Leve e solto, mas sem exageros

por Convidado 3 de novembro de 2020   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Em tempos tão desalumiados, gerados por uma doença pandêmica, a possibilidade de parar e refletir talvez possa ser entendida como uma oportunidade para quase todos nós. Não obstante os inúmeros contratempos em um processo dolorido de perdas, temores e prejuízos, ainda assim, prodigiosos leitores, em que pese todas as adversidades testemunhadas, posso lhes afiançar que tivemos algum tempo para fazer uma higiene espiritual e rever nossas atitudes perante o mundo e a sociedade.

Para resguardar meu senso de utilidade, tenho tirado proveito de algum ócio para meditar e buscar o tão propagado (e até desgastado) autoconhecimento, que para literaturas bem atuais, esconde um tesouro com imensas riquezas.

Mas, depois do prazer em me conhecer, investi literalmente na limpeza, no descarte e no desapego e confesso que, posteriormente, senti um bem-estar muito grande. Adoro livros, coleções de clássicos. E, entre o pesar e a insustentável leveza do ser, vi meus livros sendo encaixotados e, creiam, ouvi gritos de personagens de romances me pedindo para ficar. Alguns disseram que jamais seriam entendidos por outra pessoa como foram por mim. Mas me fiz de frio e disse que a mudança era necessária. Capitu me chamou de traidor. Madame Bovary chamou-me de ingrato pelo amor secreto dedicado a mim. Dante Alighieri prometeu que, por minha insensibilidade, me mandaria para o inferno. George Orwell rogou a praga para Stálin me assombrar, e Dostoiévski me garantiu que crime e castigo andam juntos.

Era como se eu os tivesse sepultando. E o que era difícil se tornou ainda mais penoso porque eu estava tomando uma atitude que contrariava meu apego e, por isso, me incomodou. Mas fui determinado porque, em minha meditação, descobri que nada aqui nesta parte do cosmos é nosso. Somos seres passageiros (e como é rápido) e não temos o direito de guardar algo que pode ser utilizado por outras pessoas. Ainda que sejam livros e num país que se lê pouco.

Após sufocar os gritos dos autores e personagens nas caixas, virei minha metralhadora para o guarda-roupa. Esta parte merece uma explicação: quando se trata de roupa tem uma frase que diz – “e se a moda voltar? ”. Confesso que a ouvi. Porém, a decisão já estava tomada e não teria essa história da moda voltar. No embalo, depois das roupas antigas, parti para as novas. Pesaroso, encarei meu blazer e me perguntei: doa ou não? Mas senti orgulho de mim; lancei mão de outras roupas atualíssimas e embrechei na sacola junto com as demais.

No embalo, foram fitas de videocassetes que talvez um dia eu fosse assistir. CDs que poderia ouvir numa ocasião especial, móveis que estavam guardados no quartinho de despejo e objetos que não sabia que possuía.

Enfim, estava mais leve. As práticas de Feng Shui comprovam isso. Coisas velhas e não usadas acumulam energia negativa.

Meus condescendentes leitores, diante do que relatei, recomendo e os convido a aproveitarem seu tempo da melhor maneira possível. Para ajudá-los, lanço aqui neste espaço precioso de Observação e Análise, 5S (Cinco Esses), que são os sensos traduzidos do programa de Kaoru Ishikawa. São eles:

Senso de utilização: mantenha somente os recursos necessários nos locais específicos.

Senso de organização: os recursos e materiais devem estar à mão, devidamente identificados e arrumados.

Senso de limpeza: tudo limpo e funcionando.

Senso de padronização: processos claros e uniformes.

Senso de disciplina: manter, cumprir e comprometer-se a fazer certo.

Então, utilizem o bons sensos.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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