As delações premiadas dos irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo empresarial JBS, feitas à Procuradoria Geral da República vieram a público na noite da quarta, 17/05. Causaram um enorme rombo político aos denunciados e geraram as mais diversas reações nos segmentos da sociedade brasileira. O estrago é maior devido ao nível documental das evidências objetivas apresentadas, que envolvem diretamente o impopular Presidente da República pós-impeachment da Presidente eleita em 2014 e o inconformado Senador que perdeu a disputa daquele ano.

O ponto que quero ressaltar é a grande ousadia dos políticos partidários em prosseguir com as mesmas piores práticas políticas que vem sendo questionadas com muito ímpeto desde as manifestações populares de 2013. Naquela ocasião, as reivindicações deixaram muito claro o que não se aceitava mais e como eram altas as expectativas por mudanças mais profundas no convívio social. O sistema político partidário em vigor para representar o povo em nome da democracia representativa dava sinais claros de seu esgotamento.

Apesar do susto trazido pelas manifestações de rua, quase nada de mais concreto foi feito em direção às mudanças reivindicadas. Em março de 2014 surgiu a operação Lava Jato, feita pela força tarefa do Ministério Público e da Polícia Federal, para investigar as tenebrosas transações da corrupção na Petrobras. Ficou claro que era apenas a ponta de um iceberg e que a relação entre corruptos e corruptores do setor público e privado tem padrões semelhantes muito bem difundidos. O que varia é só a intensidade e o volume de ganhos envolvendo os independentes e harmoniosos três poderes em todos os âmbitos.

Nunca faltam discursos enaltecendo a democracia representativa e o funcionamento pleno das instituições no estado democrático de direito. Mas a lenta justiça, que sabe muito bem como e para quem se manifestar, é apenas mais uma causa a incentivar a ousadia para se praticar atos com enorme probabilidade de ficarem impunes e serem garantidores do poder e da acumulação de riquezas a partir da privatização do Estado.

Portanto, as práticas corruptas contidas nas gravações feitas nos dias 7, 13 e 24 de março deste ano apenas demonstram o desprezo que seus protagonistas têm pela ética nas relações da sociedade e pela moral dos indivíduos. O que vale mesmo, diante da certeza da impunidade, é surfar no capitalismo sem riscos e deixar como sub-produtos da corrupção o desemprego, a recessão econômica, o estado de mal estar social, a crise política…

Enquanto os atos não tiverem consequências continuaremos a ter que conviver com a arrogância dos que têm duas caras, inclusive quando abusam de nossa inteligência ao justificar um ato corrupto como sendo algo de caráter pessoal e não inerente às duas caras do mesmo indivíduo.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 15 de maio de 2017   Curtas e curtinhas

Juntando votos para a Reforma da Previdência

A Comissão Especial da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados concluiu na terça, 09/05, a votação do substitutivo do deputado relator. O texto continha alguns recuos em relação ao inicialmente apresentado. Agora a previsão é que a votação do projeto em primeiro e segundo turno no plenário só ocorrerá em junho, podendo incorporar novas modificações em função das pressões políticas, desde que a base aliada do governo consiga garantir pelo menos de 320 a 330 apoiadores. A razão é muito simples. Uma emenda constitucional precisa de no mínimo 308 votos em cada votação para ser aprovada em plenário e, no momento, as principais lideranças estimam que aproximadamente só 250 deputados votariam na proposta na forma em que ela foi aprovado na Comissão Especial.

Como se vê, inclusive pelo desespero da campanha publicitária do Governo Federal, muitas liberações de verbas parlamentares e indicações de afilhados dos políticos para ocupar cargos públicos de recrutamento amplo ainda acontecerão. Além disso, em julho ocorrerão as férias dos parlamentares e depois que tudo for aprovado na Câmara será a vez do Senado Federal votar para aprovar intacto o projeto que receberá. Enquanto isso o impopular Presidente da República disse numa entrevista à TV Bandeirantes na quinta, 11/05, que “não será um desastre se a reforma da Previdência não passar”. Pelo visto ainda falta combinar com o Ministro da Fazenda, que continua discursando sobre a necessidade de se aprovar a Reforma o quanto antes. A conferir.

