Se você fosse ouvido por um instituto de pesquisa durante um levantamento para retratar um determinado instante do tempo, o que diria se a pergunta fosse “quais são as suas preocupações nesta virada do ano”? Por acaso estariam entre elas o aumento da pobreza, do desemprego e da fome? Apareceria na sua resposta a economia que nunca deslancha e é cada vez mais marcada pela estagnação com inflação alta? Em que sequência apareceriam as preocupações com a educação, saúde, segurança, combate à corrupção e reforma política, por exemplo?

Pelo que tenho visto em algumas pesquisas confiáveis divulgadas por agora fica disparada em primeiro lugar a preocupação com o aumento da pobreza e da fome. Em segundo lugar, mais abaixo, aparece a economia que não cresce.

Observando e analisando os fatos e dados vai ficando clara a consolidação das perdas do poder aquisitivo causadas pela alta inflação. Retrato disso é que, em média, 70% das categorias trabalhistas não conseguiram negociar ajustes salariais para repor a inflação. Junte-se a isso a não correção da tabela do Imposto de Renda das pessoas físicas, o que já acontece há 7 anos. Na prática, um aumento de carga tributária. No cálculo da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal a defasagem na correção da tabela nos últimos 25 anos (1996- 2021) chegou a 130% e gerou uma arrecadação extra para os cofres públicos de R$149 bilhões. Ainda segundo a Unafisco, se a correção tivesse sido plena, estariam isentos de pagar imposto de renda os ganhos até R$4.469,02 ao invés dos atuais R$ 1.903,98. Na faixa superior da tabela estariam sujeitos à alíquota de 27,5% os ganhos acima de R$10.948,96 e não os atuais R$4.664,69.

A proposta de reforma ampla do Imposto de Renda enviada pelo Ministério da Economia à Câmara dos Deputados em junho de 2021 tentava fazer uma tênue correção da tabela, mas empacou no Senado e foi colocada na “geladeira” pelo senador Ângelo Coronel (PSD-BA), relator da proposta. Para evitar o vácuo deixado, o relator apresentou em 15 de dezembro de 2021 um novo texto tratando apenas da tabela do Imposto de Renda, que deve começar a ser discutido pelos senadores a partir de fevereiro de 2022 após o fim das férias dos parlamentares. Essencialmente entre as proposições estão o limite de isenção para quem ganha até R$3.300 mensais, a extinção da alíquota de 7,5%, a manutenção das demais alíquotas, sendo corrigidas em 13,6%, o que elevará a alíquota máxima de 27,5% para R$5.300,00 ao invés dos atuais R$4.664,68. Faz parte também a correção automática da tabela toda vez que a inflação acumulada chegar a 10%. A ideia é que tudo entre em vigor em 2022.

Se tudo der certo, será que isso estará aprovado antes das eleições ou é apenas mais um canto de sereia no tempo que não deixa de passar? Enquanto isso a cada mês consolidam-se as perdas do poder aquisitivo praticamente sem perspectivas de serem recuperadas numa conjuntura em que prevalecem as estratégias de sobrevivência num verdadeiro “salve-se quem puder” pois “o trem tá feio mesmo”. Basta olhar para a drástica redução da classe média e o grande aumento da base da pirâmide social.

E você, caro leitor, como avalia o seu caso diante dos fatos e dados aqui citados?

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As confraternizações de fim de ano no local de trabalho, seja ele público ou privado, as conhecidas “festas da firma”, ganharam um bom fôlego neste mês. O mesmo mês de dezembro do ano passado parece ter deixado muitas pessoas com saudades desse tipo de evento.

É interessante notar algumas perguntas clássicas que surgem entre as pessoas que estão conseguindo trabalhar formalmente, principalmente com a carteira assinada ou concursados no serviço público, nestes tempos tão bicudos marcados pelas estratégias de sobrevivência. Geralmente alguém pergunta para o outro se haverá uma festa ou encontro no trabalho nesse final de ano e se a pessoa está disposta a comparecer, se haverá troca de presentes no modo amigo secreto ou oculto (qual o valor máximo e mínimo), quanto vai custar o evento, quem bancará, se vai sobrar a conta para ser dividida entre os participantes e assim por diante.

