Bolsonaro de Tróia

por Convidado 31 de março de 2015   Convidado

por Igor Costoli

Nunca me preocupei muito com Jair Bolsonaro porque, para mim, sempre esteve muito clara sua semelhança com a Mulher Melancia. Não se engane, o deputado e a subcelebridade têm muito em comum.

Para começar a fazer sentido, falemos de Andressa Soares, que se apresenta como dançarina, cantora e modelo. Despontou em 2008 na esteira do funk “Dança do Créu” (felizes os que não sabem do que estou falando), ano em que estampou pelo menos três capas da Playboy. O nome artístico Melancia tem relação com suas medidas avantajadas (à época, 121 cm de quadril).

Andressa Soares. / Foto: Extraída do Facebook oficial

Andressa Soares. / Foto: Extraída do Facebook oficial.

Agora, leitor, acompanhe este raciocínio. Você certamente já abriu o jornal ou acessou portais de notícia e encontrou notícias irrelevantes sobre gente que mal sabe quem é. Mais do que isso, você provavelmente já se perguntou: que fazem essas pessoas? Por que são famosas?

Esse é o ponto interessante – a subcelebridade é uma pessoa famosa que vive do fato de ser famosa. Isso mesmo. Sua notoriedade não é uma consequência, é um fim em si mesmo.

Andressa Soares é modelo, canta e dança uma música que não interessa a você, nem à maioria das pessoas. Aliás, muitas das notícias sobre ela são deboches. Coisas banais como ir à academia e fazer compras, e manchetes risíveis como “Depois de Mulher Maçã, Melancia é a nova fã de ‘Esteve Jobs’”. Contudo, o personagem Mulher Melancia faz rodar uma engrenagem que vive do clique dado no link da matéria.

Não importa se as pessoas acessaram porque são fãs ou para ridicularizar Andressa. O ponto é que o clique do leitor interessa tanto a ela quanto ao portal. Não importa que milhões sejam indiferentes ou detestem o trabalho da Mulher Melancia. O ponto é que essa rejeição expõe Andressa, atraindo convites comerciais e ajudando a encontrar as pessoas que pagam pelos seus shows.

A alma do negócio

“Falem mal, mas falem de mim” é um mantra que sustenta essa mídia de forma direta, e que amplia público e valoriza cachês da Mulher Melancia indiretamente. Se funciona? De agosto de 2011 para cá, apenas o Ego (um dos maiores sites nacionais de celebridades) registra 302 conteúdos diferentes citando Mulher Melancia. Parece que todos saem ganhando, exceto a qualidade de conteúdo.

O que nos leva de volta a Bolsonaro. Sem recorrer à pesquisa na internet, creio ser improvável alguém dizer um projeto de sua autoria ou mesmo reconhecê-lo pela relevância de sua atuação legislativa.

Contudo, ele é bom em confusões e no uso inadequado da imunidade parlamentar. O princípio, criado para proteger deputados de perseguição por suas convicções políticas, é frequentemente usado pelo ex-militar para ofender outros deputados e defender ideias que já foram legalmente abandonadas em quase todas as democracias evoluídas.

Apesar de se apresentar como um representante dos militares, o capitão da reserva não conta com a simpatia do alto escalão do Exército. Foi preso nos anos 80 por liderar reivindicações por melhores salários, e terminou aposentado às pressas enquanto era investigado por ter elaborado um plano para explodir quartéis em protesto. Como deputado, quase perdeu seu mandato por discursar na Câmara pedindo o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Isso faz dele ainda mais eficiente que a Mulher Melancia na estratégia de atenção negativa. Matérias com suas polêmicas atraem cliques de pessoas horrorizadas com a postura do deputado, e são compartilhadas na casa das dezenas de milhares com declarações de repúdio.

O ponto é que suas ideias encontram eco com ajuda dessa divulgação. Se a Mulher Melancia precisa dos cliques para receber convites para shows, Bolsonaro precisa dos cliques para receber eleitores. Ambos são semelhantes porque são notórios apenas pela própria notoriedade.