Renda comprometida

A Serasa Experian divulgou dia 9 de maio seu mais recente levantamento sobre a situação financeira de pessoas endividadas, num universo de cinco milhões de consumidores registrados em seu cadastro. Um dos aspectos do levantamento mostra que 69% das pessoas negativadas têm renda mensal de até R$2 mil. Desse total, 39% devem a bancos e cartões de crédito, 13% a financeiras, 12% a empresas de serviços, 9% ao varejo, 9% devem água, energia e gás e 18% a outros itens menores.

Tudo se complica mais com juros altos, perda de poder aquisitivo ou desemprego direto.

Aumento da tarifa de água

O IBGE divulgou que a inflação do período de maio de 2016 a abril de 2017 medida pelo IPCA ficou em 4,08%. Já a Agencia Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (ARSAE) fez audiência pública na sexta, 12/05, para discutir o modelo de revisão tarifária da Copasa para vigorar nos próximos 4 anos. O próximo aumento das tarifas, previsto para junho, deve ficar em torno de 4,1% a julgar pelas discussões da audiência. Também devem ser concedidos incentivos nas tarifas para novos projetos de tratamento de esgotos sanitários e repassados aos municípios 4% do lucro anual dos serviços de abastecimento de água nas localidades em que houver lucratividade, como já ocorre em Belo Horizonte. O jeito vai ser preparar o bolso.

Déficit publico federal

Um recente relatório do Tribunal de Contas da União mostra que o déficit público de 2017 pode chegar a R$185 bilhões ao invés dos R$139 bilhões aprovados pelo Congresso Nacional para o orçamento deste ano. Apesar das quedas na taxa básica de juros do Banco Central, a economia brasileira dá fraquíssimos sinais de recuperação e o reflexo imediato continua visível na baixa arrecadação dos tributos federais. Assim, o relatório do TCU estima que R$40,6 bilhões deixarão de entrar nos cofres na comparação com a receita prevista no orçamento e R$5,4 bilhões serão gastos além do que foi orçado para despesas. É bom lembrar que os déficits começaram em 2014 e continuam firmes pelo quarto ano consecutivo. A gestão continua fazendo muita falta onde a prioridade é só gastar.

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Tenho reiterado que gestão é o que todos precisam, mas que nem todos sabem que precisam. Alguns sequer admitem ter tal necessidade. Existem também aqueles que até conhecem alguns fundamentos da gestão, algumas de suas principais ferramentas e fazem pouco uso desse conhecimento. Trabalhar com um método de gestão exige também paciência, persistência, fatos, dados, foco, transpiração e muita disciplina das pessoas para fazer com que um processo alcance resultados positivos para todos os interessados.

No entanto, como a educação e o treinamento não têm a continuidade e a aplicação necessárias para realimentar a melhoria contínua dos processos, acaba sendo mais fácil deixar de lado o uso de fundamentos e a plenitude da aplicação do passo a passo de uma sequencia lógica.

Um bom exemplo disso está sendo dado nesse momento por muitos prefeitos municipais que, no quinto mês de seus mandatos, ainda não conseguiram definir com clareza quais são as prioridades de seus governos. Todos sabem dizer que a arrecadação do município está em queda, que as despesas são muito altas e que problemas não faltam. É nessa hora que continua fazendo falta o uso de um método para a solução de problemas e critérios para se definir prioridades em função da gravidade, da urgência e da tendência em função dos recursos humanos, materiais e financeiros existentes.

Um caso que pode ser usado como ilustração é o da Prefeitura de Belo Horizonte, com seu orçamento que conta com a arrecadação de R$10 bilhões em 2017. Desse valor aproximadamente R$5 bilhões estão reservados para o pagamento de quase 50 mil servidores ativos e 20 mil inativos e pensionistas. Isso sem falar nos terceirizados, que aparecem como despesas de custeio. Por outro lado a população reclama e exige soluções rápidas e permanentes para muitos problemas que tendem a se tornar crônicos. Sem muito esforço posso citar aqui a deficiência da iluminação pública, a quantidade de buracos nas vias públicas, os recursos insuficientes para as unidades da área da saúde, a baixa capacidade gerencial das unidades da prefeitura municipal, os parques municipais fechados durante a semana, a mobilidade urbana gritando por melhorias – principalmente nos horários de pico, os moradores de rua, os camelôs buscando espaço, os desempregados querendo emprego, a insegurança, a violência, as ocupações urbanas pró-moradia…