Mas que motivos teriam as pessoas para ir ou não ir a esse tipo de encontro depois de tudo de bom e de ruim que aconteceu ao longo do ano? As mágoas ainda marcam os corações após as trombadas. Ainda mais se forem com o chefe que não é gestor pela liderança e que termina a parada em qualquer embate no melhor estilo do “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Tudo isso apesar do discurso enaltecendo – sem praticar – o respeito às pessoas, o processo de trabalho participativo, o clima organizacional favorável à obtenção de resultados/entregas, as perspectivas de crescimento profissional, a transparência…

Muitos dizem que o comparecimento será uma forma de ficar bem politicamente com todo mundo em seus diversos níveis de cargos e funções. Outros dizem que é hora de perdoar, reconciliar e de ter esperança em dias melhores nas relações de trabalho, acreditando que os outros também poderão mudar.

Também dá para lembrar daqueles que dão uma passada básica pela festa para ficar “bem na fita” e aqueles que agradecem a Deus por estarem de férias durante todo o mês de dezembro, o que traz uma boa justificativa perante os que observam e analisam as causas que levam alguém a não comparecer a esse tipo de evento, que alguns consideram ser uma extensão do trabalho.

“Um pouco de hipocrisia não faz mal a ninguém”, costumam dizer os que tem um alto Índice de Viração Própria- IVP.

Se “o melhor da festa é esperar por ela”, podemos também ter expectativas em relação aos “babados e bafões” que terão repercussão durante a própria festa e após o seu término. Geralmente existem alguns participantes que se entusiasmam com a bebidas alcoólicas e de repente começam a falar tudo o que pensam, estimulados pelo “soro da verdade”.

Existem aqueles que emitem pareceres sobre o desempenho de colegas e dizem que demitiriam determinados chefes num verdadeiro ato de sincericídio – sinceridade suicida. Vale realçar os que repetem várias vezes declarações do tipo “gosto muito de você”, ” te admiro muito no seu modo de ser” e “desculpe-me por qualquer coisa ao longo do ano”. Alguns sinceramente choram diante de tanta emoção.

Interessante é notar a vergonha daqueles que ficam fechados em suas salas no primeiro dia de trabalho após a festa e só circulam pelos corredores quando estritamente necessário. Existem também os que reclamam porque deram um presente de amigo secreto no valor do teto estabelecido e receberam um presente no menor valor fixado.

Enfim, pode acontecer um pouco de tudo, mas com certeza muita gente estará de olho na tela do celular o maior tempo possível. Provavelmente existirão aqueles que se perguntarão se aquele ambiente, provavelmente fechado, poderia ser transformado num verdadeiro “covidário” diante da aglomeração e da dispensa das máscaras. E você, caro leitor, como tem sido a sua experiência diante desse tipo de confraternização no trabalho?

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Natal, carestia e famélicos

por Luis Borges 6 de dezembro de 2021   Pensata

O ano caminha para o fim, sinalizado pela chegada do Natal precedido pela preparação que o advento propõe. Nesse tempo miramos o renascimento e o fortalecimento da esperança em tempos melhores que precisam chegar. Nada é tão bom que não possa ser melhorado e nem tão ruim que não possa ser piorado.

Parto da premissa de que tudo começa com a gente e depende de nós a partir do indivíduo, da família e do coletivo social com o devido respeito às pessoas e às regras do regime democrático numa sociedade civilizada. Pensando e refletindo sobre isso acabei olhando um pouco para trás no tempo, mais precisamente para o Natal do ano passado, que já foi tão difícil. Lembrei-me das condições de contorno em relação ao enfrentamento da pandemia da Covid-19, ainda sem vacina, mas com as agora já clássicas medidas de saúde pública para conter o vírus – uso de máscara, de álcool em gel, adoção do distanciamento social, o “não” às aglomerações, o trabalho remoto, o “se possível, fique em casa”…

Agora, um ano depois, o Natal acontece sem que a pandemia tenha acabado e uma espada paira sobre nossas cabeças com a presença de mais uma variante da Covid-19, a ômicron, que continua a nos exigir cautela e manter as precauções e cuidados diante de tantas possibilidades de aglomerações nos eventos dessa época do ano. Lembremo-nos desses mesmos eventos em igual período do ano passado.

