Acorda amor

por Luis Borges 3 de agosto de 2015   Música na conjuntura

No sábado 25 de julho oito presos na Operação Lava Jato foram transferidos da carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (PR) para o Complexo Médico Penal, na região metropolitana. Foi o sinal para que observadores da cena política começassem a discutir a ocorrência de novas prisões, já que havia vagas na carceragem. Três dias depois, outra fase da operação aconteceu e 2 novas pessoas foram presas. Hoje, 3 de agosto, os jornais noticiam a prisão de outras pessoas, entre elas o ex-ministro José Dirceu.

Fiquei imaginando a expectativa vivida por muitas pessoas nesses 16 meses que já duram as investigações, indiciamentos e julgamentos relacionados à corrupção na Petrobras. Primeiro é ficar matutando sobre possíveis ações envolvendo busca, apreensão, prisão temporária ou preventiva. Aliás, o Presidente da Câmara dos Deputados, quando perguntado sobre a sua situação de investigado, respondeu que esperava que a PF não aparecesse antes das 6 da manhã.

Também dá para pensar na repercussão instantânea da prisão na mídia, o prosseguimento da repercussão, a força ou a fragilidade para enfrentar interrogatórios, a delação premiada prevista em Lei e até mesmo o cumprimento de uma pena num determinado período de tempo.

De relance, também pensei nas prisões que incidem sobre a maioria da população em função dos crimes do cotidiano e no dito popular afirmando que uma pessoa foi conduzida para um local onde o filho chora e a mãe não ouve.

Enfim, lembrei-me inevitavelmente dos tempos da Ditadura Militar, quando prisões arbitrárias, torturas físicas e psicológicas, assassinatos e desaparecimento de pessoas eram frequentes, na tentativa de calar os opositores do regime. A expectativa de ser preso a qualquer momento mexia com quem poderia se tornar um preso político, ainda mais que era um grande desafio conseguir rapidamente o reconhecimento por parte da Ditadura de que alguém fora preso. Esse tipo de situação dolorosa foi retratada na música Acorda amor, que você pode ouvir a seguir na voz de Chico Buarque.

Acorda amor
Fonte: site Chico Buarque

Acorda, amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o ladrão

Acorda, amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de escada
Fazendo confusão, que aflição
São os homens 
E eu aqui parado de pijama
Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame 
Chame o ladrão, chame o ladrão

Se eu demorar uns meses convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo e pode me esquecer

Acorda, amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre o bicho pega
Se fica não sei não
Atenção
Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa, não reclame
Clame, chame lá, clame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão
(Não esqueça a escova, o sabonete e o violão)
  Comentários

Publicado por

Publicado em