Sabemos da biologia, mais especificamente da zoologia, que a ecdise é basicamente uma troca de pele que acontece na vida de diversos animais, que sempre buscam tirar um melhor proveito nesse processo de metamorfose.

Guardadas as devidas proporções, digamos que algo análogo está acontecendo nesse período de um mês, cuja contagem se iniciou em 7 de março, conhecido como janela partidária. Esse período tem como uma de suas principais características a possibilidade dos parlamentares trocarem de partidos políticos sem correr o risco de perderem o mandato. Afinal de contas o mandato pertence ao partido e, fora dessa data, só com muito conchavo o parlamentar não perde o mandato. Só neste inicio de temporada 17 Deputados Federais já trocaram de partido enquanto outros só o farão no final do período por estarem aguardando qual será a melhor oportunidade de troca. Ainda assim é importante lembrar que desde o início da atual legislatura, em 2015, a Câmara já registrou 189 trocas partidárias envolvendo 135 deputados. Entre eles, um deputado trocou de partido 4 vezes, outros parlamentares trocaram por três ou duas vezes. É tudo muito flexível para melhor se manter.

No troca-troca partidário os partidos políticos também fazem as suas metamorfoses tentando aumentar as suas bancadas e margens para negociação daquilo que for do seu interesse. Isso é feito com cara de paisagem das mais lerdas, pois o que não é levado em conta é o programa partidário.

Para a maioria esmagadora dos casos, muda-se com imensa naturalidade do Partido Progressista (PP) para o Partido Popular Socialista (PPS) ou do Partido Comunista do Brasil (PC do B) para o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Num piscar de olhos é melhor se reposicionar para as eleições que estão chegando. Vale também deixar de ser partido – PMDB – para voltar a ser um movimento – MDB – ou simplesmente trocar a inexpressiva marca atual, sem mexer no conteúdo, por outra mais chamativa e exortativa do tipo Avante, Podemos… Também pudera, o país hoje tem 35 partidos políticos em funcionamento outros 72 tentando ser aprovados.

Diante da enorme rejeição pela qual estão passando os políticos e seus partidos, o que conta mesmo é se manter no poder, custe o que custar, mesmo diante de da mais recente pesquisa do Ibope mostrando que 48% dos entrevistados não tem simpatia por nenhum partido político e 5% não souberam ou não responderam. Feio mesmo é perder as eleições, a vida no poder, o foro privilegiado, o auxílio moradia, o jatinho da FAB…

Enquanto isso, de metamorfose em metamorfose, as cúpulas partidárias prosseguem fortes e decidindo como caciques os rumos dos partidos, a começar por definir como serão distribuídos os recursos do recém criado Fundo Eleitoral de R$1,7 bilhão e do Fundo Partidário. O sistema político-partidário se reinventa para se manter sendo o mesmo no domínio permanente do poder. Mesmo fazendo uma reforma, um remendo aqui ou ali, cedendo um ou outro anel acolá, mas sem perder as mãos.

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Parece que foi ontem, mas lá se vão quatro anos de postagens ininterruptas aqui no Observação & Análise sendo que a primeira vez aconteceu em 18 de março de 2014. A hora é de agradecer e celebrar – com a equipe de trabalho, convidados, leitores, difusores em outras mídias e alguns patrocinadores – tudo o que já foi feito na esperança de prosseguir observando, analisando e postando na sequência do tempo que não para.

Pessoalmente fico feliz ao me lembrar como tudo começou em 2013, quase que num lampejo bem semelhante ao que descrevem João Nogueira e Paulo César Pinheiro na música “Poder da criação”. O sonho cresceu e o blog virou um propósito, que se transformou em meta um pouco depois. Daí veio a elaboração do plano de ação para se atingir a meta, que exigiu muita transpiração com mais um pouco de inspiração, formulações e reposicionamentos para finalmente começar a operar o que foi planejado.

Entre o lampejo inicial e a primeira postagem passaram-se 10 meses. É por isso que relembro nesta data o primeiro post do blog, mostrando o que “A História registrou” em 18 de março, e também a pensata “A enchente das goiabas”, a primeira de muitas postadas neste espaço e que é um marco significativo na caminhada deste blog.

Continuemos a caminhar.

