*por Igor Costoli

Quase qualquer pessoa, de quase qualquer idade, entende o poder de enxergar o futuro. Pensaria logo naquelas mágicas seis dezenas e imediatamente seria capaz de descrever o impacto que isso teria em sua vida. Administradores e gestores adorariam dispor dessa habilidade. A segurança da escolha certa, a proteção do investimento seguro, a certeza da sábia decisão.

Mas existem exceções. Somos governados por uma delas. O Brasil teve uma oportunidade que raramente se oferece para um gestor público: saber o que acontecerá, em quanto tempo, a partir de quais decisões forem tomadas. Mas recusou a oferta.

Chance que se ofereceu também para a Argentina, para ficar em um exemplo próximo, que optou por respeitar o futuro que viu. Daqui a pouco voltamos a falar dela.

Do lado de cá da fronteira, as formas mais precisas de descrever o que acontece hoje exigem o uso de termos censuráveis. As formas não-ofensivas e mais polidas nos permitem dizer que há dois grandes erros de entendimento em relação à pandemia.

O primeiro é achar que existe uma oposição quarentena x economia. Esse confronto é falso, porque não há uma escolha, não é uma questão de trocar uma pela outra. A crise não decorre do isolamento, ela decorre da pandemia. Todos os países passarão por ela porque isso nos foi imposto pela simples existência do vírus.

Isso fica mais claro quando pensamos no segundo erro. Quem defende manter a economia rodando acha que pânico é isso que estamos vivendo agora, mas quem defende a quarentena está vendo o pânico ali na frente – já virando a esquina, infelizmente.

No famigerado grupo de WhatsApp, essa entidade que nos assombra a todos, um amigo perguntou, semanas atrás, porque o vírus seria problema tão grande num país com tantos assassinatos e mortes no trânsito como o nosso. A única resposta possível foi fazer contas:

Em 2016 (ano mais recente com dados disponíveis), tivemos 37.345 mortes no trânsito. Isso nos dá uma média de 102 mortes diárias. Também em 2016, tivemos nosso recorde de mortes violentas, com 62.517 homicídios, média de 171 mortes por dia.

A Itália, da primeira morte no dia 21/02 até o momento em que este texto é encerrado (segunda, 20/04), sofreu com 24.114 óbitos por coronavírus, média de 402 falecimentos diários. O país passou dos 181 mil casos confirmados.

Detalhe importante: a Itália não escolheu parar, ela escolheu seguir com a economia. O país da bota só foi parado à força, no dia 09 de março, já sob efeitos de incapacitação e mortes. Como os índices crescem em ritmo exponencial, o achatamento da curva italiana pela quarentena se deu já sob um número altíssimo de óbitos. E qual foi o preço desse atraso? Com o país já em “lockdown”, no último mês a média foi de 640 mortes todos os dias.

Agora, percebam como o tempo e as decisões podem tornar as coisas diferentes. Enquanto os italianos só entraram em quarentena 18 dias após a primeira morte, os portugueses iniciaram o isolamento no dia 13 de março, 3 dias ANTES do primeiro óbito por Covid-19.

O breve vislumbre da situação italiana e a decisão rápida pelo isolamento colocaram o país no controle da crise. Com 21 mil casos e 762 óbitos, Portugal tem um número total de mortes inferior ao que a Itália teve por dia no auge da crise (entre 766 e 919 óbitos, diariamente, de 27/03 a 03/04). Os dois países enfrentarão desafios econômicos nos próximos meses, mas só um deles o fará sob o peso de uma tragédia social.

Portugal se encontra em melhor situação que muitos países mais ricos, como os EUA. Os americanos também tiveram a oportunidade de ver o futuro, fecharam os olhos para a realidade, mas foram obrigados a abri-los quando esta veio lhes dar na cara.

Hoje, são mais de 793 mil casos e 42.518 óbitos em solo norte-americano. Lembra das nossas 37.345 mortes no trânsito? O que os acidentes automobilísticos mataram no Brasil em um ano, o Covid-19 ultrapassou no último sábado, em apenas 49 dias, nos EUA.

Tudo isso para ressaltar o que não deveria ser necessário dizer: que o isolamento social funciona, que a demora ou ineficiência na sua adoção custam vidas.  Como diz o doutor em virologia Átila Iamarino, quem faz a economia são as pessoas, não o contrário. Cada dia de isolamento não respeitado integralmente são mais dias antes de voltarmos a sair, viver e produzir.

E apesar das iniciativas corretas, mas fragmentadas, de governadores e prefeitos, sem a adesão do governo federal à quarentena o Brasil fica entregue à própria sorte. As iniciativas isoladas diminuíram a evolução da nossa curva de casos, mas cada dia que o presidente e seus apoiadores saem as ruas para defender a normalidade são mais semanas que comprometerão nosso sistema de saúde.

O governo federal poderia ter simplesmente aprendido com o futuro que lhe foi mostrado e tomado as rédeas do seu caminho. O Planalto a opção por nega-lo. Não farei o esforço de especular o tamanho de nossa subnotificação, que tudo indica ser gigantesca. Direi apenas que hoje, 20 de abril, temos 40.814 casos e 2.588 óbitos por Coronavírus. Chegamos ao patamar de mortes na casa das centenas por dia.

Ah, e a Argentina, que mencionei no início? Graças a medidas como o controle na entrada do país, fechamento da fronteira para China, Itália e Brasil, isolamento social e fechamento do comércio, os argentinos vivem uma situação mais de 10 a 20 vezes melhor que a brasileira. Em período semelhante ao nosso desde o primeiro caso, são apenas 3.031 infectados pelo Covid-19 para 145 óbitos.

