Um dia branco

por Convidado 5 de outubro de 2015   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Acordei saudosista de um tempo que não volta mais. Aliás, sou um apaixonado pelo passado, pelas edificações coloniais, móveis e automóveis antigos, pelas casas que conservaram varandas onde se pode ler um jornal, sentado à sombra de um telhado rústico. Porém, não me esqueço de que o mundo é aqui e agora. Hoje é domingo, e decidi procurar meus discos (ainda tenho LPs) e ouvi-los ao som da vitrola. Sim, a vitrola dá a esse conjunto um ar de retrô que me mantém na moda.

Foto: Gustavo Borges

Foto: Gustavo Borges

Ao som da música, abro meu baú de memórias e me encontro comigo mesmo. Caminho sobre a névoa das canções e de suas letras que dizem muito. Assim, pego carona na garupa do pensamento que voa rápido e descortina um mundo encantador, onde me encontro com Luiz Vieira em algum lugar do passado. Nesta viagem revejo antigos amigos, ressuscito pessoas e recordo meus ídolos que, iguais a mim, eram mais românticos e acreditavam em um mundo melhor. Aí, naquele momento, eu me perco em meus versos e me encontro na canção de Sérgio Bittencourt, e se eu pudesse ser menino eu roubava uma rosa e ofertava todo prosa à primeira namorada… Sigo escutando minhas músicas num dia calmo, quente e com muito sol. E neste dia branco se branco ele for. Esse tanto esse canto de amor. Já vem Geraldo Azevedo nos encorajando ao amor mais instigante: se você vier pro que der e vier comigo…

Mas outro disco me chama para a realidade e me diz: um homem se humilha se castram seu sonho. Seu sonho é sua vida e vida é trabalho. E sem o seu trabalho um homem não tem honra, se morre, se mata. Não dá pra ser feliz De Gonzaguinha para cá o Brasil não mudou nada, caríssimos leitores mais jovens.

Meu baú é grande, mas meu dia é pequeno para ouvir a todos os artistas que selecionei. Então, começo a organizar e guardar meus discos e me deparo com Taiguara. Pensei ouvi-lo. Pus para rodar: eu desisto, não existe essa manhã que eu perseguia. Um lugar que me dê trégua ou me sorria. Uma gente que não viva só pra si…

Foto: Gustavo Borges

Foto: Gustavo Borges

Parei por ali. Afinal era domingo, haveria o sofrimento do futebol e eu ainda teria que torcer para um tal de “Burro com sorte”.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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