O fim da história

por Luis Borges 20 de junho de 2020   Música na conjuntura

Se a crise que estamos atravessando exige muita criatividade e resiliência nas estratégias de sobrevivência, o que e como fazer durante o isolamento em casa sempre pensando que uma hora essa história terá seu fim? A música pode e deve ser uma importante aliada conforme as especificidades de cada pessoa ao longo de suas atividades durante as 24 horas do dia. Nesse sentido uma opção pode ser ouvir músicas durante a execução de uma determinada tarefa como arrumar a casa, lavar/passar  roupas, cozinhar e cuidar do jardim, da horta ou de plantas dos vasos. Outra possibilidade pode ser a escolha de um determinado momento do dia só para ouvir músicas dos gêneros preferidos durante 60 minutos, por exemplo.

No meu caso tem sido possível revisitar cantores, compositores e intérpretes da Música Popular Brasileira da metade do século passado pra cá. Na semana passada foi a vez de rever a obra do cantor e compositor Gilberto Gil cantando Domingo no parque, Viramundo, Procissão, Aquele abraço, Refazenda, Sítio do pica pau amarelo, Drão, Realce… Terminei ouvindo O fim da história, composição gravada em 1991, quando Fernando Collor era Presidente da República Federativa do Brasil.

Como bem disse o também cantor e compositor Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha (1945 – 1991) em sua música Palavras, “Cantar nunca foi só de alegria, com tempo ruim todo mundo também dá bom dia”. Prosseguir é preciso e cantar faz parte do acalanto que embala nossa trajetória.

O fim da história
Fonte: Letras.mus.br

Não creio que o tempo
Venha comprovar
Nem negar que a História
Possa se acabar

Basta ver que um povo
Derruba um czar
Derruba de novo
Quem pôs no lugar

É como se o livro dos tempos pudesse
Ser lido trás pra frente, frente pra trás
Vem a História, escreve um capítulo
Cujo título pode ser "Nunca Mais"
Vem o tempo e elege outra história, que escreve
Outra parte, que se chama "Nunca É Demais"
"Nunca Mais", "Nunca É Demais", "Nunca Mais"
"Nunca É Demais", e assim por diante, tanto faz
Indiferente se o livro é lido
De trás pra frente ou lido de frente pra trás...
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O isolamento social rigorosamente observado desde o início da pandemia do novo coronavírus em Belo Horizonte levou à exaustão um casal e seus dois filhos. O pai de 40 anos, a mãe de 35, um menino de 8 e uma menina de 6 não se aguentavam mais dentro do apartamento de 98 metros quadrados e resolveram flexibilizar, “chutar o balde” para aliviar um pouco as tensões trazidas pelas incertezas.

A justificativa para se encontrar com outras pessoas depois de tanto tempo de isolamento foi promover uma comemoração dos emblemáticos 40 anos de nascimento de um membro da família na noite do sábado, 16 de maio. Também acabou sendo um passo inicial rumo à sonhada flexibilização do isolamento social, bastante pesado àquela altura dos acontecimentos para quem nunca vivera algo semelhante antes. Foram convidadas apenas 10 pessoas, sendo elas alguns parentes mais próximos do casal como pais, mães, irmãos e irmãs e dois amigos dos tempos de colégio, um arquiteto e uma advogada que, aliás, são casados.
Aos poucos todos chegaram ao apartamento em torno das 20h, horário definido para o início da comemoração. Foram recebidos pelo aniversariante na portaria do edifício devido ao sistema de segurança rígido para identificar facialmente os visitantes. A advogada chegou ofegante e queixando-se do desconforto visual dos óculos embaçados devido ao uso da máscara. E o arquiteto sentiu-se incomodado e inseguro devido ao tempo transcorrido entre a saída do automóvel e a abertura da porta do edifício.