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Tempo perdido no médico

por Luis Borges 14 de março de 2018   Pensata

Uma jovem cliente de um plano de saúde marcou uma consulta com uma médica especialista em otorrinolaringologia, profissional de quase 4 décadas de experiência. Para a consulta, a jovem escolheu uma unidade própria de seu plano, onde há atendimento para diversas modalidades. A médica atente ali e também em sua clinica particular, mas com horários mais restritos.

A consulta foi marcada para as 11 horas de uma quarta-feira, logo no primeiro horário da especialista. A cliente chegou ao local da consulta com antecedência de 10 minutos e se posicionou em frente ao consultório numa cadeira pouco confortável. Às 11h15, sem notícia da médica, uma pessoa do serviço de limpeza entrou na sala e lá permaneceu durante outros 15 minutos. Alguns minutos depois finalmente chegou a médica que imediatamente chamou uma cliente – que não era a que estava marcada para o primeiro horário.

Às 11h38 a primeira pessoa atendida deixou o consultório chamando a jovem paciente a entrar na sala. A médica estava de cabeça baixa, não respondeu ao cumprimento de “bom dia” e já foi perguntando porque ela foi lá e o que estava acontecendo. A jovem não respondeu de pronto e perguntou à médica a razão de tanto atraso para atender quem marcou o primeiro horário.

A inesperada pergunta fez com que a médica levantasse o rosto e olhasse para a cliente pela primeira vez e disparasse o seu rosário de justificativas, entre elas a de que precisou passar em sua própria clínica antes, pois atende lá a partir das 8h30 e que acabou se atrasando. Também disse que atendeu outra pessoa antes por se tratar de uma emergência, aliás, uma justificativa usada com muita frequência por outros profissionais do segmento. A cliente replicou dizendo à medica que, independente das suas justificativas, se sentia totalmente desrespeitada como cliente por não ter sido atendida no horário combinado. E mais, só marcou a consulta naquele local e horário porque começa a trabalhar às 13h na região oposta da cidade e que fazia parte do seu planejamento almoçar com tranquilidade antes de chegar ao trabalho.

A consulta prosseguiu com a informação da cliente sobre uma irritação no nariz que surge “do nada” e que parece ser causada por alergia a alguma coisa. A médica fez observações rápidas, em tom professoral e “despachou” a paciente, sugerindo que marcasse outra consulta para outro procedimento. Quando a paciente saiu da sala eram 11h46. Vale lembrar que a Organização Mundial da Saúde estabelece que uma consulta médica deve ter duração mínima de 15 minutos.

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Estamos na época de divulgação do balanço contábil de empresas, União Federal, estados e municípios. É também época das pessoas físicas se acertarem com a Receita Federal por meio da declaração anual do imposto de renda.

No caso específico do poder público é importante lembrar que tudo o que se movimentou durante o ano de 2017 foi precedido pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e pela Lei Orçamentária Anual (LOA). Esta prevê as receitas e despesas do ano seguinte e deve ser aprovada pelo Poder Legislativo correspondente até o final de cada ano, conforme determina a Constituição Brasileira.

Entretanto o orçamento ainda não é tratado com a importância que tem na gestão e, em boa parte dos casos, acaba sendo apenas uma mera peça orçamentária para cumprir uma Lei, mesmo diante de todas as exigências contidas na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O ideal, que segue longe do real, seria a elaboração de um orçamento com receitas, gastos e investimentos alinhado com o planejamento estratégico. Ele deve resultar de um processo participativo de discussão e formulação segundo um determinado modelo de gestão estruturado que funcione de maneira dinâmica e orientada para resultados. Essa prática contínua de planejar, priorizar, orçar, implementar, avaliar, corrigir, melhorar, inovar e se reposicionar exige muito querer, disciplina para aplicar o método de gestão, constância de propósitos com foco, determinação, liderança e cooperação entre os participantes do processo. O desafio é cada vez mais reduzir a distância entre o que é orçado no planejamento e o que é realizado na gestão operacional.

