Olha o Brasil aí, gente!
* por Sérgio Marchetti
Então é Carnaval outra vez. Samba, suor e cerveja. O tempo passa, corre desenfreadamente como um trem desgovernado. Mas, embora as energias tenham se renovado para o novo ano, o Brasil é o mesmo. Um gigante adormecido, deitado em berço esplêndido. Também está desgovernado – continua endividado e explorando seus cidadãos. Os números dizem tudo. PIB negativo, desemprego (em torno de 10%), inflação (10,67%), dólar nas alturas, 60 mil assassinatos por ano, mais de 40 mil mortes nas estradas, milhões de assaltos, 40 mil crianças e adolescentes desaparecidos por ano.
Vivemos uma democracia – dizem os governantes do Planalto. Mas não podemos ter uma bicicleta, porque ladrões vão roubá-la. Não temos a liberdade de caminhar com nosso cão, pois, se tiver pedigree, será levado por alguém que nos aponta uma arma. O Brasil é muito “democrático” para os bandidos, sejam eles de gravata ou de bermuda e boné.
Mas pelo menos a comitiva de viagem da presidente Dilma (talvez a maior entre todos os países) está em alta. Entre hospedagem, aluguel de carros de luxo (com direito a limusine), restaurante e transporte aéreo, uma pequena fortuna é gasta sem nenhum pudor. Aliás, pudor é o que não houve nos últimos anos de desgoverno. Mas o governo tem a solução. Vai aprovar a CPMF, vai fazer uma reforma na Previdência. Talvez possamos nos aposentar quando tivermos 100 anos de idade e 80 de contribuição. Interessante é que tem brasileiro que se aposenta com oito anos de trabalho. Trabalho?
Para piorar, vivemos hoje duas pandemias. Primeiro a do mosquito aedes aegypti, muito bem adaptado às zonas urbanas. Gosta de água fresca em locais preferivelmente de sombra. Podem ser pretos ou rajados. Vivem do sangue alheio.
A outra pandemia, a do hominis corrupti que, assim como o mosquito, teve sua população aumentada nos últimos tempos. Também gosta de sombra e água fresca. Cresceu muito nos últimos anos e possui ótima adaptação à zona urbana. Habita em todas as regiões do Brasil e prolifera tanto em regiões frias quantos nas quentes. Sua massacrante maioria tem o hábito de subtrair dinheiro alheio. Seus corpos são, em sua grande maioria, cobertos por ternos.
Mais do que nunca, entendo o sentimento de Ruy Barbosa:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
Observação: é Carnaval e sou brasileiro. Vou tomar minha cerveja e cantar um samba-enredo que me faça esquecer da situação do Brasil, pelo menos enquanto é Carnaval.
“Luz, divina luz que me conduz/ Clareia meu clarear, clareia/ Nas veredas da verdade, cadê a felicidade/
Aportei num santuário de ambição/ Eu quero liberdade, dignidade e união/…
Chega de ganhar tão pouco/ Tô no sufoco, vou desabafar/Pare com essa ganância, pois a tolerância/Pode se acabar…”
(BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS-2003)
Um ótimo Carnaval para vocês.
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.