A comemoração durou aproximadamente 3 horas e todos os presentes se livraram de suas máscaras ao se sentarem à mesa de jantar expandida e nos sofás. Depois de muitas conversas, comes e bebes chegou a hora de cantar parabéns para o aniversariante e soprar as velas acesas sobre o bolo, o que foi feito pelas duas crianças. Elas se esforçaram bastante até atingir o objetivo, mas acabaram lançando perdigotos sobre o bolo. Quase todos os presentes não se incomodaram com o ocorrido, a começar pelo aniversariante, e fecharam a comemoração comendo pedaços do bolo e os tradicionais docinhos. Entretanto o arquiteto sentiu-se incomodado com a falta de cuidados com o bolo e educadamente recusou o pedaço que lhe foi oferecido alegando se sentir saciado pelo o que já lhe fora servido. Quando tudo terminou o arquiteto voltou para casa com o propósito de não mais participar de festas de aniversário para não ficar constrangido diante da possibilidade de ter que ingerir algo que ficou aquém dos padrões de higiene. Segundo ele, se as pessoas não ligam para essas coisas, mas ele liga e se incomoda.

E você caro leitor, se fosse um dos convidados teria ido à festa de aniversário e também comeria um pedaço do bolo?

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Vale a leitura

por Luis Borges 8 de junho de 2020   Vale a leitura

Convivendo com pessoas tóxicas na família

O que fazer e como fazer para conviver com uma pessoa tóxica no seu ambiente familiar já que é da nossa cultura considerar que a família está acima de tudo? Dá até para imaginar o que deve estar acontecendo em muitos ambientes familiares ao longo do isolamento social nesses tempos de pandemia do Covid-19. É muita energia que vai embora enquanto pisamos em ovos para tolerar a canseira em nome da união familiar. Até quando agüentaremos viver com isso, inclusive no grupo de WhatsApp da família? É interessante a abordagem feita por Diego Garcia em seu artigo Família também pode ser tóxica: veja como lidar com esses casos, publicado no blog Viva Bem.

Ter um relacionamento, amigo ou conhecido tóxico é comum, quase todo mundo tem ou já teve. Mas quando essa pessoa é nosso familiar ou parente, nem sempre percebemos sua toxidade. Vale lembrar que nos referimos a comportamentos ou atitudes consideradas tóxicas que determinadas pessoas fazem e que são prejudiciais a outras e não a pessoa em si. Por mais que possa parecer visível, tendemos a tolerar atitudes tóxicas de familiares que, talvez, não toleraríamos de amigos ou pessoas mais próximas. E por quê? Porque historicamente somos ensinados a isso.

Home Office sob quais condições de contorno?

O trabalho profissional feito em casa andava a passos curtos no Brasil e ficou em evidência ao se tornar uma solução para muitos casos durante a pandemia de coronavírus que estamos enfrentando. É voz corrente que ele veio para ficar, mas é preciso se definir com clareza as condições em que será realizado. Afinal de contas trata-se de mais um capítulo envolvendo as relações entre o capital e o trabalho. Leia a abordagem desse tema feita por Pilar Jericó em seu artigo Como sobreviver ao eterno home office, publicado no site do El País.

O primeiro passo é organizar nossa agenda como se estivéssemos no escritório. Temos que revisar quais são as coisas importantes que devemos fazer, mas sem nos esquecer de reservar um tempo para responder e-mails, pensar ou comer tranquilamente. Muitas organizações caem no risco da reunionite digital, ou seja, o excesso de reuniões ou de chamadas telefônicas a qualquer hora e o consequente estresse. “Como não existe a barreira ou a desculpa das viagens ou das reuniões presenciais, supõe-se que todos podem se reunir a qualquer momento, mas não é assim”.

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Atendimento digital

por Luis Borges 3 de junho de 2020   Pensata

No finalzinho da tarde de quinta-feira, 14 de maio, uma senhora de 56 anos de idade, servidora pública em home office fez uma compra por meio digital num supermercado de Belo Horizonte.

