Eu quero é me arrumar
por Sérgio Marchetti*
Não desejo falar de crise econômica. Tampouco falar de corrupção e de violência. Estes assuntos preenchem vinte quatro horas as mídias… e só progridem. A impressão que temos é que nossos governantes moram em outro país. As mais de 50 mil mortes anuais por violência (extraoficialmente passam de 60 mil) não tocam seus corações. Mas queria falar mesmo era de amor, de felicidade, de solidariedade, de prosperidade, porém, sendo filho de Deus e habitando este mesmo latifúndio podre, também fui picado pelo mosquito da descrença (pensou que fosse da dengue?). Passar incólume pelo momento Brasil é como caminhar por um lixão que exala um fedor insuportável e dizer que não sente o cheiro. Um país sem lei e sem regra, onde prevalece acentuada desigualdade e se pratica uma das maiores injustiças sociais sobre cidadãos honestos do planeta.
Mas, apesar de todo o desânimo, falar do que está mal sem buscar uma solução é cultivar a semente negativa dentro de nós. Lembro aos caríssimos leitores de que o mal possui uma força muito maior do que o bem e um poder de disseminação que corre na velocidade da luz. Os efeitos negativos ou acontecimentos não desejáveis acontecem frequentemente na vida pessoal e na profissional. São inevitáveis. Então, o caminho para quem pretende continuar lutando começa na descoberta do efeito. Depois se identifica a causa e busca-se a solução. Ocorreu-me a fórmula dos seis “Ms”, de Ishikawa, para chegar à causa do problema: método, matéria-prima, mão de obra, máquinas, medição e meio ambiente. Mas no caso do Brasil é falta de caráter mesmo. A origem de todos os problemas está nas pessoas.
Na sociedade, em casa, nas empresas “gente” é sempre a causa dos episódios indesejáveis. Por quê? Porque pessoas são diferentes, possuem idiossincrasias próprias. Mas o item que causa mais problema é o bendito interesse pessoal. Lamentavelmente há muito mais pessoas interesseiras do que pessoas interessantes. Para alcançarem seus objetivos muitos desses seres lançam mão de atitudes desonestas. Denigre-se a imagem alheia com inverdades que podem destruir suas vidas pessoais e profissionais. Sem nenhum peso na consciência traem alguém que lhes estendeu a mão. Caluniam, acusam. Não há mais a lealdade e gratidão. Outras pessoas lançam mão de trabalhos em terreiros de macumba para destruir relações, fechar caminhos alheios e obter ganhos. Não sei dizer sobre seus efeitos, mas o que vale é a intenção. A impressão que temos é que para sobreviver neste País precisamos abrir mão dos escrúpulos e aprender a jogar o novo jogo da vida. Nele as regras incorporaram conceitos que menosprezam integridade, honestidade, honra, entre outros valores que antes eram pilares sociais. Confunde-se anarquia com democracia e liberdade com promiscuidade. Hoje, sob o manto da falsa liberdade – conveniente a um governo corrupto e a um povo indolente – desonestidade passou a ser sinônimo de esperteza.
Afirmei que desejava falar de amor, mas não consegui. Infelizmente, no enredo que descrevemos, não há como esperar que muitos cidadãos brasileiros escolham registrar as suas realizações nas páginas da história. Ao contrário e, a exemplo dos governantes, estão deslumbrados pelo “ter” em detrimento do “ser”, e optam por marcar seus nomes nas páginas policiais e deixar para a posteridade um rastro de podridão humana.
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.