De panetone, Carnaval e gado
por Benício Rocha
O gostinho de panetone ainda está na minha boca e já me sinto atordoado pelo bombardeio de informações do Carnaval, que chegou em canções, coreografias, corpos sarados, passos ritmados e acelerados.
Considerando a dura realidade do paga-paga que o início de ano sempre traz, chego a pensar que paira no ar o gosto pela fantasia que sufoca a realidade.
E nela cabem não somente os sonhos de um mundo ideal, próprios do Natal, mas também o ainda mais maravilhoso do “tudo permitido, sem consequências” do Carnaval, tão bem mostrado por Chico Buarque em “Noite dos Mascarados” e por Zé Keti em “Máscara Negra”.
Nesse momento de fraternidade alegórica não conseguimos fixar os olhos na realidade ao redor sem correr o risco de sermos vistos como pessimistas ou até apocalípticos. Mas o mar está pra peixe?
Então, quem alimenta em nós tanta fantasia e desejo consciente ou inconsciente de vivermos alheios ao duro mundo real de forma repetida a cada ano? Ou a cada dia?
O sistema? A mídia? Nós mesmos?
Não seria melhor metermos a mão na massa e transformarmos esta terra brasilis num delicioso panetone, repleto de educação, saúde, blá, blá?
Precisamos ficar atentos aos que administram a coisa pública para que não governem nossos sonhos. Mesmo porque, como já disse Paulinho da Viola:
Flutua no ar o desprezo
Desconsiderando a razão
Que o homem não sabe se vai encontrar
Um jeito de dar um jeito na situação
Então, o tempo está passando rápido ou estão jogando a vida para algum momento futuro próximo, que vem e vai, mas que tira nosso foco das coisas verdadeiramente essenciais?
Êta vida de gado!
Vale a pena ficarmos de olho…
*Benício Rocha é caratinguense ausente e saudoso, mineiro da gema, amante da boa prosa, sócio da MGerais Seguros, aprendiz de servo do Senhor.