O dia em que a Terra parou
* por Sergio Marchetti
Estou sentado numa sala escura assistindo um filme de terror que mostra a população do mundo se escondendo em suas casas, com medo, melhor dizendo, pavor de que um vírus a infecte. O vírus se propaga pelo vento e pode matar a metade da população mundial.
Assim como em outros filmes americanos que adoram destruir cidades e exterminar populações, este já devastou países e causou muitas mortes. Os jornais televisivos do mundo só falam da doença e a cada dia o gráfico de contaminações aumenta de forma robusta o número de doentes. Países inteiros se preparam para a sua chegada. Muitas providências são tomadas pelas áreas de saúde e pela OMS, mas será inevitável a contaminação e os óbitos serão iminentes.
Meu Deus! Que agonia!
As autoridades pedem calma às populações de cada país e dizem, equivocadamente, que se trata de uma doença que mata somente quem tem a saúde fragilizada, como problemas respiratórios, diabetes e idade avançada. E, diante dos números e dos países afetados, conclui-se que se trata de uma pandemia.
A direção do filme parece ter escolhido a China, a Itália e os Estados Unidos para serem protagonistas da tragédia. Hospitais em todo o mundo são construídos às pressas e se preparam para a internação em massa. Especialistas procuram explicar a causa, e o que vemos são entrevistas médicas e orientações para que as pessoas se isolem e adotem a ideia de distanciamento social. O suspense toma conta de mim, já não consigo me mexer, na expectativa de que surja um herói, o famoso mocinho que viria salvar o mundo. Porém, como em todos os filmes de suspense e terror, a solução não chega e o número de óbitos aumenta.
Num laboratório americano aquela tela que mapeia o mundo, comum em seus filmes, está aberta e cientistas discutem o problema. Demonstram o processo da doença que começou, provavelmente, na China. Aí discutem a teoria da conspiração, que pode não ser teoria – e sim a pura realidade, de que homens malucos pelo poder poderiam ter causado essa pandemia para destruir concorrentes e gerar mudanças radicais no mercado mundial e nas bolsas de valores do mundo. Enfim, um enredo conhecido nas películas do gênero.
Na tela da minha televisão vejo o mapa do Brasil e, sem saber se vivo realidade ou ficção, tive medo de que fôssemos infectados. E fomos. Não podia acreditar. No Brasil não. O país está fraco, está doente e, depois de anos internado na UTI, começávamos a respirar sem aparelhos.
Busquei me tranquilizar. Era um filme. Mas prossegui assistindo, enfim, o mundo foi afetado. E a recomendação foi para que se parasse tudo. Aí o filme mostra que o nosso presidente não foi tomado pelo pânico. Parecia não ter a legítima noção da letalidade do vírus. A reação de empresários do planeta também demonstrava duas preocupações: doença e falência. Todos estavam despreparados para tamanho prejuízo. Companhias aéreas parando de funcionar. Navios ancorados, mantendo os turistas presos. Emissoras de televisão e rádios mudando toda a programação. E o jornalismo menos honesto se aproveitando para criar manchetes sensacionalistas e descarregar suas insatisfações e antipatias contra os governantes, enquanto políticos oportunistas desenvolviam um discurso de seriedade para salvar o povo da pandemia, mas em seus hospitais faltavam máscaras e outros equipamentos de proteção mais básicos para os profissionais da saúde. Observei que a hipocrisia não fora afetada.
O panorama do mundo, de norte a sul, era o mesmo: o mundo havia parado.
Fiquei pensando que, se isso fosse verdade, se não fosse um filme, certamente que espalharia o pânico pelo planeta. Quatro meses de retrocesso. E a nossa Terra de Santa Cruz, que havia recuperado 1 milhão de empregos e começava a dar sinais de vida? Mas ainda bem que era um filme – pensei. Caso contrário, o que seria de nós? Na telinha, vejo com orgulho o comprometimento e a austeridade do presidente da Câmara dos Deputados, do Presidente do Senado e de outras autoridades eleitas que me enchem de orgulho, mas logo minha memória me diz que é um filme e que o elenco era muito talentoso. E, para completar o sucesso, a trilha sonora, O dia em que a terra parou, dizia muito do que estava acontecendo.
Confesso a vocês, meus caros eleitores, digo: leitores (perdoem meu erro, mas é que fui influenciado por tantas excelências…) que ainda me dão a honra de distrai-los, que estava aliviado com o fim da película quando, de repente, minha mulher entra na sala, tosse e me informa que está sem ar.
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.
O DIA EM QUE A TERRA PAROU Autoria: Claudio Roberto / Raul Seixas. Fonte: Letras.mus.br Essa noite eu tive um sonho De sonhador Maluco que sou, eu sonhei Com o dia em que a Terra parou Com o dia em que a Terra parou Foi assim No dia em que todas as pessoas Do planeta inteiro Resolveram que ninguém ia sair de casa Como que se fosse combinado em todo O planeta Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém ninguém O empregado não saiu pro seu trabalho Pois sabia que o patrão também não tava lá Dona de casa não saiu pra comprar pão Pois sabia que o padeiro também não tava lá E o guarda não saiu para prender Pois sabia que o ladrão, também não tava lá E o ladrão não saiu para roubar Pois sabia que não ia ter onde gastar No dia em que a Terra parou (êê) No dia em que a Terra parou (ôô) No dia em que a Terra parou (ôô) No dia em que a Terra parou E nas Igrejas nem um sino a badalar Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá E os fiéis não saíram pra rezar Pois sabiam que o padre também não tava lá E o aluno não saiu para estudar Pois sabia o professor também não tava lá E o professor não saiu pra lecionar Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar No dia em que a Terra parou (ôô) No dia em que a Terra parou (ôô) No dia em que a Terra parou No dia em que a Terra parou O comandante não saiu para o quartel Pois sabia que o soldado também não tava lá E o soldado não saiu pra ir pra guerra Pois sabia que o inimigo também não tava lá E o paciente não saiu pra se tratar Pois sabia que o doutor também não tava lá E o doutor não saiu pra medicar Pois sabia que não tinha mais doença pra curar No dia em que a Terra parou (oh yeah) No dia em que a Terra parou (foi tudo) No dia em que a Terra parou (ôô) No dia em que a Terra parou Essa noite eu tive um sonho de sonhador Maluco que sou, acordei No dia em que a Terra parou (oh yeah) No dia em que a Terra parou (ôô) No dia em que a Terra parou (eu acordei) No dia em que a Terra parou (acordei) No dia em que a Terra parou (justamente) No dia em que a Terra parou (eu não sonhei acordado) No dia em que a Terra parou No dia em que a Terra parou (no dia em que a terra Parou)