Por outro lado, por tudo que o Natal possa significar para as pessoas em diferentes aspectos, não dá para ignorar as condições políticas, econômicas e sociais que nos afetam direta e indiretamente neste Natal. Os fatos e dados escancaram o desemprego, o trabalho informal crescente, o aumento da carestia diante da alta inflação e a consequente perda de poder aquisitivo. A fome e o aumento dos famélicos mostram como se acentuam a desigualdade e a péssima distribuição de renda, que só aumentam a quantidade de pessoas na base da pirâmide social e sua distância para os poucos que estão em seu nível mais alto.

Por mais realistas e esperançosos que sejamos, fica claro que precisamos unir forças e lutar pela retomada do crescimento da economia estagnada há sete anos, por uma política energética que não se baseie no preço internacional do petróleo, no combate permanente ao desmatamento e à degradação ambiental…

Enfim, é tempo de Natal, mas não dá para ser feliz assim com tantos incômodos, preocupações, incertezas e medos, até de sair às ruas, e ainda tendo de se lembrar dos cuidados obrigatórios para manter a saúde mental. Haja resiliência, mas desistir jamais.

Quem sabe, que tal começar a imaginar os cenários para o próximo Natal no ano eleitoral de 2022? Como canta Gilberto Gil em sua música Viramundo (1967)

“Ainda viro este mundo em festa, trabalho e pão”.

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Recesso

por Luis Borges 14 de novembro de 2021   Sem categoria

O Observação & Análise entra em recesso a partir de hoje. Voltamos no dia 6 de dezembro.

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Uma vendedora sem treinamento

por Luis Borges 10 de novembro de 2021   Pensata

Algumas vezes tenho insistido neste espaço que os clientes esperam receber de seus fornecedores de bens e serviços tudo o que foi solicitado conforme as especificações feitas, com preço justo e que a entrega aconteça no prazo combinado. Imagine a insatisfação de qualquer cliente, por mais complacente que ele seja, quando pelo menos uma dessas três dimensões não é atendida plenamente! Alguns clientes até tentam entender as causas do efeito indesejável, ou seja, do problema gerado. Com certeza o gerente do processo deveria resolver o problema após identificar a suas causas, para estancar as perdas que decorrem dele, inclusive a perda do cliente.

Exemplifica bem essa situação o caso de um cliente de uma loja que comercializa tintas para pintura de paredes de imóveis na região Leste de Belo Horizonte. A construção civil está retomando o crescimento em meio a uma alta inflação, inclusive no setor, e falta de alguns insumos que, quando reaparecem, voltam mais caros. Assim, atrasos de cronogramas tornam-se inevitáveis, até mesmo para fazer o reequilíbrio orçamentário.

Esse cliente comprou duas latas de tinta com a capacidade de 18L, na cor branco neve, e saiu da loja rapidamente sem conferir a especificação do bem adquirido. Como sempre, estava com muita pressa na “correria louca” do seu cotidiano. Tão logo o pintor de paredes recebeu a tinta já foi dizendo que a cor estava errada, pois veio branco gelo. Mesmo diante da falta de tempo e da necessidade da continuidade da pintura, o jeito foi voltar rapidamente à loja para efetuar a troca das latas para a cor branco neve.

A chegada à loja foi o início de um verdadeiro calvário. O estacionamento para veículos dos clientes estava com as três vagas ocupadas e sem previsão de alteração. O jeito foi procurar outro local para estacionamento nas proximidades. Passaram-se 15 minutos até o cliente finalmente entrar na loja. Todas as atendentes do balcão estavam ocupadas e 10 minutos depois é que uma delas ficou disponível. Como se tratava de uma devolução, com geração de crédito no sistema operacional, ela sentiu-se insegura alegando que não conhecia o processo. Estava há menos de um mês trabalhando na loja e o sistema é diferente daquele que ela utilizava em seu trabalho anterior. Só lhe restou pedir ajuda a uma colega, o que foi iniciado após a conclusão do atendimento do cliente que já estava em andamento. Lá se foram mais 10 minutos de espera. Finalmente começou um treinamento no padrão de lançamento de crédito que não era escrito, e cada empregado faz do jeito que entende até conseguir concluir a tarefa. Após mais 10 minutos a vendedora se sentiu em condições de fazer a operação.

