Nós, mineiros

por Convidado 9 de setembro de 2018   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Para quem viaja por este Brasil afora ser mineiro é quase uma marca. Basta chegar a algum lugar e já tem um engraçadinho falando “uai”, “sô”, “trem” e outras palavrinhas mais. Pior ainda é quando imitam nosso sotaque. Aí sim, chega a doer, pois quando nos imitam vejo e me sinto como a imagem de Mazzaropi em sua personagem “Jeca Tatu”, criado pelo grande Monteiro Lobato em sua obra “Urupês”. O que muita gente não sabe é que o escritor retratou o homem da zona rural paulista. Mas, ao que parece, o rótulo de capiau é de “nóis meso”. Será por quê? “Vê se tem base uma coisdessa”? “Fiquemo quetinho”, sentado no “noscanto”, “intirtido” com “noscoisinha”, “comeno” um queijinho sem “mexê” com ninguém. E os “escurmungado” debochando de “nóis”?. Ara! O minero come “queto”, “enconomiza” umas letra e “pãe” “n” e diminutivo adonde num tem precisão. Troca o “l” pelo “r” para ficar mais “carmo”. “Arreda” tudo, e ainda “garra” no trânsito e no trabalho. Além disso, quando nos cumprimentamos com um “- como vai?” o mineirinho da gema responde; “- tô correndo atrás”.

Por isso tem tanto poema de mineiro. “Povinho veiaco, mais é carinhoso e anda em riba do muro só pra num contrariá os outros.”

Como escreveu Batista Queiroz:

“Ser mineiro

É fingir que não sabe aquilo que sabe.

É falar pouco e escutar muito.

É passar por bobo e ser inteligente.

É vender queijos e possuir bancos…”

O danado é desconfiado, leva tempo para tomar uma decisão. Não compra lançamento pois espera para ver se vai dar certo. Acha os consultores empresariais enganadores e gosta de fazer curso em São Paulo.

Para vocês terem ideia, caro leitores, certa vez lancei dois cursos de oratória quase que simultaneamente: um em Belo Horizonte e outro em São Paulo. O curso de Belo Horizonte teve em torno de 15 matriculados. Já o da capital paulista mais que o dobro. Mas não foi só isso que me chamou a atenção. No curso paulista havia oito belo-horizontinos. Não é curioso? Sabem o que me responderam quando indaguei o porquê de optarem por realizar o curso fora? Disseram que curso de São Paulo é melhor do que o de Minas Gerais. Êta povinho custoso!

Outra característica – essa reclamada por colegas de outros estados – está nos taxistas da nossa capital que, categoricamente, não ligam o ar-condicionado sem que se peça. Sobre o trânsito, dizem que nós mineiros somos competitivos e que não deixamos os automóveis de terceiros trocarem de pista. Nas rodovias o mineiro acelera seu carro para dificultar ou impedir que o outro o ultrapasse.

Mas há esperança para nós. Em meu trabalho como personal consultant (consultor, orientador individual e personalizado em oratória, comunicação e carreira), que realizo há vinte anos, vejo que os mineiros estão saindo da toca e procurando orientação, haja vista o crescimento desse trabalho. Concluo que, se deu certo em Minas, definitivamente o coach e o mentor vieram para ficar.

Lembro a todos que sou mineiro, mas tenho repetido em todas as oportunidades que, neste novo mundo em transformação, não há tempo para desconfiarmos ou para pensarmos muito. Tudo acontece com uma rapidez jamais testemunhada por nós. Não podemos mais ser reativos. Temos que antecipar, inovar e sair na frente.

Acreditam?

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Um “ser” professor

por Convidado 10 de agosto de 2018   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Segundo pesquisa divulgada em julho pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) o Brasil está entre os países que tem as salas de aula mais cheias, ou seja, mais alunos por professores. A mesma pesquisa informa que somente 2,4% dos alunos envolvidos na pesquisa desejam ser professores em escolas de ensino básico e médio.

Triste realidade. Mas me espantaria se fosse diferente. Com escolas públicas sucateadas, alunos sem os princípios mais básicos de educação, advindos de famílias que não têm a menor noção da importância do conhecimento, o resultado não seria outro. O fato é que o “saber” não é valor na cultura brasileira. Um cientista de uma universidade federal ganha menos do que um jogador de futebol iniciante.