 A propaganda do serviço a ser prestado era bastante atraente, pois não seria cobrada taxa de entrega que, aliás, seria feita o mais rápido possível em função dos pedidos existentes na fila. Afinal de contas os tempos são de pandemia, fique em casa, lave as mãos, use máscara…

O primeiro passo para fazer a compra foi o preenchimento da ficha cadastral no site da empresa. Logo em seguida o sistema emitiu uma senha de acesso para que fosse confirmada imediatamente pela cliente.

No início da noite foi digitado o pedido, que deveria ser superior a R$200 para que não se cobrasse a taxa de entrega domiciliar. Essa condição não constava na propaganda feita. Apesar de alguns itens faltantes não foi muito difícil completar o mínimo necessário, pois tudo está caro.

Na sequência foi a vez de definir a forma de pagamento, que poderia ser por cartão de débito em conta bancária ou cartão de crédito. A compradora optou pelo cartão de crédito e, para que a operação se completasse, teve de digitar o código de segurança do próprio cartão para confirmar o pagamento.

O sistema informou que a entrega seria feita na segunda-feira, 18 de maio, entre 13 e 18 horas. O prazo não foi cumprido e, após as 19h, a cliente entrou em contato com o supermercado pelo seu sistema de atendimento ao cliente – SAC. A espera foi longa – 60 minutos –  mas a paciência histórica foi maior ainda. A atendente fez a identificação da cliente pelo número do CPF, ouviu impacientemente a reclamação e, em seguida considerou, que ela não procedia, pois no sistema constava que os produtos comprados seriam retirados na loja de um determinado bairro.  Ironicamente perguntou se ela não tinha visto o comunicado enviado pelo supermercado informando o local de entrega do pedido feito. Após muita discussão sobre o cancelamento da compra e devolução do pagamento feito, o que ocorreria após três dias úteis, a atendente fez uma contraproposta final. O pedido de compra seria entregue no endereço residencial, no dia seguinte, terça-feira, 19 de maio, entre 8h e 13h horas mediante o pagamento de uma  taxa  de  R$20,00. Exausta e já necessitando de alguns produtos que constavam do pedido a cliente aceitou a contraproposta e constatou que mais 60 minutos foram gastos até que se chegasse a uma solução para o problema.

Após tudo isso, novamente a entrega do pedido não ocorreu no intervalo de tempo negociado. O jeito foi reclamar outra vez no SAC. Feita a nova reclamação a atendente fez contato com o motorista do caminhão de entregas que prometeu chegar ao endereço de destino às 16 horas o que acabou acontecendo.

Com tanto desgaste, será que a cliente fará novas compras utilizando-se do meio digital, ou dará um tempo na relação?

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Lá já se foram quase 70 dias de vigência de medidas na cidade de Belo Horizonte que orientam, recomendam e determinam o que deve ser feito para combater a disseminação do novo coronavírus – Covid-19. Não é meu propósito abordar a extensa pauta de variados temas e visões que envolvem a pandemia em curso.  Meu ponto é mostrar alguns poucos aspectos de conversas que tem permeado meu cotidiano na condição de aposentado, que não se recolheu aos aposentos, e que cumpre o isolamento social determinado.

Tenho mantido contatos com algumas pessoas que fazem parte do meu convívio social mais próximo – familiares e amigos, por exemplo – usando os dispositivos tecnológicos adequados e compatíveis com o momento que estamos atravessando. Invariavelmente as conversas se iniciam com as clássicas perguntas “como vai você” ou “como você e sua família estão passando”. É claro que as perguntas têm mão dupla. Tenho falado que estou buscando viver e sobreviver um dia de cada vez, na expectativa realista e esperançosa de que tudo isso vai passar mesmo sabendo que o horizonte ainda não está visível. Tenho realçado que a crise instalada trouxe para nós muitas incertezas, perdas, insegurança e medo num país extremamente desigual e concentrador de renda.