A música que Andressa Soares faz não tem alcance nacional, nem tende a representar algo para a história do país. Do mesmo modo, as conexões de Bolsonaro com o primeiro escalão político são fracas. Sua popularidade não vale o risco da rejeição que atrai. O motivo pelo qual não é punido por suas declarações provavelmente é o mesmo porque muitas pessoas sequer sabem que ele já apresentou na Câmara um pedido de impeachment da presidente Dilma: porque ele não é levado a sério.

Jair Bolsonaro / Foto: Retirada do Facebook oficial

Jair Bolsonaro / Foto: Retirada do Facebook oficial

Cavalo de Tróia

E assim eu segui, por muito tempo, sem dar atenção ao que o deputado diz ou faz, também para não aumentar sua força acidentalmente. Minha opinião mudou com a divulgação da lista de Janot.

O “destaque” no rol de investigados na Operação Lava Jato é o Partido Progressista. Descendente direto da Arena, que dava sustentação política ao governo militar no país após 1964, o PP encabeça mais da metade da lista. Na delação premiada, o doleiro Alberto Youssef chegou a dizer que havia uma “tabela de preços” de propina e que os membros do partido brigavam por ela.

Mas a grande curiosidade foi levantada pelo portal Vice: dos 18 deputados federais do PP investigados na Lava Jato, apenas Eduardo da Fonte se elegeu sozinho, ou seja, com os próprios votos. Os outros 17 integrantes se beneficiaram de votos excedentes da legenda, que tem seu maior expoente em … Jair Bolsonaro.

Deputado federal mais votado no Rio, Bolsonaro recebeu 464 mil votos, quatro vezes mais que o necessário para garantir uma vaga. O sistema político atual faz com que os votos sejam contados também de forma coletiva, o tal coeficiente eleitoral, distribuindo votos excedentes dentro das coligações. É por isso que todo partido abraça sem qualquer vergonha os chamados “candidatos bizarros”, pelo seu potencial imprevisível para atrair multidões.

Por isso, pela primeira vez percebi a postura de Bolsonaro não apenas como uma estratégia de sobrevivência pessoal. Bolsonaro é uma peça fundamental para que 17 investigados por corrupção na Petrobras tenham hoje uma cadeira na Câmara e foro privilegiado.

Estamos falando de políticos com cada vez menos eleitores a quem deveriam prestar contas diretamente, a quem deveriam respeitar. Será que a população está sendo bem representada quando os vitoriosos são candidatos sem maioria simples de votos?

Pois assim eles seguem, conquistando mandatos em Brasília e em todo o país na carona de homens como Tiririca e Bolsonaro. Dois candidatos que, enfim, passo a considerar problemáticos: porque possuem a capacidade de eleger não sabemos quem.

Igor Costoli é jornalista e radialista de formação e atleticano de coração. É produtor e apresentador do Programa Invasões Bárbaras, na Rádio UFMG Educativa.

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Os olhos falam pelo coração

por Convidado 23 de março de 2015   Convidado

por Benício Rocha

É certo que as pessoas não trazem placa de identificação na testa, mas seus olhos falam muito. Há intensidade de brilho para denunciar felicidade. Há um jeito opaco na tristeza.

Uma aliança de noivado dada num contexto de surpresa fez uma amiga explodir em brilho e cores e seus olhos falavam comigo claramente

O amor nunca esteve

Tão na moda!

Com tanta gente

Independente,

Ninguém é indiferente

A essa onda invisível

Que basta passar perto

Pra encher o corpo de arrepios…

E com jeito cúmplice, mas comedido, eu concordava, alertando para a necessidade de viver o amor com todos os seus riscos, sabendo que ele não pode acabar. Talvez mudar de forma, mas nunca, nunca acabar.

Lembrei a eles o ritmo da vida moderna e a necessidade de cultivar o amor no dia a dia, com a paciência de um monge, ou ele poderia não florescer em sua intensidade maior, e ouvi:

Apesar de não ter

Tempo pra nada

Paro o mundo

Mato ou morro,

Por meu namorado!

Tá certo, mas a vida terá que sofrer atalhos para que esse brilho seja constante e renovado pelos anos vindouros. Renúncias, perdões, construções, reconstruções, restaurações, carícias, atenção, beijos, abraços. Não dá pra esticar mágoa, remorso, dores de cabeça. Mas com inteligência, determinação e amor, constrói-se um amor que vai muito além desse brilho, e que desconhece a palavra retrocesso. Esse chega ao Criador. Vocês estão dispostos, olhos?

