapoRub que serve para tudo até hoje. Alka Seltzer para acidez e indigestão. Pomada Minâncora, Creme Nívea, Licor de Cacau Xavier (poderoso vermífugo) e, para perfumar as damas, Cocaína En flor. Isso mesmo!

Leitor saudosista, caso a leitura tenha ficado cansativa, pingue duas gotas do Colírio Moura Brasil e sorria, porque rir ainda é o melhor remédio.

Credito: Museum of Health Care at Kingston

 

*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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por Sérgio Marchetti*

Quando eu era uma criança (em Barbacena), acreditava que o bem sempre venceria o mal. Era uma criança pura, nascida no tempo da inocência, crescendo sob uma educação rígida e exigente de valores éticos e morais. Ser honesto não era uma honra. Não ter conduta honesta é que era uma aberração. Prezados leitores mais jovens, tudo era natural, real e orgânico. A mentira tinha pernas curtas e o mentiroso era taxado de desonesto. Os políticos corruptos costumavam comprar no máximo um sítio ou uma casa com o dinheiro das propinas de uma vida inteira. As ditas “mordomias” — abusos de políticos aproveitadores — eram uma gota d’água no oceano se comparados com os abusos hiperbólicos de hoje em dia. E o povo se rebelava, ao invés de aplaudir, como fazem hoje. Mais que o dinheiro, valia o nome da pessoa. Por isso, ainda carrego comigo o orgulho de ser íntegro. As leis eram sagradas e a natureza muito mais preservada. Existia um receio de transigir nos costumes. Havia respeito, fosse de serra, de terra e de mar, como no título da canção de Vandré. […]“Mas um dia tudo mudou, a vida se transformou e a nossa canção também”.

Maquiavel plantou a oficina do diabo e teve seu pensamento furtado e transformado em ação: “os fins justificam os meios”. Era o estímulo que faltava, a desculpa para ser desleal. A hipocrisia, hoje, uma característica fortíssima presente em tantos perfis profissionais, era discreta e muito mais combatida.

O mundo evoluiu (?), e os adeptos pouco pensantes, no ímpeto de transformarem a sociedade, desconsideraram etapas, regras, ética, o uso da verdade, estudos e as leis, inclusive as da própria natureza.

Todo “efeito” é gerado por “causas”. Plantar e colher é a lei. E o resultado está aí, estampado agressivamente na cara das pessoas. O homem se torna mais desumano a cada dia. A crueldade vista no Helenismo, nas antigas guerras da Era Romana, na União Soviética, Alemanha parece ter sido introjetada na sociedade atual.

Não por acaso, a natureza se desequilibrou. Tem a mão do homem em quase todas as catástrofes do meio ambiente. No pantanal do Mato Grosso, a seca inviabiliza a vida dos fazendeiros e pescadores. No Rio Grande do Sul, as águas, fora de estação, destroem um território vasto, lindo, que abastece outros estados com sua agricultura. Nos EUA os tornados atingem velocidades altíssimas. Na Alemanha enchentes, no México gelo, entre outros fenômenos e reações fora de contexto, que somente se explicam pelo descaso do homem.

O Brasil ficou mais pobre, mais feio e mais triste. O povo gaúcho jamais voltará a ser como antes. As perdas são irreparáveis e a história está só começando. Os prejuízos são incontáveis, e tudo isso traz uma dúvida: depois de tantas constatações de nossas culpas, será que as pessoas vão mudar de atitude perante a preservação do planeta?

Muitas celebridades, por se julgarem semideuses, pensam estar protegidas de quaisquer tragédias e eliminam de seus sentimentos a solidariedade. Está faltando, acima de tudo, amor. Depois, o respeito, inclusive às crenças e valores que equilibram a sociedade.

Como exemplo, naqueles dias tórridos, não muito longe do sul, “Má-donna e Glomorra davam seu show, não de desrespeito, mas de um certo descaso, provocação e afronta.

 

*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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