Um bom exemplo dessa distância pode ser encontrado no balanço do ano de 2017 da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, divulgado em fevereiro. A LOA previa receitas de R$11,6 bilhões, mas a PBH conseguiu realizar apenas R$9,7 bilhões, o que significa uma distância de 16,32% da meta estabelecida. Já as despesas pagas chegaram a R$9,1 bilhões enquanto as despesas liquidadas (assumidas) foram de R$10,4 bilhões. O déficit é inegável e sobrou para os restos a pagar em 2018. Quais seriam as causas principais desse resultado não alcançado? Uma delas pode estar ligada às premissas utilizadas na projeção da inflação, no crescimento – ou não – do PIB, na expectativa de receitas de capital, nos repasses do Governo Federal, por exemplo. Outra causa pode estar no conforto concedido pela Câmara Municipal ao poder executivo, autorizando um corte de até 30% nos gastos previstos caso as receitas esperadas não se confirmassem, sem necessitar de aprovação do Poder Legislativo. Esse mesmo percentual já foi de 10% e não faz muito tempo. O balanço mostra que R$600 milhões deixaram de ser gastos na saúde, R$250 milhões não foram para a educação e que apenas R$350 milhões foram investidos em empreendimentos (projetos e obras) diante de um orçamento de R$1,15 bilhão. Foi só cortar.

A análise do balanço também mostra que a PBH gastou R$4,5 bilhões para pagar os servidores municipais, R$500 milhões para o pagamento de juros e amortização da dívida e que aproximadamente R$450 milhões tiveram que ser destinados à cobertura do déficit da previdência municipal com servidores aposentados e pensionistas.

Como se vê ainda estamos muito longe da excelência. É preciso, inclusive, aprender a ler um balanço contábil, a analisar com mais responsabilidade a conjuntura e projetar cenários com alguns graus de realismo. A mesma PBH, cujo balanço foi aqui usado como exemplo didático, projeta em seu orçamento de 2018 uma receita de R$12,5 bilhões perante os R$9,7 bilhões registrados em 2017, ou seja, um crescimento de 22,4% num ano em que se projeta um crescimento do PIB na faixa de 3% a 3,5%. Será que teremos a repetição de uma nova peça orçamentária de ficção só para cumprir a Lei, que exige que se faça um orçamento?

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 5 de março de 2018   Curtas e curtinhas

PIB de 2017 cresceu 1%

O IBGE divulgou na quinta, 1º de março, que o Produto Interno Bruto do Brasil encerrou o ano de 2017 com crescimento de 1%. É bom lembrar que os economistas ouvidos pelo Boletim Focus do Banco Central no inicio de janeiro de 2017 projetavam crescimento de 0,5%.

Se lembrarmos que a recessão econômica teve inicio no segundo semestre de 2014 e tecnicamente  findou no segundo trimestre de 2017 podemos verificar que as comparações são feitas com uma base fraca. É como se o PIB de 2014 estivesse a 100 metros de altura, teve duas quedas simples consecutivas de 3,5 metros em 2015 e 2016 que lhe deixaram numa altura de 93 metros. Agora em 2017 aconteceu uma subida de 1 metro e a altura passou a ser de 94 metros. Essencialmente não dá para ter euforia. E mesmo com um crescimento estimado de 3% a 3,5% para 2018 ainda estaremos distantes do que era a economia antes da recessão. Quem sabe estaremos recuperados lá para 2022?

O lucro dos bancos em 2017

Estamos em plena temporada de divulgação do lucro líquido dos bancos em 2017, ano em que a inflação brasileira ficou em 2,95% segundo o IPCA do IBGE. Entre os grandes bancos o destaque foi o Itaú, que lucrou R$24,87 bilhões, seguido pelo Bradesco, com R$19,024 bilhões, o Banco do Brasil, com R$11,1 bilhões, e o Santander com R$9,95 bilhões. A Caixa Econômica Federal ainda não divulgou seu resultado, que está estimado entre R$11,8 e R$12,1 bilhões. Na comparação com o ano de 2016 o crescimento do lucro desses cinco maiores bancos variou de 10,5% a 12%. Vale lembrar que esses cinco bancos respondem por aproximadamente 80% das operações do mercado financeiro. Ai de quem precisar de crédito com eles, pois lá os juros continuam nas alturas – empréstimos pessoais com juros médios de 122% ao ano – enquanto a Selic do Banco Central está em 6,75% ao ano.

