Blefar, segundo o Dicionário Informal da Língua Portuguesa significa:

 “arriscar sem algo, sem se ter muita chance de dar certo. Falar algo que não é verdade ou dizer que vai fazer alguma coisa que na verdade não vai.”

Blefar também é uma das características marcantes para os jogadores de truco, que mesmo estando com cartas mais fracas do baralho tentam “trucar” os adversários e, conforme as reações, acabam batendo em retirada e desistindo do intento que se tornou insustentável. Vale lembrar que do outro lado também existem jogadores.

Uma analogia com o jogo de truco pode ser feita com o recente episódio em que o Presidente da República disse que zeraria os impostos federais – PIS, COFINS e CIDE – que incidem sobre combustíveis caso os governadores dos estados também zerassem o ICMS cobrado nas bombas dos postos. E se fosse o contrário, com os governadores propondo que a iniciativa fosse do governo federal?

O fato é que a maioria dos estados está quebrada, não conseguem ser austeros para combater desperdício de dinheiro que sai pelos ralos e muito menos abrir mão de algo em torno de 20% das receitas advindas da cobrança de ICMS sobre combustíveis. Da mesma forma o Governo Federal também não consegue abrir mão de R$27 bilhões arrecadados no ano passado com a cobrança de seus impostos, ainda mais tendo registrado um déficit orçamentário de R$95 bilhões no mesmo período.

Como se viu, a reação dos governadores foi imediata, uma grande reunião foi feita em Brasília mostrando a óbvia inviabilidade do desafio do Presidente da República e coube ao Ministro da Economia dizer que a discussão sobre essa possibilidade de zerar impostos deveria mesmo ser feita por ocasião da tramitação da reforma tributária no Congresso Nacional. Bom será se essa reforma não se transformar em panaceia para todos os males e pré-requisito fundamental para a retomada do crescimento econômico e combate de privilégios, como aconteceu com reforma da previdência social e também com a reforma trabalhista, que geraria milhões de empregos e deu no que deu.

Em sã consciência quem vai abrir mão de qualquer centavo do que arrecada se não consegue conter os seus crescentes gastos, tanto na União Federal quanto nos estados e municípios? Também é importante lembrar que as pessoas vivem nos municípios e é neles que as coisas acontecem cotidianamente. A sereia começa a cantar versos dizendo que, se vier apenas a simplificação do processo de arrecadação de tributos, já terá sido um grande passo nesse momento. É por isso que vem à lembrança que a reforma tributária aparece na análise dos cenários de quem faz planejamento estratégico de seus negócios há mais de 20 anos. Como diz o adágio popular “o jogo é jogado, e o lambari que é fisgado”.

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O imposto de renda aumenta todo ano

por Luis Borges 13 de fevereiro de 2020   Pensata

Sempre que surge alguma autoridade governamental tentando criar ou recriar impostos para justificar a busca do equilíbrio das contas públicas pelo caminho mais curto surgem nas mídias variadas reações. Entre as frases mais difundidas posso citar “ninguém aguenta mais o aumento da carga tributária” e “aumentar impostos, nem pensar”. Ainda assim, o Ministro da Economia, sempre que pode, insiste em defender uma metamorfose para recriar a extinta Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF). Outro exemplo veio da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que tentou criar uma taxa sobre a energia solar gerada em casa. Afinal de contas a carga tributária chegou a 35,07% do PIB em 2018 mesmo com a pífia recuperação da economia.

Porém existe uma forma mais dissimulada e às vezes não percebida de imediato pelos menos atentos para  aumentar impostos que fazem parte da carga tributária. Tem ganhado força nos municípios a revisão do IPTU a partir de imagens aéreas que atualizam o tamanho das áreas construídas nos terrenos e mostram se existem acréscimos de áreas em relação ao que está registrado. Os proprietários podem recorrer à prefeitura para contestar a nova medição, mas geralmente tem prevalecido, na maioria dos casos, os lançamentos feitos em função das novas áreas medidas quando são maiores que as anteriormente registradas. Também podem surgir tentativas de elevações das alíquotas do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) para o teto de 5%, pois em muitos municípios o ISSQN ainda varia de 3% a 5%. Já o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), em geral com a alíquota de 3%, é calculado pelas prefeituras sobre sua própria tabela de preços, que acaba sendo sempre maior que o valor constante na promessa de compra e venda, que deveria ser a base para o cálculo. É a prefeitura tabelando para cima os preços do mercado que se diz livre.