A Argentina agora se programa para a flexibilização da quarentena e para a volta organizada de algumas atividades econômicas. Enquanto isso, é como se o Brasil sequer tivesse começado seu isolamento para conter o vírus. Argentinos e brasileiros viram o mesmo futuro, mas tomaram decisões opostas. Agora eles colhem os frutos, em breve colheremos as consequências.

* Igor Costoli é jornalista e radialista de formação e atleticano de coração. É produtor e apresentador do Programa Invasões Bárbaras, na Rádio UFMG Educativa.

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O dia em que a Terra parou

por Convidado 7 de abril de 2020   Convidado

* por Sergio Marchetti

Estou sentado numa sala escura assistindo um filme de terror que mostra a população do mundo se escondendo em suas casas, com medo, melhor dizendo, pavor de que um vírus a infecte. O vírus se propaga pelo vento e pode matar a metade da população mundial.

Assim como em outros filmes americanos que adoram destruir cidades e exterminar populações, este já devastou países e causou muitas mortes. Os jornais televisivos do mundo só falam da doença e a cada dia o gráfico de contaminações aumenta de forma robusta o número de doentes. Países inteiros se preparam para a sua chegada. Muitas providências são tomadas pelas áreas de saúde e pela OMS, mas será inevitável a contaminação e os óbitos serão iminentes.

Meu Deus! Que agonia!

As autoridades pedem calma às populações de cada país e dizem, equivocadamente, que se trata de uma doença que mata somente quem tem a saúde fragilizada, como problemas respiratórios, diabetes e idade avançada. E, diante dos números e dos países afetados, conclui-se que se trata de uma pandemia.

A direção do filme parece ter escolhido a China, a Itália e os Estados Unidos para serem protagonistas da tragédia. Hospitais em todo o mundo são construídos às pressas e se preparam para a internação em massa. Especialistas procuram explicar a causa, e o que vemos são entrevistas médicas e orientações para que as pessoas se isolem e adotem a ideia de distanciamento social. O suspense toma conta de mim, já não consigo me mexer, na expectativa de que surja um herói, o famoso mocinho que viria salvar o mundo. Porém, como em todos os filmes de suspense e terror, a solução não chega e o número de óbitos aumenta.

Num laboratório americano aquela tela que mapeia o mundo, comum em seus filmes, está aberta e cientistas discutem o problema. Demonstram o processo da doença que começou, provavelmente, na China. Aí discutem a teoria da conspiração, que pode não ser teoria – e sim a pura realidade, de que homens malucos pelo poder poderiam ter causado essa pandemia para destruir concorrentes e gerar mudanças radicais no mercado mundial e nas bolsas de valores do mundo. Enfim, um enredo conhecido nas películas do gênero.

Na tela da minha televisão vejo o mapa do Brasil e, sem saber se vivo realidade ou ficção, tive medo de que fôssemos infectados. E fomos. Não podia acreditar. No Brasil não. O país está fraco, está doente e, depois de anos internado na UTI, começávamos a respirar sem aparelhos.

Busquei me tranquilizar. Era um filme. Mas prossegui assistindo, enfim, o mundo foi afetado. E a recomendação foi para que se parasse tudo. Aí o filme mostra que o nosso presidente não foi tomado pelo pânico. Parecia não ter a legítima noção da letalidade do vírus. A reação de empresários do planeta também demonstrava duas preocupações: doença e falência. Todos estavam despreparados para tamanho prejuízo. Companhias aéreas parando de funcionar. Navios ancorados, mantendo os turistas presos. Emissoras de televisão e rádios mudando toda a programação. E o jornalismo menos honesto se aproveitando para criar manchetes sensacionalistas e descarregar suas insatisfações e antipatias contra os governantes, enquanto políticos oportunistas desenvolviam um discurso de seriedade para salvar o povo da pandemia, mas em seus hospitais faltavam máscaras e outros equipamentos de proteção mais básicos para os profissionais da saúde. Observei que a hipocrisia não fora afetada.

O panorama do mundo, de norte a sul, era o mesmo: o mundo havia parado.

Fiquei pensando que, se isso fosse verdade, se não fosse um filme, certamente que espalharia o pânico pelo planeta. Quatro meses de retrocesso. E a nossa Terra de Santa Cruz, que havia recuperado 1 milhão de empregos e começava a dar sinais de vida? Mas ainda bem que era um filme – pensei. Caso contrário, o que seria de nós? Na telinha, vejo com orgulho o comprometimento e a austeridade do presidente da Câmara dos Deputados, do Presidente do Senado e de outras autoridades eleitas que me enchem de orgulho, mas logo minha memória me diz que é um filme e que o elenco era muito talentoso. E, para completar o sucesso, a trilha sonora, O dia em que a terra parou, dizia muito do que estava acontecendo.