Diante de tantos problemas – e de tanta urgência – quando serão definidas de maneira metódica e criteriosa as prioridades para o gasto dos R$5 bilhões restantes do orçamento anual? Continua valendo, e não pode ser esquecido, o fundamento da gestão que nos ensina que onde tudo é prioritário, nada é prioritário, inclusive para a nossa vida pessoal e familiar.

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Desmarcado o encontro marcado

por Luis Borges 10 de maio de 2017   Pensata

Vez por outra fico sabendo que alguma família de pequeno, médio ou grande porte marcou um encontro para comemorar algo bastante relevante para os seus membros. Dessa vez foi o caso da família de Dona Cotinha, professora primária aposentada, que completará 80 anos de idade no próximo dia 4 de junho.

Dona Cotinha nasceu em Montes Claros mas reside em Belo Horizonte desde mocinha no bairro dos Funcionários. É viúva do senhor Tunico da contabilidade, que foi funcionário do alto escalão da Receita Estadual. O casal teve 5 filhos, sendo homens os 3 primeiros e mulheres as duas últimas que, aliás, são gêmeas univitelinas. Enquanto o primogênito se aproxima dos 60 anos as gêmeas acabaram de completar 54. Todos se casaram e continuam firmes nos respectivos casamentos dos quais já vieram 12 netos e 5 bisnetos.

A ideia de comemorar a data de maneira bastante marcante foi do filho primogênito, ao final da ceia de Natal do ano passado, e foi prontamente aprovada por todos os presentes. Logo em seguida e diante do contagiante entusiasmo ficou acertado que o coordenador do encontro seria o filho do meio que, aliás, tem a síndrome do filho do meio, razão quase natural para a sua escolha. Imediatamente ele comunicou que criaria um grupo de WhatsApp para apresentar, receber e discutir ideias com todos após o Ano Novo.

E assim, já no dia de Santos Reis o grupo entrou em atividade, com a participação dos filhos, filhas, genros, noras, netos, netas, mas sem Dona Cotinha. Como acontece em muitos grupos dessa natureza não foi definida nenhuma regra de participação. Essencialmente a ausência de critério tornou válido qualquer critério que viesse a ser usado pelos membros do grupo. As sugestões sobre que tipo de evento comemorativo deveria ser feito começaram a surgir rapidamente. Dois filhos queriam fazer um lauto café da manhã e um almoço típico da cozinha mineira precedido de alguns aperitivos. As filhas gêmeas queriam um jantar à luz de velas com início às 21:00 horas. Já um dos genros defendeu ardorosamente a realização de um churrasco com carnes de boi, porco, frango e javali. Duas noras sugeriram que todos deveriam se hospedar num hotel fazenda na grande Belo Horizonte onde chegariam no sábado pela manhã e sairiam no finalzinho da tarde do domingo 4 de junho.

O clima no grupo de WhatsApp começou a esquentar na medida em que cada proponente defendia sua proposta com unhas e dentes, ao mesmo tempo em que criticavam as outras propostas. No final de fevereiro os ânimos estavam tão acirrados pela disputa que a neta mais velha sugeriu que todas as propostas fossem retiradas da discussão para que sua avó opinasse sobre o que ela gostaria que fosse feito. Surpreendidos pela proposta e não sem resistência, acabaram decidindo por consultar Dona Cotinha, que pediu um tempo para pensar.

O tempo foi passando e nada de uma resposta. Até que no dia 20 de março, chegada do outono, ela falou sobre o que gostaria de fazer. E foi direto ao ponto dizendo que, diante da incapacidade da família para chegar a um consenso, ela preferia receber o dinheiro que seria gasto no encontro que parecia impossível. Disse também que esse dinheiro seria juntado a uma pequena parte da sua caderneta de poupança para financiar sua ida a Montes Claros, onde quer passar o dia 4 de junho em companhia de sua única irmã, por sinal mais velha que ela, da maneira mais simples possível.