Também nas conversas surgem pontos e contrapontos sobre os procedimentos que precisam ser adotados por quem está em casa, nos meios de transporte coletivo ou em algum local de trabalho considerado essencial. Aí as conversas se intensificam, com as narrativas de experiências sobre uso de máscaras para proteger o nariz e a boca, a higienização de bens e instalações, a lavação das mãos com água e sabão diversas vezes ao longo do dia, o uso do álcool em gel nos ambientes em que falta água e como agem de maneira pouco cuidadosas algumas pessoas em supermercados, padarias e sacolões, por exemplo. Sempre pergunto sobre as cores das máscaras que cada um usa. A cor branca é citada pela maioria e, ao mesmo tempo, todo mundo fala que possui outras máscaras em variadas cores como preto, azul, cinza… Pelo menos duas pessoas já me disseram que escolhem a cor da máscara a ser usada em função do astral e do humor em que se encontram a cada momento do dia.

Para finalizar, vale lembrar que sempre tento especular um pouco sobre as expectativas que cada um tem quanto às mudanças do modo de ser e de viver da humanidade depois que a pandemia passar. Muitos são céticos e dizem que após o medo e o pânico passarem tudo será como antes. A conferir.

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Furando a fila no empório Parati

por Luis Borges 25 de março de 2020   Pensata

Você deve se lembrar daqueles tradicionais empórios que ainda existem em muitos bairros de Belo Horizonte. Um deles é o Empório Parati, que está no mercado há quase 45 anos comercializando produtos derivados do leite de vaca, majoritariamente, e variadas modalidades de presuntos, biscoitos, castanhas, amêndoas, gordura animal, congelados…

A loja ainda funciona com a presença em tempo parcial do senhor Nassim, seu fundador, e em tempo integral com Karin, filho único, herdeiro do negócio. Os clientes vem se mantendo fiéis ao longo dos anos, período em que muitos deles se aposentaram após cumprirem suas jornadas no serviço público ou privado. É claro que também sempre surgem clientes mais jovens e outros na faixa dos 40, mas que são mais voláteis.

Atualmente o sábado continua sendo o dia mais procurado pela clientela, seguido pela quarta-feira. Segundo o senhor Nassim os clientes voltam pelos pés porque todos são muito bem atendidos com produtos de qualidade, preço justo, formas de pagamento adequadas em dinheiro, cartão de crédito/débito e até anotação em caderneta.

De uns tempos para cá tem causado desconforto o comportamento de duas senhorinhas na faixa dos 70 anos de idade que fazem compras nas manhãs de sábado, mas não andam juntas, nem comparecem à loja no mesmo horário. O que elas têm em comum é a alta aversão à fila que se forma para o atendimento, justamente no dia preferido delas que é o mais volumoso em quantidade de pessoas e vendas.

No segundo sábado de março a senhorinha conhecida como dona Laurinha chegou ao estabelecimento por volta das 11h e se deparou com oito clientes na fila, enquanto outros três eram atendidos no balcão. Imediatamente, e demonstrando pressa, ela falou com a voz bem alta para uma atendente da loja, Celeste:  “estou te esperando para me atender e, enquanto isso, irei separando os produtos que quero para adiantar o expediente”. Como o corpo fala, o incômodo ficou visível pelas expressões da maioria daqueles que estavam na fila. Dona Laurinha tocou o maior movimento, indo e vindo de um lado para o outro, buscando selecionar os produtos que desejava. Quando terminou e vendo que ainda não havia chegada a hora para o atendimento de seu lugar demarcado verbalmente na fila fez um pedido à Celeste e aos demais colegas da fila: “como já separei o que quero e estou com muita pressa por causa de meu horário rígido para almoçar estabelecido em dieta preciso que a Celeste me atenda rapidamente porque seu trabalho será só para embalar os produtos e fechar a conta”. Sem se surpreender com a já frequente forma de agir de dona Laurinha, Celeste pediu licença ao próximo da fila para atendê-la, dizendo que tudo ocorreria rapidinho porque os produtos já estavam separados. Foi o que acabou acontecendo.

