Algum recado?

por Luis Borges 2 de outubro de 2020   Música na conjuntura

O cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, se estivesse entre nós, teria completado 75 anos de idade no dia 22 de setembro, chegada da primavera no hemisfério Sul. Ele nasceu no Rio de Janeiro em 1945 e faleceu num acidente automobilístico na rodovia PR-280 no município de Marmeleiro, no Paraná, em 29 de abril de 1991, aos 45 anos. Em 1978 ele compôs e cantou a música “Recado”, mesmo nome de seu disco lançado naquele ano, onde mais uma vez ele se posicionou claramente em relação ao seu jeito de ser, seus propósitos e seu aguerrimento em plena vigência da ditadura militar, sempre combatida por ele.

Agora, 42 anos depois, que releitura podemos fazer dessa música? Será que ela nos inspira também a deixar uma mensagem, um aviso, um alerta diante das complexas variáveis que estamos enfrentando na política, na economia, nas condições sociais, culturais, tecnológicas, ambientais e legais que permeiam nossas estratégias de sobrevivência em condições tão adversas?

Já estamos passando pela campanha eleitoral para as eleições municipais que elegerão prefeitos e vereadores em 15 de novembro. Serão muitos ou apenas alguns os recados que serão dados através das urnas? Será que ainda vale o dito popular de que “Quem avisa amigo é”?

Recado 
Fonte: Letras.mus.br

Se me der um beijo eu gosto 
Se me der um tapa eu brigo 
Se me der um grito não calo 
Se mandar calar mais eu falo 
Mas se me der a mão 
Claro, aperto 
Se for franco 
Direto e aberto 
Tô contigo amigo e não abro 
Vamos ver o diabo de perto 
Mas preste bem atenção, seu moço 
Não engulo a fruta e o caroço 
Minha vida é tutano, é osso 
Liberdade virou prisão 
Se é amor deu e recebeu 
Se é suor só o meu e o teu 
Verbo eu, pra mim já morreu 
Quem mandava em mim nem nasceu 

É viver e aprender 
Vá viver e entender, malandro 
Vai compreender 
Vá tratar de viver 
Viver e aprender 
Vá viver e entender, malandro 
Vai compreender 
Vá tratar de viver 

E se tentar me tolher é igual 
Ao fulano de tal que taí 
Se é pra ir vamos juntos 
Se não é já não tô nem aqui.
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Uma primavera de preocupações

por Luis Borges 29 de setembro de 2020   Pensata

Pensei esta pensata a partir da chegada da primavera no hemisfério Sul no dia 22 de setembro. De cara foi bom por que ela veio trazendo chuva após o imenso calor e a baixa umidade relativa do ar ao final do inverno e minha referência é a região metropolitana de Belo Horizonte. É claro que as características dessa estação do ano trazem uma boa expectativa em relação ao rebrotar da flora, a beleza das flores coloridas, a crescente intensificação das chuvas e do calor acompanhado pelas sensações térmicas um pouco acima.

Por outro lado vou falar de algumas das muitas preocupações que continuam enchendo a minha mente diante de tantas variáveis que não controlo, mas que preciso acompanhar devido ao impacto que trazem para a minha vida e creio que também para a sua.

Aqui reforço e ratifico a minha crença de que os fatos, dados e problemas não deixam de existir só por que são ignorados, negados ou escondidos solene e mentirosamente debaixo do tapete. A educação e o conhecimento são a base de tudo e não têm substituto. A verdade é mostrada por evidências objetivas, não pode ser substituída por narrativas baseadas em notícias falsas em prol de um desejo de poder permanente.

Preocupam nesta primavera da sociedade polarizada com falta de respeito, ódio e retrocessos civilizatórios, os rumos do combate à pandemia da Covid-19. A flexibilização chegou como um alento para a retomada da economia, mas sem volta às aulas, expectativas de uma vacina eficaz e segura para a virada do ano e a certeza de perda do poder aquisitivo – 20% em média. Mas será que a dengue virá mais fraca? O dever de casa está sendo feito?

