O professor é aquele que ensina ao doutor num processo que começa na mais tenra idade e vai até onde as pessoas conseguem ir na educação continuada. O que todos esperam é que os professores estejam sempre preparados para cumprir a nobre missão de ensinar e aprender na interação com seus alunos. Tudo deve partir das premissas de que não existe substituto para o conhecimento e de que a educação é a base de tudo. A crença é de que devemos partir dos fundamentos para os conceitos, suas aplicações e o atingimento dos resultados esperados. Mas como todos estamos cansados de saber e denunciar, nem tudo são flores para o professor em todos os níveis educacionais. É só parar um pouco e começar a fazer a lista de dificuldades de todos os modos que existem ao longo do caminho.

O que quero contar aqui se refere a pedras não imaginadas que surgiram no caminho de um professor de um curso de pós-graduação, nível de especialização – sentido amplo, em Gestão Estratégica de Negócios ofertado ao mercado por uma fundação sem fins lucrativos, mas não filantrópica, cuja sede fica na cidade de São Paulo. O fato é que a crise econômica atingiu em cheio o curso, que respondia por 70% do faturamento da fundação, e o número de turmas vendidas por semestre em todo o país, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, caiu em torno de 50% nos últimos 2 anos.

O reposicionamento estratégico indicou a necessidade de uma inovação na estrutura curricular para aumentar a qualidade atrativa do produto, que era o mesmo desde o seu lançamento há 9 anos. De cara, foi admitido um novo coordenador para o curso, que exigiu a contratação de um assistente operacional de sua confiança. A primeira medida tomada foi redesenhar o curso em nome da inovação, sem pesquisar o mercado para verificar qual era a necessidade que seria atendida pelo curso “inovado” e de quem era essa necessidade. Ao começar a agir direto pelo “como fazer”, na ansiedade de alcançar resultados rápidos, a primeira medida foi cancelar algumas disciplinas e criar outras denominações que estão na moda, numa mudança muito mais cosmética do que consistente. O assistente do novo coordenador implementou as mudanças como um trator e sem coragem para conversar com os professores que tiveram suas disciplinas extintas, todos lecionando na fundação como pessoas jurídicas. Só afirmou que eles continuariam na lista de fornecedores da fundação caso surgisse alguma necessidade num momento futuro.

Então, sentindo na pele uma espécie de “demissão branca”, o professor que era o melhor avaliado pelos alunos numa série histórica de nove anos quis entender os parâmetros que foram utilizados para justificar as decisões tomadas pela nova coordenação. O assistente operacional tentou justificar dizendo que o professor questionador foi mal avaliado por uma turma, com a nota 8,2 numa escala de 0 a 10. O professor rebateu o assistente perguntando se ele havia lido suas outras 26 avaliações em que suas notas variaram de 9,3 e 9,8 em função da avaliação de quesitos como domínio e conhecimento do assunto, clareza e objetividade na exposição, capacidade de prender a atenção da turma, esclarecimento de dúvidas e cumprimento do programa. Sem argumentos para contestar o melhor professor segundo a avaliação dos alunos só restou ao assistente encerrar a conversa bruscamente, dizendo que as mudanças foram feitas para atender as exigências do mercado e recuperar a fatia perdida pela fundação. Arrematou dizendo que, infelizmente, aconteceu a dança das cadeiras e ele ficou sem espaço na nova configuração e que o passado glorioso não garante nada no presente.

Você já passou por uma situação desrespeitosa como esta em que os que deveriam ser líderes atuam como feitores correndo atrás do atingimento de metas malucas que jamais serão alcançadas?

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Vale a leitura

por Luis Borges 23 de junho de 2019   Vale a leitura

É especialista que não acaba mais!

A todo instante nos deparamos com alguém se dizendo especialista em alguma coisa nos diversos segmentos do mercado. Mas, afinal de contas, que critérios poderiam ser usados para definir o que é um especialista? Uma proposta foi feita por Ronaldo lemos em seu artigo Afinal, o que é ser um especialista?, publicado pela Folha de São Paulo.