O leitor pode estar pensando que dona Laurinha é idosa e tem direito a atendimento preferencial. O detalhe é que vários outros clientes que estavam na fila eram idosos, que também tem direito a atendimento preferencial. E reclamaram dizendo que a fila tinha sido furada e que eles se sentiram desrespeitados diante do privilégio concedido à dona Laurinha. Após um burburinho nas conversas e um espirro de um dos que estavam na fila o herdeiro Karim disse que tentaria formular um novo procedimento para solucionar o problema.

E você, que sugestão daria para contribuir na solução dessa situação?

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Crise é uma “fase difícil, grave, na evolução das coisas, dos sentimentos, dos fatos; do colapso” como diz um dos verbetes do Dicionário Informal da Língua Portuguesa. O que significa para cada um de nós os dias que passamos nessa primeira quinzena de março – que fase! Somos impactados pelo novo coronavírus avançando pelos continentes sinalizando menor crescimento econômico mundial, preço do barril de petróleo em queda com o excesso de produção, bolsa de valores derretendo, dólar oficial na casa dos R$5,00 (imagine o dólar turismo), desemprego aberto e o crescimento econômico prometido marchando para repetir o pibinho do ano passado. Enquanto o mundo globalizado e seus dirigentes tentam formular saídas para o momento de alta turbulência vamos ouvindo tudo quanto é tipo de afirmações, a começar pelas que se baseiam no mero “achismo”.

É interessante verificar como as falas vão se modificando rapidamente para quem tenta minimizar os problemas ou mesmo ignorá-los. Basta lembrar que inicialmente o Ministro da Economia dizia que o dólar só chegaria aos R$5,00 se ele fizesse uma besteira muito grande. De repente o dólar bateu lá e o Ministro disse que isso seria algo passageiro. Será que é isso mesmo? O que significa para nós algo passageiro nesses tempos de crise política, econômica e social vividos pelo país a partir de 2014? Quanto tempo mais vai durar essa inequação?

A propósito de tantas coisas que passam e podem passar pelas nossas cabeças em momentos de crise tão agudos, que tal ouvir a música Nuvem passageira cantada por seu autor, Hermes Aquino, que a lançou em abril de 1976? Vale lembrar também que ela foi a música tema da novela “Casarão” exibida pela Rede Globo de televisão naquela época.

Será que a crise é mesmo uma nuvem passageira ou vai demorar um pouco mais do que podemos estar imaginando?

Nuvem Passageira
Fonte: Letras.mus.br

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

Não adianta escrever meu nome numa pedra
Pois esta pedra em pó vai se transformar
Você não vê que a vida corre contra o tempo
Sou um castelo de areia na beira do mar

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

A lua cheia convida para um longo beijo
Mas o relógio te cobra o dia de amanhã
Estou sozinho, perdido e louco no meu leito
E a namorada analisada por sobre o divã

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva
Não quero nem saber de me fazer ou me matar
Eu vou deixar em dia a vida e a minha energia
Sou um castelo de areia na beira do mar

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
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A manutenção de nossas moradias, sejam elas casas ou apartamentos condominiais, exige uma gestão que garanta a disponibilidade para o uso permanente das instalações, equipamentos e utensílios pertencentes ao ambiente. Ainda que tudo tenha sido projetado e construído por profissionais habilitados conforme a lei, a operação dos ativos é feita pelos moradores usuários das casas e nos casos de condomínios existem aspectos que transcendem cada unidade e seu gerenciamento interfuncional deve ser feito pelo síndico, mas com a cooperação e participação de todos os condôminos em busca do bem comum.

Na nossa cultura ainda predomina a negligência em relação à gestão da manutenção e pouco se faz em ações preventivas. Por isso mesmo, em nossas moradias, a cena mais comum é a manutenção corretiva, quando um bem estraga ou se quebra, uma instalação está com uma infiltração merejando água ou um equipamento eletroeletrônico se queima devido à queda de um raio onde não existe um sistema protetor.