Diante de uma realidade como a nossa é bem melhor tentar ser cantor, jogador de futebol e, até, ser diarista em casa de família, pois, qualquer que seja o ganho, é maior do que o de um professor de ensino básico ou médio. É sim. O salário desses “ensinantes” gira em torno de R$2.200,00 por mês. E ainda, para completar, convivem com dificuldades conjunturais como falta de recursos, estrutura, material didático, equipamentos obsoletos e estragados, ausência de laboratórios etc. E as autoridades, para justificarem sua má-fé, dizem que são despreparados para exercerem suas funções. Mas a culpa é de quem? Como um profissional que ganha dois salários mínimos pode fazer cursos de pós-graduação, participar de congressos, comprar livros? Isso sem dizer que deveriam receber aulas de defesa pessoal. Sim. São alvos de violência de alunos insatisfeitos. Bem, meus caros e persistentes leitores, esse é um pedacinho do quadro caótico de nossa educação.

Mas, mudemos de cena. Convenhamos, estudar para quê? Para ser jogador de futebol precisa saber escrever? Para ser político precisa ter diploma? Parece que muita gente já chegou à conclusão de que vivemos num país onde ética, honestidade, cultura e educação não têm nenhum valor. Aqui, nesta terra descoberta por Cabral, os valores são outros. Um amigo, fazendo um trabalho com jovens carentes e incentivando-os a estudar e buscar profissões como advogados, engenheiros etc ouviu a seguinte pergunta: “mas isso dá dinheiro?”. O jovem não está errado. Vivemos, principalmente no Brasil, um capitalismo cafajeste, pois nosso principal objetivo é obter lucro. E, acrescente-se, “a qualquer custo”.

Lembremos de que o tempo dos mártires já passou. Ninguém admira heróis pobres. Os millennials e a geração Z são mais frios, pragmáticos, egocêntricos e buscam uma forma de hedonismo pós-moderno, com muita tecnologia, sexo e rocknroll. Nós, passageiros de um trem antigo que ouvimos Taiguara, temos um pé no passado e outro no presente. E podemos cantar: “Lá onde eu estive, o sonho acabou”. E, em outra canção: “Hoje/ Trago em meu corpo as marcas do meu tempo/… Ah, sorte/ Eu não queria a juventude assim perdida/ Eu não queria andar morrendo pela vida…”

Enfim, é doloroso para grande parcela da população amadurecida encarar os novos valores que, muitas vezes, desprezam a fidelidade, a linguagem respeitosa e culta e, até mesmo, a honestidade.

Ser professor nestes novos tempos não é fácil. Mesmo em cursos de pós-graduação e em palestras nos deparamos com um público composto por boa parte de pessoas mal-educadas e desrespeitosas que, a despeito do trabalho do outro, insistem em utilizar seus smartphones, chegando a falar em voz alta, como se estivessem em suas casas.

Já enfatizei, em oportunidades anteriores, que a profissão de professor já foi motivo de orgulho. Não é mais. Hoje é motivo de deboche, sinônimo de pobreza e, por ironia, de alguém que sabe pouco. Duvidam? Basta olhar para dentro de suas próprias casas e ver quem deseja que o filho seja professor.

Por isso, ressalto que um “ser” professor é um ser especial. É um missionário. E para cumprir sua missão é necessário ter conhecimento, empatia, humildade, amor ao próximo, resiliência, saber doar, e ter consciência de que “Mestre não é aquele que sempre ensina, mas aquele que de repente aprende”. (G.R).

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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O filme da minha vida

por Convidado 9 de julho de 2018   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Outro dia assisti ao filme mais recente de Selton Melo, “O Filme da Minha Vida”, baseado no romance “Um Pai de Cinema”, do chileno Antonio Skármeta. O enredo me atraiu muito e, mesmo não entendendo nada de cinema, gostei das interpretações desde os protagonistas Johnny Massaro (Tony), Ondina Clais (Sofia) do francês Vincent Cassel (Nicolas), Selton Mello (Paco), Bia Arantes (Petra) e Bruna Linzmeyer (Luna), além dos meninos e, principalmente, de Rolando Boldrin, que infelizmente aparece pouco na tela, mas com carisma e essência que valorizam o filme. É um condutor de trem e de sonhos.

Tony adorava o filme “Rio Vermelho”, com John Wayne e Montgomery Clift nos papéis principais. Chega a ser emocionante seu olhar para a tela. Não. Não se preocupem. Fiquem tranquilos. Não vou narrar o filme para não tirar a graça de quem deseja assisti-lo. Mas como diz Rolando Boldrin: uma conversa leva a outra. Então, o filme e esta conversa me levaram a pensar também no filme da minha vida.