Confesso a vocês, meus caros eleitores, digo: leitores (perdoem meu erro, mas é que fui influenciado por tantas excelências…) que ainda me dão a honra de distrai-los, que estava aliviado com o fim da película quando, de repente, minha mulher entra na sala, tosse e me informa que está sem ar.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

 

O DIA EM QUE A TERRA PAROU
Autoria: Claudio Roberto / Raul Seixas.
Fonte: Letras.mus.br 

Essa noite eu tive um sonho
De sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
Com o dia em que a Terra parou

Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado em todo
O planeta
Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém ninguém

O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
E o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar

No dia em que a Terra parou (êê)
No dia em que a Terra parou (ôô)
No dia em que a Terra parou (ôô)
No dia em que a Terra parou

E nas Igrejas nem um sino a badalar
Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá
E os fiéis não saíram pra rezar
Pois sabiam que o padre também não tava lá
E o aluno não saiu para estudar
Pois sabia o professor também não tava lá
E o professor não saiu pra lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar

No dia em que a Terra parou (ôô)
No dia em que a Terra parou (ôô)
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou

O comandante não saiu para o quartel
Pois sabia que o soldado também não tava lá
E o soldado não saiu pra ir pra guerra
Pois sabia que o inimigo também não tava lá
E o paciente não saiu pra se tratar
Pois sabia que o doutor também não tava lá
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar

No dia em que a Terra parou (oh yeah)
No dia em que a Terra parou (foi tudo)
No dia em que a Terra parou (ôô)
No dia em que a Terra parou

Essa noite eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, acordei

No dia em que a Terra parou (oh yeah)
No dia em que a Terra parou (ôô)
No dia em que a Terra parou (eu acordei)
No dia em que a Terra parou (acordei)
No dia em que a Terra parou (justamente)
No dia em que a Terra parou (eu não sonhei acordado)
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou (no dia em que a terra
Parou)
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O tempo e o vento

por Convidado 22 de março de 2020   Convidado

* por Sergio Marchetti

Acho este título simples e maravilhoso. Já tive a oportunidade de dissertar sobre o tempo. Mas o tema é inesgotável. Quantas coisas se escondem sob o tempo e o vento de nossas vidas. Quanta saudade, tantas lembranças, pessoas que se foram com o vento – que sopra, incessantemente, empurrando o tempo. E, assoviando, vai nos levando para outro caminho, para a transcendência talvez, assim como a fonte de Vicente Carvalho levava a flor para o mar:

“Deixa-me fonte”. Dizia. / a flor, tonta de terror. E a fonte, sonora e fria/ cantava, levando a flor. / “Deixa-me, deixa-me fonte”!/  Dizia a flor a chorar/ “Eu fui nascida no monte…/ não me leves para o mar”…

Ah! Que saudade do tempo que ouvi esta poesia. Era o início de tudo para mim, num mundo que andava mais devagar. Mas hoje, infelizmente, não vou falar de poesia, nem sobre a série literária de romances históricos do fantástico escritor brasileiro Érico Veríssimo, que tem exatamente o título acima. Seria proveitoso lembrar de Ana Terra e de Rodrigo Cambará. Também poderia mencionar músicas como a do Legião Urbana que demonstra a dificuldade de ver o tempo passar:

Todos os dias quando acordo/ não tenho mais o tempo que passou…”

O que me inspira neste momento é o tempo que passa como vento por nós. Sim, meus caros e passantes leitores. O tempo está voando e todos nós estamos sentindo uma angústia por não conseguirmos controlar os dias e os anos de nossas vidas. Estaria acontecendo uma mudança nos movimentos de rotação e translação da Terra? Talvez sim. Mas se assim for, não teremos como dominar o fenômeno. Ora, então, constato que seria uma enorme perda de tempo tentar governar os movimentos da terra.

Há, no entanto, outros caminhos, novas possibilidades e incontáveis alternativas para usufruirmos do tempo de maneira proveitosa e mais útil. Acredito que podemos repensar na forma como o gastamos. Todas as noites, ao findar o dia, são depositados em nosso banco da vida 86.400 segundos para que os utilizemos da melhor maneira que puder. Porém, tempo não acumula e nem recupera.

Vale refletir também sobre o tempo físico e o tempo psicológico. Momentos de prazer tendem a nos parecer que passam mais rápido. Já os minutos desagradáveis de espera, de tensão nos chegam como se fossem meses e não horas. Num jogo de futebol, quando nosso time sofre um gol aos 30 minutos do segundo tempo, os 15 restantes nos parecem bem menos, enquanto que para a torcida adversária o tempo não passa.

Falando em tempo físico, reforço a tese de que o excesso de opções seja um dificultador de nossa gestão. E, hoje, não faltam instrumentos que tanto ajudam quanto atrapalham nossa qualidade de vida. Há alguns anos a televisão tinha quatro canais. Hoje tem 500. Tínhamos uma ou duas marcas de lâminas de barbear. Pasta de dente (o dentifrício da Dilma) também se resumia a duas ou três marcas. O trânsito fluía e entre tantos etcs. não possuíamos  smarthphone  que, se mal utilizado, é fator determinante de improdutividade.

O que fazer para restaurar nossa organização e qualidade de vida? Bem, comece identificando os vilões. Quais são os ladrões de seu precioso tempo? Temos também algumas palavras que, se transformadas em atitudes, podem compor a fórmula mágica do sucesso e alcançar a tão almejada eficácia: planejamento, prioridade, disciplina, produtividade e foco.

Simples? É simples mesmo. Mas carece de força de vontade para começar.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Viver “apertado”

por Convidado 11 de fevereiro de 2020   Convidado

* por Sergio Marchetti

Uma das coisas mais surpreendentes nestes novos tempos é a moda. Melhor dizendo, a indústria da moda.

