Lé com lé

por Convidado 5 de novembro de 2017   Convidado

por Sérgio Marchetti *

Diante do momento que estamos passando, cujas circunstâncias estão representadas pela sigla VUCA (originada do vocabulário militar americano no final dos anos 90), que representa mudanças, volatilidade (volatility), incerteza (uncertainty), complexidade (complexity) e dúvidas, ambiguidade (ambiguity), creio que seja oportuno fazer a roda parar, pois em movimento não há como refletir com profundidade sobre nosso futuro.

Com todos esses dilemas contemplados na sigla e, talvez como consequência deles, grande parte da população parece ter perdido a razão propriamente dita. As pessoas estão mergulhadas num mar bravo, lutando contras as ondas de violência, crueldade, corrupção e excesso de liberdade que, ao que parece, vão nos afogar.

O desequilíbrio abala nosso emocional e, em descontrole, nos tornamos vítimas de neuroses, vícios, manias e da Síndrome de Burnout. Perdemos o senso de adequação e, por essa razão, assistimos, por exemplo, aos debates entre pessoas que defendem a nudez como arte, e aqueles que combatem aquela tese. Mas, como tudo é relativo, as cabeças pensantes poderiam, além da noção de local, tempo, espaço e público, ter também o bom senso para avaliar que, num país cujo número de estupros e assédios sexuais é dos mais elevados do mundo, talvez fosse prudente evitar estímulos dessa natureza. Não me agridam, é só um comentário sugestivo sem aprofundar no tema e nas causas.

De qualquer maneira, se queremos surfar na onda da liberdade, deveríamos saber o que significa esta palavra. Há entendimentos e atitudes completamente distintos e, no ímpeto de ser livre, comete-se o equívoco da devassidão. Gente! Repito. Estamos no Brasil, isso mesmo, num país de milhões de pessoas que não sabem sequer escrever o próprio nome. Falta-lhes discernimento. Vejam o número de grávidas nas classes menos favorecidas que foram vítimas do padrasto, do pai, do irmão, dos tios…

Até o Nelson Rodrigues era a favor de resguardar a nudez para não tirar a fantasia que a curiosidade traz. Ele detestava o biquíni.

Do que estou falando? Deixe-me dar um exemplo, paciente leitor. Acho que devo me explicar. Estou falando de equilíbrio. Sei que nunca tivemos tanta liberdade e informação como temos hoje. Que ótimo. Mas também, nunca testemunhamos um momento com tantos problemas de comunicação. Uma mulher que vai para o escritório vestida de biquíni pode ser chamada de louca (ou de artista)? Um homem de terno entrando no mar de Ipanema também pode receber os mesmos rótulos. Mas a mulher de biquíni entrando no mar e o homem de terno indo para o escritório são coisas perfeitamente adequadas. É isso que está faltando.

Qual o problema de usar um traje “passeio completo” numa festa clássica? Tem pessoas que querem ir de bermuda. Tenham dó. Isso não é ser evoluído. É brega mesmo. É desrespeito aos anfitriões. Cada coisa no seu canto, pois no mundo do “tudo pode” o que impera é a desordem.

Não podemos confundir assédio, agressão, imposição com liberdade e arte. Só falta dizer que o bandido tem o direito de me assaltar e que não podemos tolher sua liberdade. Chega de absurdos. Devemos conter essa pandemia de insensatez que pseudo representantes da arte e do povo querem fazer parecer natural. O desequilíbrio está estampado nas atitudes e na sociedade em geral. Ninguém está satisfeito com nada, nem consigo mesmo.

Precisamos nos vacinar contra a insensatez, essa doença que maltrata a arte, descontrola a mente das pessoas, confunde desonestidade com esperteza e provoca delírios.

Vacine-se aqui.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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