Os anjos existem?
* por Sérgio Marchetti
Eu nunca acreditei em anjos, tampouco que me protegem por todo o tempo. Mas cresci vendo e ouvindo tantas pessoas falarem do anjo da guarda que resolvi questionar o papel daquele benfeitor. Mas ressalto que em minha busca nunca desrespeitei a crença das pessoas.
Um dia, li o livro do Paulo Coelho, “O Diário de um Mago”, cujas páginas traduzem sua odisseia pelo caminho que leva a Santiago de Compostela. Gostei do livro e puder ver que o escritor fala de anjos e do seu anjo, especificamente. Porém, o que mais me chamou a atenção foi o fato do Paulo ser o escritor de mais sucesso no Brasil e de tantas pessoas dizerem que não gostam de seus livros. Ora, só mesmo tendo um anjo protetor para vender tanto livro para quem diz que não gosta. Confesso que comecei a acreditar em alguma coisa que nos proteja. O problema é que, no meu modelo mental, anjo é um menininho de asas, com cabelos louros e encaracolados que toma conta de marmanjos. Não! É inconcebível para minhas crenças.
O tempo passou… veio a poesia em minha existência e com ela, em Casimiro de Abreu, aprendi que “primavera e mocidade/ irmãs gêmeas, elas são/ vem o inverno/ vem a idade/ uma volta/a outra não”. E, então, no meu entardecer, num dos invernos da minha vida, comecei a compreender o que antes parecia indecifrável, e apurei minha visão para ver o que antes era invisível; tendo compreendido que “só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos” (Antoine de Saint-Exupéry). E aí, meus caros, pacientes e fieis leitores, falem a verdade: quanto mais nossos olhos vivem, mais nos levam a acreditar em coisas inacreditáveis.
Entendi, depois de um bom tempo, que a vida é circular e que, quando estamos completando a nossa trajetória, ficamos mais perto da criança que fomos e da qual nos distanciamos por um período. E criança vê coisas que só idosos veem. Olha aí a intercessão.
O escritor português José Saramago disse em um discurso, pouco antes de sua morte, que quando estamos próximos de fazer a nossa última viagem, nossa chama – igual à da vela que está para apagar -, cresce, fica forte e depois se finda. Creio que a luz a que Saramago se referiu venha dos anjos que guiam nosso caminho final.
Ainda não atingi esse estágio. Penso, em minha ilusão, que estou vivendo o crepúsculo e não a noite. Mas vá saber. O que percebi em meu entardecer é que enquanto pensar que anjos voam, eu nunca os verei. Eles não se personificam somente como crianças. E não são exclusivos de uma pessoa. Mas eles existem e nos aparecem em momentos difíceis, quando nos sentimos sós e abandonados. Descobri essa verdade assistindo um filme baseado em fato, na qual uma família lutava para salvar a vida de uma filha, uma menina que sofria de uma doença rara. Ela teve tantas pessoas para ajudá-la que a mãe concluiu que anjos estão mais perto do que imaginamos. Não saberia dizer o nome do filme, me esqueci. Mas entendi que cada pessoa que me estende a mão e me possibilita resolver um problema grande ou pequeno – esse é um anjo. Eles são discretos, compreensivos e aparecem quando você está perdido e sem saber o que fazer para solucionar um problema.
Sei que todos que me leem irão entender que anjos existem e que, em algum momento, todos nós, mesmo sendo imperfeitos, podemos ser o anjo que alguém tanto precisa.
Que assim seja!
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.