Num mundo em que o consumismo supera qualquer pensamento mais equilibrado, a moda – a exemplo de automóveis e aparelhos de televisão, smartphones, vestuário e tantas coisas mais – parece não dar trégua à população. Antes dos computadores, um modelo de roupa durava anos a fio. Quando assistimos a cenas de filmes das décadas 1920, 1930, 1940, 1950, observamos que os ternos, os cortes de cabelo, os calçados eram muito parecidos e perduraram.

Mas, com a tecnologia, a massificação encontrou um corredor aberto para lançar modas a cada trimestre. E o apelo traz, em sua forma democrática, a liberdade de usar bermuda para homens e mulheres, shorts, saias, vestidos, macacões e etc. Cabe, entretanto, uma observação: o evento define o traje. Será? Deveria ser. Isso não fere o tão proclamado e já antipatizado e “hipocritatizado” estado democrático de direito. Mas vamos nos ater à moda?

Tudo pode? É óbvio que não. Quando vamos a um casamento devemos ter em mente que os noivos investiram tempo, dinheiro e, de certa forma, estão realizando um sonho e querem uma cerimônia para ser eternizada como um momento de esplendor. Então não vá de chinelo (no vocabulário de alguns, de chinela) e bermuda. Sendo homem, vista o seu terno ou um blazer e deixe sua bermuda descansar. Permita que os olhos de terceiros sejam poupados de ver suas pernas desprovidas dos requisitos de beleza.

Falando em terno, há uma incoerência quanto à liberdade e também conforto. Em tempos de liberdade, incoerentemente, a indústria da moda masculina definiu de forma ditatorial que os paletós tem que ser de dois botões, apertadíssimos, curtos, mal permitindo que o pobre usuário estique os braços. E, para completar o conjunto, acompanham calças de cós baixo, desconfortavelmente justas, e que deixam as meias à mostra. Conforto zero, estética zero. Que péssima ideia, a de acabar com os paletós de três botões. E quem cometeu esse crime? Certamente alguma pessoa que não usa ternos, não sabe o que é elegância, desconhece o que é se vestir com conforto e não tem senso de ridículo.

Ora, meus caros e persistentes leitores, vocês já notaram que abotoa-se sempre um botão a menos? No terno de dois botões, quem tem uma barriguinha, por mínima que seja, não tem como não exibi-la. E a ponta da gravata aparece embaixo, completando a deselegância. Nem os desbarrigados, sarados e de corpos esbeltos conseguem ter elegância vestindo roupas tão apertadas e curtas.

Quando olho para vários desses senhores vestindo terno me parece que estão envoltos em embalagem para festa. Tenho a impressão de que seus troncos são muito largos para as pernas. Aparentam estar vestidos com um barril. Alguns me remetem à imagem de um barril com pés palitos.

É… você pode estar se perguntando se eu entendo de moda. Não entendendo nada. Mas tenho uma enorme noção de conforto. Também tenho discernimento suficiente para distinguir o feio do belo, e o mau gosto do que é elegante.

Diante das discrepâncias que tenho assistido e das gafes que são comuns nas festas, aconselho aos homens e mulheres que estiverem na dúvida sobre qual traje devam usar que pesquisem num site de moda ou consultem um ou uma especialista.

Um conhecido me contou que um incauto, amigo dele, se inspirou num programa de moda da televisão e apareceu na festa com blazer verde, calça vinho – que deixava a “canela” de fora – uma gravata que tinha mais flores do que os canteiros da Praça da Liberdade e, ainda, um sapato social sem meia. Era uma cerimônia ou um circo de horrores?

Como última recomendação aos homens, indico um terno cinza escuro e uma camisa branca que servem para todas as ocasiões. Lembre-se de que, em termos de moda, há uma máxima que diz que “o menos é mais”.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Ano novo, vida nova

por Convidado 13 de janeiro de 2020   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Cá estamos nós, meu querido leitor, começando uma nova jornada pela vida. Talvez esteja faltando alguém que, em 2019, lia meus escritos e compartilhava minhas ideias. Mas a roda viva não para. Somos nós que paramos, e, um por um, pouco a pouco, vão tendo seus nomes chamados para sair da roda.

Independentemente das perdas e dos ganhos, ouço, há tantos anos, a frase “ano novo, vida nova”, que acredito que tenha se tornado um mantra. A euforia da passagem de ano e a possibilidade de começar tudo outra vez, de fato, contribuem para a renovação da esperança de dias melhores. Mas, infelizmente, as flores para Iemanjá, o jantar de lentilhas e as sementes de romã não são suficientes para alterar o rumo de nossas vidas.

Ainda assim, não critico e nem rejeito as crenças de cada pessoa (“há muito mais entre o céu e a terra do que possa prever nossa vã filosofia”), pois a força da fé tem removido montanhas. Acontecem todos os dias fatos inéditos, surreais e não explicáveis pela ciência. Porém, não estamos livres de problemas e de tragédias. Pandora já abriu a sua caixa e, sem saber o que continha nela, liberou todos os males. Somente a esperança restou. Diante disso, deixemos viva a esperança, que é o que nos segura quando tudo parece perdido.

Faço uma ressalva de que não devemos deixar toda a responsabilidade com os santos e nem mesmo com Deus. Já tem muita gente para Ele olhar. Também não vale delegar ações pessoais a terceiros. Eles não sentem o que você sente. Deixe a preguiça de lado. Mande essa tristeza embora. Tenho certeza de que você tem mais para agradecer do que para reclamar. Então o que está esperando? Pratique a gratidão. Ressignifique seus acontecimentos negativos, perdoe alguém que invade seus pensamentos e se perdoe.