Antes, devo dizer que nada era mais belo do que os filmes de Tarzan nas matinês de domingo, em minha Barbacena, quando o Concerto Nº 1 de Tchaikovsky enriquecia nossos ouvidos e nos preparava para a sessão e o apagar das luzes. Para mim, a descoberta do cinema foi um dos eventos mais fascinantes que já vivi. Também me apaixonei por “Sansão e Dalila” e me revoltei com a morte dele. E, embora fosse uma criança, convenhamos, as duas atrizes, Angela Lansbury e Hedy Lamarr eram maravilhosas. Talvez, na minha visão, Hedy Lamarr tenha sido a mais bela atriz da história.

Não vou citar todos os filmes que preencheram minha vida, pois adoro uma película e muitas delas estão passando em minhas lembranças neste momento. Destaco o grandioso (e longo) “E o vento levou”. Um filme de Victor Fleming e George Cukor com Vivien Leigh, Clark Gable, Leslie Howard, Olivia de Havilland. Construído em 1939 e lançado em 1940, com duração de 3horas e 58 minutos; literalmente um filmão. Um só filme com três gêneros: guerra, romance e drama. Foi peculiar, pois revolucionou a essência dos filmes da época. O herói era um aventureiro, a heroína uma moça que flertava com vários rapazes, mas que desejava mesmo era Ashley (Leslie Howard), um homem comprometido. Bem, no final não há o happy end, o casal de protagonistas não fica junto, conforme era de praxe na maioria das produções daquele tempo.

Mas o filme da minha vida foi “Romeu e Julieta”. Um filme dirigido por Franco Zeffirrelli e estrelado por Leonard Whiting (Romeu Montecchio) e Olivia Hussey (Julieta Capuleto). Os diálogos rimados, o vocabulário rico, a elegância da produção e a maravilhosa música “A Time for us” que penetrava o fundo de minha alma e fazia meus olhos verterem lágrimas, enquanto seguia o cortejo fúnebre de Romeu e Julieta. Eu, menino sonhador que era, me identifiquei com o casal e com a intensidade daquele amor, sem saber que, até no filme, tanta pureza e tanto amor seriam impossíveis de uma realização.

“Romeu e Julieta”, de Franco Zeffirelli.

Que saudades do Cine Acaiaca, de Romeu, de Julieta, da minha infância, dos amigos, dos meus sonhos de menino…

De repente, me dou conta de que acaba de passar um filme em minha memória – talvez o verdadeiro filme da minha vida.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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* por Sérgio Marchetti

Já tive a oportunidade de escrever que estamos vivendo o momento das maiores mudanças de que se tem registro em toda a história do universo. Sei que já mencionei minhas dúvidas e inquietações sobre o caminhar da humanidade. Mas me dou o direito de repetir algum ponto de vista, pois os jornais televisivos repetem as mesmas falcatruas diariamente e têm audiência.

Estamos no meio de uma grande tempestade. Quando vier a bonança (se vier) muita coisa estará definitiva e irremediavelmente transformada. Mas a tempestade intitulada de mudança não cessará. Viveremos uma metamorfose perene que ninguém sabe aonde irá nos levar, nem como seremos depois do dia “D”. Desculpem-me, dia “D“ é coisa de humano e não de humanoide.

O que sabemos é que, desde o advento da revolução tecnológica, as ondas se multiplicaram de tamanho e, além de assumirem proporções gigantescas, – verdadeiros Tsunamis – possuem também uma rapidez jamais vista pelos habitantes do planeta. Os valores, as condutas, os credos, os dogmas – tudo mudou. Há apenas 20 anos uma pequenina parcela da população brasileira usava telefone celular. Hoje, só para exemplificar, numa faculdade o uso é de 100% de alunos. E nos próximos dez anos? E daqui a vinte anos? Eu não tenho a resposta. Mas sei que enquanto evoluímos com a tecnologia, o relacionamento entre seres humanos piora bastante.

Com alegria, um aluno me disse que cada um de nós – que nos encontrávamos numa sala de aula em Porto Alegre – estava sendo monitorado 24 horas por dia. E, mesmo sabendo que é verdade, fiquei pensativo quanto à questão da privacidade das pessoas.

Mas é um caminho sem volta. Não sou louco de dizer que a tecnologia é algo ruim. Não é. Pelo contrário, trouxe e continuará trazendo soluções em todas as áreas e segmentos, e será fundamental ao aumento da nossa longevidade. A história do mundo será dividida em antes e depois da tecnologia. Contudo, há um movimento insano de deslumbramento de uma multidão que marcha sem rumo certo em busca do novo – sabendo que “o novo” pode ser a desumanização. Falta-lhes a temperança.