Nos estados vira e mexe surge um acréscimo no ICMS em itens como combustíveis, telecomunicações, energia, bebidas, cosméticos… A proposta de extinção da Lei Kandir, em discussão no Congresso Nacional, pode trazer de volta a alíquota de 13% de ICMS para os bens primários e semielaborados exportados pelos estados. Já para o Governo Federal ficou a maneira mais simples de aumentar tributos que é a não correção anual da tabela do Imposto de Renda pelo índice do IPCA do IBGE. O Ministério da Economia deveria ter feito, no ano passado, a correção em 3,75% – inflação de 2018. Até agora ainda não fez a correção de 4,31% referente à inflação de 2019, ou seja, acumulam-se 2 anos de reajuste zero e cresce o valor do imposto pago pelas pessoas que conseguiram reajustes salariais ou mesmo de receitas de aluguéis de bens imóveis.

Estudo feito pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil mostra que essa perda existe há décadas, ainda que em alguns anos a correção da tabela tenha sido parcial e por faixas salariais. O que se verifica é que de 1996 a 2017 a defasagem da tabela é de 95% e chega a 104% se acrescentarmos os últimos dois anos. Vale lembrar também que o atual Presidente da República afirmou em sua campanha eleitoral que não aumentaria a carga tributária e que o limite para isenção do Imposto de Renda seria de 5 salários mínimos – hoje R$5.225,00. Como sempre, existe distância entre a intenção e o gesto. Mas também pudera, o período era eleitoral. Agora é esperar o programa de ajuste anual da Receita Federal deste ano e observar que acabou a dedução de gastos com a contratação de empregadas domésticas, incentivo fiscal findado em 2019 e que não foi renovado, ou seja, mais um aumento na carga tributária de quem faz esse tipo de contratação de prestação de serviços.

E, para completar, prosseguem as catilinárias da reforma tributária.

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Vale a leitura

por Luis Borges 6 de fevereiro de 2020   Vale a leitura

Poucas amizades serão para sempre

De vez em quando corremos o risco de nos encontrarmos com amigos(as) que fizeram parte de nossas vidas em determinados períodos ao longo do tempo, como no colégio, na universidade, algum local de trabalho ou numa determinada associação de qualquer natureza. Geralmente é grande a euforia gerada e muitas são as rápidas lembranças sobre os tempos vividos e as perguntas referentes à situação atual de cada um. Depois das promessas de tentar novos encontros pode surgir também uma tentativa individual de refletir sobre as causas que impediram a amizade de ter se tornado permanente. O tema é abordado por Ivan Martins no artigo “Amizade é para sempre? Nem sempre, publicado pelo portal UOL.

Quando a enxurrada da mudança nos leva em direção contrária à vida do outro, não adianta amarrar uma corda. Uma hora o vínculo se rompe e as pessoas se afastam. Fica o carinho e uma enorme nostalgia. Viveremos com essa ausência.

Conversar, mas sem dar aulas

Ainda é possível conversar com muita gente boa que encontramos em nossas andanças apesar do alto índice de digitalização na vida das pessoas. Entretanto a oportunidade de conversar pode ser facilmente perdida se alguém começa a falar como se estivesse dando uma aula sobre um determinado tema e nem sempre percebe que está “cansando a beleza” das pessoas que também gostariam de falar e não só ouvir. Reinaldo Polito fala sobre isso em seu artigo Você quer sempre ter razão e fala como se desse aula? Então é um chato”, publicado no portal UOL.

Por que será que alguns conseguem ser interessantes e sedutores nas conversas, mantendo a atenção das pessoas por tempo prolongado, enquanto outros, por mais que se esforcem, são verdadeiros espalha rodas, dispersando os grupos assim que se aproximam da turma? Esse magnetismo pessoal independe de beleza física, de status social, ou de condições financeiras. Pessoas envolventes sabem conversar e ser agradáveis.