Lançado o crédito no sistema foi possível dar saída no estoque das latas de tinta na cor branco neve. Outros 10 minutos se passaram para que um Auxiliar de Serviços Gerais levasse as latas até o carro do cliente, que estava estacionado a dois quarteirões da loja. O cliente acabou gastando quase 1 hora do seu precioso tempo para fazer a troca das latas de tinta, mas poderia ser bem menos se a vendedora da loja tivesse sido treinada no Padrão Operacional do Processo (POP) ou se a mercadoria tivesse sido conferida antes de sair da loja. Obviamente nem teria sido necessária a troca.

O treinamento continua sendo essencial no sistema de gestão de qualquer negócio, seja ele micro, pequeno, médio ou grande, público ou privado. Continuamos longe da excelência, mas não podemos desanimar.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 8 de novembro de 2021   Curtas e curtinhas

Quatro anos de Reforma Trabalhista

Entrou em vigor no mês de novembro de 2017 a Reforma Trabalhista, quando Michel Temer era Presidente da República. Como sempre, a Reforma era a panaceia para todos os males e, na propaganda oficial em sua defesa, se falava na geração de 2 milhões de empregos nos dois primeiros anos de sua vigência e de 6 milhões ao longo de 10 anos. Recentemente o próprio Temer reconheceu o exagero destes números.

Passados quatro anos o que cresceu foi a quantidade de desempregados, com o acréscimo de mais 2 milhões de pessoas aos 12 milhões já existentes, segundo o IBGE. A nova legislação trouxe mais flexibilidade para os empregadores na hora de contratar e demitir empregados, mas não foi capaz de aumentar a quantidade de vagas. Para isso, a economia e os investimentos deveriam crescer muito mais ao invés da redução ou extinção de direitos trabalhistas. O que sobrou foi a precarização das condições de trabalho.

Duas ou três casas decimais?

A diretoria da Agência Nacional de Petróleo definiu que os combustíveis para veículos automotores comercializados pelos postos deverão ter seus preços nas bombas exibidos com duas casas decimais, no lugar das três usadas atualmente. Assim, o preço de 1 litro de gasolina comum será vendido a R$6,97 e não mais a R$6,974, por exemplo. A medida entra em vigor 6 meses depois de sua publicação no Diário Oficial da União, ou seja, no início de maio de 2022 . Segundo a ANP, a mudança visa facilitar “o entendimento dos consumidores” sobre os preços.

Parece que se lembraram dos critérios de arredondamento da matemática enquanto os preços da gasolina, óleo diesel e etanol continuam subindo. É importante lembrar que o uso das três casas após a virgula(centésimos) vem desde 1994, no início do Plano Real, e tinha também como objetivo a melhor compreensão dos consumidores, pois a diferença de preços entre postos poderia estar nos centésimos. Muda isso, muda aquilo, mas é tudo a mesma coisa.

Mutirão tenta receber dívidas

A Federação Brasileira de Bancos, o Banco Central do Brasil, a Secretaria Nacional do Consumidor e o Senado Federal estão promovendo durante o mês de novembro um mutirão para a renegociação das dívidas em atraso de pessoas físicas com as instituições bancarias e financeiras. Na campanha falam até em educação financeira, mas não abordam as altas taxas de juros cobradas nas quais estão embutidos os riscos dos calotes dos devedores. Falam também em reinserção dos devedores no mercado após a renegociação, mas é claro que tudo que for conseguido será bom para enfeitar os resultados nos bancos no balanço de 31 de dezembro. Como sabemos, banco é banco e melhor seria não precisar deles, mas como fazer isso na difícil conjuntura que estamos atravessando com estratégias de sobrevivência?

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 31 de outubro de 2021   Curtas e curtinhas

Perdas salariais 

Sabemos que quem mais perde com a inflação em alta galopante é o poder aquisitivo dos trabalhadores. Não nos esqueçamos de que existem no país 13,7 milhões de trabalhadores desempregados. Mas qual tem sido a força dos sindicatos dos trabalhadores para negociar as reposições das perdas salariais anuais nesses tempos tão desfavoráveis ao trabalho na relação com o capital? As negociações de setembro mostram que apenas 7% dos acordos coletivos tiveram algum ganho real acima da inflação, 26% tiveram a reposição da inflação e 67% receberam reajuste abaixo do índice inflacionário. Os dados são do Salariômetro da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) / USP. Triste realidade, mas desanimar jamais!