Até o momento a decisão de dona Cotinha está mantida, enquanto os membros da família tentam entender quem são os culpados pela situação a que chegaram. Pena que eles querem discutir apenas os efeitos e não as causas que os geraram.

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Vale a leitura

por Luis Borges 4 de maio de 2017   Vale a leitura

Rebaixar o currículo

A necessidade de sobrevivência imediata pressiona muitos candidatos que buscam oportunidades de trabalho a entender mais rapidamente as causas de seus insucessos nos processos seletivos. Muitos deles acabam percebendo que é preciso gerenciar o currículo, apresentando apenas as competências e habilidades mais voltadas para o nível da vaga aberta, principalmente após terem perdido oportunidades em que seus atributos estavam muito acima das expectativas do contratante. O que fazer diante desse tipo de necessidade? É o que aborda a BBC Brasil no artigo Esconder qualificações no currículo: a tática para conseguir emprego que floresce na crise.

“Assumir um cargo com currículo muito acima do necessário implica certos riscos, apontam especialistas em mercado de trabalho.

O primeiro é a dúvida – muitas vezes legítima – da empresa sobre o porquê da candidatura, e a suspeita de que o profissional deixará o emprego tão logo consiga algo melhor.

O segundo é o receio de que o funcionário se desmotive rapidamente ou fique ansioso por uma promoção que a empresa não pode oferecer”.

Valor da aposentadoria

Apesar da grande discussão sobre a Reforma da Previdência, ainda que nem sempre haja muita profundidade ou mesmo transparência suficiente nos números oficiais apresentados, uma dúvida que sempre fica no ar é se o valor da aposentadoria será suficiente diante de tantas necessidades. Dessa dúvida só ficam de fora os servidores públicos que recebem supersalários.

O desafio será sempre no sentido de se conseguir guardar um pouco do que se conseguiu ganhar durante algumas décadas da vida. Mas como tornar isso possível? Márcia Dessen mostra um caminho em seu artigo Poupar deixou de ser uma escolha.

“O valor que investimos hoje para a aposentadoria é determinante para acumular um montante maior ou menor no futuro. Além do valor, é importante que seja frequente, todos os meses. Não espere sobrar, não vai sobrar. O desafio será poupar para o futuro sem nos privar do bem-estar no presente.”

A nova classe trabalhadora

A emergência de uma nova classe trabalhadora é permeada por especificidades nem sempre bem observadas, como revela a mais recente pesquisa da Fundação Perseu Abramo sobre a periferia de São Paulo. Assim começa o artigo Os valores da nova classe trabalhadorade Marcio Pochmann, Presidente da Fundação, ao analisar e tirar conclusões sobre os resultados apresentados pela pesquisa. Pochmann encerra seu artigo publicado pela Folha de S. Paulo afirmando que:

“A ascensão pelo trabalho e o sucesso pelo mérito combinam-se com os valores mais coletivistas relacionados à atuação do Estado e à ampliação da inclusão social. Esse novo caldo exigirá renovações tanto na forma quanto no conteúdo das políticas públicas!”

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 2 de maio de 2017   Curtas e curtinhas

A desenvoltura do contrabando

Um levantamento feito pelo Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade mostra que o Brasil perdeu em torno de 345 bilhões de reais entre 2014 e 2016 devido ao contrabando de bens. Só em 2016 a perda foi de 130 bilhões de reais. A estimativa de perdas foi calculada em função das projeções sobre a sonegação de tributos e a ocupação de fatias do mercado por bens que substituíram outros que poderiam ter sido fabricados no país. Fazem parte das análises os setores da economia que trabalham com brinquedos, cigarros, medicamentos, combustíveis, TV por assinatura, software e vestuário. Dá para se imaginar como é grande a economia informal ou invisível no país onde impera a corrupção.

Os lucros da Vale e do Bradesco

Enquanto a economia brasileira começa a dar tímidos sinais de que pode crescer um pouquinho até o final do ano, a Vale anunciou que teve um lucro líquido de R$7,891 bilhões no primeiro trimestre do ano. Esse valor é 25% superior ao obtido pela empresa em igual período do ano passado. Entre as causas desse resultado estão, segundo a direção da empresa, o aumento da produção de ferro nas minas do Pará e a melhoria da cotação dos preços internacionais da tonelada do minério.

