Aplicando o senso da utilização
No Brasil da década de 90, do século passado, estava em evidência no mundo dos negócios a implantação e implementação da Gestão pela Qualidade Total-GQT, ou seja, para todos os evolvidos nos processos.
Uma pergunta que sempre surgia era sobre como começar. Em muitos casos, tudo acontecia a partir do Programa 5S, com os sensos de utilização, arrumação (ordenação), limpeza, saúde e autodisciplina.
O primeiro senso, o da utilização, nos ensina a selecionar os bens que são usados com mais frequência e que, portanto, devem estar mais próximos. Por outro lado, os bens que não são mais usados e ficam ocupando espaço podem ser doados para quem esteja precisando ou simplesmente descartados num local apropriado. É uma forma de combater o desperdício e remover a energia parada no ambiente.
Isso que é proposto para o mundo dos negócios pode também ser aplicado no cotidiano de nossas residências. Afinal de contas, tudo começa com a gente.
Vou contar aqui um caso que envolve a prática do senso da utilização, inclusive para contrapor a acumulação crescente de bens e a necessidade de se encarar o desapego daquilo que não é mais útil. Muita gente guarda bens em casa na expectativa de que poderá precisar deles um dia, que geralmente quase nunca chega.
Uma advogada de 50 anos, casada, sem filhos, decidiu se mudar do apartamento em que mora há 15 anos. Aproveitou a ocasião para colocar em prática o senso da utilização e abriu mão de alguns móveis e artigos de decoração que não se adequariam no novo apartamento.
No caso das luminárias da sala conjugada com a copa, o interesse espontâneo da então vizinha de apartamento, esteticista, síndica do prédio, 45 anos, casada, duas filhas, facilitou a destinação dos bens.
Quase que imediatamente a síndica providenciou a desmontagem das luminárias e, agradecida, enfatizou que chegaram em boa hora.
A advogada mudou-se do prédio no sábado da mesma semana em que doou as luminárias. Mas logo na manhã da segunda-feira seguinte ela recebeu um telefonema da já ex-vizinha perguntando pela nota fiscal emitida quando da compra das luminárias. A advogada quis entender o porquê. A resposta foi imediata e justificadora. Disse que, mesmo tendo gostado muito das luminárias, resolveu vendê-las para sua irmã e queria ter uma base para estabelecer o preço de venda e as condições de pagamento. Aproveitou também para reclamar da falta de um pequeno componente numa das luminárias, o que poderia desvaloriza-la um pouco.
A advogada lamentou não ter condições de atender a ex-vizinha e despediu-se dela cordialmente, como é da sua natureza. Porém seguiu pensando na Lei de Murici, que preconiza que “cada um cuida de si”. E assim a humanidade prossegue em sua caminhada