Para isso, giro o mundo

Faço meu caminho,

Encurto distâncias,

Dou e ganho carinhos,

Agarro esse amor!

Não tive dúvida. Aqueles olhos falavam pelo coração, que estava mudo de tanto amor…

Benício Rocha é caratinguense ausente e saudoso, mineiro da gema, amante da boa prosa, sócio da MGerais Seguros, aprendiz de servo do Senhor.

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A revolução dos bichos

por Convidado 9 de março de 2015   Convidado

por Sérgio Marchetti

Hoje, após ouvir o noticiário matinal, senti uma enorme revolta e uma tristeza imensa com os rumos de nosso maltratado Brasil. Falaram, os jornalistas, de assassinatos, corrupção, impunidade… Reflitam: nesse momento os governantes nos devem satisfação sobre suas falcatruas e omissões, sobre o quadro vergonhoso e lastimável pintado com as tintas da desonestidade, do descaramento, da advocacia somente em causa própria… Até perdi o fôlego, desculpem-me. Mas diante de tanto absurdo, esses devedores, com ficha imunda, nos impõem aumentos de taxas e de impostos, para pagar os seus próprios desvios. Tudo aqui no Brasil é inusitado – mandam nele um ex-presidente, uma presidente e trinta e nove ministros. Estão lá porque nós pagamos com suor e, literalmente, com muito sangue, o salário e todos os auxílios que se dispuseram a ter direito.

Não por acaso, lembrei-me, agora, de um filme – Gladiador. Nele o que move e dá força aos escravizados é o orgulho e a honra. Mas aqui, no gigante adormecido em berço esplêndido, pelos fatos, quem governa tem força, porém, lhes falta honra. Mas nós, os explorados, devemos continuar sendo honrados. Não podemos permitir que nos roubem também a dignidade.

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Capa de uma das edições do livro “A Revolução dos Bichos” / Fonte da imagem – Sagas Brasil 

Falei de filme e, agora, bateu-me à porta da mente a lembrança de um livro, A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Faz tempo que o li, mas queria o autor, em sua essência, demonstrar a decepção com a Revolução Soviética e, até mesmo, com o socialismo que ele próprio defendia. Há, naqueles escritos, uma filosofia que gostaria de compartilhar com os leitores. Passados tantos anos que fiz a leitura, ficou-me o registro de que a história se passa na zona rural e, como em muitas fazendas, os proprietários possuíam vacas, cavalos, galinhas, ovelhas e outros animais domésticos. Um dia aqueles animais se reuniram e, comandados por um porco, chegaram à conclusão de que estavam sendo explorados pelos seus donos. As galinhas achavam um absurdo doarem seus ovos e ainda serem abatidas para alimentar os moradores da fazenda. O cavalo e o burro, da mesma forma, se sentiam escravizados num serviço pesado. As ovelhas doavam o leite e a lã. As vacas… talvez tossissem. O que tenho certeza é que o lucro era apenas dos donos da fazenda. “A colheita é comum, mas o capinar é sozinho” (Guimarães Rosa). Uns trabalhavam e outros ganhavam. Surgiu então a ideia da mudança. Os animais tomaram a fazenda.

Logo no início do novo regime, o porco líder, muito falante e, parecendo ser verdadeiro, prometeu o fim dos abusos e da exploração dos animais trabalhadores. Dizia que haveria justiça e vida nova para todos. Mas não houve nada disso. O porco ficou deslumbrado com o poder e não cumpriu as promessas, sendo incoerente com tudo que pregou. Foi corrompido. Rodeou-se de outros animais, concedendo-lhes vantagens nada honestas e, para decepção de tantos seguidores, seus gastos, abusos e desvios foram infinitamente superiores aos de seus antigos donos.

Compreendo perfeitamente a decepção de Orwell. E acredito que muitos leitores compreendam-no também.

Bem, depois destas reflexões, preciso recuperar as boas energias. E, para não ter que sofrer assistindo a outro noticiário, vou me distrair com um filme bem antigo e leve… Ali Babá e os Quarenta Ladrões.

Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui Licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br .