Arrecadação de tributos federais

A Receita Federal do Brasil informou que a arrecadação de tributos federais em setembro foi de R$149,102 bilhões, a maior da série histórica para o mês iniciada há 26 anos. O crescimento real foi de 12,87% em relação ao mesmo período do ano passado, que ficou em R$ 119,825 bilhões. Aliás, a arrecadação bateu recordes históricos em 7 dos 9 meses deste ano e acumulou, até setembro, 1,349 trilhão de reais, o que significa um aumento real de 22,30% na comparação com o mesmo período do ano passado. Como se vê o aumento da inflação dá uma boa ajuda para o crescimento real da arrecadação de tributos.

Combustíveis caros, Petrobras lucrativa

A política de preços dos combustíveis praticada pela Petrobras, chamada de Preços de Paridade de Importação – PPI completou 5 anos em vigor. Ela foi criada durante o governo Temer (MDB- SP) em outubro de 2016. Essencialmente, tudo é referenciado pelo preço internacional do barril de petróleo (atualmente em torno de U$85) e todas as transações são pagas em dólar que, por sua vez, se valoriza a cada espasmo da política brasileira aumentando a incerteza. Na vigência do PPI o preço real dos combustíveis subiu acima dos 30% e a Petrobras passou a ser lucrativa, distribuindo dividendos para os acionistas dos quais o principal é o próprio Estado Brasileiro. Uma das principais reivindicações dos caminhoneiros é a revogação do PPI. Os críticos dessa política alegam que ela aumenta os lucros dos acionistas às custas do consumidores que, no fim das contas, pagam pela alta do dólar e do petróleo. Até quando o PPI resistirá?

Construção de prédios em São Paulo

Segundo dados do Secovi-SP, sindicato patronal da habitação, foram lançadas de janeiro a agosto deste ano na cidade de São Paulo cerca de 41.797 unidades residenciais em prédios na planta. Esse número mais que dobrou em relação ao mesmo período do ano passado, em plena pandemia da Covid-19, quando chegou a 20.238 unidades. Numa comparação com 2019, antes da pandemia, os números são 49% maiores no mesmo período. Como será que estão os números da cidade de Belo Horizonte? A pesquisar.

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A sobrinha e a tia idosa

por Luis Borges 26 de outubro de 2021   Pensata

Todo dia é dedicado à lembrança de uma ou mais coisas de natureza variada e foi assim que passamos pelo primeiro de outubro, Dia do Idoso. Vale lembrar que a lei brasileira considera idosas as pessoas com idade a partir dos 60 anos. Estima-se que o Brasil tem, hoje, aproximadamente 28 milhões de idosos e que esse número chegará a 43 milhões em 2031. Diante de tantas consequências políticas, econômicas, sociais e culturais que isso tem, de vez em quando surge alguém propondo que a idade limite seja elevada para 65 anos devido ao aumento da expectativa de vida. Apesar desse tipo de proposição, é importante conhecer onde, como (com quais condições?) e com quem (ou sozinhos?) vivem os idosos brasileiros.

Ajuda-nos a tentar encontrar respostas para essas perguntas, ainda que a título de ilustração, um caso do qual tomei conhecimento recentemente. Trata-se de uma senhora de 86 anos, solteira, servidora pública aposentada e sempre muito determinada em seus propósitos. Faz tempo que ela mora num apartamento de 100 m², com 3 quartos, numa movimentada rua no Centro de Belo Horizonte. Há seis anos ela teve importantes perdas em suas condições funcionais e passou a viver – ou sobreviver – numa configuração bem diferente do que era até então.

Uma sobrinha, hoje com 50 anos, passou a ser sua procuradora e resolve monocraticamente todas as questões relativas às coisas de sua vida. Ela montou uma estrutura operacional que conta com uma empregada doméstica, uma cuidadora de idosos para as noites de segunda a sexta-feira e outra para os finais de semana. A sobrinha também recebe os proventos da aposentadoria e dos aluguéis de dois apartamentos que a tia possui no bairro dos Funcionários. Acontece que a sobrinha resolve praticamente tudo a distância. Conta essencialmente com a empregada doméstica para as compras diárias, inclusive de medicamentos e itens de higiene pessoal, e assim chega a ficar até três semanas sem visitar a tia. Quando ela aparece por lá, a tia começa a reclamar das coisas e logo recebe réplicas em tom de ameaça por parte da sobrinha, que diz que ela será encaminhada para uma Instituição de Longa Permanência para Idosos- ILPI.

