A longa espera

por Luis Borges 17 de julho de 2014   Pensata

A saúde na hora da verdade foi o post que publicamos no último dia 8. Quase dez dias depois, o engenheiro personagem do texto já teve alta e termina sua recuperação em casa. Voltamos à história, hoje, com uma contribuição de Vera Cruz Borges e Borges. Ela é artista plástica e acompanhou o marido durante toda a internação, permanecendo com ele no quarto do hospital.

A longa espera…
Esperança? Será?
Parafraseando a canção, “Igualdade, igualdade, abre as asas sobre nós.”
Quando? Onde? Será que teremos igualdade?
Os passos para a sonhada igualdade (ilusão), assim nos foram ensinados e assim decoramos.
1º – Estudar e estudar, para abrir os horizontes para o futuro.
2º Ter uma profissão / trabalho, ser honesto e cumpridor dos seus deveres, que não são poucos.
3º, 4º e adiante… Reconhecer o próximo como a ti mesmo.
Mas aqui tudo se complica. Você vê, mas quase sempre não é visto.
Explico. Ao precisar de atendimento médico-hospitalar, você verá seus ideais e tudo aquilo que te ensinaram – respeito, esperança, igualdade – rolar morros abaixo. 
Você pensa “pago um plano de saúde, acho um ótimo plano”. Você paga caro por ele. O plano atende ao mais rigoroso padrão Fifa, pois é o mesmo da aeronave que transportou o “cai cai” Neymar, a marca verde e branca foi exaustivamente mostrada pelas câmeras de TV.
Então o pobre mortal pensa “bacana, sou atendido pelo padrão Fifa“. Sonha, sonha, mas não sai do pesadelo. 
Você que é o acompanhante/responsável pelo paciente, questiona os funcionários que fazem 12×36 horas sobre quem é atendido na ala mais nova. Eles riem, explicam que só planos Bradesco, Cemig… Atônito, você descobre que não é mais padrão Fifa. Que contribui muito para ser, mas que não é. 
O hospital é respeitado, sua equipe médica é considerada referência em algumas áreas, é dirigido por uma Congregação Religiosa. As freiras te laçam para oferecer a comunhão diária (ou saber instrução, nível social, crença, já nem sei o que mais). Mas purificar quem? O paciente, que tem um diagnóstico e mais 14 dias de luta pela frente contra uma colônia de bactérias, ou a consciência administrativa delas?
No turbilhão você ainda batalha, sonha, reza, na vã esperança de trocarem de quarto. Você já nem sonha mais com o padrão Fifa, pode ser só um padrão dos sonhos, quarto com sol, com janelas para ventilar o ambiente. Padrão de sonhos, que é de igualdade, onde você pelo menos vê o sol e sente o calor do mesmo.
 

Por Vera Cruz Borges e Borges

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