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De panetone, Carnaval e gado

por Convidado 18 de fevereiro de 2015   Convidado

por Benício Rocha

O gostinho de panetone ainda está na minha boca e já me sinto atordoado pelo bombardeio de informações do Carnaval, que chegou em canções, coreografias, corpos sarados, passos ritmados e acelerados.

Considerando a dura realidade do paga-paga que o início de ano sempre traz, chego a pensar que paira no ar o gosto pela fantasia que sufoca a realidade.

E nela cabem não somente os sonhos de um mundo ideal, próprios do Natal, mas também o ainda mais maravilhoso do “tudo permitido, sem consequências” do Carnaval, tão bem mostrado por Chico Buarque em “Noite dos Mascarados” e por Zé Keti em “Máscara Negra”.

Nesse momento de fraternidade alegórica não conseguimos fixar os olhos na realidade ao redor sem correr o risco de sermos vistos como pessimistas ou até apocalípticos. Mas o mar está pra peixe?

Então, quem alimenta em nós tanta fantasia e desejo consciente ou inconsciente de vivermos alheios ao duro mundo real de forma repetida a cada ano? Ou a cada dia?

O sistema? A mídia? Nós mesmos?

Não seria melhor metermos a mão na massa e transformarmos esta terra brasilis num delicioso panetone, repleto de educação, saúde, blá, blá?

Precisamos ficar atentos aos que administram a coisa pública para que não governem nossos sonhos. Mesmo porque, como já disse Paulinho da Viola:

Flutua no ar o desprezo
Desconsiderando a razão
Que o homem não sabe se vai encontrar
Um jeito de dar um jeito na situação

Então, o tempo está passando rápido ou estão jogando a vida para algum momento futuro próximo, que vem e vai, mas que tira nosso foco das coisas verdadeiramente essenciais?

Êta vida de gado!

Vale a pena ficarmos de olho…

*Benício Rocha é caratinguense ausente e saudoso, mineiro da gema, amante da boa prosa, sócio da MGerais Seguros, aprendiz de servo do Senhor.

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por Sérgio Marchetti

E o Carnaval chegou. Carnaval é comédia, espontaneidade. E o ridículo, no Carnaval, é quem não está ridículo. Vale o deboche, as caricaturas que mostram verdades. Figura e fundo, sombras e luzes – tudo se mistura e tem valor na decoração carnavalesca. Adoro o Carnaval. Adorava, melhor dizendo. Já participei intensamente, apaixonadamente de bailes, de blocos e até de escola de samba. Gostava dos sambas e das marchinhas. Cantava todos de cor e salteado. Com esta frase dá para saber que faz tempo. Queria ter vivido na época dos corsos, pois representam a origem da festa carnavalesca.

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Foto: Marina Borges

Eu amava os salões cheios de gente bonita e cheirosa. Sempre achei que o Carnaval era a festa mais democrática que existia. Todos podiam ser felizes e sair pelas ruas, sozinhos ou em bando. Hoje, Carnaval é outra festa. O luxo das fantasias deu lugar à nudez. Era mais inocente. A brincadeira se transformou, e os “ficantes” vão para as ruas para exercer o hedonismo sexual. É uma licença frenética. Não tem nada de poética. “…Mas é carnaval! Não me diga mais quem é você! Amanhã tudo volta ao normal…” e é assim mesmo. “Quero me perder de mão em mão, quero ser ninguém na multidão.” O que era refrão virou atitude. Mas cada um sabe de si. Então vamos cantar, pois quem canta seus males espanta, mesmo que os presságios para 2015 não sejam os melhores; sem contar com a falta d’água. Ainda bem que cachaça não é água… “Pode me faltar tudo na vida… só não quero é que me falte a danada da cachaça.” E “…pra frente é que se anda…