Aí entra a nossa parte. Permita-me, caríssimo leitor, fazer o seguinte questionamento: Quem poderá ajudá-lo? Sabe o que deseja? Você já fez o planejamento individual? Já sabe o que vai mudar? Identificou as consequências? Traçou metas? Definiu quando devem ser alcançadas? Escolheu o método que irá utilizar?

Sei que muitas pessoas não acreditam que a definição de metas poderá ajudá-las. Outras até creem, mas não tomam a iniciativa por mera indolência. E, apesar disso, eu os compreendo, mas também lhes asseguro de que, nos novos tempos, o fracasso de quem não se preparar será iminente. O ser humano tem dificuldade de se planejar para o futuro e precisa de alguém que lhe dê forças. E não é por acaso que a mentoria e o coaching se fortaleceram tanto e passaram a exercer um papel importante na vida das pessoas e das empresas.

Então comece agora, nada de procrastinar. Janeiro é o mês ideal para traçar seus planos de mudança. Pense no que não deu certo, nas conquistas, nas empreitadas em que obteve sucesso. Anote o nome das pessoas que podem lhe ajudar a realizar seus objetivos. Formule planos de ação com prazo determinado. Negocie, renegocie, mas não deixe o desânimo lhe derrubar; ele é apenas um indicador de que você andou muito tempo na direção errada. Retome seus caminhos e se fortaleça com as experiências, pois mesmo tendo colecionado erros, sempre será um aprendizado. Basta não repeti-los. Ocorrerá também a dúvida – ausência de ação e medo de errar. Nesse caso, busque orientação e conselhos com embasamento técnico.

O quadro atual é mais otimista. O Brasil ainda está no CTI, mas já respira sem aparelhos e começa a dar sinais importantes de recuperação. Estamos saindo da escuridão, e acena para nós a possibilidade de dias melhores. Indicadores nos demonstram que haverá mais trabalho e mais oportunidades de vermos brasileiros voltando a ser cidadãos dignos, que possam obter seus recursos com o próprio trabalho e não pela esmola.

Passe a borracha no passado e vamos começar de novo. E, se precisar de um ombro amigo ou de algumas orientações sobre algo que eu saiba um pouquinho, pode contar comigo.

“Começar de novo e contar comigo, vai valer a pena ter amanhecido…”(Ivan Lins)

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Os sons do silêncio

por Convidado 13 de dezembro de 2019   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Eu sempre gostei de ficar em silêncio. Desde criança, na fazenda de meu avô, na serra da Ibitipoca, eu me sentava diante de um morro bem verde e ficava pelo menos por duas horas olhando para ele. Fechava os olhos por minutos e assim me sentia em paz. Procurava, aquele menino, o encontro com ele mesmo.

Passaram-se muitos anos desde aquele dia. E, hoje, vejo poucas pessoas buscando um cantinho para ficarem em silêncio consigo mesmas. Aliás, a meditação é prática comum nas religiões que acreditam que o silêncio seja um caminho de cura para muitos males. Sabe-se que a mente precisa de um tempo silencioso, já que não para nunca, nem mesmo quando dormimos.

É na pausa entre os sonos que a mente é ativada e se dá o pico da atividade cerebral. Porém, na contramão de todas as recomendações de órgãos de saúde, temos um sono agitado e embalado por um bombardeio de todo tipo de sons, ruídos e claridade que a vida nas grandes cidades nos impõe.

Neste momento em que escrevo, quando ressalto a necessidade de silêncio, ouço buzinas, pessoas falando alto, barulho de um motor de ônibus e um ensurdecedor e inaceitável ronco de uma motocicleta cujo piloto parece não ter ouvidos e que, lamentavelmente, as leis de trânsito não descobriram que aqueles veículos, assim como os automóveis, também têm a obrigatoriedade de portar a bendita peça chamada de “silencioso”. Ora, toda essa poluição sonora é geradora de estresse para o nosso psiquismo e também para a nossa espiritualidade. Não devemos nos esquecer de que o silêncio é uma face da nossa existência (“porque metade de mim é o que eu grito, a outra metade é o silêncio” O.M.). 

O filósofo suíço Max Picard, em 1989, quando publicou o livro The World of Silence, advertiu que nada mudou tanto a natureza do homem quanto a perda do silêncio. Mas os jovens, principalmente os que jogam futebol profissional, alheios ao que se passa à sua volta, dificilmente terão seus ouvidos livres de iPods, o que demonstra uma dificuldade enorme de ficarem relaxados e em paz.

Em minhas orientações aos meus clientes, ressalto a importância do silêncio e que talvez paire sobre a humanidade alguma espécie de medo da quietude, receio do recolhimento, do autoconhecimento e da descoberta do sentido profundo da própria existência. Fogem de si para não terem que encarar a realidade e ouvirem a própria consciência. Mergulham de cabeça no indeterminismo, no superficial e no fortuito. Quanta ilusão na caminhada para o abismo. Constroem suas vidas sobre bases mais efêmeras e impermanentes do que a vida.

Não se permitir usufruir do silêncio nos leva à perda de excelentes oportunidades de criar, de ter ideias brilhantes, arrependimentos. Santo Agostinho preconizou que o silêncio é necessário a todos para ter um estado de espírito saudável.