Digo isso para contar a saga do morador de uma casa após perceber um vazamento em sua caixa d’água com capacidade para reservar 500 litros. O fenômeno foi percebido na manhã da quarta-feira antes do Carnaval, quando o morador fechou imediatamente o registro da instalação da entrada de água e conseguiu agendar uma visita técnica de um bombeiro hidráulico autônomo para as 17h do mesmo dia. Entretanto o profissional não apareceu na hora marcada e nem deu satisfação alguma para justificar o seu descompromisso. Mesmo assim, o morador fez um contato com o bombeiro para conversar sobre o acontecido e ele disse que as coisas ficaram “agarradas” e que não deu para comparecer na hora combinada. Novo acordo foi feito para a realização do serviço às 9h do dia seguinte, mas o horário acabou sendo desmarcado pelo bombeiro em cima da hora sob a alegação que precisava resolver uma emergência no serviço feito na tarde do dia anterior. Pacientemente o morador disse ao profissional que ficaria fora de casa durante o Carnaval e agendou uma nova tentativa para que o trabalho fosse feito a partir das 9h da quinta feira após as cinzas do Carnaval. E não é que que o bombeiro hidráulico não apareceu na hora combinada e, ao receber um telefonema do morador, disse que havia se esquecido do combinado e que logo a seguir se deslocaria rumo à casa do cliente? Lá chegou por volta das 11h e identificou que a causa do vazamento da caixa d’água era devido à boia quebrada. Por volta do meio-dia o serviço foi concluído e custou ao morador R$170,00 relativos à mão de obra e aquisição de uma nova boia.

Perguntado sobre a garantia para os serviços realizados, o bombeiro disse que a validade era só até ele passar pelo portão que dá acesso à rua. Em seguida, disse que estava brincando e que em caso de problema era só chamá-lo.

Lembre-se, caro leitor, de que um cliente ao contratar um serviço espera que ele tenha qualidade intrínseca, preço adequado e bom atendimento. Imagine se num curto período de tempo a pia de sua casa aparece entupida enquanto a geladeira pára de refrigerar, o fogão a gás não acende a chama e a máquina de lavar roupas quebra um componente fundamental e você vai procurar um profissional para resolver cada desses problemas. Haja paciência e dinheiro!

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A observação e análise dos fenômenos que acontecem cotidianamente e dos processos que os geram são cada vez mais imprescindíveis nesses tempos de permanentes e velozes mudanças. Mas para se posicionar e se reposicionar estrategicamente em meio a tudo isso – e para melhor prosseguir – é preciso estar muito atento para perceber os sinais que são emitidos pelos meios em que estamos. Eles podem ser observados de vários ângulos que estão presentes na vida familiar, no trabalho, na cidade, no país… É óbvio que cada nível desses precisa ser compreendido, ponderado e relativizado em seus impactos para nos ajudar nas elaborações necessárias ao enfrentamento de cada momento. Se tudo começa com a gente e muitas são as expectativas por uma sociedade mais justa e democrática, o desafio fica por conta das percepções que cada pessoa tem tanto do que já aconteceu quanto do que está para acontecer. Esse é o ponto que quero abordar. O que proponho é uma autoavaliação sobre a maior ou menor capacidade que cada um tem em relação à percepção de sinais e outras reações que precisam ser decodificadas e bem percebidas.

De repente seu chefe no trabalho começa a lhe falar uma série de coisas, sem ir direto ao ponto. Quem é mais atento pode ficar com uma “pulga” atrás da orelha tentando entender o que ele está pensando e onde quer chegar mesmo sem deixar transparecer. Para alguém mais desatento aquela falação do chefe pode até ser vista com sensação de alívio no momento em que ele para de falar. Lá um belo dia, e após não perceber o que o chefe queria dizer, vem a comunicação de sua demissão. A causa pode estar na falta ou incapacidade de alinhamento entre o subordinado e seu chefe. Isso fica ainda mais nítido num ambiente de trabalho em que “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, numa conjuntura de vigência da reforma trabalhista e precarização das relações de trabalho. Em momento tão adverso fica evidente que o desatento não percebeu que o gato subiu no telhado e só despertou quando ele caiu.