Análise do risco nas aplicações financeiras

A Selic, taxa básica de juros estabelecida pelo Banco Central, está em 4,5% ao ano enquanto a inflação em 2019 medida pelo IPCA do IBGE ficou em 4,31%. A cada vez mais reduzida parcela da população que consegue poupar algum dinheiro fica tentada a fazer aplicações que rendam um pouco mais que a caderneta de poupança e os fundos de renda fixa conservadores. Mas para fazer isso é preciso conhecer os riscos trazidos pelas aplicações mais ousadas, a começar pelas ações da bolsa de valores. O desafio é encontrar a melhor dosagem para balancear os riscos a correr entre o conservadorismo e a ousadia. O assunto é abordado por Maria Inês Dolci no artigo Antes de investir, defina quanto risco aceita correr” publicado pela Folha.

Todo investimento tem risco. Há alguns, contudo, com baixa exposição, atrelados, por exemplo, à inflação mensal. Ganhos maiores implicam aposta bem mais elevada. Quem fica tentado, devido à queda da taxa Selic, a investir em criptomoedas (bitcoins), ouro, startups ou imóveis deve reservar parte de sua renda para aplicações convencionais, nas quais o risco –e o ganho– seja menor.

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“A vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, diz o poeta e compositor Vinicius de Moraes em sua música “Samba da bênção”. Digo isso a propósito do encontro casual que tive no último dia de janeiro com um antigo colega de trabalho – com quem tive um bom convívio à época – que não via há muito tempo. Tudo aconteceu na sala de espera do consultório médico de um ortopedista. O médico estava atrasado para iniciar seus trabalhos naquela manhã devido a uma cirurgia de emergência no hospital em que atua, conforme informou sua secretária após questionamentos de alguns esperançosos pacientes.

O ex colega se aproximou logo após a minha chegada, lembrando que já fazia 20 anos que não nos encontrávamos pessoalmente. Disse também que o atraso do médico seria compensado por nos possibilitar uma conversa sobre os rumos de nossas vidas após o período em que trabalhamos juntos. Depois de nos cumprimentarmos irradiando uma boa energia fiz a clássica pergunta que surge naturalmente nesse tipo de encontro: “o que você está fazendo da vida?”. Foi a senha para que o colega narrasse epicamente os momentos vividos até a decisão de se aposentar aos 63 anos de idade, após 40 anos de contribuição previdenciária, e, em seguida, focar nos 3 anos vividos na sequência.

O colega disse que adiou ao máximo a aposentadoria por não ter um projeto minimamente elaborado para quando ela viesse e que só resolveu encará-la quando percebeu que a Reforma da Previdência acabaria acontecendo. Por isso, decidiu garantir logo o seu direito adquirido no INSS e também no plano de previdência suplementar do qual participava na empresa em que trabalhava. Prosseguiu falando sobre sua adaptação inicial à condição de “aposentado que não queria ir para os aposentos” e buscava encontrar um padrão para a nova rotina do dia-a-dia. Em sua cabeça vinha a lembrança do trabalho de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30 às 17h30, o almoço sempre nas proximidades da empresa e os vários chefes que teve, a maioria absoluta longe de fazer uma gestão pela liderança. A prevalência sempre foi de comandantes fracos tentando tomar conta das pessoas e “se achando”.

Lembrou também que depois de seis meses conseguiu se integrar mais à vida diária de sua casa – com horários combinados para café da manhã, almoço, cafezinho no meio da tarde e lanche da noite. Nesse caso afirmou enfatizando sinceridade que teve algumas trombadas com a esposa, também aposentada, que dedica as tardes de segunda, quarta e sexta a um trabalho voluntário no bairro em que moram.