A ficção tornou-se realidade. Filmes como “Blade Runner”, “Inteligência artificial”, “Ex-machina” e outros mais antigos, como “Perdidos no Espaço”, tornaram-se reais. Teremos que aprender a conviver com os robôs.

Robô babá; robô para terapia de autistas; cachorro robô (Golden Pup); robô doméstico; robô sexual (Rodofilia – tomara que não deem choque). Este último já está gerando muitas discussões éticas e do “politicamente correto” (acho este termo tão estranho, parece que as palavras não cabem na mesma expressão). Sob meu ponto de vista é uma concorrência desleal conosco, pois esses humanoides não terão alterações de humor e de hormônios que tanto trazem mal-estar ao ambiente de trabalho. Os robôs não envelhecem, não implicam, falam pouco…

A C&S (C&S Wholesale Grocers Inc.) é a maior distribuidora por atacado para supermercado nos Estados Unidos. No seu centro de distribuição em Newburgh, New York, mais de 100 robôs transitam livremente pelos corredores. Alcançam velocidades de 40 km/h no escuro e utilizam braços mecânicos portáteis para colocar ou retirar caixas de prateleiras a um ritmo de uma caixa por minuto – quase cinco vezes mais rápido do que os humanos costumam fazer. Dois ou mais hospitais na Bélgica já utilizam o robô humanoide Pepper para auxiliar seus pacientes.

Enfim, o novo mundo. Dos livros de ficção para as telas, e das telas para a vida real.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Verdade! Que verdade?

por Convidado 9 de maio de 2018   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Tenho dito em minhas aulas, quando questionado sobre alguns temas, que os fatos são circunstanciais e que, dependendo de uma série de fatores e situações, tudo pode acontecer. Em certos momentos podemos ser capazes até de matar. Não se assustem, caros amigos que ainda têm paciência de ler meus escritos. Mas é verdade. Não é à toa que pessoas se matam por causa de discussões banais. Estão todos enlouquecidos.

Em minha caminhada neste cosmos já tive momentos de certeza, de esperança, ambição e, até, de mais fé.  Aos poucos, a realidade os foi minando. Descobri que aqui (pelo menos no Brasil) não se vence por mérito, e não creio mais no penhor dessa igualdade conquistado com braços fortes. Penso ser realista mas, para alguns, minhas convicções podem ser vistas como pessimistas. Tudo é circunstancial e relativo, não disse? Então, como bom mineiro, diria que tudo depende de um tanto de coisas, uai!

Os programas de televisão insistem que podemos mudar o Brasil nas próximas eleições. Sabem como? Votando certo. Mas se o voto é o instrumento, e acho que seja, precisamos ter as pessoas certas.  Quem planta pepino invariavelmente vai colher pepino. Quisera eu ter uma safra boa de morangos, pêssegos, uvas e outras frutas para colher. Mas não estou vendo o plantio dessas sementes. Além do mais, está chovendo mais do que o necessário.

Aceito a hipótese de que, por estar tão desiludido, o pessimismo tenha me pegado. Quem sabe? Quando a chuva cessar, tudo pode acontecer. Depois da tempestade vem a bonança (caso tenha pensando nos prejuízos, você está pessimista). Os rios se enchem, o mato cresce, o gado se farta, o homem colhe o alimento que brota do solo, os brotos se renovam, as flores desabrocham. Realmente o que nos parece fim pode significar um novo começo. Tudo é possível num mundo circunstancial

Mas justamente por depender de cada condição é que não ouso dar respostas totalmente verdadeiras, pois muitas verdades de ontem não são mais verdades hoje. Não existe uma verdade absoluta e permanente. Acreditar que o Brasil possa mudar neste ano, para mim, pessimista ou não, é como acreditar em Papai Noel. E já acreditei. Agora não mais.

Falando nisso, ocorreu-me um “causo” que ouvi há muito tempo e que exemplifica claramente as diferentes maneiras de interpretar o mesmo fato.

Dois meninos franceses, irmãos gêmeos, com nove anos de idade, eram alvo de deboches na escola. Seus pais foram informados de que o motivo era por ainda acreditarem em Papai Noel. Decisão tomada: os pais dos meninos convidaram um vizinho, senhor Pierre Dupré, para jantar com eles, oportunidade em que seria revelada a verdade sobre Papai Noel.

Ao final do jantar, senhor Dupré informou que ele era o Papai Noel da rua e que amava crianças. Mas disse que quem dava presentes eram os pais. As cartinhas eram de brincadeira. Agora, que estavam com nove anos, era o momento de saberem aquela verdade. Houve silêncio e olhares de decepção.