E, já que estamos falando de um santo, vem aí uma oportunidade de fazer uma pausa, de meditar, rever objetivos, corrigir a rota e sonhar coisas novas – em síntese – ficar um pouco com você em silêncio para ouvir sua voz interior e o som inaudível dos corações alheios. Vem aí o Natal, momento sublime, de mensagens de amor, de fé e de esperança. Festejamos no mês de dezembro o nascimento de Jesus. E, mais do que dar presentes, é uma oportunidade de estarmos presentes e ao lado das pessoas que amamos.

Desejo a todos os leitores que, pacientemente me dedicam seu tempo precioso e que me honram com seus comentários, um Feliz Natal e que, no ano de 2020, assim como nos pares 20 e 20, haja mais igualdade e persistência em fazer o melhor e ser melhor a cada dia, com saúde, harmonia, amor e sabedoria.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Praticando a empatia

por Convidado 15 de novembro de 2019   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Outro dia, num dos trabalhos de orientação individual que realizo há 20 anos, um participante (ou coachee), num determinado momento em que falávamos de carreira e trabalho, me perguntou por qual razão as pessoas são tão falsas. Observei que a pergunta vinha carregada de uma tristeza significativa. Talvez uma decepção com as atitudes dos seres humanos. E continuou, se dizendo magoado com os ex-colegas que o abandonaram quando foi demitido do alto cargo que ocupava.

Eu lhe disse que estava sendo muito inocente. Que é a reação mais frequente de nossos colegas. Por essa razão é que se chamam colegas e não amigos. Também lhe confidenciei que enquanto fui diretor de uma instituição, pessoas me bajulavam, traziam presentes, pediam-me favores e que desapareceram junto ao meu pedido de demissão. Incomum seria o contrário. Mas a vida, gradativamente, nos mostra novas verdades e, pior, a descoberta da existência de muitas pessoas interesseiras, oportunistas, traiçoeiras e ingratas. E que, assim sendo, se torna inevitável a desilusão.

Meu “orientado” – já meio desorientado – me diz que a culpa é das escolas porque incentivam as crianças a competirem. Acrescenta que a falta de sensibilidade e de conhecimento, sem maldade, faz com que alguns professores e professoras gerem antagonismos, rivalidades e complexos, quando dizem que uma criança é mais bonita ou mais inteligente do que as outras.

Não só na escola, mas também em casa – lembrei a ele – pais e mães utilizam da comparação ou do elogio a um filho como um exemplo a ser seguido pelos demais irmãos. Aí começam a nascer a raiva, o desprezo, a inveja e o ódio. Crescemos mais um pouco e, com a evolução da estatura, crescem também as divergências cujas raízes foram plantadas na infância.

Meu cliente pediu-me licença para naquela sessão apenas desabafar. Aceitei e acatei seu pedido, pois era a melhor forma de ajudá-lo naquele momento.

Ele reclamou do abandono, inclusive da família. Era nítida sua dor e tristeza. Poderia cantar “Meu Mundo caiu” da Maysa. Sim, seu corpo expressava a queda. Estava sem chão. Fora acostumado a uma rotina de tantos anos e, agora, num minuto, tudo havia acabado. Aí, neste momento, encarei minha missão e me lembrei da frase apregoada por santa Tereza de Calcutá que diz para que não deixemos alguém que venha à nossa presença sair sem estar melhor do que quando chegou. E prossegui, ouvindo seu desabafo e o tranquilizando, quando o seu pranto insistia em ser protagonista daquele drama.

Depois de algum tempo, perguntei-lhe se poderia pôr uma música. E com o seu consentimento escolhi “Vou-me embora” de Paulo Diniz.

Por que aquela música? Pelo fato de não ser tão conhecida, o que desperta maior atenção e pela mensagem, obviamente. Ei-la:

“Vou me embora, vou me embora, vou buscar a sorte/. Caminhos que me levam, não têm sul nem norte. / Mas meu andar é firme e meu anseio é forte. /Ou eu encanto a vida ou desencanto a morte. / Vou me embora, vou me embora. Nada aqui me resta, /senão a dor contida, um adeus sem festa…”

Ouvimos a canção até o final. Então concluí: é preciso saber perder, saber deixar no passado o que é do passado, porque não podemos mudar a velha história, mas escrever uma nova com final feliz. Deixe que os maus cuidem dos maus. Não vamos mudar o mundo. O mau e o bom, o mal e o bem sempre existirão, infelizmente. Fazem parte da mesma moeda, embora estejam em lados opostos.

Você tem seu valor, tem algo de bom para oferecer ao mundo. Comece a buscar o que deseja. Ponha no papel, defina datas, metas, objetivos. Saiba que, embora a vida seja a arte do encontro, a procura é muito mais importante do que o verdadeiro encontro, pois é na busca que aprendemos a melhores e mais importantes lições.

Como escreveu Fernando Sabino:

“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro”.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Liderança até quando?

por Convidado 12 de outubro de 2019   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Há mais tempo, uma colega tomou a decisão de não fazer palestras sobre liderança. O motivo alegado foi que a teoria estava muito distante da prática e que os estilos sugeridos pareciam ser contos de fadas no país das maravilhas.

Quando soube de sua decisão, confesso que fiquei preocupado e “balançado”. Afinal, o tema era o meu preferido e sobre o qual mais fazia palestras. Reconheci que aquela atitude estava respaldada na coerência, na nobreza e na honestidade, pois sua alegação era a de que não poderia enganar as pessoas Muitos empresários brasileiros têm um perfil que está muito mais próximo do senhor de escravos do que do líder sugerido pelos estudos dos últimos vinte anos”, afirmou.