Já o Bradesco, que através da Bradespar possui 21,2% das ações da Vale, anunciou que foi de R$4,6 bilhões o seu lucro líquido no primeiro trimestre desse ano. E o capitalismo brasileiro prossegue no seu caminho rumo à concentração da renda.

Lixões intactos

Estava ganhando desenvoltura durante o mês de abril uma articulação na Câmara dos Deputados, iniciada pelo líder do governo, com o objetivo de aprovar uma anistia para os mais de 3 mil lixões existentes em municípios brasileiros. Segundo a legislação em vigor, contida no Plano Nacional de Resíduos Sólidos, esses lixões deveriam ter sido eliminados até o ano de 2014. A iniciativa perdeu fôlego após a revelação dos diversos nomes de parlamentares que fazem parte da lista de beneficiários de doações da construtora Odebrecht. O que acabou ganhando prioridade máxima foram as negociações governamentais em torno da Reforma da Previdência Social, da Reforma Trabalhista, da Lei de Terceirização do Trabalho, da Lei do Abuso de Autoridade e da discussão do foro privilegiado para políticos partidários e autoridades.

Entretanto os defensores da sustentabilidade ambiental não podem se descuidar, pois assim que a poeira baixar as mesmas articulações voltarão à tona. Basta lembrar da tentativa de anistia ao caixa 2 de campanhas eleitorais.

Greve nos correios

Você tem alguma reclamação sobre a prestação de serviços da Empresa de Correios e Telégrafos? Eu tenho e elas se referem aos constantes atrasos na entrega de contas, impressos e encomendas via Sedex. Agora tudo só tende a piorar em função da greve nacional dos funcionários da empresa, iniciada dia 26 de abril. A pauta de reivindicações inclui um “não” à privatização da empresa, ao fechamento de agências e às demissões de funcionários. E agora José – mais precariedade à vista para os usuários dos serviços da empresa.

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Canção do sal

por Luis Borges 1 de maio de 2017   Música na conjuntura

Cada dia do ano é dedicado a alguém, a alguma profissão ou mesmo a um determinado santo ou motivo.  Mas inegavelmente o Dia do Trabalhador, 1º de maio, mexe bastante com a sociedade em função do significado e do impacto que o mundo do trabalho e suas relações têm na vida de todos.

Neste ano de 2017 chegamos à data com a aprovação da proposta de Reforma Trabalhista pela Câmara dos Deputados e que agora passa a aguardar a votação no Senado Federal e posteriormente a sanção do Presidente da República. Ela veio precedida pela aprovação da Lei da Terceirização do trabalho e marcada pelo regime de urgência para a sua votação. A sensação é que dela também depende a salvação da pátria, como se ela, por si só, muito ajudasse a fazer cair a quantidade de brasileiros desempregados, hoje em torno de 14 milhões.

Também vale realçar a greve nacional de 28 de abril protestando contra a Reforma Trabalhista e notadamente contra a Reforma da Previdência Social, tida como outra salvadora da pátria e colidindo com várias conquistas de muitas categorias profissionais notadamente das altas castas do serviço público. O momento exige intensificação das mobilizações populares para aumentar a pressão sobre o desmoralizado e decadente Congresso Nacional na expectativa de que a movimentação das redes sociais se transforme em algo mais concreto na ruptura do silêncio que ainda permanece nas ruas.

Mesmo com a pauta que se coloca para a luta dos trabalhadores brasileiros nesse momento de condições adversas, com a brutal perda do poder aquisitivo dos salários em função da recessão econômica dos últimos anos, vale a pena refletir um pouco sobre a origem da palavra salário.

Segundo a Wikipédia:

“o trabalho antigamente era pago em proteção, abrigo ou em mercadoria, esta mercadoria por sua vez, era o sal. Salário deriva do latim salarium, que significa “pagamento de sal” ou “pelo sal”. O termo vem do antigo Império Romano, pelo fato que o sal valia como seu peso em ouro, pois ele era antigamente uma das poucas maneiras para preservar a carne”.