O filão das tarifas bancárias

A cobrança de tarifas para a prestação de serviços bancários é um filão, uma mina de ouro, principalmente para os grandes bancos. Segundo o Banco Central em 2017 a receita com tarifas bancárias para os 5 maiores bancos – Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa e Santander – chegou a R$105 bilhões, o que significou um crescimento de 9,7% na comparação com 2016. Só o Banco do Brasil levou R$25 bilhões. Dá até para imaginar o quanto os clientes perdem ao não negociar tarifas com os gerentes de suas contas e também ao não conferir os lançamentos indevidos em seus extratos bancários. É por isso que muitas pessoas sequer percebem com o que estão gastando seu valioso dinheiro e ainda aumentam a sensação de que só precisam ganhar mais. O que ainda não sabem é que a gestão financeira também faz muita falta.

Imposto de renda 2018

A falação sobre a declaração anual do imposto de renda da pessoa física 2018/ano base 2017 já está a pleno vapor nos jornais, emissoras de rádio e TV desde a última semana de fevereiro. Será duro aguentar tanta repetição das mesmas informações e alertas até a primeira semana de maio com a divulgação dos números finais sobre a movimentação dos contribuintes. Mas o pior de tudo mesmo é que a tabela do imposto não foi corrigida mais uma vez e sua defasagem em relação à inflação já chega a 88,4% tendo como base o IPCA acumulado dos últimos 10 anos. Assim fica fácil entender porque a Receita Federal espera receber 28,8 milhões de declarações apesar de todos os males decorrentes da recessão econômica e a frágil retomada da economia em 2017.

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O Plano Cruzado entrou em vigor em 28 de fevereiro de 1986, quando os índices inflacionários caminhavam para as alturas. Naquele dia faltavam oito meses e meio para as eleições de 15 de novembro, quando seriam eleitos 23 governadores, 487 deputados federais e 49 senadores.

Hoje, em 2018, a baixíssima inflação anual ficou em 2,86% nos últimos 12 meses, segundo o IPCA/IBGE. O Presidente da República decretou intervenção federal na segurança pública no estado do Rio de Janeiro em 16 de fevereiro, dia em que faltava pouco mais de sete meses e meio para o primeiro turno das eleições para Presidente da República e governadores.

Passados 32 anos será que é possível encontrar semelhanças na conjuntura enfrentada por José Sarney, vice que assumiu o lugar de Tancredo Neves, e de Temer, vice que assumiu o lugar de Dilma?

A seguir um pouco do que foi e significou o Plano Cruzado, conforme publicação do portal Toda Matéria.

O “Plano de Estabilização Econômica (PEE)”, conhecido popularmente como “Plano Cruzado”, foi um plano econômico brasileiro criado durante o governo de José Sarney em 1986, pelo então ministro da Fazenda Dilson Funaro e os economistas João Sayad, Edmar Bacha, André Lara Resende e Pérsio Arida, com o objetivo de conter o processo de inflação galopante.

Assim, pela Lei nº 2.283, de 27 de fevereiro de 1986, institui-se o plano econômico, sob o slogan de “inflação zero”, que passa a vigorar em 28 de fevereiro de 1986 e durou até 16 de janeiro de 1989, quando foi substituído pelo Cruzado Novo.

Principais Causas e Características

A hiperinflação brasileira durante a década de 1980 permitiu lucros financeiros àqueles que lidavam com o processo especulativo, bem como àquelas empresas mais competitivas no mercado.

Por sua vez, a inflação possuía um caráter inercial, segundo o qual a própria inflação se alimentava de si num processo de retroalimentação, sendo a causa do próprio aumento. Por esse motivo, a “desindexação da economia” seria a única forma de eliminar a origem da especulação financeira causadora deste fenômeno.

Assim, foram adotadas as seguintes medidas:

  • Reforma monetária, com a transformação da moeda Cruzeiro em Cruzado, o qual valia 1000 vezes mais;
  • Congelamento dos preços em todo o varejo pelo prazo de um ano nos valores de 27 de fevereiro de 1986;
  • Congelamento e correção automática do salário quando os índices atingissem 20% de inflação;
  • Adiantamento de 33% do salário mínimo;
  • Congelamento da Taxa de Câmbio;
  • Criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento (FND) para a implementação do Plano de Metas responsável pela área de infra-estrutura econômica e insumos básicos.

Contexto Histórico

Entre os anos de 1983 e 1985, a inflação registrava índices de 230% ao ano. Contudo, a previsão para 1986 era de até 400% ao ano. Apesar disso, a condição interna e externa do país eram relativamente boas, uma vez que havia superávit nas exportações e os preços do petróleo diminuíam no mercado internacional.