Ainda embalado na fala o colega disse que tem pensado numa volta ao mercado de trabalho para atuar em projetos que lhe exijam baixa carga horária mensal. Argumentou que precisa se atualizar um pouco mais e que seu nome corporativo já não existe no mercado após passar esse tempo parado. Afirmou que sente um certo vazio mesmo tendo diversas atividades ao longo do dia tais como exercícios físicos, acesso amplo à internet, participação ativa em alguns grupos de WhatsApp bastante movimentados, leitura de algum livro que está na moda, presença frequente nos eventos de sua religião, pequenas interações sociais com a família e pouquíssimos amigos. Disse também que um dinheiro extra poderia amenizar um pouco a inflação do idoso, que é sempre bem maior que o reajuste de seus proventos, e que está ciente das dificuldades que terá devido à fraca recuperação da economia brasileira.

Inesperadamente o antigo colega foi chamado pelo ortopedista para o início de sua consulta enquanto fui informado pela secretária de que eu seria atendido logo em seguida. Apesar da pressa do médico foi possível anotar o número dos telefones e registrar a intenção de envidar esforços para que aconteça um novo encontro num futuro próximo. Quando a consulta começou fiquei pensando sobre o que e como fazer para que a inércia não impeça que a intenção se transforme em gesto. Será? Dependerá muito de nós e de nosso querer, mas quem terá a iniciativa de propor uma data para esse encontro?

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Sabe-se da geografia que o período das chuvas na região Sudeste vai de outubro a março, mas com intensidade maior a partir do início do verão. Os índices pluviométricos desse janeiro, e notadamente da segunda quinzena do mês, estão mostrando um aumento significativo no volume das águas, tanto na forma de pancadões de menor duração quanto por períodos mais longos com menores quantidades formando um somatório também expressivo. Até agora os resultados de tudo isso estão expostos na tragédia vivida diretamente pelas pessoas que moram em Belo Horizonte e sua região metropolitana, bem como na Zona da Mata mineira, no sul do Espírito Santo e no Norte do Rio de Janeiro.

Não há duvidas de que água é vida e de que as chuvas são extremamente necessárias para equilibrar o ciclo. Mas diante de tudo que está acontecendo nesse período com todos os tipos de perdas, a começar pelas vidas humanas, é fácil constatar que a maioria das pessoas se volta quase que naturalmente para combater os efeitos trazidos pelo modo que as chuvas vieram e provavelmente voltarão em outros anos. Até as autoridades e os políticos partidários sobrevoam as regiões atingidas para constatar esses mesmos efeitos, notadamente em anos eleitorais.

É preciso dar grandes passos à frente para solucionar esse problema de maneira mais duradoura a partir do conhecimento das causas que estão no processo que o geraram. Também é importante lembrar que a remoção das poucas causas vitais pode ajudar a resolver uma significativa parte do problema. Diante da enorme quantidade de fatos e dados disponíveis e de muitos resultados indesejáveis que se repetem ano após ano com as diferentes políticas de governo no sistema capitalista – no estado de bem estar social ou no liberalismo econômico – é preciso repensar o modelo de desenvolvimento urbano vigente.

Se conceitualmente sistema é um conjunto de partes interligadas, a gestão das águas deve ser feita por bacias hidrográficas em toda a sua plenitude. A presença maciça das estruturas de concreto armado, o adensamento populacional, o encarceramento dos rios em canais fechados, as cirurgias plásticas feitas nas encostas de montanhas e serras, a impermeabilização do solo através de cimento e asfalto, a deseducada destinação do lixo domiciliar e outros resíduos bem como a brutal concentração de renda que empurra uma expressiva camada da população para moradias na beira de cursos d’água já dão sinais visíveis de que precisam ser repensados.

E o que dizer do aquecimento global e da mudança de clima que alguns ainda tentam negar apesar de todas as evidências científicas? Para quem gosta de alegar que os recursos não são suficientes é só lembrar que é por isso que um modelo de gestão estruturada trabalha com a priorização de necessidades que precisam ser atendidas num determinado horizonte de tempo.

Caminhemos mesmo sabedores de que gestão é o que todos precisam, mas nem todos sabem que precisam, nessa toada realista e esperançosa em meio à dor das perdas.