Para concluir essa abordagem sobre o dia do trabalhador me lembro da Canção do Sal, música composta por Milton Nascimento em 1967, portanto há 50 anos, e que faz parte do disco Travessia, o primeiro da sua brilhante carreira. Ouça aqui Canção do Sal na voz de Elis Regina.

Canção do Sal
Fonte: Letras.mus.br

Trabalhando o sal é amor é o suor que me sai
Vou viver cantando o dia tão quente que faz
Homem ver criança buscando conchinhas no mar
Trabalho o dia inteiro pra vida de gente levar

Água vira sal lá na salina
Quem diminuiu água do mar
Água enfrenta sol lá na salina
Sol que vai queimando até queimar

Trabalhando o sal pra ver a mulher se vestir
E ao chegar em casa encontrar a família sorrir
Filho vir da escola problema maior é o de estudar
Que é pra não ter meu trabalho e vida de gente levar.
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Imposto sobre a renda?

por Luis Borges 28 de abril de 2017   Pensata

Felizmente está chegando ao fim a fase mais cansativa da entrega da declaração do Imposto de Renda da pessoa física, marcada para se encerrar às 23h59min deste 28 de abril.

Como ocorre todos os anos é muito grande a falação nos principais meios de comunicação em torno do tema. Tudo começa a aquecer quando a Receita Federal anuncia a liberação do programa do rascunho da declaração, prossegue com o anúncio do programa que será usado, geralmente com uma pequena novidade justificada como aperfeiçoamento do modelo, e tudo vai se intensificando com a proliferação de dicas, esclarecimento de dúvidas, cuidados com as informações corretas, multas em casos de atraso na entrega da declaração, riscos de se cair na temida malha fina… Tem também os bancos oferecendo antecipação da restituição mediante aceitação de suas gulosas taxas de juros.

Fico imaginando para quê tanto cansaço para cima de nossas cabeças , a começar pelo equívoco de se taxar os salários como se eles fossem uma renda. Fica tudo muito desigual quando se verifica que o valor do trabalho assalariado é proporcionalmente muito mais pagador de tributos do que os ganhos de renda gerados com a aplicação de recursos financeiros.

Também são assustadores os níveis de detalhes e os cruzamentos de dados possíveis em função da integração de fontes do sistema. Tudo isso diante do baixo poder aquisitivo dos salários, da obrigatoriedade de fazer a declaração para quem tem receita anual líquida acima de R$28.559,70 e, é claro, se a pessoa não fizer parte dos milhões de desempregados ou dos sobreviventes da economia informal.

O contraste é grande quando comparamos todo esse rigor no controle das formiguinhas enquanto passam manadas de elefantes na forma de propinas do caixa 1 e do caixa 2 dentro e fora do Brasil, numa perfeita relação ganha-ganha entre corruptos e corruptores lastreada com o dinheiro público, aí incluídos os recursos oriundos do imposto de renda. Só se fala com a maior naturalidade em milhões e bilhões de reais como se o arrependimento e uma delação fossem suficientes para anistiar todos os crimes cometidos.

É incrível perceber que órgãos arrecadadores, controladores, auditores de contas públicas e vigilantes do cumprimento das leis não tenham conseguido perceber praticamente nada muito relevante ao longo dos últimos 30 anos. Será que a Receita Federal, o Comitê de Acompanhamento Financeiro (COAF) do Ministério da Fazenda, os Tribunais de Contas e o Ministério Público estão cumprindo as suas missões institucionais ou só agora estão percebendo que existem mais que simples aviões de carreira entre o céu e a terra? Ou será que alguém ainda vai querer recitar o preceito constitucional de que “todos são iguais perante a lei”?

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O recolhimento do lixo domiciliar no bairro de Santa Tereza é feito durante a noite das segundas, quartas e sextas-feiras. O serviço é feito por uma empreiteira terceirizada pela Superintendência de Limpeza Urbana da Prefeitura.