“Especialista é todo aquele que investiu ao menos 10 mil horas de prática em um determinado assunto. Por exemplo, essa é a média de tempo a que um violinista de talento reconhecido globalmente se dedica sozinho antes da fama”.

Dinheiro emprestado pode gerar muitas perdas

Tudo está mais difícil nesses cinco anos de pífio crescimento da economia brasileira, e o que é pior, são poucas as perspectivas de melhorias importantes num horizonte de médio prazo. A estratégia continua sendo a de sobrevivência e muitas vezes o que fica mais próximo e visível é pedir a um parente, colega ou amigo um dinheiro emprestado, de preferência sem juros, com prazo de pagamento tão logo aconteça a restituição do Imposto de Renda, por exemplo. Será que esse é o melhor caminho diante de um aperto mais bravo, mesmo colocando em risco as relações pessoais diante de uma inadimplência jamais pensada? Como diz o ditado popular “amigos, amigos, negócios à parte”. Conheça a abordagem sobre o tema feita por Julia Mendonça no artigo Não empreste dinheiro para o melhor amigo, o cunhado e nem mesmo a sua mãepublicado em seu blog.

Você passa um bom tempo estudando, fazendo planejamento financeiro, economizando cada centavo para que, um belo dia, algum conhecido venha com aquela frase já manjada: “Estou precisando de uma graninha urgente! Tem como quebrar esse galho para mim? Juro que te pago de volta”. Pronto! Os problemas começaram! A situação é incômoda, pois você fica num dilema: se emprestar, não terá esse dinheiro novamente e, se não emprestar, será considerada a pior pessoa do mundo.

Fiador, caução ou seguro fiança locatícia?

De vez em quando ficamos sabendo de um caso, que acaba se repetindo, em que uma pessoa física avalizou outra no aluguel de um imóvel, por exemplo, e no fim de tudo acabou pagando o pato para não ficar com o nome sujo e evitar a penhora do imóvel garantidor da transação. O constrangimento acaba sendo grande para todos os envolvidos e sabe-se lá como tudo terminará. Outras alternativas para substituir o fiador são a caução ou o seguro fiança locatícia, que também podem não estar ao alcance de quem poderia lançar mão delas. É o que aborda Márcia Dessem em seu artigo Procura-se um fiador, publicado pela Folha de São Paulo.

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O senhor Candinho Rabelo, solteiro, 76 anos, aposentado pelo INSS, voltou a residir em sua cidade natal no interior de Minas há cerca de 2 anos. Ele deixou sua “terrinha”, que hoje tem em torno de 9 mil habitantes, com apenas 20 anos de idade, em busca de melhores condições de vida. Periodicamente voltava lá para visitar toda a família e seus descendentes, no melhor estilo dos mineiros. Com o passar dos tempos quatro dos seus irmãos se casaram e sua irmã mais nova, Dete Rabelo, hoje com 74 anos e solteira, também aposentada pelo INSS, ficou morando com os pais na casa da família e cuidando sempre deles com seu modo intransigente de ser.

Quem primeiro veio a óbito foi a mãe e Dete prosseguiu cuidando do pai, que algum tempo depois também partiu para outro plano. O luto passou e ela continuou morando sozinha na casa da família, onde tudo acontecia conforme o seu querer. Suas manias se acentuaram ao longo de três décadas, nas quais perdeu dois irmãos e viu os sobrinhos crescerem.

Em Belo Horizonte, Candinho seguia no seu baile da vida. Até que perto de completar 74 anos se viu sem emprego e doente. Depois de doze dias de internação, participação efetiva de alguns sobrinhos em sua recuperação e prognóstico de que não poderia mais viver sozinho, só foi possível uma saída. A solução foi voltar para a cidade natal e tentar se reintegrar à família, contando com a irmã, as sobrinhas e um sobrinho.