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Sabe daquela situação que geralmente imaginamos que só acontece com os outros, em que um membro da família sofre um acidente vascular cerebral do tipo hemorrágico? Foi o que aconteceu no dia 2 de janeiro com o senhor Paulito, de 83 anos, aposentado, casado com a senhora Iarinha, de 78 anos, com quem teve 8 filhos. Muitos também são os genros, noras, netos e bisnetos. O fato é que Paulito sentiu-se mal na tarde daquele dia, quando jogava buraco, como fazia todos os dias, com um grupo de amigos e colegas numa espécie de cassino informal de seu bairro numa cidade da região metropolitana de Belo Horizonte. Paulito foi levado para uma unidade de pronto atendimento e posteriormente transferido para um hospital público de grande porte. A hemorragia inundou uma vasta área de seu cérebro e, após 12 dias de internação, seu nome foi estampado num atestado de óbito, clássico documento que registra o fim do curso de vida.

Alguns fatos e dados marcaram os dias da angustiante espera da família por um desfecho favorável, mesmo diante de prognósticos sombrios. Um fato marcante foi a reação das pessoas do convívio de Paulito ao tomarem conhecimento sobre o que aconteceu com ele, sendo que algumas delas também tentavam encontrar uma explicação para o acontecido. “Como assim foi acontecer isso se ele estava tão bem?”, perguntaram alguns. Na tentativa de encontrar explicações alguns filhos lembraram-se de que o pai tinha dificuldades para tomar diariamente o medicamento para controlar a pressão arterial e muitas vezes ficava até uma semana sem usá-lo. Além disso, também usava medicamentos para combater a disfunção erétil, a ansiedade, os níveis elevados da glicose e do colesterol. Para completar o quadro foi lembrado que ele tomava diariamente uma ou duas doses bem generosas de sua cachaça preferida que era também recomendada aos filhos, ainda que fosse apenas uma “bicadinha” para sentir o gosto.

Outro fato marcante foi a decisão da filha mais nova de Paulito e Iarinha de criar um grupo de WhatsApp para agilizar as comunicações sobre o quadro clínico do pai. O grupo, administrado por ela, foi composto por filhos, genros, noras, netos, amigos, colegas e vizinhos. A primeira mensagem informava que o estado do paciente era grave, mas estável, como determina o protocolo padrão nessas ocasiões. Também foram informados os horários de visitas rápidas ao paciente na UTI do hospital, sendo no máximo duas pessoas à tarde e outras duas à noite, conforme a escala feita pela filha administradora. Só ela e a mãe Iarinha poderiam fazer visitas dia sim, dia não, enquanto os outros muitos interessados colocavam seus nomes numa lista para as outras vagas. A parte familiar do grupo de WhatsApp quase explodiu quando, no sexto dia de internação, a filha administradora interpretou mal uma fala de um médico intensivista da UTI e informou ao grupo a morte cerebral de Paulito. O desespero tomou conta de muitos enquanto outros questionavam a equipe médica sobre a real situação do pai e as perspectivas para as horas seguintes. A morte cerebral foi negada, mas o quadro grave reafirmado. Depois de tudo a filha administradora do grupo de WhatsApp pediu perdão a todos pelo seu erro de interpretação e também um voto de confiança para continuar à frente do processo.

Nos dias seguintes Paulito continuava do mesmo jeito e sem nenhum sinal de qualquer reação minimamente esperançosa. Passou a ter febres mais constantes e a pressão arterial foi ficando mais baixa. Foi aí que Iarinha e seus filhos solicitaram uma reunião com a equipe médica e um dos filhos perguntou de cara quais eram as chances do pai sobreviver, independente de sequelas, numa escala de 1 a 10. A resposta foi imediata informando que a chance seria 1. A reunião praticamente terminou ali e todos entenderam qual seria o desfecho mais provável. Em seguida foi passada a informação para todos os membros do grupo de WhatsApp. E, na alvorada do dia 14 de janeiro, Paulito veio a óbito e todos ficaram sabendo à medida em que acordavam e davam aquela olhada básica em sua rede social. Logo a seguir a movimentação do grupo girou em torno de condolências, perguntas sobre a hora de início do velório e depois sobre o dia e hora do sepultamento que, aliás, acabou sendo no final da manhã do dia seguinte. E não é que, um pouco depois, algumas pessoas começaram a perguntar sobre a missa de sétimo dia?!