Hoje, após mais de uma década de nossa conversa, reflito sobre tal decisão e continuo admirando a firmeza de caráter daquela senhora. Porém, como tudo tem duas faces, penso que se desistirmos de realizar, pregar, persuadir as pessoas para mudarem, teremos que fazer como os macaquinhos que tapam os ouvidos, a boca e os olhos – nos tornamos omissos e corremos o risco de extinção.

É fato que durante milênios a liderança foi exercida pela força. Os maiores reinos invadiam os menores e os conquistavam, escravizando ou exterminando sua população.

No fim do século XIX, Taylor com sua “Administração Científica”, fez nascer as primeiras luzes de uma gestão que primava pela Organização Racional do Trabalho. De lá para os dias atuais, as pessoas e os sistemas foram se aprimorando. O ranço da escravidão foi, aos poucos e muito gradativamente, ficando para trás, e surgiram novas concepções sobre gerenciar e liderar. Assim, nasceu o líder coach – que contemplava em seu perfil o treinamento e o desenvolvimento da equipe que liderava. Surge, nesse cenário, a Liderança Servidora (quase espiritual) que trouxe em sua essência a ideia de servir à equipe, com autenticidade, empatia e ter a habilidade de compartilhar e criar um ambiente colaborativo que estimula o aprimoramento e o desempenho.

James Hunter, autor do livro “O Monge e o Executivo”, um best seller, chegou a mencionar que essa modalidade de liderança fora adotada por Jesus – um Servidor que dava a outra face.

Devemos entender que se trata de uma metáfora, contudo, meus insistentes leitores, vocês hão de convir que a gestão evoluiu e tornou crível o que antes parecia ficção. E não tem volta. Os modelos são outros, a diversidade se acentua e pede passagem. As gerações Y e Z não aceitam gritos, não sabem o que é apanhar dos pais e, portanto, não reconhecem a figura de um chefe com o chicote nas mãos. Os mais cultos vão pensar que se trata de um Dom Quixote alucinado,lutando contra os moinhos de vento.

Pois é isso. Eu consigo persuadir meus alunos. E, interessados, me perguntam: como, então, será a relação das pessoas nas organizações do novo mundo?

Eu respondo que essa pergunta não faz parte do novo mundo. E sabem por quê?

Porque no novo mundo não temos como prever o que virá…

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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*por Sérgio Marchetti

Não é nenhuma novidade ouvir que a doença dos próximos anos é a depressão. É o mal deste século, como revelam os estudos da Organização Mundial de Saúde. Artistas famosos, de quem você nunca esperava ter notícias de terem sido vitimados pelo transtorno do pânico, são os mais afetados. E nos bate aquela interrogação: fama, dinheiro, conforto, beleza, e ainda são tristes? Mas a doença não é um privilégio das celebridades. O transtorno tem atingido uma parte significativa da sociedade. No caso de pessoas famosas ocorre por estarem na mídia e terem um grau de visibilidade expressiva, privacidade invadida, além de serem alvo de toda espécie de notícias.

Outro fator é que as pessoas ainda não se deram conta de que não vivem para elas. A sociedade contemporânea representa papéis no teatro da vida, no qual todos querem ser protagonistas e, por ser impossível que todos sejam atores principais, vem a decepção, a autocobrança, a frustração e, sem perceberem, acabam por ser meros figurantes de suas próprias vidas.

Sabe-se que as causas geradoras da doença que será a vilã do campo da saúde estão relacionadas a um conjunto de fatores hereditários e psicossociais. Porém, ninguém me convence de que a doença psicológica não seja causada justamente pela forma como as pessoas tiveram suas vidas escancaradas na mídia. A tudo isso, ainda se soma a evolução tecnológica, que talvez seja a causa maior de propagação desse mal que aflige a sociedade mundial. Pois, hoje, sabemos de tudo que acontece no mundo. E vale a máxima popular: o que os olhos não veem, o coração não sente.

Ser bem sucedido, magro, bonito, estudar idiomas, ter um automóvel do ano, fazer parte de vários grupos — sejam eles virtuais ou presenciais, frequentar academia, fazer terapia, viajar, ser “escravo” de filhos, fazer yoga, postar textos e vídeos, e ter um coach são “apenas” alguns elementos do repertório que compõe o “Kit da pessoa classe A”.

Bem, vocês notaram que não mencionei “trabalho” no repertório de atividades, mas num mundo com tanta exigência, fica evidente de que um dia de apenas 24 horas é pouco para realizar tudo isso, e ainda trabalhar.

“Como beber dessa bebida amarga / Tragar a dor, engolir a labuta…”

Como vimos, ser chique não é fácil, principalmente num Brasil de mais de doze milhões de desempregados e de tanto trabalho informal. E aí, os jornais, principalmente os televisivos, apresentam sua altíssima dose de cooperação para que a esperança de dias melhores seja sepultada no seio de cada cidadão – que já perdeu o senso de cidadania há tempos. E isso, sem contar que a imparcialidade, lamentavelmente, não é mais uma prerrogativa de todas as emissoras.

A sociedade padece de um mal que é o de obter o poder a qualquer custo. E o objetivo, obrigatoriamente, deve ser alcançado. E, se não for por amor, que seja pela dor. Os fins justificam os meios.

Mas, imaginem, caros leitores, que diante de tanta exigência para se manter na ilusória corrida em busca de “status”, a realidade, assim como o barco de Creonte, nos conduz a um destino oposto ao vislumbrado por uma sociedade, que se afogou no desvario de uma onda que trouxe uma falsa conotação de felicidade.

