Verdade! Que verdade?
* por Sérgio Marchetti
Tenho dito em minhas aulas, quando questionado sobre alguns temas, que os fatos são circunstanciais e que, dependendo de uma série de fatores e situações, tudo pode acontecer. Em certos momentos podemos ser capazes até de matar. Não se assustem, caros amigos que ainda têm paciência de ler meus escritos. Mas é verdade. Não é à toa que pessoas se matam por causa de discussões banais. Estão todos enlouquecidos.
Em minha caminhada neste cosmos já tive momentos de certeza, de esperança, ambição e, até, de mais fé. Aos poucos, a realidade os foi minando. Descobri que aqui (pelo menos no Brasil) não se vence por mérito, e não creio mais no penhor dessa igualdade conquistado com braços fortes. Penso ser realista mas, para alguns, minhas convicções podem ser vistas como pessimistas. Tudo é circunstancial e relativo, não disse? Então, como bom mineiro, diria que tudo depende de um tanto de coisas, uai!
Os programas de televisão insistem que podemos mudar o Brasil nas próximas eleições. Sabem como? Votando certo. Mas se o voto é o instrumento, e acho que seja, precisamos ter as pessoas certas. Quem planta pepino invariavelmente vai colher pepino. Quisera eu ter uma safra boa de morangos, pêssegos, uvas e outras frutas para colher. Mas não estou vendo o plantio dessas sementes. Além do mais, está chovendo mais do que o necessário.
Aceito a hipótese de que, por estar tão desiludido, o pessimismo tenha me pegado. Quem sabe? Quando a chuva cessar, tudo pode acontecer. Depois da tempestade vem a bonança (caso tenha pensando nos prejuízos, você está pessimista). Os rios se enchem, o mato cresce, o gado se farta, o homem colhe o alimento que brota do solo, os brotos se renovam, as flores desabrocham. Realmente o que nos parece fim pode significar um novo começo. Tudo é possível num mundo circunstancial
Mas justamente por depender de cada condição é que não ouso dar respostas totalmente verdadeiras, pois muitas verdades de ontem não são mais verdades hoje. Não existe uma verdade absoluta e permanente. Acreditar que o Brasil possa mudar neste ano, para mim, pessimista ou não, é como acreditar em Papai Noel. E já acreditei. Agora não mais.
Falando nisso, ocorreu-me um “causo” que ouvi há muito tempo e que exemplifica claramente as diferentes maneiras de interpretar o mesmo fato.
Dois meninos franceses, irmãos gêmeos, com nove anos de idade, eram alvo de deboches na escola. Seus pais foram informados de que o motivo era por ainda acreditarem em Papai Noel. Decisão tomada: os pais dos meninos convidaram um vizinho, senhor Pierre Dupré, para jantar com eles, oportunidade em que seria revelada a verdade sobre Papai Noel.
Ao final do jantar, senhor Dupré informou que ele era o Papai Noel da rua e que amava crianças. Mas disse que quem dava presentes eram os pais. As cartinhas eram de brincadeira. Agora, que estavam com nove anos, era o momento de saberem aquela verdade. Houve silêncio e olhares de decepção.
No outro dia, na escola, os meninos que faziam bullying se aproximaram de um dos irmãos e, com deboche, perguntaram quem foi jantar com eles na noite anterior. O garoto respondeu que fora senhor Dupré, para falar que no natal ele se vestia de Papai Noel.
Mais distante estava o outro irmão, muito pensativo, e os meninos, também com ares de deboche, fizeram-lhe a mesma pergunta: quem foi à sua casa ontem? E o pequeno respondeu: Papai Noel foi jantar conosco mas, ontem, estava vestido de senhor Dupré.
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.