Vamos viver uma coisa de cada vez. O povo brasileiro está mais triste. Mas apesar de tantos pesares, ou “apesar de você, amanhã há de ser outro dia…” Dia de alegria, afinal “o importante é ser fevereiro e ter Carnaval pra gente sambar”. Esquecer as mágoas, vestir fantasias e tirar a máscara gasta e surrada que usamos o ano inteiro. É isso mesmo. Muita gente tira a máscara somente no Carnaval. Então vamos entrar no primeiro bloco que surgir. “Ô abre alas que eu quero passar. Eu sou da Lira não posso negar…” “… e este ano não vai ser igual àquele que passou. Eu não brinquei. Você também não brincou…”. O Carnaval era brincadeira, liberdade para se apaixonar. Era início de uma paixão e fim de namoro. Mas depois tudo voltava ao normal. Havia o perdão. Mas, pudera, nos salões havia mulheres lindas que encenavam peças com “o Pierrot apaixonado que vivia só cantando e que por causa de uma colombina, acabou chorando…”. As bandinhas tocando marchinhas provocativas. Era o paraíso na terra: “tanto riso, ó quanta alegria, mais de mil palhaços no salão. E o arlequim está chorando pelo amor da colombina no meio da multidão”. E vinham o estribilho e a felicidade dos foliões: “vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é Carnaval.” Arrepiante! E alguém que flertava em busca de um namoro, tirava a sorte cantando: “eu perguntei a um mal-me-quer, se meu bem ainda me quer. Ela então me respondeu que não. Chorei, mas depois eu me lembrei que a flor também é uma mulher. Que nunca teve coração…”.

Assim era a festa do povo, três dias de total libertação. Baile a noite inteira. “São três dias de folia e brincadeira. Você pra lá e eu pra cá, até quarta-feira”.  E depois o mundo tornava a começar. “Mas quarta-feira tem um ano inteiro é todo assim, por isso quando eu passar batam palmas pra mim…”. E faltar água não é nenhuma novidade. Mas o povo pedia: “tomara que chova três dias sem parar”. O brasileiro sempre foi assim. Riu e ri da própria desgraça. Mas com “chuva, suor e cerveja” resolve seus males.

Alegorias, adereços, harmonia…  Tudo era, literalmente, fantasia e, se surgia uma bela mascarada, havia repertório para abordá-la: “linda pastora, morena da cor de Madalena. Tu não tens pena de mim que vivo tonto com o seu olhar…”, “…Morena que me faz penar a lua cheia que tanto brilha, não brilha tanto quanto o seu olhar”. E a lourinha? “Lourinha dos olhos claros de cristal, desta vez em vez da moreninha serás a rainha do meu carnaval”. Mas estamos no Brasil e “a mulata é a tal… e só dá ela, eie, eie eie, eie eie, eie, na passarela…” .Salve! Braguinha!

Fora dos clubes havia os blocos organizados, e “lá vai meu bloco vai, só desse jeito é que ela sai…”, “…e o sereno vem caindo. Cai, cai sereno devagar, que o meu amor está dormindo...”. E tudo podia naqueles dias. Ainda pode. “Olha o bloco do sujo que não tem fantasia, mas que traz alegria para o povo sambar…”.

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Bloco de rua em BH no carnaval de 2014. / Foto: Marina Borges

E aí, meu caro leitor, sentiu saudades dos antigos Carnavais? Nada de tristeza! “Tristeza, por favor vá embora.. .”, “…Vê, estão voltando as flores. Vê, nessa manhã tão linda. Vê, como é bonita a vida. Vê, há esperança ainda”. Então, o que está esperando? Ponha seu bloco na rua, “bote para quebrar e gemer”. Dê uma chance para sua endorfina.  Ah! Você quer paz? Então usufrua da energia dos dias de folia da maneira que lhe convier.  “Na rua, na chuva, na fazenda, ou numa casinha de sapê…”.

Deixo, como reflexão para os foliões, uma homenagem ao maravilhoso samba enredo da Beija Flor de Nilópolis, em 2003. “Chega de ganhar tão pouco /tô no sufoco: vou desabafar/ pare com essa ganância, pois a tolerância /pode se acabar…”.

Assim seja!

Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui Licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br 

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A vida grita por socorro

por Convidado 26 de janeiro de 2015   Convidado

por Benício Rocha

Se alguém disser que arapuca na esquina diminui a violência, não discuta, pegue barbante, caixa de sapato e, improvisado, corra pra lá!

A vida grita por socorro!

Quase todos os dias lemos ou ouvimos notícias de abusos contra crianças e idosos, de roubos, de assaltos, de assassinatos. E vemos um motoqueiro estendido no chão.

Quase nos acostumamos com a normalidade dessa aberração.

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública tornou público seu Anuário informando que, em 2013, o número de assassinados no Brasil chegou a 53.646 mortes! Só em Minas, 4.458!