Como ainda existe um pouco de falta de educação sanitária e também de autodisciplina por parte de alguns moradores e comerciantes do bairro é comum se verificar a presença de lixo nas calçadas que são ali colocados fora dos dias e horas pré-estabelecidos. A incidência acaba sendo maior aos sábados e domingos, devido ao espaço de três dias que separam a coleta da sexta e a da segunda-feira.

Foi nesse contexto que surgiu no bairro um grupo de três pessoas oferecendo aos moradores e comerciantes um dispositivo feito com estrutura metálica para receber o lixo enquanto o caminhão não passa. A abordagem feita aos moradores enfatizava o apoio da Prefeitura Municipal à iniciativa e insistia na instalação do dispositivo na calçada numa altura de um metro acima do piso. Alguns moradores perguntaram se o serviço seria bancado pela Prefeitura e só aí ficaram sabendo que tratava-se de negócio privado, sem vínculo com o poder executivo municipal. O preço ofertado foi de R$130,00 por unidade, nele já estando incluída a instalação na calçada. Também existia a possibilidade de negociar um desconto para pagamento à vista. Outro questionamento que os vendedores ouviram foi sobre a pouca largura das calçadas e os transtornos causados aos pedestres em função do estado de conservação e dos obstáculos nelas existentes, como buracos, grades e entradas de garagens. O que ninguém contestou foi o transtorno causado pelo lixo colocado na calçada, deixado de qualquer maneira e a qualquer hora.

Enquanto o problema continua sem solução e dependendo das pessoas, a paisagem foi modificada em muitas vias do bairro, como mostrado nas fotos deste post. E já tive conhecimento de que já existem alguns poucos moradores verbalizando na fila da padaria que se arrependeram da aquisição feita há menos de um mês.

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Desenredo

por Luis Borges 24 de abril de 2017   Música na conjuntura

A história oficial registra que o descobrimento do Brasil se deu no dia 22 de abril de 1500, quando as caravelas do navegador português Pedro Álvares Cabral chegaram ao litoral sul do hoje estado da Bahia tendo o local recebido o nome Monte Pascoal. Entre os historiadores existem aqueles que defendem a tese de que a frota de Cabral desviou-se intencionalmente de sua rota original rumo às Índias para chegar ao Brasil. Outros defendem que foi por mero acaso a mudança da rota enquanto alguns poucos afirmam que Portugal já havia descoberto o Brasil antes desta data.

O fato é que aqui estamos, 517 anos depois do ocorrido e registrado, começando como colônia portuguesa até chegar a atual República Federativa do Brasil. Diante de tantos problemas que enfrentamos hoje, como a corrupção institucionalizada, justiça lentíssima, grande concentração de renda nas mãos de poucos, democracia essencialmente representativa… Apesar de tudo prosseguimos em nosso realismo esperançoso acreditando na capacidade de mudança que existe nos brasileiros, ainda que de maneira desigual, mas passível de ser combinada em prol de um bem estar maior e mais digno para todos.

Enquanto vamos jogando paciência e sobrevivendo acumulando forças, que tal cantar (e refletir) a música Desenredo (G.R.E.S – Unidos do Pau Brasil),  composta por Luiz Gonzaga Júnior e Ivan Lins em 1979, aqui na voz de Leila Pinheiro?

Desenredo
Fonte: Letras.mus.br

No dia em que o jovem Cabral chegou por aqui ô ô 
Conforme diversos anúncios na televisão
Havia um coro afinado da tribo tupi
Formado na beira do cais cantando em inglês 
Caminha saltou no navio assoprando
Um apito em free bemol
Atrás vinha o resto empolgado da tripulação 
Usando as tamancas no acerto da marcação 
Tomando garrafas inteiras de vinho escocês

Partiram num porre infernal por dentro das matas ô ô
Ao som de pandeiros, chocalhos e acordeon
Tamoios, Tupis, Tupiniquins, Acarajés ou Carijós, sei lá 
Chegaram e foram formando aquele imenso cordão
Meu Deus, quibão
E então de repente invadiram a avenida central, 
mas que legal!
E meu povo vestido de tanga adentrou ao coral 
Um velho cacique baiano sacou do piston
E deu como aberto em decreto mais um carnaval

A assim a 22 daquele mês de abril
Fundaram a escola de samba
Unidos do Pau Brasil.
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