Você se lembra de ter vivido alguma situação semelhante a essa, envolvendo parentes e amigos, nas duas primeiras décadas deste século ou realmente isso só acontece com os outros?

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Algumas preocupações de janeiro

por Luis Borges 20 de janeiro de 2020   Pensata

O tempo prossegue caminhando firme para a frente, com muita determinação e sem parar para descansar ou reclamar. Seu medidor mostra que mais da metade do mês de janeiro já foi embora. Foi tudo tão rápido, incrivelmente rápido, que mal dá para lembrar os desejos de “Feliz Ano Novo” com saúde, paz e sonhos realizados. Se muitas eram e ainda são as expectativas, várias até bem maiores que a realidade, o fato é que a cada dia surgem novas preocupações diante do acentuado ritmo de mudanças que acontecem e se sucedem. Isso só faz aumentar a inquietude de nossas mentes visando um melhor posicionamento para responder bem aos desafios que vão surgindo.

Muitas preocupações ficaram para trás no tempo, mas não tem como ser esquecidas. Uma delas é a pífia recuperação da economia que resulta em 12 milhões de pessoas desempregadas e deixa em evidência o aumento da carestia na alimentação, na saúde, no lazer… Isso ficou evidente com a divulgação dos índices inflacionários do ano passado em que os salários em geral perderam poder de compra. A título de ilustração basta olhar para o novo salário mínimo, que inicialmente ficou abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC, e que acabou sendo corrigido às pressas para ficar minimamente compatível com a Lei que, aliás, não prevê ganhos reais para recompor o poder de compra perdido ao longo do tempo.

E se agora cada um de nós começar a listar as preocupações com os fatos que aconteceram nesses primeiros 20 dias e que podem impactar negativamente o orçamento financeiro do ano? De cara, para quem mora em Belo Horizonte, já existem os decantados gastos com o IPTU, IPVA, quitação de multas de trânsito, material escolar e anuidades escolares aumentadas acima da inflação.

Será que deve ser alta a preocupação com os rumos que tomarão as relações entre Estados Unidos, Irã e Iraque e seu impacto na produção, logística de distribuição e preços do petróleo que sustenta os países do Oriente Médio? Será que teremos que pagar mais caro ainda pela gasolina, óleo diesel e gás de cozinha? Dá para imaginar o automóvel parado em casa 3 dias por semana? Será que o liberalismo econômico vigente vai ter coragem de tabelar esses preços como fez com os juros bancários de 8% para os cheques especiais?

Na minha lista também preocupa a vontade de aumentar a já altíssima carga tributária que sempre passa pela cabeça de governantes e parlamentares. Isso vai desde a energia solar, cujo uso avança pelo país, e pela não correção da tabela do imposto de renda da pessoa física, que está defasada em 104% acumulados nos últimos 24 anos.

Também causa preocupação e desconforto o calor intenso e a medição da temperatura variando de 31ºC a 35ºC, à qual deve-se acrescer algo em torno de 5ºC para incluir a sensação térmica. Não menos preocupantes são as chuvas fortes, rápidas e de alta vazão, trazendo alagamentos, enchentes, deslizamentos de terra, destruição e mortes. Aliás, essa cena se repete todo início de ano e se tornou um problema crônico que nenhum prefeito consegue resolver, entra ano, sai ano. O calor e a chuva também trazem a preocupação e a facilitação para a proliferação de doenças como a dengue, zika vírus e a febre chikungunya.

Mais preocupação vem só de pensar no aumento dos preços dos planos de saúde – sempre bem acima da inflação, medicamentos, transporte coletivo – nas mãos da justiça e a última parte da tarifa do metrô.

Ah! Eu poderia dizer que chega de preocupações, mas é impossível não se preocupar apesar de todo o realismo esperançoso. Basta olhar o orçamento de gastos e verificar que ele exigirá cortes, ainda mais para quem não tem recebíveis do nióbio para negociar.