O trânsito nacional fez sua parte ao matar mais de 60 mil pessoas, por ano, e deixar 600 mil inválidos!

Resumindo, a violência mata mais de 110 mil brasileiros por ano!

E só 3% dos homicídios acabam com a condenação do assassino, liberto em pouco tempo.

No dia 10.11.14 o jornal “O Estado de São Paulo” contou que 81% dos brasileiros concordam que é fácil desobedecer a lei. E que 57% de nós temos poucos motivos para obedecer a tal de lei.

Num quadro assim, vemos como razoável a informação de que apenas 32% da população acredita no Judiciário, que é o Poder da República mais bem avaliado, seguido pelo Executivo com 31% e o Legislativo com 17%…

E as datas pretéritas das informações não desatualizam a realidade. Infelizmente.

Como o exemplo que vem de cima é péssimo, a realidade embaixo é horripilante!!!

Sonho com o dia em que o cidadão buscará a mudança dessa realidade. E, para isso, acredito na eficácia da Polícia Comunitária e na necessidade de surgimento, motivação, manutenção e crescimento da Rede de Vizinhos (Condomínios, Empresas…) Protegidos.

Somente o envolvimento direto do cidadão mudará nossa realidade nacional.

O mal constrói arapucas contra nós. Mas nossa união pode destruí-las!

Benício Rocha é caratinguense, mineiro da gema, amante da boa prosa, sócio da MGerais Seguros e aprendiz de servo do Senhor.

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Adormeceu

por Convidado 19 de janeiro de 2015   Convidado

por Sérgio Verteiro

Era pra ter sido o mais feliz de todos os Natais. O dia, porém, amanheceu sombrio, trazendo com ele algumas incertezas. Ainda bem cedinho quando alguns já estavam acordados, a despedida, o pedido de um abraço. Dentro daquele abraço cabia o mundo! E também o consolo e a força necessários para prosseguir caminhando, ainda que fosse difícil. O alvoroço que me despertara permitiu apenas um olhar. Um olhar singelo, um olhar de afago e ternura. Era a última vez que via a cor de seus olhos antes que adormecestes.

Mãe

Com o passar do tempo, um telefonema. Todos a postos ouvimos a notícia de que, segundo o médico, as chances eram mínimas. Entre pedidos de orações, preces e intercessão, a agonia às vezes me consumia. Era um choro calado, um sofrimento reprimido e uma vontade muito grande que seu despertar perdurasse ainda por mais algum tempo.

Buscávamos recursos e soluções mais concretas para que seu sono não viesse tão depressa. Saímos de casa às pressas, tínhamos ainda muitas esperanças de que o impossível também acontecesse, mas que prevalecesse a vontade de Deus e não a nossa. O carro, o vento, os pensamentos e o tempo nos levaram a um lugar descolorido, uma paisagem um tanto quanto triste, um morro, o meu calvário.

Adormeceu, descansou, partiu. Foi pra mais perto de Deus suplicar por seus queridos filhos, afilhados e amigos. Infelizmente não cheguei a tempo do último adeus, mas ainda pude abraçar seu corpo sem vida e derramar lágrimas de gratidão por ter sido pra mim o tesouro mais precioso nessa terra.

Ela que me ensinou a amar, ensinou a rezar, ensinou cantando a canção de Padre Alessandro que, sem Jesus, sem Deus no coração nós não somos nada. Deu educação, ensinou valores e por onde andava deixava um legado – o mais importante era seguir o caminho do bem. Sua devoção a Nossa Senhora fazia delas amigas íntimas. Até parece que foi Nossa Senhora quem a veio buscar. Seu rosto era sereno, calmo e tranquilo. Um sorriso alegre que não escondia a satisfação de uma boa companhia e de uma bela passagem.

Eu não vi as luzes de Natal, nem o presépio, nem estrelas e, pra ser bem sincero, muito menos o luar. Ali, na sala de estar, diante dos meus olhos, apenas seu corpo sem vida, rodeado por seus filhos.