Passados dois anos morando com a irmã na casa herdada dos pais, agora ele toma uma pequena dose diária de cachaça para bambear os nervos e aguentar o duro convívio marcado pelas manias da “mana”. Candinho Rabelo diz que tem passado por grandes provações, que nos momentos mais conflitantes tem vontade de “voar no pescoço” da irmã, que ele considera louca, e que só vai levando a vida por não ter coragem de se suicidar. Entretanto ele lamenta não ter se preparado para a aposentadoria e a cada dia sente falta dos projetos que não fez para essa fase da vida. Ele chega até a tentar compreender o sistemático e ditatorial jeito de ser da irmã, também idosa como ele, mas o que ele nunca imaginou é que um dia voltariam a morar cotidianamente na mesma casa. E após as raivas de todos os dias acaba por se conformar com o dito popular que diz que “o que não tem remédio, remediado está”.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 18 de junho de 2019   Curtas e curtinhas

Telemarketing perturbador

Mais uma vez a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que regulamenta e fiscaliza o setor, tenta colocar um freio nas invasivas e abusivas práticas do telemarketing. A Anatel determinou que daqui a 30 dias deve ficar pronta a lista “não perturbe”, contendo os números dos telefones que não querem receber este tipo de ligação. Só mesmo conferindo os resultados efetivos dessa medida após o prazo estabelecido, pois fiscalizar o cumprimento dos direitos do consumidor não tem sido o foco da Anatel, apesar de ser uma das suas missões.

Festas juninas

Enquanto as festas juninas estão acontecendo pelo país afora está chegando o feriado de Corpus Christi na próxima quinta-feira, que pode virar uma boa emenda. Quem deve estar adorando tudo isso são os parlamentares, principalmente deputados e senadores, que precisam estar em suas bases no dia de São João, 24 de junho. Afinal de contas teremos eleições municipais no segundo semestre do ano que vem e isso interessa a todos. O parlamento tem seu ritmo e também a cultura de não trabalhar nas semanas que tem algum feriado. A tão decantada renovação ocorrida nas últimas eleições foi muito mais de nomes do que de posturas e atitudes no cotidiano da vida parlamentar.

Greve contra a Reforma da Previdência

Os metroviários de Belo Horizonte aderiram à greve geral contra a Reforma da Previdência Social no dia 14/06 e não acataram a determinação da Justiça do Trabalho para que houvesse uma escala de atendimento mínimo no início da manhã e final da tarde. É interessante observar, que mesmo com a ampla divulgação da adesão dos metroviários à greve em diversas mídias, muitos foram os usuários que se dirigiram às estações do metrô e se disseram surpresos com os portões fechados, alegando desconhecimento do fato. Será que informação demais é contra informação ou está faltando foco às pessoas naquilo que realmente conta para as suas vidas?

Preços dos planos de saúde

Um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que o preço dos planos de saúde subiram 382% em 18 anos, mais que o dobro da inflação do setor no período. O aumento ficou muito acima da inflação oficial medida pelo IPCA do IBGE, que foi de 208%, e também mais que o dobro da inflação específica do setor de saúde, que ficou em 180%.

Apesar da Agência Nacional de Saúde Suplementar considerar tecnicamente inadequadas as comparações feitas entre o índice de reajuste dos planos de saúde individuais e índices de preços ao consumidor, o fato é que ninguém melhor que o consumidor desses mesmos planos para dizer o quanto pesam em seu bolso esses aumentos astronômicos, principalmente quando comparados com a perda de seu poder aquisitivo no mesmo período e cujas causas são por demais conhecidas no capitalismo brasileiro. É o que temos.

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O papel do assessor

por Luis Borges 15 de junho de 2019   Gestão em pauta

O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, 8 anos de mandato advindos de duas eleições, fez conferência em São Paulo no dia 30 de maio. Entre os diversos temas abordados, quero destacar aqui como ele concebe o papel da função assessoria nas organizações humanas. Segundo ele:

“Minhas melhores decisões eram quando tinha gente discordando de mim. Para ser um bom líder, você não precisa saber todas as respostas. Basta fazer as perguntas certas. Ter pessoas melhores que você no time. Servir e empoderar os outros”.