No outro dia, na escola, os meninos que faziam bullying se aproximaram de um dos irmãos e, com deboche, perguntaram quem foi jantar com eles na noite anterior. O garoto respondeu que fora senhor Dupré, para falar que no natal ele se vestia de Papai Noel.

Mais distante estava o outro irmão, muito pensativo, e os meninos, também com ares de deboche, fizeram-lhe a mesma pergunta: quem foi à sua casa ontem? E o pequeno respondeu: Papai Noel foi jantar conosco mas, ontem, estava vestido de senhor Dupré.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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* por Sérgio Marchetti

Outro dia um amigo me procurou e me convidou para tomarmos um café. Combinamos um horário. Confesso que senti preguiça de ir. Estamos perdendo o hábito de conversar pessoalmente. Pensei em dar uma desculpa, inventar outro compromisso. Mas lá estávamos nós. Trocamos novidades, falamos mal do governo e da vergonha de sermos brasileiros. Reclamamos da vida difícil, da crise, da injustiça social, falamos dos filhos e nos percebemos tristes. Sabem, pacientes leitores, quando a conversa não rende? Fez-me lembrar daqueles fuscas antigos que depois de empurrados pareciam que iam pegar. Mas, aos poucos, iam falhando e morriam novamente. Nosso diálogo estava assim. Dava um lampejo e se apagava.

Então resolvi botar fogo na conversa e quebrar aquele gelo, já que hoje é comum até enxugá-lo. Dei um empurrão ladeira abaixo. Perguntei como estão as finanças e os trabalhos. Naquele momento vi lágrimas verterem nos olhos do meu amigo. Ele disse que estava muito mal e que nem seus parentes sabiam.

– Estou com depressão, tonturas, mas nem plano de saúde eu tenho. Meus filhos estão na “luta”, porém não conseguem nada sem uma indicação forte.

– Você quer dizer indicação política – comentei.  E meu amigo concordou.

– Porque você não conversa com seus familiares? – perguntei.

E a resposta foi que ninguém tem paciência para ouvir quem está passando por dificuldades. E concluiu:

–  O mundo é capitalista e as pessoas imediatistas. E, mesmo que um dia eu tenha sido importante e bem de vida, quando o dinheiro sai por uma porta, os amigos saem pela outra.

– E se você fechar a porta, eles escapam pelas janelas – completei, e rimos sorrisos tristes.

Que os amigos e familiares se distanciam, não tenho a menor dúvida. Mas disse a ele que, em momentos como esse que está passando, o ideal é procurar um psicólogo. Não podendo, teria que apelar para pessoas que estejam na mesma busca, vivendo problemas parecidos. Mas desde que ainda não tenham desistido de seus objetivos. Caso contrário, o único trabalho que terão será o de carpideiras.

– Há momentos – e são muitos – em que precisamos de um ombro amigo e não apenas de dinheiro – afirmei.

Meu amigo concordou e, novamente com lágrimas nos olhos, disse que nesses momentos desejamos o colo da mãe e a mão estendida de alguém que não nos critique, mas que apenas nos compreenda.

– Quanto melhor a situação das pessoas, menor será a empatia com os necessitados – concluí.

– Sorte, azar ou incompetência?

Foi a pergunta que me fez.  Naquele momento pensei em mim, pois também tenho minhas montanhas russas. Sabia que era incapaz de ter uma resposta. Destino ou desígnio? – refleti em silêncio. Um sopro veio ao meu ouvido e sussurrou: “escolhas erradas”.  Continuei calado, ensimesmado. Em seguida, disse a ele para tentar entender o seu papel neste mundo. Somos atores e o que vivemos aqui é uma peça teatral na qual desempenhamos muitos papeis.

– Talvez o seu papel seja o de um figurante, assim como o meu. E, nesse caso, teremos que fazer diferença, sermos muito melhores do que os canastrões que protagonizam essa enorme peça chamada vida.

