De panetone, Carnaval e gado

por Convidado 18 de fevereiro de 2015   Convidado

por Benício Rocha

O gostinho de panetone ainda está na minha boca e já me sinto atordoado pelo bombardeio de informações do Carnaval, que chegou em canções, coreografias, corpos sarados, passos ritmados e acelerados.

Considerando a dura realidade do paga-paga que o início de ano sempre traz, chego a pensar que paira no ar o gosto pela fantasia que sufoca a realidade.

E nela cabem não somente os sonhos de um mundo ideal, próprios do Natal, mas também o ainda mais maravilhoso do “tudo permitido, sem consequências” do Carnaval, tão bem mostrado por Chico Buarque em “Noite dos Mascarados” e por Zé Keti em “Máscara Negra”.

Nesse momento de fraternidade alegórica não conseguimos fixar os olhos na realidade ao redor sem correr o risco de sermos vistos como pessimistas ou até apocalípticos. Mas o mar está pra peixe?

Então, quem alimenta em nós tanta fantasia e desejo consciente ou inconsciente de vivermos alheios ao duro mundo real de forma repetida a cada ano? Ou a cada dia?

O sistema? A mídia? Nós mesmos?

Não seria melhor metermos a mão na massa e transformarmos esta terra brasilis num delicioso panetone, repleto de educação, saúde, blá, blá?

Precisamos ficar atentos aos que administram a coisa pública para que não governem nossos sonhos. Mesmo porque, como já disse Paulinho da Viola:

Flutua no ar o desprezo
Desconsiderando a razão
Que o homem não sabe se vai encontrar
Um jeito de dar um jeito na situação

Então, o tempo está passando rápido ou estão jogando a vida para algum momento futuro próximo, que vem e vai, mas que tira nosso foco das coisas verdadeiramente essenciais?

Êta vida de gado!

Vale a pena ficarmos de olho…

*Benício Rocha é caratinguense ausente e saudoso, mineiro da gema, amante da boa prosa, sócio da MGerais Seguros, aprendiz de servo do Senhor.

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