Nós, mineiros
* por Sérgio Marchetti
Para quem viaja por este Brasil afora ser mineiro é quase uma marca. Basta chegar a algum lugar e já tem um engraçadinho falando “uai”, “sô”, “trem” e outras palavrinhas mais. Pior ainda é quando imitam nosso sotaque. Aí sim, chega a doer, pois quando nos imitam vejo e me sinto como a imagem de Mazzaropi em sua personagem “Jeca Tatu”, criado pelo grande Monteiro Lobato em sua obra “Urupês”. O que muita gente não sabe é que o escritor retratou o homem da zona rural paulista. Mas, ao que parece, o rótulo de capiau é de “nóis meso”. Será por quê? “Vê se tem base uma coisdessa”? “Fiquemo quetinho”, sentado no “noscanto”, “intirtido” com “noscoisinha”, “comeno” um queijinho sem “mexê” com ninguém. E os “escurmungado” debochando de “nóis”?. Ara! O minero come “queto”, “enconomiza” umas letra e “pãe” “n” e diminutivo adonde num tem precisão. Troca o “l” pelo “r” para ficar mais “carmo”. “Arreda” tudo, e ainda “garra” no trânsito e no trabalho. Além disso, quando nos cumprimentamos com um “- como vai?” o mineirinho da gema responde; “- tô correndo atrás”.
Por isso tem tanto poema de mineiro. “Povinho veiaco, mais é carinhoso e anda em riba do muro só pra num contrariá os outros.”
Como escreveu Batista Queiroz:
“Ser mineiro
É fingir que não sabe aquilo que sabe.
É falar pouco e escutar muito.
É passar por bobo e ser inteligente.
É vender queijos e possuir bancos…”
O danado é desconfiado, leva tempo para tomar uma decisão. Não compra lançamento pois espera para ver se vai dar certo. Acha os consultores empresariais enganadores e gosta de fazer curso em São Paulo.
Para vocês terem ideia, caro leitores, certa vez lancei dois cursos de oratória quase que simultaneamente: um em Belo Horizonte e outro em São Paulo. O curso de Belo Horizonte teve em torno de 15 matriculados. Já o da capital paulista mais que o dobro. Mas não foi só isso que me chamou a atenção. No curso paulista havia oito belo-horizontinos. Não é curioso? Sabem o que me responderam quando indaguei o porquê de optarem por realizar o curso fora? Disseram que curso de São Paulo é melhor do que o de Minas Gerais. Êta povinho custoso!
Outra característica – essa reclamada por colegas de outros estados – está nos taxistas da nossa capital que, categoricamente, não ligam o ar-condicionado sem que se peça. Sobre o trânsito, dizem que nós mineiros somos competitivos e que não deixamos os automóveis de terceiros trocarem de pista. Nas rodovias o mineiro acelera seu carro para dificultar ou impedir que o outro o ultrapasse.
Mas há esperança para nós. Em meu trabalho como personal consultant (consultor, orientador individual e personalizado em oratória, comunicação e carreira), que realizo há vinte anos, vejo que os mineiros estão saindo da toca e procurando orientação, haja vista o crescimento desse trabalho. Concluo que, se deu certo em Minas, definitivamente o coach e o mentor vieram para ficar.
Lembro a todos que sou mineiro, mas tenho repetido em todas as oportunidades que, neste novo mundo em transformação, não há tempo para desconfiarmos ou para pensarmos muito. Tudo acontece com uma rapidez jamais testemunhada por nós. Não podemos mais ser reativos. Temos que antecipar, inovar e sair na frente.
Acreditam?
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.