Um amigo
por Benício Rocha*
As palavras fluem mansas e tranquilas, reforçadas por agradáveis expressões faciais e um olhar arguto que continua registrando os fatos ao seu redor, de forma organizada, e indo além do visível…
A história da cidade escorre de dentro daquele homem pequeno, que consegue conter um amor por ela maior do que seu gigantismo próprio das metrópoles de hoje.
Ruas, rios, pessoas, personalidades, calçamentos, barro, bairros, bondes, obras acabadas, inacabadas, atualidades, Serra, Santa Tereza, serestas, serenatas, reminiscências, BH.
Com carinho pela história e nojo pelo seu agente, em breves palavras desconstrói o mito do machismo, de indomável libido, incontáveis camas, capangas, camarilhas, mulheres. Jovens, carentes, às vezes discriminadas pela cor, sempre pela pobreza, em seus braços conheciam um homem. Ou só um macho. Primeira vez!
A busca desesperada por uma vida melhor. A ilusão. Um presente. A vida de novo. Às vezes uma barriga, um bebê, um desespero novo. A carência, a dependência de sempre.
O uso do poder do dinheiro. O abuso do ser humano, reduzido a órgão genital.
Depois do sexo, dos negócios infindáveis, do acúmulo de capital, a solidão. O medo diário da morte. Hipocondríaco.
Seu legado, ambição, briga, vergonha…
Nem nome de rua importante se tornou!
Flagelo em nome do capital, na raiz da capital.
Asco.
Um sorriso e uma sentença simples, irônica, cortante: deixa pra lá, passou. E contribuiu pra formação do caráter de grande parte de nossa população…
Pra mudar de assunto, com jeitinho, pergunta se tenho certeza da queda da Graça Foster e acrescenta: “mas você acredita que esse assunto se exaure ali?”.
Fico sem entender como tanto amor por sua cidade, por seu país, cabe nesse homem simples, prático, que, apesar de 78 anos, ainda se indigna. Ainda tem esperança!
Benício Rocha é caratinguense ausente e saudoso, mineiro da gema, amante da boa prosa, sócio da MGerais Seguros, aprendiz de servo do Senhor.