Mother of Mine

por Convidado 11 de setembro de 2023   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Nesses últimos dias, a vida me surpreendeu negativamente. Eu acreditei, leitores de boa-fé que, com o passar dos anos, os desafios que a existência nos reserva fossem diminuindo. E, pela lógica, já tendo certo acúmulo de experiência, realizações, “uma certa idade”, as cargas mais pesadas seriam atribuídas aos mais jovens.

Mas estava enganado. Primeiro, porque a vida não tem lógica alguma. E, depois, pelo fato de que, quanto mais vivemos, mais caras ficam as cobranças. E a que chegou para mim é impagável. Tive que encarar o antagonismo de “conviver com a morte”. A história começa, lamentavelmente, com o fato de minha querida mãe ter ido se encontrar com meu pai. Sim, após alguns dias de agonia, ela partiu. E, embora bastante idosa, a dor da separação é muito forte. A ruptura causada pela partida daquela pessoa que nos guardou no ventre, nos remete a um novo corte do cordão umbilical. A vida nos bate na face, nos enche o peito de angústia e reafirma nossa fragilidade. Outra vez, me vem à mente a pergunta de Hamlet na peça intitulada a Tragédia de Hamlet: “ser ou não ser, eis a questão”. E, o não ser, que levou meu pai há um ano, não satisfeito, veio buscar minha mãe. Tanta doçura tinha em sua maneira de ser que, quando eu era criança, estudando inglês (que não aprendi direito), ouvi uma música linda que se chamava Mother of Mine, de Jimmy Osmond, e dediquei a ela porque a melodia traduzia a delicadeza, meiguice e suavidade de minha querida Dona Iris, cujo nome representa, não por acaso, “mensageira dos deuses”.

Confesso, leitores mais sensíveis, que jamais consegui sentir em meu íntimo que havia feito tudo que minha mãe merecia. Sempre me vem aquela vozinha no ouvido dizendo que ainda poderia ter feito mais. O mesmo sinto por meu pai. Mas minha gratidão por tê-los tido como pais não cabe em mim.

E o grande desafio, que citei inicialmente, veio me testar justo no dia em que estava agendada uma palestra para 150 pessoas (empresários do comércio). Imaginaram? Foi isso mesmo. De um lado uma palestra com interações bem-humoradas e de outro um velório de uma pessoa tão especial, e em cidades diferentes.

Sabia que não teria condições psicológicas para realizar um trabalho que atendesse às expectativas mínimas. Faltaria alegria, energia, entusiasmo e equilíbrio emocional. Era quase início de noite, e a palestra seria às 9h da manhã seguinte. Como cancelar? Mas, caso conseguisse ter forças para realizá-la, não daria tempo de comparecer ao sepultamento. O que fazer? E os organizadores? O público? Como ficariam todos?

Não me perguntem como foi que decidi. Apenas saibam que algo maior do que eu é que me deu forças. Fiz cortes nos assuntos e diminuí para uma hora o tempo da apresentação (seriam duas horas). Tomei chás, suco de maracujá, quase não dormi, porém compareci ao evento. Cumpri meu papel e tive a certeza de que minha mãe, que sempre soube de minha dificuldade — por ter muita compaixão pelos outros (puxei dela) — se orgulharia de mim.

Foi difícil, mas consegui. A superação foi muito além do que supunha. Óbvio que não tive a energia e os insights que obteria normalmente. Confesso que não me lembro de tudo que fiz naquele evento. Mas saí daquele lugar com a alma lavada e, alguns minutos depois, com os olhos também, porque iria encarar uma das cenas mais tristes no teatro da minha vida. Um drama que acontece todos os dias, mas, quando nos acomete, a naturalidade deixa de existir. E assim, como cantava o grande Gonzaguinha, “um homem também chora…” e “Guerreiros são pessoas/ São fortes, São frágeis/ Guerreiros são meninos/ No fundo do peito”.

Desta forma, mantendo uma força que não tenho, mesmo com o coração dilacerado, me despedi da mulher que me deu a vida, pedindo a Deus que a recebesse de braços abertos, a amparasse e, a protegesse, assim como fez com todos que, nesta vida, se aproximaram dela.

Até um dia, mother sweet mother of mine.

Mother Of Mine

Jimmy Osmond

 

Mother Of Mine

Mother of mine you gave to me,

All of my life to do as i please,

I own everything i have to you,

Mother sweet mother of mine.

 

Mother of mine when i was young

You showed me the right way

Things should be done,

Without your love where would i be,

Mother sweet mother of mine.

 

Mother you gave me happiness,

Much more than words can say,

I pray the lord that he may bless you,

Every night and every day.

 

Mother of mine now i am grown

And i can walk straight all on my own,

I’d like to give you what you gave to me,

Mother sweet mother of mine.

 

Mother Of Mine (Tradução)

Minha mãe você me tem dado,

Tudo que eu faço na vida é para teu prazer

Eu possuo todas as coisas porque tenho você

Mãe, minha doce mãezinha.

 

Minha mãe quando eu era jovem

Você me mostrou o caminho certo

Coisas que deveriam ser feitas,

Sem seu amor onde estaria eu,

Mãe, minha doce mãezinha.

 

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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