Também são preocupantes as consequências do fogo na Floresta Amazônica, no Pantanal do Mato Grosso, no interior do estado de São Paulo e nas montanhas de Minas Gerais. Não é só a chuva preta e a reação dos mercados internacionais, também me preocupam os números mostrados pelo IBGE, a partir do método científico, que contabilizam em torno de 14 milhões de desempregados, 5 milhões de desalentados e mais de 10 milhões de pessoas passando fome. A carestia se acentua diante dos preços do arroz, do óleo de soja, da carne bovina, do milho… Não vale dizer que o auxílio emergencial em 4 parcelas de R$600 e outras 4 de R$300,00 somados ao dólar bem alto e ao aumento de exportações desorganizaram a lei da oferta e da procura. Canetada para conter preços e liberalismo não combinam, segundo os liberais mais sinceros.

Fico esperando uma bolsa “capitalismo” a partir de janeiro para garantir uma renda mínima para a camada da população mais pobre e para os que estão abaixo da linha da pobreza. Será necessário ceder alguns anéis do sistema para não perder os dedos. Mas de onde virá o dinheiro? Da nova embalagem da antiga CPMF, ou seja, do aumento de tributos, do corte de gastos públicos com as castas dos servidores públicos dos 3 poderes, do capital financeiro, da tributação de empresas optantes pelo Simples…

Meu espaço acabou, mas as preocupações não. Falarei mais sobre elas numa futura pensata, talvez ainda na primavera.

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Vale a leitura

por Luis Borges 26 de setembro de 2020   Vale a leitura

Dominado pelo ressentimento

De vez em quando é importante parar um pouco e pensar sobre como o ressentimento nos afeta em função de nossas escolhas e também das não escolhas. Às vezes é mais cômodo não tomar uma decisão esperando que o outro faça isso por nós ou então apontar um culpado pelo nosso fracasso. Fica fácil encher o pote de mágoa e se afogar nele ou, quem sabe, acumular forças para fazer a ruptura do pote.

Conheça a visão da jornalista e psicanalista Maria Rita Kehl sobre o tema numa entrevista ao HuffPost Brasil – As raízes do ressentimento que carregamos e como a sociedade vai ficando mais ressentida

O que está em jogo a ponto de os ressentidos se recusarem a esquecer ou superar algo?

O sujeito se torna ressentido quando não reage, ou não luta, para se defender de uma ofensa; nem se arrisca a expressar, em um debate, sua opinião. Não se esforça para tentar conquistar algo que deseja muito, mas cuja conquista não é garantida – ele pode ganhar, mas também pode perder. Então, ele recua. Mas como recuou diante de um desejo ou de um enfrentamento importante, como não se defendeu de um agravo ou uma injustiça, depois não consegue esquecer. E passa a vida a culpar alguém que o teria prejudicado por não lhe conceder, de mão beijada, o que ele desejava.

Quando o bom dia vira negócio

Você já deve ter se acostumando a receber um cumprimento diário de “bom dia” de uma pessoa amiga, colega de trabalho… pelo WhatsApp ou de participantes de grupos dos quais você faz parte. Muitas vezes você até reclama de tantos “bom dia”, “bom dia”, “bom dia” que recebe. Mas existem também as mensagens de bom dia de conteúdos bem produzidos que trazem a esperança de uma melhoria contínua para prosseguimento de nossas vidas. Atender a essa necessidade das pessoas pode ser uma boa oportunidade de negócios. Alguns exemplos disso foram mostrados por Vitor Tavares no artigo Mensagem de bom dia: o mercado por trás das imagens que você recebe no whatsapp” publicado pela BBC e repostado pelo UOL Tilt.

O empresário Ricardo Oliveira comanda uma rede de sites que alcança milhares de pessoas diariamente — o número exato nem ele mesmo sabe. A produção, porém, é intensa. Junto a Oliveira, outras sete pessoas (uma sócia, três funcionários e três freelancers) estão envolvidas na concepção, produção e publicação dos desejos de “bom dia”, “boa noite”, recados de otimismo, legendas prontas e mensagens religiosas em cinco dos sites mais bem ranqueados no Google — ou seja, aqueles que aparecem primeiro quando buscamos palavras como “mensagens de bom dia”

Por dia, são publicadas mais de 10 imagens e 20 frases de efeito — que internautas, ao visitarem os sites, podem copiar ou linkar direto para uma conta de WhatsApp com um clique.

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O último 10 de setembro marcou mais uma vez o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, data criada em 2003 pela Organização Mundial da Saúde e pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio. Em função dessa data o Centro de Valorização da Vida (CVV) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) criaram, em 2015, o Setembro Amarelo, campanha brasileira com o mesmo objetivo que chegou ao seu sexto ano de realização. Alguns leitores poderiam até perguntar por que essa campanha é necessária, mas alguns fatos e dados abordados a seguir evidenciam o quanto ela se justifica.

