Os sons do silêncio
*por Sérgio Marchetti
Eu sempre gostei de ficar em silêncio. Desde criança, na fazenda de meu avô, na serra da Ibitipoca, eu me sentava diante de um morro bem verde e ficava pelo menos por duas horas olhando para ele. Fechava os olhos por minutos e assim me sentia em paz. Procurava, aquele menino, o encontro com ele mesmo.
Passaram-se muitos anos desde aquele dia. E, hoje, vejo poucas pessoas buscando um cantinho para ficarem em silêncio consigo mesmas. Aliás, a meditação é prática comum nas religiões que acreditam que o silêncio seja um caminho de cura para muitos males. Sabe-se que a mente precisa de um tempo silencioso, já que não para nunca, nem mesmo quando dormimos.
É na pausa entre os sonos que a mente é ativada e se dá o pico da atividade cerebral. Porém, na contramão de todas as recomendações de órgãos de saúde, temos um sono agitado e embalado por um bombardeio de todo tipo de sons, ruídos e claridade que a vida nas grandes cidades nos impõe.
Neste momento em que escrevo, quando ressalto a necessidade de silêncio, ouço buzinas, pessoas falando alto, barulho de um motor de ônibus e um ensurdecedor e inaceitável ronco de uma motocicleta cujo piloto parece não ter ouvidos e que, lamentavelmente, as leis de trânsito não descobriram que aqueles veículos, assim como os automóveis, também têm a obrigatoriedade de portar a bendita peça chamada de “silencioso”. Ora, toda essa poluição sonora é geradora de estresse para o nosso psiquismo e também para a nossa espiritualidade. Não devemos nos esquecer de que o silêncio é uma face da nossa existência (“porque metade de mim é o que eu grito, a outra metade é o silêncio” O.M.).
O filósofo suíço Max Picard, em 1989, quando publicou o livro The World of Silence, advertiu que nada mudou tanto a natureza do homem quanto a perda do silêncio. Mas os jovens, principalmente os que jogam futebol profissional, alheios ao que se passa à sua volta, dificilmente terão seus ouvidos livres de iPods, o que demonstra uma dificuldade enorme de ficarem relaxados e em paz.
Em minhas orientações aos meus clientes, ressalto a importância do silêncio e que talvez paire sobre a humanidade alguma espécie de medo da quietude, receio do recolhimento, do autoconhecimento e da descoberta do sentido profundo da própria existência. Fogem de si para não terem que encarar a realidade e ouvirem a própria consciência. Mergulham de cabeça no indeterminismo, no superficial e no fortuito. Quanta ilusão na caminhada para o abismo. Constroem suas vidas sobre bases mais efêmeras e impermanentes do que a vida.
Não se permitir usufruir do silêncio nos leva à perda de excelentes oportunidades de criar, de ter ideias brilhantes, arrependimentos. Santo Agostinho preconizou que o silêncio é necessário a todos para ter um estado de espírito saudável.
E, já que estamos falando de um santo, vem aí uma oportunidade de fazer uma pausa, de meditar, rever objetivos, corrigir a rota e sonhar coisas novas – em síntese – ficar um pouco com você em silêncio para ouvir sua voz interior e o som inaudível dos corações alheios. Vem aí o Natal, momento sublime, de mensagens de amor, de fé e de esperança. Festejamos no mês de dezembro o nascimento de Jesus. E, mais do que dar presentes, é uma oportunidade de estarmos presentes e ao lado das pessoas que amamos.
Desejo a todos os leitores que, pacientemente me dedicam seu tempo precioso e que me honram com seus comentários, um Feliz Natal e que, no ano de 2020, assim como nos pares 20 e 20, haja mais igualdade e persistência em fazer o melhor e ser melhor a cada dia, com saúde, harmonia, amor e sabedoria.
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.