Enquanto isso, as contas públicas estavam equilibradas e sem as pressões inflacionárias dos déficits públicos, o que favorecia a implementação de uma reforma econômica mais radical.

Com efeito, se em fevereiro de 1986 a inflação chegou a 14,36%, no mês seguinte, após a implementação do PEE, já havia uma deflação de -0,11 %. Nos meses subsequentes, a inflação se manteve controlada.

Contudo, a política monetária de elevação da taxa de juros para desaquecer o consumo e incentivar a poupança não funcionou como deveria (na realidade, houve saques nas cadernetas de poupança, direcionados para o consumo de bens) e criou-se uma situação de desequilíbrio entre a oferta e a demanda, devido ao consumo em alta. Como o governo não era capaz de controlar seus gastos ou corrigir as falhas com medidas impopulares, o Plano Cruzado começou a demonstrar falhas.

Além disso, o congelamento dos preços impedia que produtores reajustassem seus preços, o que acabou diminuindo a rentabilidade dos produtos ou até inviabilizando a produção, especialmente de gêneros afetados por condições sazonais.

O resultado imediato desse fenômeno foi o desabastecimento de bens e as grandes filas nos supermercados. Apesar disso, o consumo continuava em alta. Por outro lado, o congelamento da taxa de câmbio fez o Brasil perder uma parcela significativa das reservas monetárias internacionais.

Por fim, após as eleições de 15 de novembro de 1986, o PEE fracassou definitivamente e a inflação retornaria com mais força do que no período que antecedeu ao Plano Cruzado.

Em 1987, devido à crise econômica desenfreada, o Brasil decreta a moratória da dívida externa. Mesmo assim, o Cruzado continuará como moeda nacional até janeiro de 1989, quando foi substituído pelo Cruzado Novo.

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Cemitério da Saudade, em Belo Horizonte. | Foto: Sérgio Verteiro

Quem foi ao Cemitério da Saudade, na zona leste de Belo Horizonte, ao longo deste mês de fevereiro deve ter ficado bastante assustado com o exuberante matagal que tomou conta do local. O acesso às quadras para os sepultamentos diários ou para visitar os túmulos exige que as pessoas “se virem”, cada uma a seu modo e risco, para chegar ao local desejado e também para se retirar dele.

As fotografias deste post foram feitas na necrópole na segunda-feira 19 de fevereiro e nos fazem pensar sobre a qualidade da gestão que a Prefeitura Municipal faz para manter e melhorar o local em suas diversas variáveis.

Túmulos em meio ao matagal no Cemitério da Saudade. | Foto: Sérgio Verteiro

Vale lembrar que o Cemitério da Saudade foi inaugurado em 1º de junho de 1942, quando Juscelino Kubistchek era o prefeito municipal. Sua área é de 188 mil metros quadrados e lá foram sepultadas aproximadamente 373 mil pessoas ao longo desses quase 76 anos, segundo informações do setor administrativo local.

Espero que a Prefeitura de Belo Horizonte coloque a manutenção do Cemitério entre as suas prioridades e que isso seja uma ação permanente.

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Depois do Carnaval

por Luis Borges 23 de fevereiro de 2018   Pensata

Já estamos mesmo depois do Carnaval, pois seus últimos movimentos se foram com o fim do desnecessário horário de verão. Ficou registrada a grande e crescente exuberância dessa festa popular, com o povo na rua esbanjando alegria, molejo, musicalidade e também deixando de maneira direta suas mensagens aos políticos partidários e aos poderes constituídos em todas as instâncias do Estado.

Mas, daqui pra a frente, que temas estarão em nossa pauta de anseios e preocupações para o horizonte próximo que, digamos, poderia ser imaginado para os futuros 365 dias? Dos temas bastante evidenciados antes do Carnaval, espero que o imoral auxílio moradia pago a uma super casta de servidores públicos – auxílio este isento de Imposto de Renda e contribuição previdenciária – seja finalmente julgado e derrubado pelo lento e caro Supremo Tribunal Federal. Dá até para imaginar a cara de constrangimento de suas Excelências caso a decisão lhes seja desfavorável e retificadora rumo ao cumprimento do Artigo 37 da Constituição Brasileira que afirma:

“a administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”.