Falar em morte geralmente é um tabu para boa parte das pessoas e quando ela acontece em decorrência de um suicídio parece que o tabu só aumenta. Afinal de contas não é nada fácil tentar entender as razões para uma pessoa decidir antecipar o fim de sua vida intencionalmente.

Segundo a OMS a cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo e no ano passado aproximadamente um milhão de pessoas praticaram tal ato. É preciso ressaltar que há subnotificação de casos em muitos países. Por outro lado existem estimativas dando conta de que as tentativas fracassadas de suicídio no mundo teriam chegado a 10 milhões no último ano.

Como se vê em função dos dados existentes esse é um problema crônico que precisa ser enfrentado mundialmente. Segundo Antônio Geraldo da Silva, Presidente da ABP, a quase totalidade dos óbitos por suicídio em todo o mundo se relaciona a doenças mentais não tratadas ou tratadas de forma inadequada, em 96,8% dos casos. Transtornos de humor, como depressão e transtorno bipolar, transtornos por uso de substâncias e esquizofrenia são os três mais associados à tentativa de suicídio.

Eu poderia continuar abordando diversas outras dimensões do suicídio, mas o que mais nos desafia na situação atual é o que podemos fazer para ajudar as pessoas que estão precisando de apoio. Como sempre a educação é a base de tudo. É preciso abordar continuamente o tema de maneira preventiva para romper o tabu que o cerca. O setembro amarelo tem contribuído muito nesse sentido. É preciso estar atento para perceber os sinais que as pessoas emitem para pedir ajuda, socorro e ter compaixão, solidariedade para ver e agir diante do problema.

Apesar de tudo o que o país enfrenta na saúde pública, existem alternativas. Um exemplo disso é o CVV, o Centro de Valorização da Vida, trabalho voluntário que existe há 58 anos sempre atendendo, ouvindo e falando pelo telefone no número 188 durante 24 horas por dia. Também existem os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS – ligados às prefeituras municipais, os serviços gratuitos de atendimento de algumas universidades e faculdades nos cursos de psicologia e medicina, bem como o de algumas organizações religiosas voltadas para o serviço social. É necessário conhecer o caminho das pedras para melhor orientar quem precisa de tratamento em situações de adversidade. Precisamos combater a inércia, deixar o primado da mera contemplação dos problemas e partir para a ação com método, foco, determinação e constância de propósitos. Que prevaleça o dom da vida!

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Barracão e pandemia

por Luis Borges 15 de setembro de 2020   Música na conjuntura

A cantora brasileira Eliseth Cardoso (1920 – 1990), a Divina, se estivesse entre nós teria completado 100 anos de idade no dia 16 de julho. Um dos grandes sucessos de sua consagrada vida artística foi a interpretação da música Barracão composta por Antônio de Pádua Vieira da Costa, o Luis Antônio, em 1953, um samba com tema que aborda o drama social dos operários “pingentes” dos trens da Central, que viajavam pendurados para fora dos vagões no Rio de Janeiro.

O Brasil tinha pouco mais de 56 milhões de habitantes e uma enorme desigualdade social a ser vencida. Agora em plena pandemia da Covid-19 a desigualdade social ficou ainda mais escancarada e contrasta com algumas medidas que tentam evitar a aglomeração de pessoas que continuam precisando se deslocar em ônibus e trens superlotados para chegar aos seus barracões nos aglomerados das periferias das cidades. Como se vê, quase 70 anos depois da composição da música o problema continua crônico no país que tem hoje em torno de 209 milhões de habitantes e a renda cada vez mais concentrada nas mãos de poucos.

