Pedidos de Natal
Por Sérgio Marchetti
O Natal me transmite sentimentos de amor, de paz, de união familiar e uma imensa saudade da minha infância em Barbacena. Eu, igual a todos os meninos, escrevia a cartinha ao Papai Noel pedindo presentes. O ritual era o mesmo: colocar os sapatinhos na árvore de Natal e deitar cedo para esperar a passagem do bom velhinho. E na manhã do dia vinte e cinco, íamos para a rua exibir os presentes.
Roupas de heróis e cinturões com revólver de espoleta. E, embora houvesse armas, os “mocinhos” só as usavam para o bem. Bat Masterson, Robin Hood, Roy Rogers e Zorro eram alguns dos que desfilavam em nossas tevês. E os times de botão? Uma das minhas paixões, eram a promessa de um ano inteiro de campeonatos entre os meninos da Rua Alvarenga Peixoto. “Jogos de botão sobre a calçada – eu era feliz e não sabia”. Salve, Ataulfo! Mas a bicicleta era o astro maior daquele filme natalino. Depois, como coadjuvantes, vinham o velotrol, as casinhas, as bonecas. Estas últimas eram as preferidas das meninas daquela época que, diferentemente de hoje, tinham uma infância mais prolongada.
Éramos inocentes. Não só as crianças, mas os adultos também não viam tanta maldade, nem havia tanta desconfiança como se vê hoje. A honestidade era valor essencial. Eram outros tempos.
Porém, o tempo, carrasco que é, passou tão depressa, contabilizou tantos natais e indicou que aquele momento ficou registrado na lembrança em algum lugar do passado. Ainda assim, com os cabelos enevoados pelo tempo, me dei o direito de pedir a Papai Noel um presente especial. Não fui egoísta. Quis algo maior, e que servisse para todos.
Pedi governantes honestos. Solicitei que papai Noel nos trouxesse uma caixinha embrulhada para presente e que dentro dela estivesse guardada a honestidade. Mas meu lado criança me chamou a atenção, dizendo que a vergonha seria mais importante, já que muitos daqueles são totalmente desprovidos de tão simples valor. Que coisa feia! Autoridades máximas mentindo descaradamente. Até as crianças aprendem que pessoas de bem não mentem “nem que a vaca tussa”. Então a vaca tossiu. Está de coqueluche. Papai Noel não tem força para tanto. Talvez seja um serviço para o Papai do Céu, pois parece tratar-se de um milagre maior.
“E agora, José?”, diria Drummond. Envio a carta para quem? Uma dúvida paralisante se abateu sobre mim. Um conflito entre a criança e o adulto. Já não sei quem fala, se é a criança adulta ou o adulto criança. Decido, finalmente, não enviar carta nem ao Papai Noel, nem ao Papai do Céu. O caso requer ação mais drástica. Acho que vou escrever ao Zorro, ao Roy Rodgers, ao Robin Hood, ao Bat Masterson e a outros heróis pedindo socorro.
Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui Licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br