Aqui no Brasil que imagens temos de boa parte das pessoas que ocupam essas funções trabalhando com temas amplos e abertos, temáticos ou específicos? Uma imagem bem difundida é a de que o assessor é bem remunerado, tem privilégios, fala muito, é cheio de ideias nem sempre factíveis, mas apresenta poucas coisas estruturadas, consistentes. Isso acabou reforçando muito a ideia de baixa produtividade, que levou muitos deles a serem designados nos ambientes das organizações pelas alcunhas de “aspone” e “asmene” que só querem comer, beber e dormir, se dar bem. Isso se agrava quando o assessor é alguém que já ocupou altos cargos da direção das organizações humanas, às vezes foi ministro ou secretário no poder executivo, parlamentar, diretor de empresa estatal… É claro que casos como esses também são muito encontrados no mundo privado, talvez só em escala menor ou porque a transparência não é obrigatória. Percebo atualmente como choram, reclamam e se vitimizam algumas pessoas que trabalham na função “assessoria”, clamando por mais espaço, aceitação de suas contribuições, reconhecimento e provavelmente sonhando em voltar a ocupar cargos em que serão tomadores de decisão.

Uma das causas geradoras dessa situação é o esquecimento ou desconhecimento do que seja o papel da função assessoria e do assessor. O Dicionário Online de Português define que “assessoria” é:

grupo de indivíduos especializados, instituição, empresa ou departamento que assessora, que presta auxílio a pessoas físicas ou jurídicas. Órgão ou grupo de pessoas responsáveis por assessorar, por oferecer um serviço especializado a um chefe. Empresa, instituição ou entidade especializada que pesquisa e fornece dados ou informações sobre um assunto determinado.

Por outro lado “assessor” é:

Aquele que auxilia, exercendo atividades e/ou cargos com o intuito de ajudar alguém em suas tarefas ou funções, ou substituindo esta pessoa quando ela estiver impedida de exercer seu ofício. Aquele que, sendo especialista em determinado assunto, ajuda uma pessoa, baseando-se na área de seu conhecimento.

Portanto fica claro que o assessor contribui com o seu trabalho para a tomada de decisão de quem conta com os seus serviços. Obviamente que tudo deve ser feito com método, consistência, proposições claras, sem contudo querer só falar em propostas e coisas agradáveis aos ouvidos do tomador de decisões.

Infelizmente não há espaço para o “puxa-saquismo” e para o temor do confronto entre abordagens consistentes que ajudarão na formulação de soluções criativas para os problemas que surgem na gestão de qualquer negócio. Tenho a certeza de que hoje ainda estamos longe da excelência nesta questão, mas deve-se lutar sempre pela melhoria contínua da compreensão dos papéis exercidos pelos participantes desses processos.

Encerrando, quero te, perguntar, caro leitor sobre como tem sido a sua experiência ao trabalhar com a função assessoria, tanto no papel de cliente como no de fornecedor. Aguardo suas contribuições nos comentários do blog.

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O IBGE divulga no final de cada mês o resultado da Pnad Contínua do trimestre formado pelos três meses anteriores. A que foi divulgada no dia 31 de maio mostrou que, de fevereiro a abril, a taxa de desocupação da população economicamente ativa chegou a 12,5%, o que equivale a 13,2 milhões de pessoas desempregadas, e que as pessoas desalentadas, que desistiram de procurar trabalho, chegaram a 4,9 milhões. Esses números tem se mantido em torno do mesmo patamar desde o último trimestre de 2017 e, até o momento, a economia não dá sinais de recuperação capaz de reverter esse quadro.

Um ponto aqui é verificar ou imaginar como tem sido a estratégia de sobrevivência para quem não está conseguindo trabalhar, ainda mais que, quanto pior a situação, pior mesmo. Será que alguma reserva financeira ou patrimonial já foi usada nesse período recente ou as dívidas aumentaram? Como será que está a capacidade de familiares e amigos para ajudar solidariamente na travessia tão difícil nesse tipo de situação, em todos os seus aspectos? O que esperar das organizações de ajuda humanitária, já que do poder público não há muito do que se obter?