a reforma da Previdência Social, que ainda era urgente antes do Carnaval embora estivesse no telhado pronta para cair, entrou em coma profundo após a decretação da intervenção federal na segurança pública no estado do Rio de Janeiro. Essa intervenção tornou-se mais um suspiro na tentativa do impopular Presidente da República de se agarrar a alguma coisa para não passar o resto do ano contemplando o triunfo do seu próprio fracasso. Ele até deu sorte quando o governador Pezão afirmou que perdeu o controle da segurança pública no Rio de Janeiro. Como quem não controla não gerencia, a oportunidade foi abraçada. Agora só falta fazer o restante, que vai desde a já obtida aprovação pelo Congresso Nacional até a formulação da estratégia para ser operada pelo Exército, que gerencia pelo comando e não pela liderança. Também estarão na pauta os recursos financeiros, materiais e humanos necessários, o clamor por segurança em diversas capitais de estados do Nordeste e do Centro-Oeste, a transformação do atual Ministério da Justiça e da Segurança em duas unidades independentes e uma grande expectativa para os resultados, que poderão ser alcançados em determinado espaço de tempo.

A pauta também espera por alguma informação sobre a correção da tabela do Imposto de Renda retido na fonte, cuja defasagem em relação à inflação oficial se acentuou muito nos últimos 20 anos.

Enquanto nada se resolve com mais concretude podemos também manter na pauta as nossas preocupações cotidianas com a manutenção ou obtenção de um trabalho para a sobrevivência, a segurança de cada um associada à sensação de insegurança, o preço da gasolina, do óleo diesel, do etanol e do gás de cozinha, as eleições de outubro, o que está sendo abordado nas redes sociais, a intensidade das manifestações nas ruas…

A quaresma prossegue e a cada dia que passa a Páscoa se aproxima mais. Que passagem nos aguarda?

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Vale a leitura

por Luis Borges 19 de fevereiro de 2018   Vale a leitura

A solidão à espreita

De repente você percebe que está só, simplesmente só, e sem entender as causas que te levaram à solidão. Pode ser solidão na vida a dois, na militância político-partidária, no poder na empresa, na hierarquia de uma organização religiosa, na turma de amigos ou no convívio em um grupo familiar. Mas como se posicionar para romper com a solidão do momento e ir em frente diante das circunstâncias da vida, sem se vitimizar apenas? Mais informações e conhecimentos sobre o tema podem ajudar a melhor compreender o fenômeno e o processo que o gera. Nesse sentido vale a pena ler o artigo É impossível ser feliz sozinho? Conheça 7 fatos fundamentais sobre a solidão. 

“A era da internet expôs uma pressão social. A imposição de padrões até de felicidade se espalha na web e piora a sensação de solidão, diz Carlos Correia, voluntário do CVV (Centro de Valorização da Vida), procurado diariamente por pessoas desamparadas psicologicamente. “Nas datas comemorativas somos bombardeados por todos os lados de um padrão de felicidade ao qual muitas vezes não nos encaixamos”, conta em entrevista ao UOL. Isso leva ao isolamento e mina a autoestima.”

Morte e bitcoins

Com a inflação e a Selic em baixa, muitas pessoas têm a sensação de que suas aplicações financeiras, tradicionais e mais seguras, não estão rendendo quase nada após descontada a inflação do período. A fúria para ganhar mais pode impulsionar o aplicador a arriscar mais nas voláteis aplicações da bolsa de valores ou nas moedas virtuais, como o bitcoin. Essas aplicações, porém, não são para amadores e nem para os que têm apego ao seu rico dinheiro. No caso das moedas virtuais ainda existem vários dificultadores, como no caso da morte do aplicador que não compartilhou as suas senhas com ninguém. O tema é abordado por Camila Appel no artigo O que acontecerá com seus Bitcoins quando você morrer?.

“O Bitcoin é tido como uma moeda segura, porque cada portador recebe uma senha secreta (chamada de chave de acesso), para acessar suas moedas em uma carteira digital.

Não há uma forma de solicitar essa senha em caso de morte, já que não há uma autoridade central que possa rastreá-la. Essa segurança torna a moeda impossível de ser transmitida a um herdeiro, caso o dono da moeda não tenha passado a senha e a forma de usá-la, adiante”.