Barracão
Fonte: Letras.mus.br

Vai, barracão
Pendurado no morro
E pedindo socorro
A cidade a seus pés
Vai, barracão
Tua voz eu escuto
Não te esqueço um minuto
Porque sei
Que tu és
Barracão de zinco
Tradição do meu país
Barracão de zinco
Pobretão, infeliz
Vai, barracão
Pendurado no morro
E pedindo socorro
A cidade
A seus pés
Vai, barracão
Tua voz eu escuto
Não te esqueço um minuto
Porque sei
Que tu és
Barracão de zinco
Tradição do meu país
Barracão de zinco
Pobretão, infeliz
Barracão de zinco
Barracão de zinco
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Geralmente somos chamados a participar de reuniões, convidados ou convocados, nas diferentes fases de nossas vidas. Tem reunião para todo gosto – ou desgosto – no trabalho, na escola, no clube esportivo, no partido político, na associação de moradores, na família… Já abordei o assunto na pensata Ninguém merece reuniões improdutivas no início de 2018. Não raro acabamos caindo num verdadeiro “pudim de reuniões”, a começar pelo trabalho que é o meu ponto aqui.

Agora nesses tempos de pandemia e novos padrões sanitários para combater a disseminação da infecção, o trabalho remoto ganhou muita evidência. Entretanto os velhos e crônicos problemas envolvendo a gestão da reunião e o comportamento dos participantes prosseguem. A “reunionite” presencial ganhou muito fôlego na modalidade remota.

Quando se pensa em fazer uma reunião a primeira pergunta a ser respondida é se ela é realmente necessária. Depois é que se deve ver o que fazer e como fazer, inclusive se presencial ou em videoconferência.

Mas se os tempos mudaram em função da pandemia, que exige mais rigor e disciplina no cumprimento de novos padrões sanitários, o fato é que a reunião no trabalho continua com os problemas de sempre.

Conversando com pessoas que trabalham em cidades como Belo Horizonte, Araxá, Campinas e São Paulo todos citaram os mesmos problemas. De cara apareceu o cumprimento do horário de início e término da reunião, com destaque para o atraso na hora de começar, o que pune os participantes cumpridores dos horários. Vem em seguida a falta de preparação de boa parte dos participantes, tanto dos efetivos quanto dos convidados temáticos, também chamados de “optativos” em algumas empresas. Os estilos dos participantes continuam os mesmos, a começar pelos falantes, que entendem de tudo, mas sempre superficialmente. Os caladinhos ficam apenas de corpo presente enquanto os polemistas se sentem com a missão de instigar e os consensualistas tentam construir alguma solução que resolva o problema. Vale lembrar também que nem todos os coordenadores conseguem liderar uma reunião.

Agora novos problemas estão acontecendo nas reuniões por videoconferência e se somam aos velhos. De repente cai a conexão (e, com ela, chega a ansiedade pela reconexão). Há também os ruídos que surgem das brincadeiras das crianças, dos cachorros que latem na vizinhança, do interfone que chama, da reforma de uma edificação próxima, de um equipamento eletrodoméstico em utilização… Isso sem se esquecer da dor na coluna, que só aumenta enquanto se intensifica o trabalho remoto. Tudo contribui para a dispersão e o cansaço mental enquanto a pandemia prossegue e nós também prosseguimos vivendo um dia de cada vez, mas sabendo que muitas reuniões nos esperam com a conhecida improdutividade de sempre.

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Vale a leitura

por Luis Borges 4 de setembro de 2020   Vale a leitura

E se você for cancelado?

Qual é a sua primeira reação quando o seu número de WhatsApp é bloqueado por alguém? E quando é você que bloqueia o outro? Imagine, agora, se você é que foi cancelado na internet, o que pensar ou fazer para compreender as causas do acontecido? Em que medida isso pode afetar a saúde mental do cancelado? Leia abordagem Priscila Carvalho no artigo Cancelamento virtual: como essa atitude pode afetar a saúde mental publicado no blog Viva Bem.

A pauta nunca esteve tão em alta quando o assunto é boicotar determinada pessoa por ela ter sido mal interpretada ou feito ou dito algo ruim diante das redes sociais. E isso não acontece apenas com famosos: pessoas anônimas também podem ter a vida prejudicada devido ao cancelamento. Basta alguém apertar o botão publicar, esperar alguns segundos e a vida de outra pessoa poderá ser comprometida por meses e até anos.

Aprendendo com erros e acertos

Estamos no sexto mês da pandemia da Covid-19, cheios de fatos e dados que, se bem observados e analisados, podem nos ajudar a aumentar o conhecimento e a aprendizagem para melhor enfrentar o problema. Interessantes abordagens tem surgido em torno do tema, mas devem ser lidas de maneira crítica, como sempre. É o caso do artigo Sete lições da pandemia para o Brasil: falta liderança e muito mais de Cristiane Segatto publicado no blog Viva Bem.