Outro ponto é pensar um pouco nos 92,4 milhões de pessoas que estão trabalhando, segundo a Pnad Continua, número que obviamente também tem se mantido estável após sucessivas quedas, ou seja, caiu para pior. Para esses também é bastante visível que o poder aquisitivo está caindo em função da inflação medida pelo IPCA, que é diferente conforme o perfil familiar, dificuldades nas negociações de reajustes salariais anuais, além de reajuste zero, em geral, para servidores públicos do Poder Executivo da União, estados e municípios, isso para citar apenas algumas causas. Para agravar a situação a energia elétrica aumenta em 6,93%, o plano de saúde suplementar aumenta 21%, a gasolina, o óleo diesel e o gás de cozinha aumentam seus preços em função da cotação internacional do petróleo e da variação do dólar enquanto os alimentos em geral, medicamentos e a prestação de serviços também dão seus pulos, apesar da sazonalidade da oferta e da procura específica de alguns deles. O que é possível fazer diante de tantas restrições e piora de condições, principalmente para quem não quer se endividar com juros tão altos ou mesmo queimar reservas ainda existentes? Provavelmente terá chegado a hora de rever o perfil de consumo elegendo novas prioridades que, no mínimo, abrem mão dos supérfluos e combatem fortemente os desperdícios de qualquer natureza. Ainda é preciso pensar em poupar um certo percentual da renda para que, num futuro não muito distante, essa mesma reserva venha se somar aos proventos recebidos de uma aposentadoria.

O fato é que estamos passando por uma conjuntura em que a estratégia continua sendo de sobrevivência que já vem de um bom tempo atrás e que ainda persistirá por mais um bom tempo, pois os cenários que se desenham não nos permitem enxergar de outra forma. É por isso mesmo que não dá para abrir mão da gestão orçamentária e tomar sempre as medidas necessárias em prol da sobrevivência, por mais difícil e desafiante que seja tudo isso. Haja resiliência!

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado do PIB do primeiro trimestre de 2019 mostrando que houve uma queda de 0,2% na comparação com o trimestre anterior. Por outro lado, os dados preliminares do segundo trimestre também não são nada animadores. A economia prossegue estagnada, o desemprego segue altíssimo e sem perspectivas de queda, o consumo das famílias só cai, os investimentos estão longe do necessário e a piora das expectativas em relação ao futuro sinaliza que nova recessão econômica pode estar a caminho. Então dá pra imaginar o que pode estar passando pela cabeça das pessoas ao verificar a distância que existe entre a necessidade de crescimento do PIB e os resultados que estão sendo entregues no momento. Há sinais de que o ano poderá ser perdido e que não é suficiente jogar todas as causas nas costas da não aprovação da Reforma da Previdência Social.

Pensando no que e como fazer para prosseguir diante de tantas dificuldades, alertas e ameaças lembrei-me da obra do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987) nos versos livres da poesia “José”, publicada em 1942, ano de muitas dificuldades na plenitude do Estado Novo, na ditadura de Getúlio Vargas e na Segunda Guerra Mundial. A seguir leia “José”, ou releia, para quem já leu, enquanto fico na expectativa de que surjam contribuições alentadoras para melhor compreender a nossa existência no momento que estamos passando.

José
Carlos Drummond de Andrade

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
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Preocupações não faltam

por Luis Borges 28 de maio de 2019   Pensata

Sabe aquele dia em que você acorda bem cedo e enquanto espera a hora de tomar o café da manhã fica pensando na vida e nas coisas materiais e imateriais inerentes a ela? Pois é, chega ao pensamento uma espécie de clamor para que possamos viver numa sociedade civilizada, marcada pelo respeito mútuo na complexa arte de viver individualmente e coletivamente. O desafio é reconhecer que as coisas fáceis já foram feitas e que para nós só ficaram as difíceis, qualquer que seja a camada social. Mas, em quem acreditar e com quem caminhar se “infeliz a nação que precisa de heróis” (Bertolt Brecht – 1898-1956) e não há lugar para salvadores da pátria? Promessas de campanhas eleitorais, achismos, fake news, impulsos, polarizações e bolhas não são suficientes para negar o conhecimento e tentar revogar a lei da gravidade. Também não dá para dizer que se as coisas não acontecerem conforme foram imaginadas o jeito será fazer as malas e ir para Portugal.