Enfim a noite passou. A manhã chegou trazendo com ela os amigos que prestariam suas últimas homenagens e adeus. A tarde vinha chegando e junto com ela o momento em que pra sempre nos despediríamos de sua última imagem. Era chegada a hora de cumprir também seu último desejo. Que seu corpo fosse depositado junto ao de seus pais. Saiu-se então o cortejo, flores eu espalhei pelo caminho e um galho de rosas singelas coloquei em suas mãos para sentires o perfume de Deus, de sua mãe querida Nossa Senhora. Uma oração, uma encomendação e uma procissão e lá se encerrara. Estava consumado seu ultimo pedido.

Estava ali enterrado o meu tesouro que batera asas e me fizestes erguer a cabeça me confirmando que ali apenas a matéria, mas no céu o Espírito que se encontra junto de Deus. E como dissestes à sua própria netinha, com quem passara seus últimos momentos, ”quando sentir saudades da vovó e só olhar pro céu e ver que ela é a estrela mais brilhante da galáxia”.

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Agradeço de coração a todos que se solidarizaram comigo neste momento. Muito obrigado mesmo. As orações de todos valeram muito. E continuam valendo. Peço que continuem rezando por mim e por minha família. Suplicarei sempre a Deus Pai que derrame a porção necessária do Espírito Santo na vida de cada um de vocês.

Sérgio Verteiro, 33 anos, é Gestor de Recursos Humanos.

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Pedidos de Natal

por Convidado 12 de janeiro de 2015   Convidado

Por Sérgio Marchetti

O Natal me transmite sentimentos de amor, de paz, de união familiar e uma imensa saudade da minha infância em Barbacena. Eu, igual a todos os meninos, escrevia a cartinha ao Papai Noel pedindo presentes. O ritual era o mesmo: colocar os sapatinhos na árvore de Natal e deitar cedo para esperar a passagem do bom velhinho. E na manhã do dia vinte e cinco, íamos para a rua exibir os presentes.

Roupas de heróis e cinturões com revólver de espoleta. E, embora houvesse armas, os “mocinhos” só as usavam para o bem. Bat Masterson, Robin Hood, Roy Rogers e Zorro eram alguns dos que desfilavam em nossas tevês. E os times de botão? Uma das minhas paixões, eram a promessa de um ano inteiro de campeonatos entre os meninos da Rua Alvarenga Peixoto. “Jogos de botão sobre a calçada – eu era feliz e não sabia”. Salve, Ataulfo! Mas a bicicleta era o astro maior daquele filme natalino. Depois, como coadjuvantes, vinham o velotrol, as casinhas, as bonecas. Estas últimas eram as preferidas das meninas daquela época que, diferentemente de hoje, tinham uma infância mais prolongada.

Éramos inocentes. Não só as crianças, mas os adultos também não viam tanta maldade, nem havia tanta desconfiança como se vê hoje. A honestidade era valor essencial. Eram outros tempos.

Porém, o tempo, carrasco que é, passou tão depressa, contabilizou tantos natais e indicou que aquele momento ficou registrado na lembrança em algum lugar do passado. Ainda assim, com os cabelos enevoados pelo tempo, me dei o direito de pedir a Papai Noel um presente especial. Não fui egoísta. Quis algo maior, e que servisse para todos.

Pedi governantes honestos. Solicitei que papai Noel nos trouxesse uma caixinha embrulhada para presente e que dentro dela estivesse guardada a honestidade. Mas meu lado criança me chamou a atenção, dizendo que a vergonha seria mais importante, já que muitos daqueles são totalmente desprovidos de tão simples valor. Que coisa feia! Autoridades máximas mentindo descaradamente. Até as crianças aprendem que pessoas de bem não mentem “nem que a vaca tussa”. Então a vaca tossiu. Está de coqueluche. Papai Noel não tem força para tanto. Talvez seja um serviço para o Papai do Céu, pois parece tratar-se de um milagre maior.

“E agora, José?”, diria Drummond. Envio a carta para quem? Uma dúvida paralisante se abateu sobre mim. Um conflito entre a criança e o adulto. Já não sei quem fala, se é a criança adulta ou o adulto criança. Decido, finalmente, não enviar carta nem ao Papai Noel, nem ao Papai do Céu. O caso requer ação mais drástica. Acho que vou escrever ao Zorro, ao Roy Rodgers, ao Robin Hood, ao Bat Masterson e a outros heróis pedindo socorro.

Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui Licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br 

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Mercado futuro

por Convidado 5 de janeiro de 2015   Convidado

por Benício Rocha

Então, está decidido!

Após a última assembléia concluímos que não manteremos apenas numa família, limitada, os nossos valores, impedindo que  sejam propagados e apreendidos. Vamos colocá-los na Bolsa de Amor Declarado, abriremos ao mundo a nossa vitória.

Nosso patrimônio, conquistado com ética e trabalho, é o amor ao próximo.

Nosso ativo circulante é a atenção aos excluídos.

Nossos ativos permanentes são a esperança e a determinação na construção de um mundo melhor.

Nossas ações, inicialmente, custarão uma solidariedade. Seus dividendos serão abraços, sorrisos, compreensão, perdão, fraternidade, saúde e paz.

Senhores, somos um sucesso desde já, pois descobrimos que o Aniversariante disse que tudo o que pedirmos, em seu nome, o Senhor fará, ou seja: transformaremos essa fala em um pedido especial para todos os que adquirirem nossas ações!

Você ficará com quantas?

Benício Rocha é caratinguense, mineiro da gema, amante da boa prosa, sócio da MGerais Seguros e aprendiz de servo do Senhor.

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Se colar, colou!

por Convidado 29 de dezembro de 2014   Convidado

por Luiz Lobo

Outro dia precisei abrir uma conta de minha empresa em um banco. Chegando lá descobri que não poderia, pois estava com uma “restrição” ao meu nome, como pessoa física, que havia sido colocada por uma operadora de TV a cabo. Minha ira subiu até o limite, pois havia encerrado o contrato há 20 meses, tudo o que me foi apresentado foi pago (mesmo o que eu não concordava…) e agora isso? Minha cabeça fervilhava, pensei em milhares de processos, advogados, indenizações…

Saí do banco, que fica em uma rua comercial bem movimentada, e peguei o carro que estava em um estacionamento. Ao andar uma quadra, pensando no processo por danos morais e materiais, fui bruscamente fechado por outro carro, que saiu, sem sinalizar, de onde estava estacionado do lado direito da via (movimentada, como eu já disse) e entrou em uma rua transversal à esquerda. Era um veículo oficial do Tribunal, destes usados por juízes, desembargadores, sei lá. Meu ímpeto de fazer justiça morreu ali.

Cheguei ao escritório e fui, mais uma vez, tentar resolver a pendência com a operadora de TV a cabo. Depois da terceira tentativa me foi informado, como havia sido de outra vez, que tudo estava certo, não havia pendências. Eles asseguraram que a restrição seria retirada, que tinha sido um engano, blá, blá, blá… Conferi depois e, de fato, estava tudo certo. Voltei ao banco e tudo se encaminhou. O problema é que recebi nova cobrança da operadora. Ou seja, vai começar tudo de novo!!!

As operadoras de telefonia e TV a cabo estão entre as mais reclamadas pelos consumidores nos Procons. Vejam bem, é aquele velho golpe do “SCC”: se colar colou! Você paga, pois a quantia é pequena, no meu caso eram R$36,90. Mas imagine isso multiplicado por milhares, todos os dias. Uma minoria reclama. Desta, uma parte menor ainda vai à Justiça onde acaba aceitando acordos baixos e por aí vai. Quer dizer: o crime compensa !

Quando vemos este espetáculo carnavalesco da Justiça em cima de casos chamados “grandes” e que darão fama aos juízes, promotores e advogados, esquecemos que não existe crime pequeno ou crime grande, existe crime e pronto! Se a Justiça (incluo Ministério Publico e polícias neste rol)  é absolutamente ineficaz para resolver causas “menores”, é impossível que resolva os casos “maiores”. No cenário atual, se torna cada vez mais atual uma frase do jornalista Sérgio Porto, o imortal Stanislaw Ponte Preta – “Ou restaura-se a moralidade ou locupletemo-nos todos”. Precisa explicar?

Luiz Lobo, engenheiro, poeta bissexto, casado com Diva, cujo nome já a descreve muito bem, e também blogueiro. Escreve e fala de futebol, embora a bola não goste dele. Também escreve sobre música ou sobre qualquer outra coisa que faça barulho. Gosta de traduzir o economês dos jornais e de falar das coisas que o incomodam na política, sem nenhuma isenção.

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