O que determina o sucesso de um país na resposta à Covid-19? Há vários fatores envolvidos nisso, mas um dos principais é a capacidade dos governos de conquistar a confiança da população. Se os cidadãos não se convencem da necessidade de adotar comportamentos que reduzem a disseminação do vírus, já era.

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Chegou ao fim o prazo legal para que o Poder Executivo da União, estados e municípios envie ao legislativo o Projeto de Lei Orçamentária para o ano de 2021 tendo como referência o que determina a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) aprovada em julho.

Os modelos de gestão de negócios consistentes determinam que o orçamento deve estar alinhadíssimo com o planejamento estratégico nos horizontes de curto, médio e longo prazos.

Nesse sentido ainda estamos longe da excelência enquanto país, mas é preciso persistir na busca permanente da melhoria continuada gestão. Precisamos de método, seqüência, constância de propósitos sempre tendo como base o conhecimento, nunca o achismo.

Para tratar o orçamento de maneira séria é preciso romper a percepção predominante na cultura de que ele é uma mera peça de ficção para cumprir uma exigência da lei. Isso dá margem para se fazer estimativas muito altas de receitas, que em sua imensa maioria não são atingidas e ficam em torno de 15% a 20% da meta estabelecida. Um exemplo didático vem do orçamento da Prefeitura de Belo Horizonte em 2019 que projetou arrecadar R$12,933 bilhões, mas só conseguiu R$10,653 bilhões, ou seja 17,6% abaixo da meta. Isso facilita uma distorção da legislação que, ao estabelecer o percentual de repasses de recursos financeiros aos poderes Legislativo e Judiciário, determina que ele deve ser calculado sobre a receita estimada no orçamento independente do que for efetivamente arrecadado.

A análise de conjuntura e cenários feita por agora vai determinar as premissas que regerão o plano orçamentário até o final do próximo ano. Podemos imaginar as incertezas que nos afetam nesse estágio da pandemia e como estaremos no pós vacina eficaz e segura. Em quanto pode ser estimado o crescimento da economia, o índice de inflação, a taxa básica de juros e a cotação do dólar? É importante lembrar a contração da economia, agora estimada pelo Banco Central em 5,28%, o que torna fraca a nossa base para comparações. As estratégias serão de sobrevivência, manutenção, crescimento ou desenvolvimento?

Seria prudente avaliar os resultados do orçamento a cada 6 meses e fazer um reposicionamento, principalmente quanto à entrada de recursos que não aconteceram no período avaliado.

Como os recursos são finitos é óbvio que prioridades devem ser estabelecidas e intensas negociações serão feitas entre as partes envolvidas. É claro que existem a lei de responsabilidade fiscal, o teto de gastos públicos, os déficits orçamentários de anos anteriores e as dificuldades políticas para se fazer uma reforma administrativa que defina por exemplo, um teto para a remuneração da casta de servidores públicos – hoje o teto é para o salário base, ao qual se somam os inúmeros penduricalhos.

Como se vê os desafios são enormes e há muito o que se fazer para chegar a um orçamento cada vez mais efetivo e respeitoso com os tributos pagos pela população.

Só para refletir: como são feitos o seu orçamento individual e o da sua família?

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Ouvidos mais aguçados

por Luis Borges 23 de agosto de 2020   Pensata

O tempo prossegue sua caminhada indelével – permanente, que não se pode apagar. Assim sendo fico até um pouco assustado ao medir a passagem mais recente dele e perceber que já estamos no sexto mês da pandemia da Covid-19 na contagem de meados de março para cá. Uma certeza que tenho nesse momento é que a pandemia não acabou e precisa continuar a ser combatida por todos conforme a responsabilidade de cada um. Percebo também que estamos vivendo com novos padrões na rotina da vida diária que desafiam o comportamento de todos no sentido de prevalecer a autodisciplina no cumprimento desses novos padrões, tanto os legais quanto os individuais ou familiares.