Enquanto o café não é passado outra preocupação entra em cena versando sobre o trabalho para quem o tem e para os milhões de brasileiros que estão na expectativa de encontrá-lo antes que caiam no desalento. Será que daqui a um ano continuarão existindo os postos de trabalho que estão ocupados hoje no setor privado da economia? E se imaginarmos um cargo ou função de confiança, preenchido por recrutamento amplo, em órgãos da União Federal, estados e municípios? Que funções repetitivas já terão sido substituídas pela inteligência artificial, tanto no setor público quanto no privado?

Enquanto o pensamento voa pensando na gente mesmo dá para imaginar a altura que ele alcança quando o foco se volta para os filhos. Surge a preocupação com o filho que está no ensino médio ou num curso de graduação na universidade ou mesmo num mestrado sem bolsa de estudos à espera de alguma luz depois do fim do túnel do mercado de trabalho. Também faz pensar a filha graduada em economia desempregada há 2 anos ou os filhos com mais de 30 anos sem perspectivas de ter seu próprio lugar para morar. Estes ainda querem impor aos pais outros modos de vida, que geram muitos enfrentamentos e exigem muita paciência histórica na gestão dos conflitos gerados. Diante de tudo isso ainda reverbera a frase dizendo ou lembrando que “pai é pai”, “mãe é mãe” e tudo fica anestesiado, deixando as coisas do jeito que estão para depois verificar que soluções poderão ser encontradas. Pode ser inclusive o conformismo trazido por outra frase dizendo que “o que não tem remédio, remediado está”.

Como preocupações não faltam e agora o café já acabou de passar o jeito é dar um tempo para a mente e degustar o saboroso café, cujo dia foi comemorado em 24 de maio. Enquanto o dia for crescendo outros cafezinhos poderão ser degustados, permeados pelas preocupações que nos acompanham.

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Vale a leitura

por Luis Borges 21 de maio de 2019   Vale a leitura

Você tem educação financeira?

Vai ficando cada vez mais evidente que só a aposentadoria pelo INSS não será suficiente para garantir às pessoas uma tranquilidade financeira no final do curso de vida. Ainda que esteja tudo mais difícil nesse momento da vida política, econômica e social brasileira, o que as pessoas que tem 30, 40 ou 50 anos de idade podem começar a fazer visando ter um futuro menos sofrido? Algumas possibilidades nesse sentido foram abordadas por Júlia Mendonça no artigo Somos analfabetos financeiros. Só 8% dos brasileiros poupam!, publicado no blog Descomplique.

As frases “quem poupa não aproveita a vida” ou “caixão não tem gaveta” resumem muito bem nossa relação com as finanças. Com certeza, falta grana para muitos, mas para outra parcela falta vontade de se educar financeiramente.

Cooperativismo financeiro

As cooperativas financeiras, também chamadas cooperativas de crédito, podem ser uma boa opção para quem quer fugir das imposições e da ganância dos bancos privados. Seu dinheiro pode render mais e melhor quando você participa de um negócio do qual é sócio proprietário sob a égide dos princípios cooperativistas aplicados ao associativismo entre as pessoas. É claro que a gestão do negócio será sempre fundamental para que se atinja o melhor resultado para os associados e que as sobras de cada ano sejam repartidas proporcionalmente às transações que cada um faz com a cooperativa. Para melhor conhecer e compreender as possibilidades de uma cooperativa financeira a sugestão é ler o artigo “As cooperativas de crédito são mesmo uma boa opção?”, de João Antônio Motta publicado em seu blog.

Cooperativas de crédito não têm clientes, mas cooperados. Não visam lucros, mas sobras, que podem ser repartidas entre os cooperados. Só por estes ingredientes já se vê o enorme poder de atração que têm (ou deveriam ter) as cooperativas de crédito. Aliás, o princípio que os cooperados e as cooperativas de crédito devem ter é que a especulação financeira não é (nem pode ser) seu objetivo, já que devem fornecer assistência aos seus membros. Porém, isso não implica que os administradores descuidem do retorno dos capitais emprestados e da solidez patrimonial da cooperativa.