Prometemos que iríamos ter outros encontros, mas sem convicção, e nos abraçamos desejando-nos uma vida melhor. Sei que não pude ajudá-lo, mas tive que dizer-lhe que o valor do momento é o dinheiro e que as pessoas gostam de vencedores, independentemente da maneira como chegaram ao pódio. Nem os familiares e, acho que, principalmente aqueles, não querem compartilhar derrotas. Por essa razão, disse-lhe:

– Mostre-se vencedor, levante a cabeça, olhe para trás, mesmo sabendo que o passado deve ficar no passado. Busque forças nas vitórias que conquistou e no sucesso que teve um dia. Lembre-se de que, apesar de todas as dificuldades atuais, você já foi protagonista um dia. Isso ninguém poderá lhe tirar.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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O carteiro

por Convidado 13 de fevereiro de 2018   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Li, outro dia, que em 25 de janeiro foi comemorado o Dia do Carteiro. Fiquei pensando naqueles profissionais e em sua luta diária. Lembrei-me de meu saudoso avô, Higino Marchetti, homem sério e íntegro, que na sua juventude andou pelas ladeiras de Barbacena levando cartas de um lado para outro. Também me veio à mente “O Carteiro e o Poeta”, filme lindo que retrata, na Itália, um período da vida do fabuloso Pablo Neruda.

Há mais tempo escrevi algo que não me atrevo a chamar de poema, mas nasceu de uma reflexão sobre essa profissão que é tão importante, apesar dos novos hábitos do mundo. Aí vão as palavras, caríssimos leitores, para que possam ser lidas e apreciadas, caso mereçam.

O carteiro

Que notícias me trazes?

É de prazer ou de dor?

O carteiro chegou trazendo cartas de amor!

Que contraste, que incoerência imensa

Com o mundo moderno das redes.

Pelas telas da internet o amor é virtual,

E o mensageiro, pedestre, percorre o itinerário

Ganhando um parco salário.

Sem trégua, na chuva ou no sol,

É mensageiro sem transporte, de um caminhar sem igual.

Entrega uma carta - uma notícia fatal;

Documentos importantes, um cartão de natal.

Traz alegrias... e tristezas também.

Operário circulante de um cansativo vai e vem.

- Maldito, quando dá notícia de morte,

- Bendito, quando traz a certeza do bem.

Às vezes mensageiro da sorte,

Mas qual a sorte que ele tem?

É alvo de cães de melhor destino.

- Homem-pombo-correio!

Que conhece as ruas na palma da mão.

Trabalhador sem anseio, recordista de caminhadas;

Que luta no dia-a-dia, num país mercenário,

Pelo pão que, a cada momento,

Se torna mais ordinário.

Atravessa as ruas da globalização,

E sem saber que está obsoleto, carrega a nova informação.

Circulante que leva palavras

De muitas pessoas sem palavras;

Não navega na rede,

Nem trafega num trânsito cruel.

Parece não ter sede

Nem perceber sua vida de fel.

- O carteiro chegou!

E as contas aumentaram!

Através da grade assinam a correspondência,

É o medo... os ladrões também aumentaram.

Mas andam livres e armados.

-“Tudo vai mudar”!

Dizem os otimistas, medrosos da realidade.

-“Tudo vai melhorar”!

Dizem os que possuem fé.

Mas os carteiros não mudaram;

Continuam andando a pé.

Pobres mensageiros de um mundo virtual,

Vocês são a última lembrança

De meu tempo de criança

Em minha terra natal.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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O ônibus da minha infância

por Convidado 8 de janeiro de 2018   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Este Brasil é lindo e grande demais. Nestes últimos dias, tive a oportunidade de viajar a trabalho de norte a sul, de Porto de Trombetas a Porto Alegre, além de outras cidades.

Saí de Belo Horizonte para Brasília, depois Belém. De Belém para Porto de Trombetas, passando por Altamira e Santarém, chegando ao seio da floresta amazônica.

A viagem me causou nostalgia e despertou lembranças de minha infância. Em minhas férias de criança, o ônibus que me levava à fazenda de meu avô, além dos defeitos que dava, ia parando em lugarejos e, em cada um deles, desciam pessoas para as quais era o fim de uma viagem, mas também o começo de outras, que faziam a cavalo ou a pé, até suas casas, lá num rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo…

Pode parecer que minha infância não tenha nada em comum com minhas últimas viagens, mas tem. Embora estivesse a bordo de um avião, a viagem foi bem parecida. Antes mesmo de entrar na última aeronave, ainda em Belém, enquanto esperava ser chamado para o embarque, acompanhei a história de uma família que foi à capital para tratar da saúde de uma menina. Ao descerem em Santarém, se despediram das várias pessoas a bordo e disseram que ainda teriam mais nove horas de barco. Novamente recordei minha infância.