A tia, em seus tempos áureos, sempre esconjurava essa alternativa de moradia e, portanto, logo fica em silêncio diante da ameaça. Instantes depois a sobrinha dá um jeito de ir embora alegando que tem muitos outros afazeres.

Dessa história, gostaria de chamar atenção para o pré-conceito em relação às moradias para idosos e proponho uma reflexão.

É claro que existem instituições privadas de variados modelos, em função do poder aquisitivo de cada cliente, e também as filantrópicas, com as contribuições possíveis de cada morador, caso ele tenha condições. Melhor seria que as pessoas em geral tentassem conhecer melhor as moradias e centros de convivência para idosos, pois muitos de nós também poderemos precisar delas num futuro que se avizinha a cada dia. Até mesmo a sobrinha da tia idosa de hoje, que alias será a sua herdeira .

Nunca nos esqueçamos que o idoso quer carinho, atenção e tratamento digno, sem essa de ser infantilizado ou iludido com a lembrança de que está na “melhor idade”.

E você, caro leitor, o que acha de tudo isso? Será que isso só acontece com os outros que chegaram à fase idosa da vida?

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“Se muito vale o já feito, mas vale o que será. E o que foi feito é preciso conhecer, para melhor prosseguir”

É o que dizem Milton Nascimento e Fernando Brant na música O Que Foi Feito Devera, de 1978. Eles nos inspiram a pensar e agir neste momento em que o processo de vacinação contra a Covid-19 e suas mutações ganha velocidade.

As pessoas imunizadas com a primeira dose da vacina já passam de 152,32 milhões e as com a segunda dose ou dose única superam 106,87 milhões. Sem contar a dose de reforço, que chega a cada vez mais pessoas.

Diante disso passamos pela flexibilização das medidas de segurança sanitária que foram fundamentais para o combate ao vírus e a sua disseminação. São visíveis os resultados alcançados, apesar de todos os pesares e perdas. Mas a pandemia ainda não acabou e a Organização Mundial da Saúde nada disse em contrário até o momento. Inegavelmente existem diferentes situações na terra globalizada e também diferentes atitudes perante a pandemia, inclusive a de não se vacinar.

O avanço da vacinação mostra seus reflexos na redução das internações nas enfermarias e UTIs dos hospitais bem como na redução da velocidade de transmissão do vírus. Assim, estados e municípios começam a flexibilizar as regras de segurança. Apesar de alguns balões de ensaio pra suspender uso de máscaras e higienização das mãos, os infectologistas e demais especialistas recomendam que seu uso siga permanente, sobretudo em locais fechados e pouco ventilados.

Diante disso o que esperar do comportamento das pessoas que cumpriram disciplinadamente as medidas de segurança sanitária e ficaram em casa sempre que puderam? Será que quem passou pela incerteza, insegurança e medo diante de tantas perdas materiais e humanas, estaria agora com muita ansiedade para rapidamente tirar o atraso em relação ao que deixou de fazer anteriormente? Nesse sentido ainda continua válido pensar em como as nossas escolhas individuais terão consequências para a coletividade. Mas são perceptíveis muitos sinais de pessoas que estão indo com muita “sede ao pote” depois de terem feito tudo conforme os padrões sanitários.

Lembrei-me de um casamento ocorrido numa cidade do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais no sábado em que começou o feriadão comemorativo da padroeira do Brasil. O casamento havia sido adiado duas vezes e a empresa contratada para fazer a festa deu um ultimato, dizendo que não negociaria um novo adiamento. A festa acabou sendo feita para 200 participantes, a metade do que era previsto inicialmente.

Em torno de 20% dos participantes entraram no local usando máscaras. Quatro deles relataram olhares atravessados dos que dispensavam o equipamento de segurança, como que a questionar o uso da máscara no local da festa com aglomeração livre. Muitos também foram os abraços calorosos trocados por algumas pessoas falando em saudades.