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Só no digital não dá

por Luis Borges 8 de janeiro de 2020   Pensata

O Portal G1 publicou, no dia 03 de janeiro, alguns dados que podem nos fazer pensar sobre intenções e gestos envolvendo a movimentação de pessoas em diferentes níveis de relacionamentos pessoais e em organizações humanas de diferentes tipos de atuação.

Segundo a publicação:

 O WhatsApp informou que, durante as 24 horas que antecederam a meia-noite da véspera de ano novo, foi registrado um número recorde de mensagens enviado por meio do aplicativo em todo o mundo: mais de 100 bilhões durante as 24 horas do dia 31 de dezembro. 

[…]

Apenas no Brasil, os usuários do WhatsApp enviaram mais de 13 bilhões de mensagens no dia 31 de dezembro de 2019.

[…]

Apesar da criptografia de ponta a ponta do WhatsApp, que só permite a leitura da mensagem entre quem envia e quem lê, o aplicativo supõe que um número grande de mensagens enviadas em 31 de dezembro foi de “Feliz Ano Novo” ”.

Meu ponto aqui é fazer um balanço que nos permita refletir sobre o que foi possível fazer concretamente em nossas relações pessoais ou negociais que foram além do digital na fria tentativa de buscar uma aproximação que, já se sabe, continuará distante pela própria natureza do meio utilizado. Por mais que seja afetiva a mensagem, nada substituirá o calor radiante do encontro físico, presencial entre seres humanos.

No meu caso específico considero que consegui ir um pouco além do digital, ainda que limitado por condições funcionais, mas com muito suporte das pessoas mais próximas.

Nesse sentido deixo registrado que passei quatro dias do período de virada do ano na minha terra natal – Araxá, capital secreta do mundo e cidade eterna como Roma. Por incrível que possa parecer, consegui estar pessoalmente em 10 residências de familiares diretos que são também amigos, tias e primas, sem polarizações e intolerâncias, mas com muito respeito, humor, capacidade de ouvir e também de falar. Um momento muito marcante foi o encontro com quatro tias que estão acima dos 80 anos de idade. Como sabemos, idosos querem presença, carinho e atenção. Duas delas moram em suas próprias residências, sendo que uma estava fazendo mingau de milho verde e a outra se preparava para ver a passagem do ramo de uma folia de Reis. As outras duas moram em instituições de longa permanência para idosos, onde o horário de visitas é na parte da tarde e o tempo de permanência é de 4 horas em uma e de 2 horas na outra. Nesse caso, me coloquei no lugar delas e fiquei a imaginar como seria a minha adaptação numa instituição desse tipo quando essa opção também poderá ser uma solução para meu curso de vida a caminho da finitude.

É claro que não dá para negar a vida conectada digitalmente mas não precisamos ficar só nela. Ainda é possível viver e manter a nossa dimensão humana, que também depende do nosso querer e das nossas iniciativas como num simples, caloroso e renovador encontro na virada do ano. Outros encontros virão, no Carnaval ou na Páscoa, por exemplo. Depende de nós.

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Na passarela do tempo

por Luis Borges 19 de dezembro de 2019   Pensata

O tempo caminha indelevelmente para frente e nós com ele, mas sabedores de nossa finitude perante algo que nos parece infinito. Ainda assim, ouvimos com muita frequência reclamações de pessoas dando conta de que falta lhes tempo ou que o tempo passou muito rápido, praticamente sem ser percebido. O fato é que, mesmo diante das diferentes percepções que se tenha, o tempo relativo ao ano de 2019 está chegando à sua marca final, trazendo a alvorada cada vez mais próxima do ano que será marcado como 2020.

