O carteiro
* por Sérgio Marchetti
Li, outro dia, que em 25 de janeiro foi comemorado o Dia do Carteiro. Fiquei pensando naqueles profissionais e em sua luta diária. Lembrei-me de meu saudoso avô, Higino Marchetti, homem sério e íntegro, que na sua juventude andou pelas ladeiras de Barbacena levando cartas de um lado para outro. Também me veio à mente “O Carteiro e o Poeta”, filme lindo que retrata, na Itália, um período da vida do fabuloso Pablo Neruda.
Há mais tempo escrevi algo que não me atrevo a chamar de poema, mas nasceu de uma reflexão sobre essa profissão que é tão importante, apesar dos novos hábitos do mundo. Aí vão as palavras, caríssimos leitores, para que possam ser lidas e apreciadas, caso mereçam.
O carteiro Que notícias me trazes? É de prazer ou de dor? O carteiro chegou trazendo cartas de amor! Que contraste, que incoerência imensa Com o mundo moderno das redes. Pelas telas da internet o amor é virtual, E o mensageiro, pedestre, percorre o itinerário Ganhando um parco salário. Sem trégua, na chuva ou no sol, É mensageiro sem transporte, de um caminhar sem igual. Entrega uma carta - uma notícia fatal; Documentos importantes, um cartão de natal. Traz alegrias... e tristezas também. Operário circulante de um cansativo vai e vem. - Maldito, quando dá notícia de morte, - Bendito, quando traz a certeza do bem. Às vezes mensageiro da sorte, Mas qual a sorte que ele tem? É alvo de cães de melhor destino. - Homem-pombo-correio! Que conhece as ruas na palma da mão. Trabalhador sem anseio, recordista de caminhadas; Que luta no dia-a-dia, num país mercenário, Pelo pão que, a cada momento, Se torna mais ordinário. Atravessa as ruas da globalização, E sem saber que está obsoleto, carrega a nova informação. Circulante que leva palavras De muitas pessoas sem palavras; Não navega na rede, Nem trafega num trânsito cruel. Parece não ter sede Nem perceber sua vida de fel. - O carteiro chegou! E as contas aumentaram! Através da grade assinam a correspondência, É o medo... os ladrões também aumentaram. Mas andam livres e armados. -“Tudo vai mudar”! Dizem os otimistas, medrosos da realidade. -“Tudo vai melhorar”! Dizem os que possuem fé. Mas os carteiros não mudaram; Continuam andando a pé. Pobres mensageiros de um mundo virtual, Vocês são a última lembrança De meu tempo de criança Em minha terra natal.
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.