Quem não atrapalha já ajuda no processo de luto

De repente você recebe a informação de que uma pessoa de seu círculo mais próximo ou de sua rede mais ampla acabou de falecer.  O que fazer para se posicionar em relação ao acontecido perante as pessoas mais próximas do finado? Ir ao velório caso a logística permita, enviar uma mensagem, fazer uma visita pessoal ou ir à missa de sétimo dia, por exemplo? Mais desafiante ainda é saber o que falar nessas ocasiões sem cair na vala comum dos chavões, que nada acrescentam e até retiram energia de quem está ouvindo a sua falação. É interessante a abordagem feita por Camila Appel no artigo Como ajudar uma pessoa em luto: comece não atrapalhando, publicada em seu blog Morte sem tabu.

Frases como: “Eu sei o que você está passando”, poderiam ser substituídas por algo como “eu imagino como está sendo difícil isso para você”.  Estimular o outro a sair, frequentar ambientes sociais, pode soar muito invasivo.  “O processo de luto é um processo de introspecção. Não atrapalhar é deixar o processo correr e estar disponível. ‘Estou por aqui para o que precisar’, ‘Você gostaria de conversar? ‘.’Você gostaria de tomar um café?’”.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 18 de maio de 2019   Curtas e curtinhas

Férias só de 30 dias por ano

Está em tramitação no Senado a PEC 58/2019 que propõe limitar a 30 dias a duração das férias anuais dos magistrados e membros do Ministério Público, período que é fixado em 60 dias. A PEC também proíbe a adoção da aposentadoria compulsória como sanção disciplinar para juízes e prevê a demissão deles e de integrantes do MP, por interesse público. A PEC foi apresentada com a assinatura de 30 senadores que, com os demais colegas do Senado, terão que gastar muita energia para enfrentar o vespeiro dos direitos adquiridos. Afinal de contas já são 40 anos de vigência das férias de 60 dias e o corporativismo sempre se faz presente.

Estatais federais e participações acionárias

Determinadas informações no Brasil são muito bem protegidas e difíceis de serem encontradas no escondidinho em que são guardadas, mesmo com a vigência da Lei de Acesso à Informação. Mas desanimar da procura jamais. Um levantamento feito pelo Portal UOL mostra que o Governo Federal possui 134 empresas estatais e é sócio de 111 empresas de capital aberto e fechado através do BNDES. Essas participações totalizam R$ 104,8 bilhões, dos quais R$ 100,3 bilhões são de 40 companhias com ações na Bolsa de Valores e R$ 4,5 bilhões das outras 71 empresas com controle fechado. O Ministério da Economia pretende vender essas participações e utilizar os recursos para financiar pequenas e médias empresas através do BNDES ao mesmo tempo em que espera que o banco devolva R$126 bilhões que tomou emprestado do Tesouro Nacional a partir de 2012.

Enquanto isso o que mais se fala é em frustração de arrecadação, contingenciamento do orçamento e crescimento econômico caminhando a passos largos para apenas 1% nesse ano. Ainda assim o BNDES sinaliza que devolverá R$48 bilhões ao Tesouro Nacional até o final de maio. A conferir.

Fechamento de agências e postos de atendimento

O Itaú Unibanco, o mais lucrativo dos bancos brasileiros, quer fechar quase 10% de suas 4.200 agências e postos de atendimento nos próximos 2 anos. Essa medida faz parte do reposicionamento estratégico da empresa para manter sua lucratividade e se adequar à migração de clientes para os bancos digitais, muito mais competitivos nos aspectos tarifários. Em março deste ano o Itaú Unibanco já possuía 195 agências digitais. Como será que ficará o mercado dos bancos ao final dos próximos 2 anos? Em que tipo de banco você terá uma conta corrente segura e a menor custo?

O encanto se quebrou

O Brasil iniciou o ano sob nova direção na Presidência da República com projeção de crescimento de 2,5% para a economia. Pouco mais de 5 meses depois essa projeção prossegue em queda livre a cada semana no Boletim Focus do Banco Central. Agora a autoridade monetária projeta crescimento de 1,45% enquanto os mais realistas já apontam para apenas 1% no final do ano. Como se vê, o encanto se quebrou já que nenhuma das premissas eufóricas do início do ano se realizou, a começar pelo mantra em que se transformou a Reforma da Previdência, que deveria rapidamente ser aprovada pelo Congresso. Nesse ritmo 2019 poderá ser apenas mais um ano perdido nesta década.

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