Bens e separação

Quando um casal resolve se unir deve pensar em todas as variáveis legais em que o ato implica. Uma delas é a partilha dos bens adquiridos antes e durante a união. Nesse sentido é importante conhecer o que diz a legislação brasileira para ajudar a amenizar gastos de energia desnecessários nos conflitos causados pelo desconhecimento das regras do jogo, mesmo diante de tantas comoções na plenitude do sofrimento. Leia abordagem feita por Carolina Prado e Letícia Rós no artigo Regime de bens: pensar no divórcio antes de casar é um mal necessário, publicado pelo portal UOL.

“Na comunhão parcial de bens, os bens adquiridos durante o casamento pertencem a ambos e serão divididos meio a meio em caso de separação. Também são partilhados os bens adquiridos por fato eventual (por exemplo, prêmio de loteria). A exceção feita é para os instrumentos de profissão (indispensáveis ao exercício do ofício – um instrumento musical de um músico por exemplo) livros e bens de uso pessoal, como roupas. Os bens que cada um tinha antes de se casar não entram na partilha, assim como herança ou doação recebida apenas por um dos cônjuges, antes ou depois do casamento. Dívidas também não são divididas”

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O desencanto precoce do professor

por Luis Borges 16 de fevereiro de 2018   Pensata

Um engenheiro civil, especializado em segurança no trabalho, sonhava em se tornar professor da matéria desde os tempos em que era aluno do curso técnico de edificações numa instituição federal de ensino superior. Entre o feijão e o sonho ele acabou optando pelo feijão e começou a trabalhar como técnico de nível médio aos 18 anos e como engenheiro a partir dos 23. Foi assim durante 38 anos, até se aposentar pelo INSS em dezembro de 2015. Após um pequeno tempo no ócio da aposentadoria ele começou a se preparar para buscar o sonho – ser professor de curso técnico de segurança no trabalho, na modalidade pós-médio, onde os alunos cursam durante um ano e meio as matérias técnicas após terem concluído os 3 anos do ensino médio.

Um ano após a aposentadoria lá estava ele entrando em sala de aula, cheio de energia e muito brilho nos olhos para realizar um sonho acalentado por décadas. Não demorou muito tempo para que ficasse intrigado com a apatia da maior parte dos alunos. Ela se manifestava tanto na sala de aula como em atividades extra-classe, do tipo visitas técnicas a empresas e feiras temáticas – geralmente aos sábados já que o curso era noturno numa escola privada.

Mesmo tendo muito conhecimento, experiência e domínio sobre o assunto das três matérias que ministrou, o professor passou o ano de estreia tentando entender as causas da postura de seus alunos. Às vezes imaginava que ele próprio seria uma causa importante, pois poderia não estar conseguindo transmitir bem os conteúdos programáticos estabelecidos. Suas aulas sempre foram preparadas a partir dos fundamentos, conceitos, aplicação para solucionar problemas e resultados alcançados. Por outro lado, pensava também nas condições dos alunos fazendo um curso noturno, após um dia de trabalho diurno para os que estavam empregados ou mesmo nas expectativas de quem continuava sem trabalho. Pensava também como nos dias de hoje um professor deve se reinventar para segurar um aluno em sala de aula, prestando atenção em tudo o que está sendo mostrado usando dispositivos tecnológicos nem sempre tão atualizados. O professor constatou também que os alunos utilizavam dispositivos tecnológicos de ultima geração e era para eles que voltavam a atenção na maior parte do tempo. Acabou por concluir que o celular passou a ser praticamente um apêndice do corpo humano, que na sala de aula era colocado debaixo da carteira para ser monitorado constantemente no processo de receber e enviar mensagens, ainda que tentasse pedir aos alunos que mantivessem seus aparelhos desligados.

Após a metade do ano a evasão de alunos chegou a 30% e o diretor proprietário da escola começou a falar com todos os professores que “não podemos perder mais nenhum aluno”. Aí ficou claro que a diretriz estratégica era apenas uma – a de salvar o negócio. Nessa altura a qualidade do ensino e a aprendizagem ficaram num plano secundário e a duras penas o ano letivo chegou ao fim, com o índice de evasão de alunos inalterado e todos aprovados nas três disciplinas ministradas.

Desencantado o professor desistiu precocemente da sua tão sonhada nobre missão e se demitiu da escola apesar de já estar escalado para dar aulas na turma que começará o curso em março de 2018. Para ele, a sua expectativa foi maior que a realidade e a qualidade atrativa da sala de aula está bem menor que a do mundo lá fora.

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