A depressão não assombra apenas as pessoas que vivem a busca compulsiva de um lugar ao pódio. Neste cenário, um percentual expressivo da população não tem satisfeitas as necessidades básicas como: saúde, educação, segurança e emprego. Aliás, não preciso dizer mais do que já disse o menino Gonzaguinha: “o homem se humilha se castram seu sonho/ Seu sonho é sua vida e vida é o trabalho/ E sem o seu trabalho, o homem não tem honra / E sem a sua honra, se morre, se mata / Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz”.

É! Não dá pra ser feliz…

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Doces recordações

por Convidado 15 de agosto de 2019   Convidado

* por Sérgio Marchetti

“Eu me lembro com saudade o tempo que passou/ o tempo passa tão depressa/, mas em mim deixou/ jovens tardes de domingo/ tantas alegrias, velhos tempos/ belos dias.”

Podem dizer que sou um saudosista e que a vida acontece no presente. Eu bem sei disso e até incentivo as pessoas a pensarem assim. Mas uma grande paixão do passado é difícil de esquecer. A vida, meus caros e persistentes leitores, é feita de momentos que se tornam lembranças e que nos indicam que vivemos dias felizes. Os dias ruins que fiquem enterrados definitivamente no passado. Deixemo-los por lá. Porém, desconsiderar as alegrias ou desluzir momentos iluminados e rejeitar os retratos da juventude e tudo que ela representou é sintoma iminente de depressão, trauma ou amor mal resolvido. Não! Não estou falando de uma namorada. Tampouco irei narrar paixões que só têm importância para quem as vive. Nada disso! Simplesmente estou recordando minha infância poética e, por coincidência, vivida na rua Alvarenga Peixoto (poeta e inconfidente), conhecida carinhosamente como rua do Anjo – em minha judiada e inesquecível Barbacena. Foi lá, numa rua calma de paralelepípedos que aprendi a jogar futebol, a brincar de pique e a gostar de poesia.

“…Ai que saudade dessas terras/ entre as serras/doce terra onde eu nasci…”

Eu morava próximo à estação ferroviária e, embora o barulho do minério de ferro deslizando sobre trilhos trouxesse desconforto auditivo, aquela poluição sonora se tornou parte de nossas vidas. Eu adorava acordar de madrugada e olhar pela janela o imponente Vera Cruz  – trem de luxo – todo prateado, estacionado logo abaixo de minha casa. Eu o denominava de príncipe dos trens.  Digam se não merece nosso sentimento de saudade? Não temos mais um transporte como aquele. Andamos para trás e com rapidez. Agora, esquecendo do trem, a estação se tornou um símbolo da minha infância e também das lembranças de Barbacena. Ainda hoje, sempre que estou lá, não me furto ao prazer de ficar apreciando a vista da cidade e a imponente estação ferroviária. E, caso pudesse, iria fazer dela um espaço de cultura, museu, artesanato e de outros eventos que pudessem aproveitar toda sua extensão. Contudo, antes daria a ela uma pintura à altura de sua beleza. Algo como a igreja de São José em Belo Horizonte. Ali, naquela praça, poderia ser o encontro de carros antigos, festival de vinhos e tantos etcs.

Convido meus conterrâneos a observarem o quanto de beleza se esconde naquele maltratado prédio.  Em Belo Horizonte, a estação ferroviária é símbolo da cidade. E, cá entre nós, sem querer puxar a sardinha para nossa lata, a de Barbacena é mais bonita e imponente.

Como disse, sou saudosista, talvez ufanista e, com o passar do tempo, adoro ainda mais minha terra, e fico muito sentido quando vejo que as belas e antigas casas são derrubadas para se levantarem sobre seus escombros, caixotes de concreto que sepultam, sob seus alicerces, histórias como a de Guimarães Rosa e Honório Armond.

Barbacena tem grandeza, faz parte da história dos primeiros governantes do Brasil. Nela, nasceram famílias tradicionais da política brasileira: Andradas e Bias. Também registra Emeric Marcier, o pintor romeno que escolheu nossa terra por causa da beleza do céu. “O crepúsculo mais belo que já vi”, dizia. E, além de Rosa, um outro escritor, o francês Georges Bernanos, que também viveu por lá. Mas há registros na arquitetura, como o Viaduto Pontilhão Dom Pedro II, com seus três lindos arcos – outro símbolo que merece cuidados.

Enfim, muito mais do que ser lembrada como “holocausto brasileiro e “terra de doidos”, pode ser conhecida como a cidade das rosas, das serras, da fazenda da Borda do Campo, e destacar sua contribuição para a educação com a Escola Preparatória de Cadetes do Ar, a antiga Escola Agrotécnica, que hoje, se não me falha a memória, é Instituto Federal de Ensino Tecnológico. E ainda, obviamente, as faculdades e colégios tradicionais e renomados.

E o clima? Aquele frio maravilhoso que me fazia fugir do banho da manhã e esperar o sol sair para não congelar? Era aconchegante ficar abraçado com alguém para minimizar os efeitos do frio. Atualmente, não faz mais aquele frio. O mundo aqueceu e as pessoas esfriaram.

De fato, são muitas lembranças de um tempo que não volta mais. Por isso, entendo com tamanha empatia o poeta Casimiro de Abreu:

“Oh! Que saudades que tenho/ da aurora da minha vida,/ da minha infância querida/ que os anos não trazem mais”.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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