Dessa realidade não será possível fugir e, por maior que seja a poesia inerente à vida, esse momento do tempo também nos possibilita fazer uma observação e análise, sem adjetivos, sobre a realidade em que nossas vidas estão sendo vividas. Muitas podem ser as expectativas, mas elas não devem ser maiores que a realidade. Caso contrário, as frustrações causarão mais sofrimento nesse momento em que a sociedade brasileira é marcada pela polarização político ideológica que muitas vezes nos obriga a clamar por civilização, respeito, tolerância nas relações pessoais e sociais. Tudo só piora se prevalecem as fake news em detrimento da verdade e do conhecimento científico, enquanto os problemas crônicos não são resolvidos e a realidade social grita com 12,4 milhões de desempregados que a pequenez da recuperação da economia não ajuda a resolver. Se temos a consciência que somos responsáveis pelas nossas escolhas, ainda que elas nem sempre levem aos resultados esperados, precisamos ter sempre em mente que o importante é não estar vencido e que sempre é possível aprender com os erros para melhor prosseguir rumo ao estado de bem-estar social, bom para todos e com equidade.

Então, diante dos fatos, dados, informações, conhecimentos sobre a realidade que nos cerca nos aspectos políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, culturais… é importante prestar atenção no que disse o dramaturgo, romancista e poeta brasileiro Ariano Suassuna em “O auto da compadecida”, uma das obras mais marcantes de sua trajetória:

“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”.

Que a sabedoria e a inteligência nos ajudem a compreender que a conjuntura e os cenários que se desenham nos indicam que a estratégia de sobrevivência continua sendo a mais adequada. Caminhemos!

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O Observação & Análise fará uma pausa neste fim de ano. Os posts voltam no dia 8 de janeiro. Desejo boas festas a todos os leitores e a agradeço pela companhia neste 2019. Que possamos seguir juntos em 2020.  

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Vale a leitura

por Luis Borges 16 de dezembro de 2019   Vale a leitura

Até quando os amigos permanecem?

“Amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração”, canta Milton Nascimento em Canção da América, música de sua autoria e de Fernando Brant.

Mas o quê e como fazer para que as amizades e os amigos permaneçam em nossas vidas? É o que aborda Silvia C. Carpallo em seu artigo Amigos ativos e passivos: o que os distingue e como cultivar cada amizade, publicado no jornal El País.

O tempo de maior qualidade, o de compartilhar experiências e vivências, deve ser destinado às amizades ativas. “É preciso, com uma certa regularidade, manter um contato real, ficar para tomar um café, comer ou ir ao cinema”. Ou seja, nesses casos, não há problema em ter um amigo dessa categoria nas redes sociais e perguntar-lhe “como vai” pelo WhatsApp, mas também é preciso cuidar dessa amizade na vida real. “Se não cultivarmos e mantivermos uma relação de amizade [ativa], ela passará a ser de conhecido [amizade passiva]”.

Quantas horas de trabalho você precisa para pagar cada gasto?

Não está nada fácil manter o poder aquisitivo nesses tempos tão desfavoráveis para quem vende a sua força de trabalho independente do quanto se aufere. É importante saber quanto custa em horas trabalhadas tudo aquilo que se compra, principalmente no impulso e na euforia. É visível a falta que a educação financeira faz, principalmente quando o dinheiro acaba antes do mês ou as cobranças das dívidas atrasadas se intensificam. Como enfrentar situações com essas características? É o que mostra Julia Mendonça em seu artigo Aprender a fazer esta conta vai mudar sua visão de compras por impulso, publicado no portal UOL.

Uma forma muito prática de visualizar o impacto que uma compra pode ter no seu orçamento e ao mesmo tempo evitar gastos desnecessários é transformar os preços em horas trabalhadas. É um conceito bem simples, mas que vai mudar totalmente a maneira de você enxergar seu salário.

Você fala e ninguém ouve

Não sei se isso já aconteceu com você, mas é comum vivermos situações em determinados tipos de reuniões que enquanto uma pessoa fala a maior parte dos presentes não presta atenção e ainda se distraem no celular. O que fazer para prender a atenção dos ouvintes? É interessante o que sugere Reinaldo Polito em seu artigo Você consegue segurar a atenção das pessoas durante a reunião? publicado no portal Uol.

Não tenhamos ilusões. As pessoas só se concentram em uma apresentação se perceberem que terão certa vantagem. Logo no início da exposição, informe que sua mensagem proporcionará certa vantagem pessoal ou profissional. Antes de expor suas ideias analise bem o que os ouvintes ganharão com sua proposta e mostre a eles quais serão esses ganhos.

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