Num nível macro é interessante verificar a situação de um Ministro ou Secretário de estado sendo “fritado” e enfraquecido pelo seu chefe que quer o seu posto. Ele fica dando estocadas, mas não quer ter o ônus de fazer a demissão e espera sinceramente que seu subordinado peça para sair. Diante da não percepção e do tempo passando chega-se facilmente a um momento em que uma substituição é especulada pela manhã, e negada, mas acaba acontecendo no final da tarde.

Cada leitor que forçar um pouco a memória poderá se lembrar de muitas situações pessoais, familiares ou profissionais em que o cenário mudou, “o gato subiu no telhado”, como diz a expressão popular, e as mudanças aconteceram mesmo sem ter sido percebidas por muitos, apesar dos sinais que foram emitidos.

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Escrevo esta pensata na manhã da quarta-feira de cinzas, como se tudo estivesse terminado nessa grande festa popular, mas sei que o pós-carnaval ainda vai dar o ar da graça em muitos lugares até o final da semana. Fico pensando para onde vamos, eu, você, nós e toda a polarizada sociedade brasileira já tendo se passado 2 meses do ano que segue firmemente seu curso natural. O que ficou para trás, ficou.

Mas por que pensar, nesse momento, na quantidade de dias que já se passaram nos quais a pauta de notícias verdadeiras e também falsas se renovou quase que a cada instante?

A razão é muito simples. Contrariando recessões econômicas anteriores, dessa vez tudo está bem mais demorado para acontecer numa efetiva retomada do crescimento econômico. De 2014 para cá chegamos ao sétimo ano de pleno desemprego. Enquanto o social grita e suas barragens dão sinais de rachaduras – vide policiais militares amotinados no Ceará – a política partidária está de olho nas eleições municipais para prefeitos e vereadores em 5.570 municípios, que aliás, é onde as pessoas moram.

Em dezembro passado uma expressão bastante ouvida dizia que “agora vai”, mas vai para onde se nós vivemos de resultados? Será que dá para continuar convivendo com um barril de pólvora de 11,6 milhões de desempregados, 5 milhões de desalentados, 3 milhões na fila do bolsa família e quase 2 milhões na fila do INSS? Se o ano começou com a projeção de crescimento do PIB entre 2,30% e 2,50% bastou a divulgação dos índices econômicos de dezembro mostrando uma certa freada na economia para que se mudassem as expectativas. Agora o Boletim Focus do Banco Central já estima crescimento de 2,20% no final do ano. Vale lembrar que no ano passado não foi diferente. A projeção em janeiro era para crescimento do PIB em 2,53% que foi caindo, caindo e deve ficar em torno de 1% quando o IBGE divulgar o número oficial no início de março.

Agora o Presidente da República já fala que espera um crescimento da economia de pelo menos 2% e o prestigiado Superministro da Economia responde que acha que vai dá para alcançar. Fazendo uma analogia com o futebol podemos lembrar que nessa modalidade esportiva quando se diz que o técnico do time está prestigiado é sinal de que aumentaram as chances dele ser demitido por falta de resultados expressivos. Como se vê, não basta só torcer pelos bons resultados e dar demonstrações de fé num momento em que tudo vai mudar num milagroso passe de mágica. Também não basta bradar crenças no liberalismo econômico enquanto se tabela preços para fretes de caminhoneiros ou juros bancários devidamente compensados por aumentos de tarifas de prestação de serviços, por exemplo. Como a economia vive de expectativas e mede permanentemente a confiança e a desconfiança no rumo que as coisas vão tomando, será que surgirão muitos investidores para fazer os investimentos que o país está esperando? Some-se a isso o corona vírus – Covid19 puxando a economia mundial para baixo, a espera permanente pelas reformas tributária e administrativa, ataques presidenciais frequentes à democracia, às instituições do país e à liberdade de imprensa como se fossem um empecilho para que as coisas deem certo. É o que temos para enfrentar  no momento.

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