Narcisismo solitário

por Convidado 28 de setembro de 2015   Convidado

por Benício Rocha*

Fantasia e tolice sempre povoaram nossas mentes.

Mas agora, com as informações correndo à velocidade da luz, superficialmente, a gente imagina que o mundo melhorou. Fantasia!

A grande tolice é a deformação daí advinda.

O que você vê quando se olha no espelho? / Foto: Marina Borges

O que você vê quando se olha no espelho? / Foto: Marina Borges

Outro dia a modelo quase morreu. Agora, um pobre rapaz, inseguro, injetou hidrogel em si mesmo, imaginando que toda diferença da vida advém de algum volume além do natural. Não lhe ocorreu que “volume morto”, assim como hidrogel, está na moda como coisas problemáticas…

Uma vida ceifada por um desejo imposto por quê? Por quem? Será que fruto de bullying?

Que tristeza para os pais, que talvez se sintam culpados por terem – ou não terem – conversado com ele da forma acertada.

Por não terem demonstrado a ele que o amor é muito maior que detalhes físicos. Que pessoas, normalmente, amam pessoas.

E ouvimos mesmo nossos pais, sempre? Ou as influências “de fora” falam mais alto?

De quem é a culpa? Existe um só culpado?

De qualquer forma, o fato fatal é que o pobre foi envolvido por esse mundo exibido, que busca a imaginação muito mais do que a realidade, que se deixa ser transformada e transtornada pelo gozo do faz-se de conta.

Narcisismo adolescente. Narcisismo solitário.

Ai de quem prioriza o externo em detrimento do interno.

Expomos nossas vidas na web. Fotos nossas, que não mostraríamos nem pra nós mesmos, correm o mundo, destroem nossas vidas.

Acordamos anônimos. Tomamos café famosamente destruídos.

E não paramos de ver moldes do que deveríamos ser diariamente. E, no dia seguinte, outros moldes nos são estampados. O jeito é lançarmos mãos de coisas que nos modifiquem rapidamente.

Pessoas bonitas correm para as academias para virarem “monstros”, suplementos, emagrecimentos, fortalecimentos, frigidez, fim da ereção, problemas nos rins, insuficiência respiratória, morte.

E seguimos loucos, dominados pela loucura renovada a cada dia.

Bons tempos aqueles em que de nada sabíamos, nossos medos eram de assombração…

*Benício Rocha é caratinguense ausente e saudoso, mineiro da gema, amante da boa prosa, sócio da MGerais Seguros, aprendiz de servo do Senhor.

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