Quem me contou esses fatos deu um jeito de sair logo do ambiente após cumprir um protocolo para não abalar uma antiga amizade. Fiquei sabendo de gente que está fazendo uma lista de pessoas a serem visitadas daqui para frente e que estão se perguntando se estarão na lista de alguém.

Será que já dá para ficar durante duas horas numa sala de cinema ou num teatro na configuração clássica das cadeiras, mesmo com uso de máscaras? E ir a um estádio com lotação permitida cada vez maior? A decisão é de cada um e o risco é para todos.  Estão vindo aí os feriados de Finados e Proclamação da República, o Natal, a virada do ano, as férias de verão, o Carnaval…

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 19 de outubro de 2021   Curtas e curtinhas

Preços da energia elétrica

As distribuidoras de energia elétrica estão pleiteando junto ao Governo Federal um aumento no preço da tarifa extra – que está no seu mais alto patamar. Hoje a bandeira de escassez hídrica adiciona R$14,20 à conta de energia a cada 100 kwh (quilowatts-hora) consumidos. As usinas termelétricas alegam que esse preço não cobre o aumento do custo do óleo diesel e do gás natural usados na geração de energia.

O Ministério das Minas e Energia disse que está estudando o assunto e relembra que a taxa extra vigorará de setembro de 2021 a abril de 2022. O período chuvoso já começou, mas pelo visto está a caminho mais um aumento para o consumidor que sempre “paga o pato”. E o poder aquisitivo continuará indo embora. Ou será que o Presidente da República revogará numa canetada as disposições em contrário no que tange à vigência da tarifa extra da escassez hídrica?

Aulas presenciais

O governo do estado de São Paulo determinou a volta total das aulas presenciais no ensino público e privado, até o nível médio, a partir deste 18 de outubro. Já no dia 3 de novembro deixará de existir a obrigatoriedade da distância mínima de 1 m entre as carteiras, mas continua sendo obrigatório o uso de máscara e do álcool em gel para a limpeza das mãos, tanto para os alunos quanto para os professores e funcionários técnico-administrativos.

Enquanto isso as Universidades Federais e os Institutos Tecnológicos dão sinais de que só voltarão à plenitude do ensino presencial no primeiro semestre de 2022. Como será a continuidade do ensino híbrido – presencial e remoto – e em quais condições poderá ser utilizado? A conferir.

Trabalhadores por conta própria

O IBGE divulgou que o número de trabalhadores por conta própria chegou a 24,8 milhões no segundo trimestre do ano. Esse número é composto por Microempreendedores Individuais (MEI), que tem CNPJ e contribuem para o INSS, e por informais, sem qualquer tipo de garantia. Juntos, representam 28% das pessoas que estavam trabalhando no período. Em 12 estados esse índice passa dos 30%, sendo que no estado do Amapá chega a 40%. O trabalho por conta própria tende a continuar nas alturas diante da lentíssima recuperação econômica e do altíssimo desemprego. Os números são coletados, observados e analisados cientificamente e falam por si. Não dá para negá-los, ignorá-los ou tentar justificá-los com uma desculpa qualquer que signifique abuso da inteligência alheia.

Cenários do FMI para o mundo

O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou no dia 12 de outubro o seu segundo relatório anual com os cenários projetados para o restante deste ano e para o ano eleitoral de 2022. Ele mostra o crescimento da inflação mundial, que deve ficar entre 3 e 4% no ano. Isso foi o suficiente para o Ministro da Economia tentar justificar a inflação brasileira – de 10,25% nos últimos 12 meses – culpando os alimentos e a energia que, segundo ele, respondem pela metade do índice inflacionário. Entretanto foi mais conveniente deixar de falar que estamos muito além e que a meta do Conselho Monetário Nacional para a inflação deste ano era de 3,75%. Também nada disse sobre o preço do barril de petróleo a U$80,00 , pressionado pelo aumento do consumo sem aumento da produção, e a variação cambial desvalorizando o real em meio às incertezas políticas.

O FMI projeta um crescimento de 5,1% para os países emergentes no ano que vem, mas especificamente para o Brasil esse índice é de apenas 1,5%. É o que temos para hoje!

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