Liderança até quando?
*por Sérgio Marchetti
Há mais tempo, uma colega tomou a decisão de não fazer palestras sobre liderança. O motivo alegado foi que a teoria estava muito distante da prática e que os estilos sugeridos pareciam ser contos de fadas no país das maravilhas.
Quando soube de sua decisão, confesso que fiquei preocupado e “balançado”. Afinal, o tema era o meu preferido e sobre o qual mais fazia palestras. Reconheci que aquela atitude estava respaldada na coerência, na nobreza e na honestidade, pois sua alegação era a de que não poderia enganar as pessoas – “Muitos empresários brasileiros têm um perfil que está muito mais próximo do senhor de escravos do que do líder sugerido pelos estudos dos últimos vinte anos”, afirmou.
Hoje, após mais de uma década de nossa conversa, reflito sobre tal decisão e continuo admirando a firmeza de caráter daquela senhora. Porém, como tudo tem duas faces, penso que se desistirmos de realizar, pregar, persuadir as pessoas para mudarem, teremos que fazer como os macaquinhos que tapam os ouvidos, a boca e os olhos – nos tornamos omissos e corremos o risco de extinção.
É fato que durante milênios a liderança foi exercida pela força. Os maiores reinos invadiam os menores e os conquistavam, escravizando ou exterminando sua população.
No fim do século XIX, Taylor com sua “Administração Científica”, fez nascer as primeiras luzes de uma gestão que primava pela Organização Racional do Trabalho. De lá para os dias atuais, as pessoas e os sistemas foram se aprimorando. O ranço da escravidão foi, aos poucos e muito gradativamente, ficando para trás, e surgiram novas concepções sobre gerenciar e liderar. Assim, nasceu o líder coach – que contemplava em seu perfil o treinamento e o desenvolvimento da equipe que liderava. Surge, nesse cenário, a Liderança Servidora (quase espiritual) que trouxe em sua essência a ideia de servir à equipe, com autenticidade, empatia e ter a habilidade de compartilhar e criar um ambiente colaborativo que estimula o aprimoramento e o desempenho.
James Hunter, autor do livro “O Monge e o Executivo”, um best seller, chegou a mencionar que essa modalidade de liderança fora adotada por Jesus – um Servidor que dava a outra face.
Devemos entender que se trata de uma metáfora, contudo, meus insistentes leitores, vocês hão de convir que a gestão evoluiu e tornou crível o que antes parecia ficção. E não tem volta. Os modelos são outros, a diversidade se acentua e pede passagem. As gerações Y e Z não aceitam gritos, não sabem o que é apanhar dos pais e, portanto, não reconhecem a figura de um chefe com o chicote nas mãos. Os mais cultos vão pensar que se trata de um Dom Quixote alucinado,lutando contra os moinhos de vento.
Pois é isso. Eu consigo persuadir meus alunos. E, interessados, me perguntam: como, então, será a relação das pessoas nas organizações do novo mundo?
Eu respondo que essa pergunta não faz parte do novo mundo. E sabem por quê?
Porque no novo mundo não temos como prever o que virá…
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.