Que toquem as trombetas! Que rufem os tambores! Enfim, cheguei a Porto de Trombetas. Eu estava na maior floresta do mundo e cercado de rios enormes. Muito longe de casa, mas num lugar tranquilo. Cotia, sapos, pássaros de toda espécie. Casa de hóspedes, comida simples, mas saborosa. Sucos e vitaminas de frutas que não conhecia, mas que adorei. Noite calma, sem ruídos, local onde o silêncio persevera e nos permite um sono reparador. Na outra manhã, uma turma de profissionais, no papel de alunos, me aguardaria para concluirmos um curso de pós-graduação. Fim de ano, última disciplina do curso. Lá estavam eles de frente para mim. Será que teriam interesse? – pensei comigo. Mas a maioria teve sim. Foram participativos e, conforme diria a Santa Tereza de Calcutá, “me fizeram sair de lá melhor do que quando cheguei”. Foram gentis. Dois dos alunos me mostraram toda a vila. Simpatizei-me com o lugar e com as pessoas.

Passei quatro noites na floresta. Experimentei silêncio e paz. No retorno, o avião teve um problema em Santarém e tivemos que descer à sala de embarque. Não consegui evitar. Outra vez me assaltaram as lembranças do ônibus da minha infância no caminho da fazenda de meu avô.

Todos à espera de uma providência e apresentando os roteiros que ainda teriam pela frente. O meu era Santarém-Altamira-Belém; Belém-Brasilia; Brasilia-Belo Horizonte. O representante da companhia aérea ficou apavorado quando verificou todos aqueles roteiros. Prometeu encontrar uma solução e saiu em direção à aeronave. Trinta minutos depois estava de volta e anunciou que iríamos partir. Ouviu-se a pergunta entre os viajantes: isso é bom ou é ruim?

Todos acomodados e alguns incomodados em seus lugares. O ATR-42 ronca os motores e dá partida… Momento de emoção. O avião acelerou ao máximo, levantou voo e, para o alívio dos passageiros, se firmou no ar. Havia pessoas rezando, outros trincando os dentes, apertando os lábios e sabe-se mais o quê. Mas, após cinco pousos, eu estava de volta a Belo Horizonte.

Ao chegar, o cansaço era forte, teria pouco tempo para o descanso. Depois, haveria Porto Alegre, mas aprendi que devemos pensar em uma coisa de cada vez. Ainda pude trocar algumas palavras em família, antes de encontrar com a melhor amiga do homem: a cama, e sonhar que estava voando.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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O exame

por Convidado 12 de dezembro de 2017   Convidado

por Sérgio Marchetti *

Um tio meu estava adoentado em sua fazenda lá na Zona das Vertentes. Fui visitá-lo. A família me incumbiu de convencê-lo a fazer exames. Porém, a tarefa não era fácil. O velho era tinhoso, como diziam os seus.

Chegando lá…

– Boa tarde, tio Totonho.

– Deus te abençoe, meu filho – falou e esticou a mão para mim.

– Já sei que “tu não veio só me visitar” – falou o velho tio, meio que olhando de esguelha para mim. – Velho só é visitado quando está para morrer. Eu estou?

– Que eu saiba, não. Vim lhe visitar porque queria vê-lo.

– Fica velhaco rapaz, eu sei das coisas. Enquanto vocês plantavam a semente eu já tinha chupado o fruto. Deixe de desengano que não nasci ontem. Caso tenha vindo para se despedir, seja bem-vindo. Mas se for para me convencer a ir aguentar lorota de doutor, perdeu seu tempo. E lhe complemento: põe sentido numa coisa: caso eu esteja doente, o médico não irá me salvar. E, não estando doente, não preciso dele.

– Ninguém está falando de morte. Mas é importante ser prudente. Sentir dor não é bom, nem normal. O senhor está sentindo o quê?

– Nada não.

– Pode dizer para mim – insisti.

– É só um “comichão” por baixo da “carcunda”. Mas prefiro ficar com a dor a ter de andar naquela cidade grande, desmapeado, sem saber se estou vindo ou se estou indo. E com aquele povo que me “alembra” um formigueiro fugindo de tatu. A última vez que fui para aquelas bandas eu era menino. Num pus fé em voltar.

– Não precisa ir para uma cidade muito grande. A medicina está em lugares pequenos também.

– Mas “os doutor” daqui receitam é chá. Para tomar chá eu não preciso de receita.

– Eles receitam antibióticos também. Tudo isso será rápido, tio.

– Não será. O “desinfeliz” do doutor vai mandar para outro doutor. Aí o excomungado vai me pedir um desmesurado de exames, e não vai ter paz enquanto não encontrar uma bendita doença e dar cabo de mim. Eles formam para achar a doença. Por essas e outras que eu descreio da modernidade. E, enquanto isso, estou desperdiçando tempo de vida que já está encurtada demais da conta. O sô, na minha idade o desviver não dá aviso. A bruta chega e bate na porta da gente. Aí não tem fuga nem esperança que afugente a coisa ruim.