Um caso que tem chamado bastante a minha atenção em função do grande tempo de permanência em casa é o aguçamento maior dos meus já aguçados ouvidos. Estou percebendo muito mais alguns detalhes de sons agradáveis e também desagradáveis que surgem enquanto o dia cresce. Sei que existem sons inerentes aos processos da vida diária, que fazem parte da rotina e que não dá para fugir deles dentro de casa. Outros podem ser gerenciados, como a altura de uma música, de uma informação no rádio ou de uma conversa pelo telefone, por exemplo. Por outro lado existem os sons provenientes do entorno formado por vizinhos, ruas, avenidas, veículos, animais…

Dentro de casa não dá para passar despercebido que o som emitido por determinados aparelhos eletrodomésticos é simplesmente um tremendo barulho contribuindo para a poluição sonora. Posso citar o liquidificador, a máquina de lavar roupas, a panela de pressão no seu auge e o secador de cabelo. Um contraponto vem de músicas ,como a popular brasileira, a clássica ou a folclórica, que tenho ouvido bastante por iniciativa própria e que me fazem bem. Existem também aqueles que não dependem de mim, como o gostoso canto de diversos pássaros notadamente a partir da aurora de todas as manhãs. Também estou atento aos sons do entorno que surgem a qualquer momento a começar pelo alto volume de diversos gêneros musicais vindos de diferentes distâncias, automóveis e motocicletas buzinando na rua, o trem de ferro com várias composições passando ou fazendo manobras que realçam o barulho próprio que se soma aos diversos buzinaços, o foguetório que acompanha determinados eventos e o barulho dos ventos que passam a 50km/h de vez em quando.

Como os padrões devem ser revisados periodicamente vamos ver como ficarão as coisas nos desdobramentos pós pandemia já que, como dizia Heráclito em 501 a.C, “nada existe em caráter permanente a não ser a mudança”. E você, caro leitor, tem ficado com os ouvidos mais aguçados diante dos sons do cotidiano?

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Síndico do prédio nunca mais

por Luis Borges 17 de agosto de 2020   Pensata

No último fim de semana fiz uma visita a um amigo paulistano por meio do velho e bom telefone fixo. É aquele mesmo, que foi adquirido na época do plano de expansão da operadora de telefonia – Telemig – pago em inúmeras parcelas mensais no final da década de 70 do século passado.

Na extensa pauta que marcou a visita coube muita coisa, desde a vida na pandemia com a família na residência em suas várias variáveis, o teletrabalho, as incertezas dos cenários e a decisão de nunca mais ser o síndico do prédio em que mora. Este é o ponto que quero abordar aqui.

O amigo disse que há 14 anos é proprietário do apartamento em que mora e que foi o síndico do prédio nos últimos oito anos, em quatro mandatos consecutivos de dois anos cada, que acabaram de se encerrar. Perguntei a ele qual a causa da decisão tão peremptória marcada com a expressão “nunca mais” para que eu entendesse o caso e a sua decisão. O amigo disse que o prédio existe há 38 anos, tem 40 apartamentos – 4 por andar – em dez pavimentos e 30 vagas de garagem, sendo que um veículo prende o outro. Esse é o detalhe que sempre gera uma fadiga permanente na relação entre os usuários das vagas a partir de alguns que tem comportamentos desrespeitosos, pouco civilizados e que criam impasses para exigir a presença do síndico na mediação dos conflitos. As principais causas de atritos entre os usuários das vagas são os pequenos choques que amassam os veículos, os moradores que não deixam a chave na portaria do prédio para que seja possível manobrar o carro e também aqueles que estacionam o veículo de qualquer maneira quando a vaga está livre. O acirramento aumentou com a pandemia devido à presença mais duradoura das pessoas no prédio, inclusive crianças sem aulas, e muita gente também entrando e saindo do prédio com seus veículos, quase que num bate e volta, indo dar uma espairecida nas ruas.

O amigo sempre exerceu a função de síndico de maneira honorífica e apresentou excelentes níveis de resultados em sua gestão marcada pela liderança apesar do comparecimento médio de 20% dos moradores nas assembléias gerais do prédio, o que, aliás, é uma característica brasileira marcante. Reclamar, se vitimizar e não se comprometer é sempre mais fácil. Ele concluiu esse tema dizendo que chegou num ponto que “deu”, que deixou de ter motivos para a ação – motivação – diante de tanta falta de cooperação entre determinadas pessoas que agem como se não estivessem no mesmo barco com os demais moradores do prédio.

Finalmente, quando nos despedimos ao final da visita, o amigo disse que seu próximo sonho é encontrar uma moradia unifamiliar para prosseguir em sua trajetória de vida. Pelo visto, prédio também nunca mais. Será? A conferir. E se fosse com você, que solução seria dada?

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