Penso, logo desisto
*por Sérgio Marchetti
Diante do quadro inédito que estamos testemunhando e vivendo ativamente é muito previsível que tenhamos um número acentuado de pessoas sofrendo de tristeza e depressão. É sabido que a quantidade de suicídios aumentou significativamente no mundo. Mas ainda não para por aí. As pessoas estão mais agressivas e inflamadas. Infelizmente, no Brasil, a guerra pelo poder é maior do que contra a pandemia. Lamentavelmente, as pessoas estão se digladiando nas ruas por interesses que nem são delas. E a impressão que me passam é a de que são zumbis, perdidos pelas avenidas, mas programados para agir.
Confesso que sinto muito medo disso. Já vimos ideologias políticas se transformarem em seitas assassinas e gerarem guerra mundial. Adolf Hitler e Josef Stalin, a exemplo desse condicionamento assassino e macabro, protagonizaram as maiores peças de terror de toda a história.
E hoje? Que fenômeno estaremos vivendo? Por que tantas pessoas estão apresentando reações estranhas? Ora, a carga psicológica da doença causada pela Covid-19 é intensa, constante e ainda crescente. Não precisávamos de sensacionalismo, oportunismo, inverdade, grosseria, desonestidade e drama, além da falta de ética acentuada e praticada exaustivamente por algumas mídias. Mas o que dói é saber que, por trás da informação, há interesses escusos, financeiros, políticos e sociais.
Sabem o que é mais difícil, meus caros leitores? É nos mantermos na neutralidade diante de um quadro caótico. Só para entender, comparando a um trabalho de consultoria empresarial, qualquer pessoa que tome posse na presidência de uma entidade só terá êxito se sua equipe for de sua confiança e estiver remando a favor dos objetivos comuns. Não é a realidade brasileira. Será ruim para todos. No governo anterior, os ventos lhe foram mais favoráveis. Alerto, entretanto, que não houve nem haverá perfeição em nenhum dirigente. Pelo contrário. Todos tiveram deslizes e até crimes contra nosso patrimônio, nossa economia e nossas vidas – muitas delas perdidas e não contabilizadas, porque não era conveniente aos interesses midiáticos. Um certo ex-ministro já dizia que a gente só mostra o que nos é conveniente…
É difícil ser neutro quando o assunto é esporte, política e religião. Os olhos veem, porém, o cérebro emocional deturpa a visão. Mas daí, usar a pandemia…
Ainda assim, excluindo-se o paradigma de jogo de interesses – que por si só já se explica – podemos tentar entender o contexto e obter a verdade, recorrendo à Grécia, em seu período helênico. Podemos ter, como amparo para argumento, o pensamento de que “nada acontece por acaso” (tem sempre um diabinho soprando em nossos ouvidos), da Escola Estoica, fundada por Zenão (V a.C). Em Sócrates, vislumbramos a busca da Verdade e da Ética que permitiria tornar os homens virtuosos. Eu disse, permitiria. Em Platão, um pouco mais à frente, surge a tese do Mundo das Ideias que continua em busca da verdade e da ascensão do homem para a realidade do bem. Preconizava o conhecimento, a força e a temperança, em síntese, a virtude da justiça.
Tempos mais tarde, outro filósofo de destaque, René Descartes (1596-1650), afirmava que “para conhecer a verdade é preciso, de início, colocarmos todos os nossos conhecimentos em dúvida, questionando tudo…”.
Diante das teses mencionadas, creio que estejam nos faltando, critérios de análise, coerência, verdade, ética, honestidade, visão sistêmica e, em contrapartida, estejam sobrando hipocrisia, desonestidade, corrupção e paixão cega.
De tanto esperar, “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça…”.e me decepcionar, hoje, já não confio na palavra dos homens, tampouco e, sobretudo, em promessas políticas. Apenas em meu juízo de valores, não me conformo com o lucro em detrimento de vidas.
Vocês ainda querem saber por que há tanta depressão? Não é pela pandemia. Ela é a gotinha d’água. Eu lhes asseguro. É por vermos a degradação dos seres humanos, que trocaram a virtude pelo vício da desonestidade, equação que permite dizer que os meios fraudulentos justificam os fins.
Não é bom pensar e, se penso, logo desisto.
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.