– Mas, vamos deixar de “entretantos” – disse tio Totonho. E continuou: – vamos prosear sobre outra coisa. Tu vai pernoitar aqui e, mais tarde, comer uma jantinha da hora. Antes disso, nós vamos tomar um café com bastante bolacha, broa quente e outras iguarias que sei que “tu gosta”.

– Obrigado, tio Totonho, mas, só para encerrar, sei que o senhor está assim por causa de um exame meio chato. Olha, posso lhe garantir que é rápido. É só um toque na entrada….

– Epa! Ficou doido, rapaz. Que desrespeito é esse!? – gritou.

– “Num vem cum” modernidade aqui não. Fique sabendo que aqui num tem entrada, não senhor. E não se fala mais nisso.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Lé com lé

por Convidado 5 de novembro de 2017   Convidado

por Sérgio Marchetti *

Diante do momento que estamos passando, cujas circunstâncias estão representadas pela sigla VUCA (originada do vocabulário militar americano no final dos anos 90), que representa mudanças, volatilidade (volatility), incerteza (uncertainty), complexidade (complexity) e dúvidas, ambiguidade (ambiguity), creio que seja oportuno fazer a roda parar, pois em movimento não há como refletir com profundidade sobre nosso futuro.

Com todos esses dilemas contemplados na sigla e, talvez como consequência deles, grande parte da população parece ter perdido a razão propriamente dita. As pessoas estão mergulhadas num mar bravo, lutando contras as ondas de violência, crueldade, corrupção e excesso de liberdade que, ao que parece, vão nos afogar.

O desequilíbrio abala nosso emocional e, em descontrole, nos tornamos vítimas de neuroses, vícios, manias e da Síndrome de Burnout. Perdemos o senso de adequação e, por essa razão, assistimos, por exemplo, aos debates entre pessoas que defendem a nudez como arte, e aqueles que combatem aquela tese. Mas, como tudo é relativo, as cabeças pensantes poderiam, além da noção de local, tempo, espaço e público, ter também o bom senso para avaliar que, num país cujo número de estupros e assédios sexuais é dos mais elevados do mundo, talvez fosse prudente evitar estímulos dessa natureza. Não me agridam, é só um comentário sugestivo sem aprofundar no tema e nas causas.

De qualquer maneira, se queremos surfar na onda da liberdade, deveríamos saber o que significa esta palavra. Há entendimentos e atitudes completamente distintos e, no ímpeto de ser livre, comete-se o equívoco da devassidão. Gente! Repito. Estamos no Brasil, isso mesmo, num país de milhões de pessoas que não sabem sequer escrever o próprio nome. Falta-lhes discernimento. Vejam o número de grávidas nas classes menos favorecidas que foram vítimas do padrasto, do pai, do irmão, dos tios…

Até o Nelson Rodrigues era a favor de resguardar a nudez para não tirar a fantasia que a curiosidade traz. Ele detestava o biquíni.

Do que estou falando? Deixe-me dar um exemplo, paciente leitor. Acho que devo me explicar. Estou falando de equilíbrio. Sei que nunca tivemos tanta liberdade e informação como temos hoje. Que ótimo. Mas também, nunca testemunhamos um momento com tantos problemas de comunicação. Uma mulher que vai para o escritório vestida de biquíni pode ser chamada de louca (ou de artista)? Um homem de terno entrando no mar de Ipanema também pode receber os mesmos rótulos. Mas a mulher de biquíni entrando no mar e o homem de terno indo para o escritório são coisas perfeitamente adequadas. É isso que está faltando.

Qual o problema de usar um traje “passeio completo” numa festa clássica? Tem pessoas que querem ir de bermuda. Tenham dó. Isso não é ser evoluído. É brega mesmo. É desrespeito aos anfitriões. Cada coisa no seu canto, pois no mundo do “tudo pode” o que impera é a desordem.

Não podemos confundir assédio, agressão, imposição com liberdade e arte. Só falta dizer que o bandido tem o direito de me assaltar e que não podemos tolher sua liberdade. Chega de absurdos. Devemos conter essa pandemia de insensatez que pseudo representantes da arte e do povo querem fazer parecer natural. O desequilíbrio está estampado nas atitudes e na sociedade em geral. Ninguém está satisfeito com nada, nem consigo mesmo.

Precisamos nos vacinar contra a insensatez, essa doença que maltrata a arte, descontrola a mente das pessoas, confunde desonestidade com esperteza e provoca delírios.

Vacine-se aqui.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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