Praticando a empatia

por Convidado 15 de novembro de 2019   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Outro dia, num dos trabalhos de orientação individual que realizo há 20 anos, um participante (ou coachee), num determinado momento em que falávamos de carreira e trabalho, me perguntou por qual razão as pessoas são tão falsas. Observei que a pergunta vinha carregada de uma tristeza significativa. Talvez uma decepção com as atitudes dos seres humanos. E continuou, se dizendo magoado com os ex-colegas que o abandonaram quando foi demitido do alto cargo que ocupava.

Eu lhe disse que estava sendo muito inocente. Que é a reação mais frequente de nossos colegas. Por essa razão é que se chamam colegas e não amigos. Também lhe confidenciei que enquanto fui diretor de uma instituição, pessoas me bajulavam, traziam presentes, pediam-me favores e que desapareceram junto ao meu pedido de demissão. Incomum seria o contrário. Mas a vida, gradativamente, nos mostra novas verdades e, pior, a descoberta da existência de muitas pessoas interesseiras, oportunistas, traiçoeiras e ingratas. E que, assim sendo, se torna inevitável a desilusão.

Meu “orientado” – já meio desorientado – me diz que a culpa é das escolas porque incentivam as crianças a competirem. Acrescenta que a falta de sensibilidade e de conhecimento, sem maldade, faz com que alguns professores e professoras gerem antagonismos, rivalidades e complexos, quando dizem que uma criança é mais bonita ou mais inteligente do que as outras.

Não só na escola, mas também em casa – lembrei a ele – pais e mães utilizam da comparação ou do elogio a um filho como um exemplo a ser seguido pelos demais irmãos. Aí começam a nascer a raiva, o desprezo, a inveja e o ódio. Crescemos mais um pouco e, com a evolução da estatura, crescem também as divergências cujas raízes foram plantadas na infância.

Meu cliente pediu-me licença para naquela sessão apenas desabafar. Aceitei e acatei seu pedido, pois era a melhor forma de ajudá-lo naquele momento.

Ele reclamou do abandono, inclusive da família. Era nítida sua dor e tristeza. Poderia cantar “Meu Mundo caiu” da Maysa. Sim, seu corpo expressava a queda. Estava sem chão. Fora acostumado a uma rotina de tantos anos e, agora, num minuto, tudo havia acabado. Aí, neste momento, encarei minha missão e me lembrei da frase apregoada por santa Tereza de Calcutá que diz para que não deixemos alguém que venha à nossa presença sair sem estar melhor do que quando chegou. E prossegui, ouvindo seu desabafo e o tranquilizando, quando o seu pranto insistia em ser protagonista daquele drama.

Depois de algum tempo, perguntei-lhe se poderia pôr uma música. E com o seu consentimento escolhi “Vou-me embora” de Paulo Diniz.

Por que aquela música? Pelo fato de não ser tão conhecida, o que desperta maior atenção e pela mensagem, obviamente. Ei-la:

“Vou me embora, vou me embora, vou buscar a sorte/. Caminhos que me levam, não têm sul nem norte. / Mas meu andar é firme e meu anseio é forte. /Ou eu encanto a vida ou desencanto a morte. / Vou me embora, vou me embora. Nada aqui me resta, /senão a dor contida, um adeus sem festa…”

Ouvimos a canção até o final. Então concluí: é preciso saber perder, saber deixar no passado o que é do passado, porque não podemos mudar a velha história, mas escrever uma nova com final feliz. Deixe que os maus cuidem dos maus. Não vamos mudar o mundo. O mau e o bom, o mal e o bem sempre existirão, infelizmente. Fazem parte da mesma moeda, embora estejam em lados opostos.

Você tem seu valor, tem algo de bom para oferecer ao mundo. Comece a buscar o que deseja. Ponha no papel, defina datas, metas, objetivos. Saiba que, embora a vida seja a arte do encontro, a procura é muito mais importante do que o verdadeiro encontro, pois é na busca que aprendemos a melhores e mais importantes lições.

Como escreveu Fernando Sabino:

“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro”.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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